13 - CHECK-IN
Era uma estrada.
Havia uma cidade na frente dele, mas era como se uma bomba atômica tivesse explodido ali. Havia destroços por toda parte. Um vento forte estava assoprando, entortando árvores chamuscadas, levando pedaços de carros detonados.
Edilson viu os restos de um posto de gasolina e podia jurar que conhecia aquele lugar. O pedaço de uma placa do McDonald's havia sobrado e estava balançando ao vento, mostrando aquele típico "m" amarelo.
Edilson percorreu a rua apinhada de destroços e parou depois de alguns segundos.
Era o que havia restado de um semáforo. Alguém tinha pendurado uma faixa lá que estranhamente não estava queimada, parecia recente, a faixa era a única coisa inteira naquele lugar.
Edilson ficou parado ali algum tempo lendo o que estava escrito.
" POR MIM SE VAI À CIDADE DOLENTE,
POR MIM SE VAI À ETERNA DOR ,
POR MIM SE VAI À PERDIDA GENTE.
JUSTIÇA MOVEU O MEU ALTO CRIADOR,
QUE ME FEZ COM O DIVINO PODER,
O SABER SUPREMO E O PRIMEIRO AMOR.
ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI TODA ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS!"
Depois ele continuou andando.
Chegou a um ônibus escolar que estava atravessado na rua e viu alguém na janela entupida de fuligem.
- Ei!
A pessoa correu. Ele correu em seu encalço e a alcançou a cinquenta metros do ônibus. Os dois caíram no chão.
Era uma mulher maltrapilha. Pela aparência devia ter uns vinte e poucos anos. Estava usando um casaco esfarrapado cinza.
A mulher arregalou os olhos.
- Não se preocupe. Não vou machucar você. Que lugar é esse? Onde estou?
- Me solte!
Edilson saiu de cima da mulher e a ajudou a se levantar.
Ela ficou olhando para ele por alguns instantes, então enfiou a mão no bolso e colocou alguma coisa na mão de Edilson.
- De isso a ele. É a única maneira de não ficar vagando na margem do rio.
Edilson olhou para a mão e viu uma moeda de 1 real. Parecia que a moeda tinha uns quinhentos anos.
Ele olhou para a mulher mas ela já estava a uns vinte metros de distância. Ele não foi atrás.
- Que lugar é esse?
- Perto do quente, lá é o paraíso!
Edilson ficou olhando ela desaparecer entre os escombros, depois continuou caminhando.
Não conseguiu precisar quanto tempo caminhou, mas de repente ele parou abismado com o que estava vendo.
A estrada acabava ali. À frente havia um abismo. A paisagem era desoladora. Havia fogo e fumaça subindo para um céu negro.
Edilson viu um rio que ia até onde a vista podia alcançar e se perdia.
Além de tudo aquilo havia os gritos que pareciam fazer parte do ar.
- Deus! Não pode ser! Não...
Ele ouviu um ruído atrás de si e olhou.
Bruno estava lá, com aquele sorriso diabólico no rosto, apontando uma arma para ele.
Então ele puxou o gatilho.
Edilson levou um tiro na cara e despencou abismo abaixo.
*****
Edilson acordou em um sobressalto, o peito arfando, as imagens do sonho ainda queimando em sua mente.
Ele se levantou da cama com as pernas trêmulas e caminhou até o banheiro, onde ligou o chuveiro e deixou a água fria deslizar por sua pele, na esperança de que aquilo o despertasse completamente. Após o banho, secou-se rapidamente e foi até o espelho. Enquanto escovava os dentes, olhava-se atentamente, como se tentasse reconhecer algo familiar no reflexo, mas seus olhos pareciam vazios, distantes.
De volta ao quarto, algo chamou sua atenção. Sobre o criado-mudo, uma moeda de 1 real brilhava sob a luz fraca que entrava pela janela. Ele a pegou, girando-a entre os dedos. "De onde isso veio?", pensou, franzindo o cenho. Não lembrava de tê-la deixado ali, e o fato de encontrá-la o incomodava de uma maneira que ele não conseguia explicar. Sentia um desconforto crescente, algo fora de lugar, mas não sabia dizer o que.
Suspirando, vestiu o uniforme do hotel Pride Outstretched, sentindo o tecido familiar contra sua pele, embora a sensação de estranheza permanecesse. Algo o incomodava profundamente, uma sensação vaga de deslocamento. Enquanto ajustava a gravata, olhou ao redor do quarto. Tudo parecia normal, mas algo dentro de si gritava que não era. Ele tentou ignorar, mas não conseguia se livrar da impressão de que não sabia ao certo há quanto tempo estava ali. "Quando eu comecei a trabalhar aqui?", pensou, mas a resposta não vinha. Mais estranho ainda, ele não lembrava nem como havia chegado ali, como se as memórias de seu passado estivessem embaçadas, desbotadas.
Sem outra escolha, pegou suas coisas e saiu para mais um dia de trabalho, com a sensação incômoda de que estava perdendo algo essencial.
Caminhou rapidamente pelo corredor, seus passos ecoando. Saiu no corredor da enfermaria, dobrou à esquerda e lá estava ele, o salão Dourado, com todo seu glamour. O hotel estava bem cuidado sob sua gestão, e ele precisava cuidar para que se mantivesse assim durante a temporada que se aproximava.
Edilson parou diante do chafariz. O anjo estava lá, com Seu arco e flechas de cupido. Teve a sensação de que a estátua estava olhando para ele e um arrepio percorreu sua espinha.
"Tem um anjo no hotel."
O pensamento o atingiu como uma agulhada.
"Tem um anjo no hotel."
É claro que tinha um anjo. O maldito chafariz estava ali desde... desde quando?
- Bem... Que se foda.
Edilson continuou andando...
...Ele despencando no abismo eterno. Sua alma sendo trancafiada, substituída.
(Deixe-me entrar Edilson. Eu preciso entrar)
Ele deixou, ele abriu a porta e deixou entrar, e sua alma foi aprisionada.
(Prisão)...
Edilson segurou na parede enquanto o estranho lampejo de imagens pulsavam em sua mente.
- Sr. Edilson, o senhor está bem ?
Edilson levantou os olhos e viu uma mulher ruiva, vestida dentro de um uniforme de camareira, estava olhando para ele com ares de preocupação.
- Sim... eu estou bem...
Edilson seguiu em direção ao saguão principal onde ficava a recepção. Havia uma sensação estranha no ar. Algo que ele não conseguia explicar. Estava acostumado com aqueles corredores porque caminhava por ali todos os dias, mas agora havia algo estranho, algo que ele não sabia exatamente o que era.
Passou pelo elevador e as portas se abriram de repente e ele estancou.
Seus olhos estavam lhe pregando uma peça, era a única explicação.
O elevador estava completamente coberto de sangue. Havia sangue pingando do teto, escorrendo pelas paredes. Uma mulher de uns 25 anos saiu lá de dentro e sorriu para ele. Ela estava morta, havia uma machadinha fincada bem na testa dela, sangue escorria dos ferimentos. As órbitas eram duas bolas vazias, larvas se retorciam lá dentro e caiam pelo chão.
Edilson quis gritar, mas obrigou -se a se conter. Ele olhou para o grande saguão principal e viu mais pessoas, todas eram cadáveres em estado de putrefação.
O chão começou a se partir. Edilson viu labaredas surgirem das fendas, mãos putrefatas surgiram do meio do fogo e pessoas começaram a gritar. Eram gritos aterradores de pânico que inundavam a esfera do hotel.
Então, de repente tudo desapareceu.
Edilson estava tremendo e suando frio.
"Umas férias. Você está precisando de umas férias, meu chapa."
Era isso. Vinha trabalhando a tempos demais sem descanso. O estresse daquela temporada estava mexendo com ele. Prometeu a si mesmo tirar longas férias assim que aquela temporada acabasse.
"Tem algo pra você no apartamento 480."
O pensamento o atingiu como uma flecha. Ele olhou para o elevador (não havia sangue) deu dois passos na direção dele e então parou.
Que tipo de pensamento era aquele? O que poderia haver no 480?
Edilson caminhou na direção da recepção. Alguns funcionários o saudaram, outros perguntaram se ele estava bem. Ele desprezou todos e se embrenhou pelo corredor que ia dar na sala da gerência.
Parou diante da porta branca que tinha seu nome estampado em uma plaqueta de metal.
Abriu a porta e viu-se em sua aconchegante sala de gerente. Caminhou direto até o bar, o abriu e pegou uma garrafa de Blue Label que ali havia. Preparou um drinque e sentou -se em sua poltrona.
Estava tremendo. Não sabia explicar as sensações que estava tendo naquela manhã. Tudo por causa do sonho. Como era mesmo o sonho? Ele não conseguia se lembrar.
Tomou seu drinque com mãos trêmulas e depois sentiu-se melhor.
Levantou -se, saiu da sala e caminhou até a recepção.
Minutos depois, um hóspede recém chegado se aproximou da recepção. Era um homem de aparência simples, caucasiano, talvez 35 anos, a barba por fazer. Ele está a usando um sobretudo bege que o deixava com ares de detetive.
Edilson abriu seu melhor sorriso de relações públicas e disse:
- Bom dia .
O homem ficou encarando Edilson, aparentemente olha do seu crachá com a palavra gerente que ele tinha pendurado no bolso do paletó que está a usando.
- Meu nome é Edilson, - Continuou ele. - gerente aqui. O senhor tem reserva? Qual é seu nome?
- Eu... é... Cas... Castiel. Onde eu estou?
Edilson sorriu.
- O senhor está no Pride Outstretched, é claro.
- O que?
Edilson franziu o cenho.
- Pride Outstretched... hotel Pride Outstretched.
O homem o fitou como se ele tivesse dito um palavrão. Olhou ao redor e perguntou:
- Onde está Lilith?
*****
Primeiro ele pensou que fosse um truque arquitetado por Lilith. Mas então reconheceu as feições do homem que estava vendo. Reconheceu porque tinha mandado Raguel atrás dele. Aquele era Lúcifer, ou melhor, era Edilson, era a alma da casca que Lúcifer estava usando para se locomover sobre a Terra.
Castiel desviou os olhos do homem, que já estava olhando para ele como se ele fosse um maluco qualquer e se concentrou não no que estava vendo, mas na ilusão por trás do que estava vendo, e de repente ele viu onde estava.
Alguns conheciam aquele lugar por Geena, mas ele sabia que era uma prisão, uma prisão para almas, ou melhor, um lugar para iludir almas.
Castiel viu que estavam em uma espécie de ilha, cercada por um terrível lago de fogo, que por sua vez despencava em um abismo. O céu ao redor era rubro, refletia o fogo que queimava constantemente, além de ser povoado por gritos alucinados de pavor constante. Ele estava em pé diante de um corredor cheio de celas decrépitas.
O corredor estava tomado de cinzas que caiam como se fosse neve.
Voltou os olhos para a alma aprisionada atrás da cela.
- Você está preso. Não é o que pensa que é.
O homem ficou olhando para ele por alguns instantes, depois desviou o olhar para alguns homens uniformizados que estavam na porta de entrada. Seguranças. Castiel ponderou que poderia ter problemas.
Ele pigarreou e disse:
- Tenho uma reserva em nome de Castiel.
O sorriso de Edilson iluminou seu rosto. Ele digitou alguma coisa no computador e disse:
- Castiel... aqui está. Apartamento 410, sexto andar. - Edilson digitou mais alguma coisa e imprimiu um papel, que estendeu para Castiel, junto com uma caneta dourada, aparentemente de ouro. - Assinei aqui por favor, senhor, e ponha o número de seu cartão de crédito.
Castiel franziu o cenho.
- Cartão... de crédito?...
- Sim... seu cartão senhor.
Castiel sorriu, meio sem graça por não ter a mínima ideia do que era um cartão de crédito. Meteu a mão dentro do bolso interno de seu sobretudo e sentiu um volume. Franziu o cenho, pegou o volume e viu que era uma carteira. Dentro havia vários documentos com sua foto e um nome: Castiel da Silva Junior.
Ele sorriu e disse:
- Deve ser eu.
Ficou surpreso ao ver um pequeno pedaço de plástico verde com a figura de um guerreiro romano estampado junto com seu nome. O pedaço de plástico trazia o nome American express.
Devia ser aquilo.
Ele tirou da carteira e anotou o número no papel que Edilson lhe dera.
- Você precisa assumir o controle do seu corpo. - Disse Castiel.
O homem o fitou demoradamente. Castiel notou gotas de suor brotando de sua testa.
Castiel olhou na direção de uma grande parede envidraçada, viu uma mulher ruiva de uns 25 anos, trajando um uniforme vermelho de hotel.
- Ana! - Disse Castiel, e a mulher olhou para ele.
- Senhor Castiel!
A menção de seu nome o fez desviar os olhos de Ana que pareceu tão atônita quanto ele.
- Suas chaves! Sinta- se à vontade para fazer as refeições no restaurante Nevado e se banhar nas piscinas!
Castiel pegou as chaves
- Obrigado.
- Vou chamar alguém para levar suas bagagens para cima.
Antes mesmo que Castiel abrisse a boca para questionar quais bagagens, ele olhou para o lado e quatro malas pretas grandes e uma maleta menor estavam ali.
- Certo...
Edilson pegou um walkie talkie e então Castiel aproveitou esse tempo para voltar seu olhar para Ana que já não estava mais lá.
†
Continua
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