7 - O CHÁ DA LEMBRANÇA ANTIGA
Jurismela parou e olhou para trás, notando que Enovigenese não estava ao seu lado, mas a pelo menos 10 metros de distância, caído na grama, com o olhar cansado e as orelhas baixas.
— Enovigenese! Está tudo bem? - Chamou ela, correndo na direção dele, preocupada.
Ele levantou a cabeça lentamente, as orelhas se levantando um pouco, mas logo se deixando cair novamente, mostrando a fadiga da corrida.
— Estou bem, só me cansei de correr tanto, sabe? E também estou com fome!
Jurismela revirou os olhos, tentando manter a paciência.
— Eu sei, mas temos que continuar. Vamos parar quando encontrarmos algum lixo gostoso pelo caminho. - Disse ela, incentivando-o a se levantar.
Mas, assim que terminou de falar, Enovigenese avistou algo que chamou sua atenção. Com um brilho travesso nos olhos, ele se levantou de uma vez e gritou:
— BARRO PODRE!
Jurismela não teve tempo de reagir. Ele já estava correndo em direção a uma grande poça de barro fedorenta, seu entusiasmo era contagiante.
— Enovigenese! - Gritou ela, tentando alcançá-lo. Mas era tarde demais!
Ele se jogou na poça, se esponjando e se cobrindo de barro, como se fosse a melhor coisa do mundo.
— Vem cá, Jurismela! É uma delícia! - Chamou ele, com a boca cheia de barro, seu olhar transbordando de alegria.
Ela hesitou, mas o olhar dele era tão cheio de vida e diversão que não conseguiu resistir. Enovigenese puxou-a para mais perto, a fazendo cair na poça junto com ele.
— ENOVIGENESE! - Exclamou Jurismela, agora também coberta de barro, mas com um sorriso no rosto. — O que você fez?!
Os dois riram juntos, completamente sujos e despreocupados, enquanto a poça fedia e a diversão tomava conta do momento. A alegria deles se espalhou, mostrando que, mesmo em meio à sujeira, a felicidade sempre encontrava um jeito de brilhar.
***
Chefe Charlie Cavalo e Dadimilho se espantaram quando Rex (ou como Chefe Charlie diria, "chupa cabra com parte com o caramunhão! Arriegua!" ou " feio pra diabo! virge maria!") bebeu o líquido esquisito e desapareceu.
— Mais que marmota foi essa que eu vi, sô?! Eita! Ôxi, me assombrou até a arma! lasquera! - Chefe Charlie disse, correndo que nem maluco pela biblioteca.
Dadimilho, espantado, disse:
— Mãezinha, o que foi que você deu para ele!
Chefe Charlie Cavalo parou diante a Dadimilho e disse:
— Tu é abestado, Mio?! Tava com teus zóio arregalado igual os meus e ainda tá perguntando? Tua véia, a dona da macumba, deu aquele chá pro Chupa-cabra – feio pra mais de metro – e o bicho, que já parece assombração, sumiu na frente da gente, como quem pega vento! Eu tô te dizendo, esse chá de sumiço dela é dos fortes! O diabo do Chupa-cabra se evaporô tão rápido que até as bruxa que voa de vassoura tão procurando ele! Tu tá cego ou o quê?!
— Bem, não foi isso que eu quis dizer... É claro que eu vi o chupa-cabra, digo, o Rex sumir bem diante de meus olhos, por isso estou perguntando o que foi que ele tomou.
Nhanhinhãnha, com dificuldade se levantou e respondeu:
— Não foi chá de sumiço nada, não, seus desmiolados... Eu dei foi o Chá da Lembrança Antiga pra ele... E o nome dele não é Chupa-cabra, nem Rex, coitado... Ele tá é numa viagem... no passado dele... se redescobrindo, sabe? Ele foi se achar... foi lá pra trás, pra onde as memória se escondem..."
— Ô minha nossa, sô! - Exclamou Chefe Charlie. —Então esse bicho não é Chupa-cabra e nem Rex? Eu sempre soube que ele era um mistério, mas agora parece que virou uma novela, fia! Tu quer me dizer que ele tá num trem de viagem no passado? Haja paciência! Esse chá da lembrança antiga é mais poderoso que a macumba do terreiro, viu? Eu fico pensando se ele tá lá aprendendo a dançar valsa ou se tá só se olhando no espelho, achando que é bonito! Se esse Chupa-cabra voltar todo mudado, eu vou ter que arrumar um nome pra ele. Chupa-cabra de gala' ou 'Rex das antas! Essa véia danada tem uns chá que até eu tenho medo!
A velha cadela , com um olhar sério e determinado, deu um cascudo na cabeça do Chefe Charlie Cavalo e outro na de Dadimilho, dizendo com firmeza:
— Agora chega de graça, seus dois! Aquele que vocês conheciam como Rex vai voltar, e não é hora de brincadeira!
Ela se posicionou, dando um passo à frente, e começou a contagem regressiva, balançando a cauda com entusiasmo:
— Ele vai voltar em, cinco... Quatro... Três... Dois... Um... Zero!
No instante em que ela completou a contagem, um clarão brilhou na biblioteca, iluminando tudo ao redor, enquanto a expectativa crescia no ar. Os dois cachorros olharam para a luz, ansiosos para ver o que aconteceria a seguir.
A biblioteca foi tomada com fumaça todos começaram a tossir, e quando a fumaça se dissipou todos puderam ver mas não era possível.
— JURISMELA! -
Todos os presentes na biblioteca exclamaram.
O cachorro que estava em pé na biblioteca meio envolto de fumaça parecia assim muito com jurismela, mas não era jurismela.
— Oxente! Esse cachorro aí até lembra a Jurismela, - observou Chefe Charlie - mas vamos deixar claro: a Jurismela é fêmea, e minha gente, fêmea não tem pênis daquele tamanho! Arre égua! Olha o tamanho dessa 'ferramenta'! O Rex que apareceu agora tá mais pra macho do que muito cabra por aí, viu! Eita lasquera! Imagina se a Jurismela tivesse um pênis assim... ia ser uma doideira! Ela não seria tão bonitinha do jeito que é, não! Isso ia fazer ela parecer mais com um 'bicho-papão' do que com uma fada, sô! Fêmea não carrega um 'troço' desses, não! Esse danado tá mais pra 'machão' do que eu pra professor de poesia!
— Uau! Rex, é você mesmo? - Dadimilho perguntou se aproximando.
O cachorro soltou um sorriso.
— Sou eu, mas não me chamo Rex.
Ele foi até onde estava Nhanhinhãnhanhinha e lambeu-lhe o focinho.
— Muito obrigada. Sabe, Milho tinha razão, você é a mais sábia de todas as cadelas. Muito obrigado por tudo.
— Por nada, meu querido, e para com isso, me dê logo um abraço. Você tá parecendo um galã de novela.
Rex ergueu a pata e a pôs no ombro da velha cadela que lambeu-lhe o focinho. Ele soltou mais uma risada
— Vocês me chamaram de Jurismela. Vocês conhecem ela?
— Conhecemos sim, faz um tempo que ela não aparece por aqui porque ela tinha umas coisas para resolver. Ela não explicou muito bem...
— Eita lasqueira! A Jurismela e o caboco dela foram meter o bedelho em uns trem do Apocalipse, e a gente aqui se enrolando com esse bicho macho que tá mais perdido que cego em tiroteio! afinal de contas parceiro, quem é ocê?
— Vocês não estão me reconhecendo? - Ele perguntou.
Logo em seguida olhou para trás onde por alguma razão tinha um espelho e ficou de boca aberta. Ele não estava mais com a orelha costurada ou em carne viva, ou parecendo um monstro. Agora ele era um lindo cachorro preto pequeno com algumas manchas brancas.
— Sou eu, o Rex, só que não me chamo mais assim! Esse chá esquisito e muito gostoso que tomei, trouxe de volta as lembranças do meu passado. É uma longa história, mas eu vou contar tudo pra vocês, pra mostrar que, apesar de estar diferente, sou eu mesmo. Então, se preparem, porque o que eu tenho pra contar vai surpreender vocês!
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