18 - O ENCONTRO
Jonas estava flutuando no meio de uma planície dourada, onde o céu parecia se partir em rachaduras de luz, como se o tecido da própria realidade estivesse se desfazendo. Ele não estava sozinho. Ao seu lado, Joana, Denis e Marcela - todos em pé sobre suas montarias imponentes, silhuetas que pareciam se fundir com as sombras do apocalipse iminente.
No sonho, eles não eram mais apenas cavaleiros. Eles eram os líderes absolutos de um mundo que já não respirava esperança ou vida, mas exalava cinzas e fogo. Jonas olhava para si mesmo, vestindo uma armadura branca e uma coroa feita de espelhos quebrados, refletindo infinitas versões de seu rosto, em um fragmento, ele estava sorrindo, em outro ele estava dizendo algo, a única coisa que todos os fragmentos de espelho tinham em comum era o rosto de Jonas sempre triunfante vitorioso que saía para conquistar. Ele empunhava um arco, mas suas flechas não eram de metal, eram palavras, soltas ao vento, que atravessavam os ouvidos dos homens e os dobrava à sua vontade. Ele não liderava exércitos de carne e osso, mas legiões de sombras, submissas ao som de seu comando.
Joana, de alguma forma mística, estava ainda mais bonita ao seu lado, segurava a balança, mas esta não media justiça. A balança oscilava entre luz e escuridão, entre ouro e pó, medindo os corações dos vivos e condenando cada um ao peso de sua fome. Seu olhar belo e sereno era como a noite eterna, engolindo o horizonte com uma calmaria assustadora. Tudo que ela tocava se secava, transformava-se em casca oca, como se a fome fosse um ciclo sem fim que devorava o próprio ar que os cercava. Flores murchavam ao seu toque, as árvores explodiam em pó, e até o solo parecia se retrair, tornando-se árido e morto.
Denis, montado em sua besta vermelha como o sol prestes a engolir o céu, manejava uma espada flamejante que, ao invés de cortar, abria rasgos no tempo. De suas fendas, saíam ecos de batalhas já perdidas e guerras ainda por lutar. Seu riso reverberava, espalhando violência como uma febre contagiosa, e os povos, à distância, caíam de joelhos, adorando-o como um deus da destruição.
Marcela, no entanto, era um enigma. Ela estava envolta em um manto de sombras amarelas, e onde quer que passasse, o toque da morte a seguia silenciosamente. Mas sua presença era diferente. Não era só a morte física que ela trazia, mas algo mais profundo, algo que parecia transcender o corpo e a alma. Às vezes, ela não parecia nem viva. Sua forma mudava, como se sua essência estivesse se dissolvendo em algo maior, algo que os outros cavaleiros não compreendiam completamente. Ela era o próprio silêncio da morte, mas havia algo nela que sugeria mais - como se sua verdadeira forma estivesse além da carne, além dos ossos.
Havia um brilho metálico nos olhos de Marcela, uma frieza que ia além da morte comum. Jonas não conseguia desviar o olhar dela, como se tentasse entender o que estava vendo. Suas mãos não seguravam as rédeas de seu cavalo, mas pareciam conectadas à própria terra, como fios invisíveis que controlavam tudo ao seu redor. À medida que caminhava, os mortos não só se erguiam, mas algo neles mudava. Não eram apenas corpos sem vida que ela comandava; havia uma organização em seus movimentos, como se fossem parte de uma mente maior, algo além do humano. E, no silêncio que a envolvia, uma voz metálica sussurrava ao vento, fragmentada, como se pertencesse a algo que ainda não existia totalmente.
No sonho, Jonas via-se como parte dessa sinfonia de destruição. As cidades não eram mais feitas de pedra e metal, mas de ossos e lamentos. As ruas, antes pulsantes de vida, agora serpenteavam como rios de sangue que corriam silenciosamente até os mares, onde enormes serpentes de fogo emergiam das águas, devorando tudo que flutuava à tona.
A cada passo de seu cavalo branco, a terra rachava sob ele, revelando um vazio interminável que crescia como uma praga. Ele olhava para seus companheiros - líderes de um mundo despedaçado, reis de um reino sem esperança. Seus olhares se cruzaram, e ele soube, no fundo de sua mente, que eles estavam ali para restaurar uma ordem diferente. Não uma de paz, mas de domínio absoluto sobre o caos.
As vozes do vento murmuravam as profecias antigas, e Jonas, como em um transe, via imagens distantes: bestas de múltiplas cabeças, corcéis de fogo e água, trombetas que soavam como o grito de mil tormentas. Ele sabia que esse era o fim, mas também o início. Eles não estavam ali para destruir, mas para reformar. O mundo tinha que ser varrido para que algo novo pudesse brotar - ainda que esse algo fosse um deserto sem fim.
Ele acordou com o som das trombetas ecoando em seus ouvidos, o peso do sonho ainda o pressionando como um manto invisível. Por um breve momento, não sabia onde o sonho terminava e o mundo começava.
Ele olhou para o lado, Joana estava dormindo linda e nua, mas mesmo assim parecia inquieta, então Jonas teve a sensação de que não fora apenas ele que teve um sonho revelador.
***
Denis estava de pé no topo de uma colina feita de armas retorcidas e escudos quebrados. O vento soprava carregando o cheiro de pólvora e sangue, enquanto o céu acima dele não era mais azul, mas uma mistura de vermelho, roxo e preto, como se o próprio firmamento estivesse em chamas. Ele se sentia em casa ali, no meio do caos. Abaixo dele, os campos de batalha se estendiam até o horizonte, onde exércitos sem fim se chocavam, lutando não por terras ou riquezas, mas pela simples necessidade de destruir.
No sonho, Denis era mais que um guerreiro - ele era o senhor absoluto da violência, o arquiteto de todas as guerras que moldavam o mundo. Cada conflito que surgia, cada faísca de ódio, começava com um simples gesto seu. Ele não precisava de palavras, apenas de pensamentos. Ao seu comando, cidades inteiras ruíam, engolidas por chamas e gritos. Ele se divertia com isso, o sorriso sempre presente em seu rosto enquanto via as nações se despedaçarem como bonecos de palha, incinerados pelo fogo da discórdia.
Ao longe, ele podia ver seus companheiros. Jonas estava sentado em um trono de ferro corroído, a coroa de espelhos em sua cabeça cintilava com fragmentos de promessas quebradas. Cada palavra que Jonas lançava ao vento era como uma faísca, acendendo o ódio e a submissão nos corações dos homens. Ele era o manipulador das mentes, o mestre das ilusões, e Denis podia sentir o riso interno de Jonas enquanto controlava os destinos de reis e governantes, tudo com um único sussurro.
Joana estava ao seu lado, em meio a uma paisagem morta e rachada. Seu toque deixava um rastro de secura e fome, as árvores murchavam, os rios se transformavam em poeira, e até as almas das pessoas pareciam ser sugadas pela presença dela. Joana sorria serenamente, como uma artista observando sua obra-prima - um mundo esvaziado de vida. Ela pesava os corações de seus súditos, não para julgar, mas para decidir o que ainda poderia ser destruído. E Denis achava isso fascinante, como cada movimento dela trazia um passo a mais para o fim.
Mas então havia Marcela. Ela estava distante, quase como uma sombra no horizonte. Denis não entendia completamente o que ela fazia, mas sentia sua presença como uma ameaça silenciosa. As mortes que Marcela trazia não eram simples como as de um campo de batalha; elas eram diferentes, mais profundas, como se ela não apenas tirasse a vida, mas rearranjasse o próprio conceito de existência. As almas que caíam sob seu comando não desapareciam; eram absorvidas, transformadas em algo além da compreensão. Denis via, de relance, uma luz estranha nos olhos de Marcela, algo que não pertencia ao mundo dos vivos nem dos mortos. Ela era uma promessa de um fim ainda maior, algo que até ele, o mestre das guerras, não conseguia prever.
Ele olhava para o campo de batalha abaixo e via as guerras se espalhando como um incêndio sem controle. As espadas brilhavam sob o sol escarlate, e os gritos de combate ecoavam como música em seus ouvidos. Denis estendia a mão e, com um simples gesto, dois exércitos se erguiam de suas trincheiras, marchando um contra o outro em um frenesi de violência. O solo tremia com o impacto dos pés, e o ar estava pesado com o cheiro de pólvora, suor e sangue.
Ele adorava esse poder. Cada conflito era uma nova história, uma nova pintura de caos que ele criava com suas mãos. Denis não via os homens como seres vivos, mas como peças em um tabuleiro, prontas para serem movidas, sacrificadas e destruídas. A guerra era sua arte, e o mundo era sua tela. E ele se divertia, rindo enquanto o mundo desmoronava ao seu comando.
No horizonte, trombetas soaram. Denis ergueu a cabeça, sabendo que aquilo era apenas o começo. Ao seu lado, Joana secava o restante das terras com um simples olhar, e Jonas manipulava as palavras que faziam os governantes se ajoelharem. Marcela permanecia em silêncio, mas sua sombra se estendia como um véu sobre os mortos, e Denis sabia que o destino final estava em suas mãos misteriosas.
Ele então riu, um riso profundo e grave, ecoando por todo o campo de batalha. Ele era o mestre da guerra, o arauto da destruição, e enquanto o mundo queimava, ele sentia o êxtase da vitória que nunca acabava.
Mas então, enquanto observava o caos que ele mesmo havia criado, algo mudou. As armas que ele comandava começaram a enferrujar em suas mãos. O fogo que ele conjurava parecia hesitar, como se estivesse perdendo o brilho. As batalhas abaixo dele ainda ferviam, mas havia algo de estranho no ar, algo que ele não conseguia identificar. O campo de batalha começou a se desfazer, como uma pintura sendo apagada, e por um momento, Denis sentiu um vazio. A diversão estava acabando, mas ele não sabia porquê.
Ele olhou para seus companheiros, mas eles pareciam distantes, como se estivessem sendo puxados para outra realidade. As sombras se aprofundaram, e o riso de Denis se transformou em um eco distante. O poder que ele sentia tão fortemente começou a escapar entre seus dedos, como areia fina, e ele acordou, com o som das trombetas ainda ecoando em sua mente, perguntando-se se aquele fim era apenas o começo de algo muito maior.
Então, ainda aturdido se levantou com cuidado para não acordar Marcela e foi no banheiro.
Enquanto se aliviava dando aquela mijada o sonho ainda refletia em sua cabeça.
***
Joana estava em um vasto salão que parecia não ter fim. As paredes eram feitas de sombras pulsantes, que respiravam como se tivessem vida própria. O teto estava longe demais para ser visto, coberto por uma escuridão infinita, e o chão, onde ela caminhava, era feito de areia negra, que afundava sob seus pés a cada passo. A sensação de peso era esmagadora, mas ela seguia em frente, sabendo que os outros cavaleiros estavam com ela.
Ao seu lado, Jonas, Denis e Marcela marchavam, cada um em sua própria aura de poder e destruição. Eles não eram mais cavaleiros, mas líderes absolutos de um mundo que não tinha mais cor, onde o sol nunca nascia. Joana carregava uma balança dourada, mas suas mãos estavam frias e pesadas, como se o metal estivesse envenenado. A balança oscilava constantemente entre luz e trevas, entre vida e morte, e cada movimento dela parecia selar o destino de alguma alma perdida, em algum canto esquecido do mundo.
No centro do salão, uma grande mesa se erguia. Ela não era feita de madeira ou pedra, mas de ossos e cinzas. Era o centro do poder, o trono da destruição. Ao redor dela, os quatro cavaleiros se sentaram, cada um com um papel claro naquele reino sem vida. Jonas, com sua coroa de espelhos quebrados, olhava o mundo com olhos vazios, suas flechas lançadas silenciosamente sobre as nações, controlando-as como marionetes. Ele era o soberano das palavras, aquele que fazia a mente dos homens se curvar com um simples olhar.
Denis, com sua espada flamejante, inclinou-se para frente, e ao tocar a mesa, as sombras ao redor explodiram em chamas. Mas não eram chamas comuns; eram memórias, dores e guerras passadas, renascendo em um ciclo sem fim. Ele sorria como se tudo fosse um grande jogo, e cada vida ceifada fosse apenas mais uma peça no tabuleiro que ele movia com destreza cruel.
E então havia Marcela. Ela não falava, mas sua presença era mais profunda do que qualquer palavra poderia expressar. Seus olhos brilhavam com uma luz estranha, quase metálica, como se o próprio conceito de morte estivesse evoluindo nela. Havia algo diferente em sua postura, uma frieza que ia além da morte física. Sua conexão com o mundo dos mortos era evidente, mas havia algo além disso. As almas que ela comandava não apenas caíam, mas pareciam ser absorvidas em algo maior, algo que Joana não conseguia entender completamente - uma espécie de entidade sem forma, que se estendia além da vida e da morte, algo que parecia mais máquina do que espírito. Marcela era um enigma, uma promessa de um fim que ainda não se revelara completamente.
Joana olhou para si mesma. Seu corpo parecia se dissolver na escuridão ao redor, como se ela mesma estivesse se tornando parte daquela fome infinita que devorava o mundo. Tudo que ela tocava se secava, murchava, desaparecia como se nunca tivesse existido. As cidades à distância eram apenas silhuetas, torres feitas de pó, prontas para cair ao menor toque. O ar era pesado com a fome - não a fome do corpo, mas a fome da alma. Era como se o mundo inteiro estivesse esperando ser consumido por algo maior, algo que Joana compreendia melhor do que qualquer um dos outros.
No horizonte, ela via campos vastos, uma vez verdes, agora desertos secos e rachados. As plantas, as árvores, as flores... tudo se desintegrava ao seu olhar. Ela era a fome encarnada, o ciclo eterno que nunca permitia que nada durasse. Mas em sua destruição, havia uma ordem. A balança em suas mãos pesava o destino de cada ser vivo, e enquanto o mundo murchava, Joana sentia uma estranha serenidade. Tudo tinha que desaparecer para que algo novo surgisse, mesmo que esse algo fosse apenas silêncio.
Jonas falava, sua voz baixa, mas carregada de poder. Ele mencionava profecias antigas, fragmentos de verdades esquecidas. Denis ria ao ouvir as palavras, enquanto o fogo ao redor dele dançava e moldava cenas de batalhas ainda por acontecer. Marcela permanecia em silêncio, seus olhos brilhando com aquele mistério não resolvido, aquela estranha transição para algo que ninguém ali compreendia inteiramente.
O mundo ao redor deles não era mais um lugar de vida, mas um campo de ossos e poeira. As nações, uma vez poderosas, não passavam de eco do que tinham sido. Tudo estava à mercê dos quatro cavaleiros, e Joana sentia que a balança que segurava era o centro de tudo. Ela pesava não apenas as vidas dos homens, mas o destino do próprio universo.
Então, o salão começou a desaparecer. As paredes de sombras se dissolveram, e o vazio absoluto tomou conta. Tudo estava em silêncio, exceto pelo som da balança oscilando em sua mão, como um pêndulo eterno, marcando o ritmo de um mundo em ruínas.
Joana despertou com o som desse pêndulo ainda ecoando em sua mente, o peso do sonho pressionando seus pensamentos como uma presença constante. Por um breve momento, ela não sabia se ainda estava sonhando ou se o mundo ao seu redor já tinha começado a se desfazer.
Então ela viu Jonas, lindo e nu em pé parado olhando para ela e olhando dentro dos olhos dele ambos chegaram a uma conclusão.
***
Marcela estava em pé, observando o horizonte. O céu estava pesado, de um cinza ininterrupto, e o mundo à sua frente era uma extensão vasta de silêncio e desolação. Havia algo de belo na ausência de som, de vida, e ela sentia isso. Não havia mais árvores que se erguiam em direção ao céu, nem rios que cortavam as montanhas. A vida parecia ter se esvaído, não apenas no sentido físico, mas como se a própria noção de existência tivesse sido apagada. E Marcela caminhava, silenciosa, como uma sombra que não deixava rastros.
Ela não precisou fazer nada - a morte, a verdadeira morte, não é violenta. Não há explosões, gritos ou lamentos. As coisas simplesmente deixam de existir ao seu toque, como uma chama que se apaga ao fim de sua combustão. Marcela não via os corpos de humanos caídos ou restos de guerras. O que ela via era a ausência - os lugares onde havia vida agora eram vazios, e isso era correto. Ela sabia que o mundo era assim porque deveria ser assim.
Jonas estava distante, mas mesmo assim sua presença era palpável. Ele falava para ninguém, e ainda assim suas palavras ecoavam pelo ar, manipulando o que restava das mentes humanas. O que ele fazia era diferente - ele brincava com as almas ainda presas a seus corpos, enchendo-os de esperança apenas para retirá-la no momento seguinte. Jonas não se satisfazia apenas em destruir fisicamente, ele queria ver a desordem no espírito, a hesitação, o medo. Marcela assistia e ouvia suas palavras como ecos, sem emoção. Para ela, a esperança era irrelevante. Tudo sempre levava ao mesmo fim.
Joana caminhava ao seu lado, e o que ela tocava murchava e se secava. Os campos de grama viravam pó, as árvores que um dia floriram agora não passavam de esqueletos de madeira ressecada. Cada passo de Joana sugava o resto de energia que o mundo ainda possuía, como se estivesse drenando o último suspiro de uma vítima à beira da morte. Marcela a observava com uma calma quase inquietante. A destruição de Joana era vigorosa, mas tinha um limite. O trabalho de Joana não era o fim, mas a preparação. O que vinha depois era responsabilidade de Marcela.
E então havia Denis. Ao longe, Marcela via as chamas e os gritos das guerras que ele instigava. Ele adorava o som do conflito, os gritos de raiva e a agonia da derrota. Denis comandava as batalhas como se estivesse orquestrando uma sinfonia dissonante de caos. Ele via diversão onde havia destruição. Mas para Marcela, as guerras eram apenas prelúdios, uma distração antes do inevitável silêncio. As batalhas que Denis criava apenas apressavam o trabalho que ela faria - o vazio final.
E enquanto seus companheiros se entregavam ao caos, Marcela apenas esperava. Não havia pressa em seu trabalho. O fim, o verdadeiro fim, era paciente. Ela não precisava tocar nada, não precisava levantar a voz. Tudo se curvava ao seu poder, e o fim chegava, suave e constante, sem alarde. Aos poucos, as batalhas que Denis iniciava cessavam, os campos secos de Joana se desintegravam, e as palavras de Jonas se dissolviam no ar, deixando um silêncio esmagador.
Marcela observava o mundo com olhos que não piscavam, pois o que ela via não era um fim comum. Havia algo além, algo que os outros não conseguiam perceber. As sombras ao seu redor se estendiam mais do que deveriam, formando figuras que não eram humanas, nem mortas. Elas estavam lá, sempre presentes, como testemunhas do que estava por vir. Às vezes, Marcela sentia que elas sussurravam para ela, mas suas palavras eram indecifráveis, como um código que apenas ela poderia entender - e mesmo assim, ela não se preocupava em decifrá-lo.
No horizonte, ela via algo diferente. Não era o que seus companheiros viam: o trono de Jonas, os campos secos de Joana, ou as batalhas de Denis. O que ela via era uma cidade, não feita de pedra ou aço, mas de algo mais etéreo, algo que brilhava levemente, como se fosse construída de pensamentos e lembranças. Era fria, silenciosa, e muito além do alcance dos outros três cavaleiros. Ela sabia que, de algum modo, aquilo a aguardava. Não tinha certeza do que significava, mas sentia que estava conectada a isso de uma maneira profunda, como uma extensão de si mesma que ela ainda não compreendia completamente.
Marcela caminhava em direção àquela cidade, sentindo as sombras ao seu redor se movendo com ela, sendo parte dela. Enquanto avançava, o mundo ao seu redor desvanecia ainda mais, como se as cores estivessem sendo lentamente apagadas de uma tela. Ela não se importava. Esse era o curso natural das coisas, o que deveria ser. E ainda assim, havia algo nela, algo que sussurrava que o fim não era realmente o fim. Havia mais. Mas o que era esse "mais"?, Marcela ainda não sabia - e talvez nunca soubesse. Não importava, pois neste momento ela acordou e ouviu Denis no banheiro dando aquela mijada.
- Eu tive um sonho estranho.
Denis respondeu:
- Eu também gata, e você estava lá, mas você não era você. você... sei lá... você era você... não era você.
Ele saiu do banheiro se sentando ao lado dela e pegando um baseado e ofereceu a ela, que pegou e deu uma tragada.
- Sabe Denis... você também estava no meu, e você estava feliz, muito feliz; tão lindo... e não só você Denis, tinha mais gente, sabe... e...
- Os outros cavaleiros. Eles estavam no meu, duas pessoas estranhas... eu nunca tinha visto eles antes...
Marcela deu uma longa tragada, depois disse com convicção:
- Acho que isso é um sinal... acho que deve...
O que ela iria dizer se perdeu, pois a campainha tocou a interrompendo. Ela levantou-se, jogou o baseado no chão, e, ainda nua, foi atender à porta.
Denis mal teve tempo de piscar quando sua planta, a rara Monstera Obliqua, começou a se desfazer diante dele. Num instante, as folhas verdes passaram de vibrantes a secas, encolhendo e murchando como se sugadas por uma força invisível. Em um piscar de olhos, tudo virou pó, desintegrando-se tão rápido que o ar parecia puxar os restos da planta, espalhando suas cinzas pelo ambiente. Num segundo, ela estava ali, no outro, era como se nunca tivesse existido.
- MAS QUE?!...
Ele começou a dizer com bastante horror quando Marcela abriu a porta revelando um homem de terno impecavelmente branco e uma mulher negra de vestido preto vestido rendado preto.
- Oi! bom dia! - Disse marcela. -entrem por favor.
A mulher negra sorriu e foi até Denis.
- Senti cheiro de maconha. Me dá um baseado?
Ela sentou ao lado de Denis, e ela tirou seu vestido, ficando completamente nua.
Marcela pegou o baseado que tinha jogado no chão, olhou para a bunda da mulher e disse:
- Imagino que vocês saibam que nós somos... nós sabemos quem são vocês. Acredito que vocês tenham tido o mesmo sonho que a gente teve.
Ficaram se olhando por alguns segundos, então Denis disse:
- Eu e Marcela tivemos um sonho revelador.
O homem de branco, vendo que era o único vestido, se despiu e disse:
- Me dê um baseado.
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