NOITE DE SÁBADO
“ merda”, pensou Pietro.
Para ele, um homem solteiro de 30 anos, estar sendo obrigado a ir em uma porra de reunião idiota de família em pleno sábado à noite era um martírio. Francamente, não era isso que ele tinha pensado para sua noite de sábado, não mesmo.
Pietro pensava em apenas passar outra noite em sua casa assistindo Netflix e comendo Doritos, enchendo-se de Coca-Cola, como em todas as madrugadas.
Mas lá estava ele, dirigindo seu carro, um palio preto, até a casa de um primo qualquer que ele não lembrava o nome, para encontrar seus parentes.
Ele se lembrava de alguns que ao menos conhecia. Ver suas irmãs exibirem suas vidas perfeitas, com os seus respectivos namorados e maridos, esfregando na cara dele que ele não tinha ninguém, suas primas e primos fazendo o mesmo. Aguentar seus pais dizendo que ele tinha que arrumar logo uma mulher e se casar e dar netos a eles. Uma desgraça!
Mais netos?! Será que eles já não aguentavam todos os netos que as irmãs tinham dado a eles?
“ Bosta de pirralhos do caralho” , ele pensou.
Mas era a vida que, na humilde opinião de Pietro, era uma verdadeira porcaria.
Ele só estava indo àquela reunião porque sua mãe havia lhe falado que eles iriam tratar sobre a iminente morte de seu avô que estava com um pé e meio na cova, e o velho era podre de rico. E se tinha uma coisa que Pietro estava precisando era de grana. Ele achava que podia ver a cara odiosa de alguns parentes por grana. Se conseguisse uma boa parte daquela bufunfa ia trocar de carro. Aquele velho Palio já estava todo fodido, e uma reforma não ia sair por menos de 5 mil reais.
À caminho da casa de seu desconhecido primo, que, a julgar pela distância, devia morar no quinto dos infernos, Pietro procurou pensar na grana que estava envolvida naquela merda, e isso ajudou a aliviar um pouco a tensão.
Pietro acendeu um cigarro e abriu a janela deixando um pouco do ar daquela noite quente penetrar no carro.
Resolveu ligar o rádio, a música sempre aliviava a tensão, as pessoas diziam que era bobagem, mas com ele funcionava.
A música que começou a rolar era Killers do Iron Maiden. Pietro gostava de rock, mas ouvia outras coisas também. Ele costumava dizer que tirando funk, qualquer coisa prestava.
Pietro aumentou o volume e a voz de Paul Di'Anno inundou o carro:
You walk through the subway
His eyes burn a hole in your back
A footstep behind you
He lunges prepared for attack
Scream for mercy
He laughs as he's watching you bleed.
Killer behind you
His blood lust defies all his needs.
Pietro começou a tamborilar o volante com os dedos acompanhando o ritmo da música.
Ele ouviu umas duas músicas quando de repente o motor começou a falhar.
— Mas que merda é essa?!
Checou o ponteiro do combustível, não estava cheio mas com aquela gasolina ele conseguia chegar até Várzea Paulista se quisesse.
O carro perdeu velocidade e começou a pipocar até parar.
Pietro franziu o cenho.
Desligou o rádio e tentou ligar o veículo novamente. Não conseguiu.
— Mas que puta que pariu! Que porra é essa agora, caralho?
Era só o que faltava, ele ficar parado no meio de uma estrada deserta em uma noite de sábado.
Pietro abriu o porta luvas e pegou a lanterna que ele sempre deixava ali.
Saiu do carro e caminhou até a parte da frente.
A noite estava escura e silenciosa, ele se perguntava que tipo de gente podia morar em um lugar como aquele.
Ele atirou a bituca de cigarro na beira da estrada e aproveitou para mijar.
Escutou um ruído atrás de si e virou o foco de luz da lanterna para lá. Mas não havia nada.
— Bosta.
Pietro abriu o capô e com a lanterna examinou o motor. Aparentemente não havia nada.
Ele voltou ao carro e tentou ligar o motor de novo. Nada.
— Tomar no cu! Merda de carro!
Não tinha outro jeito, teria que seguir a pé até a casa de seu primo. Lá pediria ajuda a algum filho da puta para rebocar o carro.
Pietro trancou o Palio e foi caminhando com a lanterna.
O silêncio do lugar o incomodava. Ele podia ouvir seus passos soarem no chão de cascalho. E de repente percebeu que haviam outros passos.
Podia ser coisa apenas de sua cabeça. Mas de repente a intensa sensação de estar sendo seguido se apossou dele, fazendo todo seu corpo se arrepiar.
Houve um momento em que ele parou e olhou para trás, e podia jurar que havia um vulto lá, na escuridão.
Pietro retomou a caminhada, mais rápido agora. Acendeu outro cigarro para aliviar a tensão.
Havia passos atrás de si. Era uma certeza. Alguém o seguia.
Pietro começou a caminhar mais rápido ainda, não podendo acreditar que estava sentindo medo.
De repente ele parou, mas os passos não, os passos continuavam pisando o cascalho, vindo na sua direção.
Ele percebeu que havia uma cerca na beira da estrada, e além dela, a uma distância de uns 40 metros, um casebre antigo.
— Quem está aí?! Quem é você?!
Agora Pietro experimentava uma sensação de medo incontrolável que ele nunca tinha sentido antes.
Iluminou à sua volta. Alguma coisa ou alguém passou à direita. Pietro virou o corpo para lá e levou uma pancada na cabeça.
Pietro mergulhou na escuridão.
†
Ele abriu os olhos e viu que estava em uma sala abarrotada de quinquilharias. O lugar fedia. Havia ferramentas penduradas nas paredes, a maioria eram facas, facões, machados, serrotes e serras. Pareciam objetos de tortura.
Uma lâmpada pendia do teto e estava balançando de um lado para o outro produzindo sombras.
Pietro sentiu uma dor lancinante na parte de trás da cabeça. Percebeu que estava amarrado em uma cadeira velha.
Havia alguém parado diante dele segurando uma faca enorme. Pietro não podia precisar se era um homem ou uma mulher.
— Que... Onde... Onde estou? Quem é vive seu filho da puta.
— Eu sou o pastor. E você está em casa agora. – Disse uma voz masculina ligeiramente afeminada.
Pietro tentou se soltar das amarras.
O tal pastor enfiou a faca em seu braço esquerdo e começou a cortar. Um jato de sangue explodiu na cara de Pietro que fez mais força tentando se soltar.
O louco da faca fez a lâmina percorrer o braço de Pietro e abriu um sulco ali.
Pietro virou o corpo para a direita tentando se livrar das amarras que o prendiam e levou u forte soco na cara.
O homem pegou o que parecia ser um cabo de vassoura e investiu contra os joelhos de Pietro.
A coisa durou quase 5 minutos, então o homem parou olhando abismado para Pietro.
— O que há com você? Por que não grita?
— Ah. Então quer que eu grite. Vocês psicopatas gostam disso, não é? De grito. Se quer grito por que não vai dar o cu? Além disso você bate feito uma moça, caralho. Vê se bate direito, porra!
O rosto do desconhecido que aparentemente tinha uns quarenta anos, assumiu uma expressão de perplexidade.
Ele começou a esmurrar a cara de Pietro. Pegou a faca e a enterrou em sua perna direita.
Pietro jogou a cabeça para trás e começou a dar risada.
— PORRA MEU CHAPA! O QUE HÁ COM VOCÊ?! COMERAM O SEU CU? EU NUNCA VI NINGUÉM BATER COMO UMA BICHA ASSIM! CARALHO!
Pietro começou a rir sem parar. O riso se tornou uma gargalhada louca, quase diabólica.
O homem ainda segurando a faca se afastou perplexo.
Pietro começou a se debater na cadeira e a virar os olhos enquanto ria feito um maluco.
De repente Pietro se levantou da cadeira e ficou ali, em pé, a cabeça baixa, o corpo coberto de sangue.
O homem da faca deu mais um passo para trás completamente abismado com o que estava vendo. Então Pietro olhou para ele. Seus olhos eram brancos. Nos lábios ele trazia um sorriso diabólico que era acentuado pela sua face ensanguentada.
— Agora é a minha vez meu chapa. – Disse Pietro e começou a caminhar na direção do homem.
Ele jogou a faca no chão e saiu correndo.
Pietro pegou a faca do chão, viu um machado preso na parede, o pegou também. Então saiu da casa.
††
Não durou muito tempo.
O homem saiu correndo por uma trilha e ele o seguiu.
A noite estava escura mas ele conseguia ver a sombra e isso bastava.
Ele segurou a faca e a jogou. Acertou as costas do homem que gemeu e caiu no chão.
O homem começou a se arrastar tentando se afastar.
Pietro sorriu e acendeu um cigarro. Deu uma tragada e soltou a fumaça no ar.
Se aproximou e desferiu um forte chute nas costelas do homem que agora estava chorando e gemendo de dor.
Pietro começou a rir descontroladamente.
— Eu havia me esquecido o quanto isso é legal.
Pietro começou a chutar o saco do homem e enquanto chutava dizia:
— EU SOFRO DE ANALGESIA CONGÊNITA E NUNCA SENTI DOR NA VIDA, SEU FILHO DA PUTA! ME DIGA COMO É! VAMOS! ME FALE!
O homem estava gemendo alto. Literalmente gritando.
— É ASSIM?! ME DIGA! FILHO DA PUTA!
Pietro deu mais um chute no saco do homem que agora estava esparramado no chão como se estivesse morto.
Então ele segurou o machado pelo cabo e acertou a cabeça do desconhecido.
Pietro ouviu os ossos do crânio se partindo. O corpo do homem começou a sofrer espasmos.
Pietro bateu diversas vezes, sangue e pedaços de cérebro salpicaram seu rosto e ele continuou batendo até se sentir exausto.
Pietro suspirou, respirando ofegantemente.
— Porra. Isso deve ter doido. Se deve. Porra.
Pietro percorreu a trilha até atingir a estrada. Então, ainda segurando o machado, começou a andar na direção da casa de seu primo, onde aconteceria a odiosa reunião de família.
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