27 - A BRASÍLIA AMARELA
Edilson começou a se vestir.
- O que está fazendo? - Perguntou Ana preocupada.
- Temos que dar o fora. Ir pra bem longe.
- Mas vamos pra onde?
- Eu conheço uma pessoa... Vou precisar de um telefone... Se ela estiver viva...
Edilson se lembrou de Joyce. De repente as lembranças do que tinha acontecido na casa vieram à mente co o em uma torrente. Ele se lembrou da entidade no quarto
(Quero comer), depois os tiros. Lembrava-se de Joyce sendo agarrada pelo pescoço, depois ele saiu correndo, e foi parar bem no portal para o inferno.
- Não acho que ela esteja viva.as gosto de ter um plano. Por enquanto o plano é dar o fora.
- Mas...
Edilson olhou para Ana.
- Se você quiser pode ficar aqui. Eu não estou nem aí.
Ele sentou-se e começou a calçar os sapatos.
Minutos depois os dois saíram da igreja.
A noite era tenebrosa e convulsão, estrelas estavam caindo do céu, como em uma chuva de meteoros bizarra. No fundo eles sabiam que não tinha nada a ver com estrelas.
Saíram caminhando, por um caminho que um dia tinha sido uma estrada, agora nada mais do que uma trilha cercada pela densa floresta.
Cerca de meia hora depois saíram em uma estrada asfaltada.
Edilson parou e ficou olhando. Não tinha a menor ideia de onde estava e nem para o de ir.
- Pra onde a gente vai? - Perguntou Ana, aflita.
- Para onde você iria?
Ana olhou para a estrada e então apontou para a direita.
- Eu iria pra lá.
- Ótimo. Então a gente vai para o lado oposto.
Ana franziu o cenho.
- Então por que me perguntou?!
- Só pra encher o saco.
- Seu idiota!
Edilson saiu andando pela estrada e segundos depois Ana o seguiu.
*****
Edilson e Ana caminhavam pela estrada poeirenta quando avistaram uma Brasília amarela velha e desgastada parada no acostamento. Os olhos de Edilson brilharam com uma ideia. Ele precisava de um carro, e o único que vira até então, era aquela Brasília, então que fosse.
- Vamos de carona? - sugeriu ele, esboçando um sorriso de quem já decidira o que fazer.
- Vai roubar o carro?!
- Eu acho que, dadas as circunstâncias, ninguém vai se importar. O que acha?
Sem esperar resposta, Edilson correu até o carro, arrombou a porta e sentou-se ao volante. Puxou alguma fios debaixo do painel, e segundos depois o motor roncou como se despertasse de um longo sono.
- Não acredito que vai roubar um carro agora! - Ana exclamou, cruzando os braços.
- Se quiser entrar entre . Se não quiser eu não estou nem ai. Tem 5 segundos para decidir.
Mesmo relutante ela acabou entrando no veículo.
Ele acelerou com um entusiasmo selvagem, deslizando pelo asfalto com pressa. No entanto, ao virar uma esquina apertada, cinco cachorros apareceram no meio da pista, assustados e sem ter para onde correr. O baque foi inevitável.
Edilson soltou um palavrão, e Ana, chocada, não se conteve.
- Seu desgraçado! Olha o que fez!
Ele tentou se justificar, mas ela o interrompeu.
- Pra onde a gente tá indo agora, hein? Vai matar mais quantos?
- Vai tomar no cu. Não foi minha culpa, porra!
Ana cruzou os braços emburrada.
Edilson percebeu que o carro tinha um toca fitas. Abriu o portão luvas e achou algumas fitas K7, pegou uma e a enfiou no rádio. Raul Seixas começou a cantar.
Tem dias que a gente se sente
Um pouco, talvez, menos gente
Um dia daqueles sem graça
De chuva cair na vidraça
Um dia qualquer sem pensar
Sentindo o futuro no ar
O ar, carregado, sutil
Um dia de maio ou abril
Sem qualquer amigo do lado
Sozinho, em silêncio, calado
Com uma pergunta na alma
Por que nessa tarde tão calma
O tempo parece parado?
Edilson olhou para frente e murmurou algo inaudível, acelerando rumo a um destino que nem ele sabia ao certo.
*****
Na estrada poeirenta, cinco cães corriam em desespero, suas patas levantando poeira enquanto seguiam rumo à igreja abandonada. Entre eles estavam Enovigenese, que liderava a corrida; Jurismela, que trotava logo atrás, com um olhar determinado e a respiração ofegante; seu irmão, Jurismelo, que seguia ao lado, pequeno mas veloz, sem medo de correr com o grupo; Chefe Charlie Cavalo, que avançava com força e ritmo militar; e, por fim, Dadimilho, que corria aos pulos, como se aquilo fosse uma brincadeira, mesmo sabendo que não era.
A estrada fazia uma curva acentuada à direita, os cinco estavam tão focados que não ouviram o som crescente de um motor que vinha a toda velocidade. Foi então que, de repente, uma Brasília amarela apareceu na curva, os faróis refletindo na poeira, surgindo rápido demais para qualquer reação.
Enovigenese tentou desviar, seus olhos arregalados com o susto, mas a Brasília os atingiu sem piedade. Em um instante, o impacto lançou os cinco para o ar. Era como se o tempo tivesse parado, cada um deles em diferentes posições, patas e caudas suspensas em uma fração de segundo que pareceu durar uma eternidade.
O carro não parou, a poeira ainda flutuava, e os cinco cães jaziam ali, quietos, como se a corrida até a igreja nunca tivesse acontecido.
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