14 - O TERROR NO 480
Edilson esperou o homem estranho, chamado Castiel, ir para o quarto e então decidiu voltar para sua sala. Estava com uma dor de cabeça terrível, e aquele sonho...
"Como era o sonho?"
E o que era aquela sensação estranha que ele estava sentindo desde que acordara?
Será que ele havia realmente acordado? Quando foi que dormiu? O que ele estava fazendo antes de começar a trabalhar ali?
— Você precisa assumir o controle do seu corpo.
Ele fechou os olhos e abaixou a cabeça. Então, teve um vislumbre de algo. Com horror, viu um grupo de crianças se ajoelhando para devorar o cadáver de uma mulher nua, perto de um banco de praça. Viu bombas explodindo, prédios desmoronando, pessoas saltando de edifícios, mas, ao invés de morrerem, levantavam-se com as cabeças destruídas, ossos quebrados, cambaleando pelas ruas. O mundo havia enlouquecido.
Quando abriu os olhos, sabia que algo o alertava para ficar quieto. Mas quem estava pedindo isso?
Uma visão, ou seria uma alucinação?
— Você está bem?
Era Ana, sua namorada. Naquele momento, um pensamento surgiu:
"Como vocês começaram a namorar? Como se conheceram?"
— Eu trouxe bolo de brigadeiro.
— Obrigado, Ana.
— Você não parece bem.
"Eu não estou", ele pensou. E lembrou-se da visão, morrendo junto com aquela sensação de tempo distorcido.
— Dormi mal à noite, tive um pesadelo terrível. Ana, você lembra qual foi a última vez que saiu do hotel?
Ela balançou a cabeça, confusa. Não se lembrava da última vez que havia saído. Mas, afinal, o que importava?
— Amor… estamos dentro desse hotel há tanto tempo que ele se tornou nosso lar.
Ela estava sorrindo. Edilson ficou olhando para ela com ar de dúvida.
— Alguma coisa o aflige? - Ela perguntou.
— Não é nada. Preciso tomar um trago. A gente se fala depois.
Edilson seguiu seu caminho até sua sala e Ana ficou ali, sozinha no corredor, achando que talvez alguma coisa estivesse acontecendo com Edilson.
*****
Castiel entrou no elevador do hotel, os olhos fixos nas portas de metal à sua frente. Ao seu lado, o funcionário do hotel, um homem de aparência comum, trajado com o uniforme impecável, sorriu amigavelmente, apertando o botão do sexto andar.
— Esse hotel é o melhor que existe — disse o homem, com um sorriso tão brilhante quanto falso. — Temos tudo que qualquer pessoa poderia desejar. Conforto, tranquilidade, nada de problemas.
Castiel lançou um olhar rápido em sua direção, o rosto impassível, mas seus sentidos estavam em alerta. Ele sabia que aquele lugar não era um hotel de verdade, e agora tinha certeza de que o homem ao seu lado não era quem fingia ser.
— Sei que isso não é um hotel — respondeu Castiel, sua voz baixa, mas carregada de convicção.
O sorriso do funcionário desapareceu, substituído por uma expressão mais sombria, quase predatória. As lâmpadas no teto começaram a piscar, os olhos do homem, que antes eram humanos, começaram a se transformar, assumindo uma coloração vermelha profunda, e um brilho maligno. Os dentes ficaram mais pontiagudos, revelando o verdadeiro monstro por trás da máscara humana.
De repente o elevador se transformou numa caótica caixa coberta de sangue, que pingava do teto e vertia das paredes.
— Então você sabe demais. - Rosnou o demônio, avançando contra Castiel com uma velocidade sobre-humana, as mãos agora transformadas em garras afiadas, mirando diretamente seu pescoço.
Mas Castiel já esperava pelo ataque. Num movimento rápido e preciso, ele puxou sua espada celestial, a lâmina brilhando com uma luz intensa que preenchia o pequeno espaço do elevador. O som do metal cortando o ar foi seguido pelo grito agudo do demônio, que, sem tempo para reagir, foi partido ao meio pela espada.
O corpo do demônio se desfez em uma fumaça escura e densa, que rapidamente desapareceu no ar. Castiel recuou a espada, seu olhar atento, já prevendo que aquilo era apenas o começo.
O elevador deu um leve solavanco e parou no sexto andar. As portas se abriram com um zumbido mecânico, revelando um corredor escuro e úmido. O ar estava carregado de um cheiro metálico, como sangue derramado. Havia dois leões espalhados, um de cada lado do hall, mas então ele percebeu que não eram leões, eram criaturas bizarras, criaturas do inferno. Sem hesitar, Castiel deu um passo à frente, pronto para continuar sua missão de libertar Ana e Edilson. Mas assim que ele pisou no corredor, foi recebido por uma horda de demônios e súcubos, que o cercaram por todos os lados.
Afinal Lilith não estava de brincadeira, ela tinha lhe mandado diretamente para uma armadilha, talvez com ordens para eliminá-lo caso ele causasse problemas.
Os demônios, grotescos em forma, com pele enegrecida e olhos brilhantes de malícia, avançaram com grunhidos famintos, enquanto as súcubos, de beleza enganadora, moviam-se sinuosas, suas presenças sedutoras e ameaçadoras. Castiel sentiu o peso da escuridão ao seu redor, mas também a clareza de que estava no lugar certo. Este era o coração da ilusão, o lugar onde Lilith e Lúcifer mantinham seus prisioneiros.
Sem perder tempo, ele se lançou à batalha. Sua espada celestial cortava o ar com precisão letal, e a luz divina que emanava dela era capaz de destruir os demônios ao menor toque. O primeiro a avançar contra ele foi um demônio de pele cinzenta, com garras afiadas como lâminas. Castiel o decapitou com um único golpe, o corpo monstruoso caindo no chão em uma poça de sangue escuro.
Logo em seguida, duas súcubos tentaram enlaçá-lo com correntes de energia, as formas femininas se aproximando sedutoramente, mas Castiel não se deixou enganar. Girando com maestria, ele lançou a espada em um arco largo, cortando as correntes no ar e despedaçando os corpos das súcubos que caíram ao chão com um grito agudo de dor.
Outros demônios avançaram. Um deles, maior que os demais, saltou em sua direção, suas mãos em chamas, tentando agarrá-lo. Castiel desviou com agilidade, e com um golpe rápido e limpo, cravou a espada no peito da criatura, a lâmina perfurando o coração demoníaco e fazendo o corpo monstruoso explodir em uma nuvem de cinzas.
Os corredores do hotel estavam agora manchados de sangue e destroços infernais. Castiel, cercado por corpos desfeitos e fumaça negra, respirava com controle, mas sabia que mais viriam. A ilusão criada por Lilith e Lúcifer era poderosa, e ele estava no centro dela. Mas cada demônio que caía sob sua lâmina confirmava: ele estava no lugar certo. E precisava seguir em frente.
Agora Castiel sabia que Ana e Edilson estavam ali, presos na ilusão, e o tempo estava se esgotando. Ele podia sentir a presença sinistra de Lilith à distância, o rastro de sua influência perversa se espalhando pelos corredores como veneno. E também sabia que Lúcifer estava perto, aguardando, manipulando os acontecimentos nas sombras.
A lâmina de sua espada ainda cintilava, brilhando com a luz celestial que cortava a escuridão ao redor. Castiel deu mais um passo à frente, determinado, enquanto os gritos distantes de demônios ecoavam pelo prédio. Ele não pararia até libertar Ana e Edilson daquele pesadelo infernal.
Ele estava pronto para enfrentar qualquer coisa que viesse a seguir.
Castiel ouviu dois fortes, terríveis e trepidantes rugidos atrás de si. Olhou para trás e viu. Os dois leões monstruosos do hall agora estavam no corredor, prontos para atacar.
Castiel apertou o cabo da espada e se preparou.
*****
Castiel sabia que lutar contra aquelas bestas seria suicídio. Os leões monstruosos avançavam com garras afiadas, seus olhos ardendo em um brilho selvagem. Ele hesitou por um segundo, o suficiente para sentir o terror pulsando em suas veias, mas logo tomou uma decisão.
Ele precisava fugir.
Com um último olhar para os leões que agora estavam prestes a saltar, ele virou-se e disparou pelo corredor. Seus pés batiam no chão com força enquanto ele corria, o coração martelando no peito. O som das garras arranhando o mármore atrás de si aumentava a urgência. O corredor parecia não ter fim. Ele passava por infinitas portas. Os olhos mágicos acima dos números (todos eram 480) eram olhos humanos, que o perscrutavam, sondavam sua alma, acima deles um crânio com dois ossos cruzados como em uma bandeira pirata.
Castiel seguiu correndo pelo infinito corredor, atrás ouvia os sons tenebrosos das coisas que se aproximavam.
Ele dobrou à esquerda e continuou correndo, o apartamento número 480 estava logo à frente. Ele estendeu a mão, sentindo o ar frio ao redor enquanto o eco dos rugidos o pressionava. Quando chegou à porta, sem pensar, empurrou-a com força. Ela se abriu com um rangido sinistro, o som metálico das dobradiças rangendo encheu o ar.
Castiel entrou e bateu a porta atrás de si. O silêncio dentro do apartamento era opressor, contrastando com a cacofonia que havia deixado do lado de fora. Ele ofegava, tentando controlar a respiração, mas algo estava errado. O lugar parecia deserto, mas ele sentia uma presença.
O apartamento era escuro, iluminado apenas pelo brilho pálido da claridade do dia que se infiltrava através de uma janela parcialmente aberta. Castiel avançou com cautela, os olhos ajustando-se à penumbra. O ambiente estava repleto de móveis cobertos de poeira e panos velhos, como se ninguém tivesse estado ali por anos.
Então, ele ouviu um som. Um sussurro baixo, vindo de um dos cômodos. Castiel apertou ainda mais o cabo da espada e, com passos lentos, foi em direção à origem do ruído. Quando chegou à porta do quarto, algo o fez parar.
Havia uma figura no meio do cômodo, uma sombra alta e esguia, de costas para ele. A figura parecia flutuar levemente acima do chão, envolta em uma névoa que brilhava em um tom azul opaco.
Antes que pudesse reagir, a figura se virou lentamente. Olhos vazios e pálidos o encaravam, e a voz sussurrante disse, com uma clareza gélida:
— Você não deveria estar aqui, Anjo.
Castiel ouviu um som amorfo. Alguma coisa caminhava atrás dele, alguma coisa úmida, os pés chapinhavam no piso de mármore do apartamento.
Ele sentiu-se gelar. Aquela coisa, fosse lá o que fosse, era a presença mais maligna que ele já sentira na vida.
Castiel olhou para trás e…
†
Continua
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