A ESCURIDÃO
Oi, eu me chamo Nicolas, e se você está lendo isto significa que estou morto. Mas tudo bem. Neste exato momento estou trancado em meu quarto escrevendo isto em meu celular que tem 10% de bateria, e eu estou tremendo muito.
Vou parar de enrolação e contar o que está acontecendo.
Eu moro sozinho em um apartamento minúsculo e caindo aos pedaços. As noites são tranquilas aqui, ou pelo menos eram, pois isso mudou essa noite. Eu acordei de madrugada com um lamento de mulher, muito alto, e achei muito estranho. Então me levantei e fui investigar e quando saí do quarto e cheguei na minha cozinha/sala o apartamento estava o mais absoluto silêncio. Liguei a lanterna de meu celular e gelei quando vi a porta de entrada escancarada e tudo escuro do outro lado. Nem a lanterna conseguiu iluminar nada. Fui fechar a porta mas senti o ar frio da noite. Dei um passo para trás, pois o frio não era possível, não tinha nenhuma fonte ou corrente de ar, pelo menos não em meu andar, que era o quinto; por isso achei estranho.
Sei que vai me chamar de estúpido e de idiota, mas eu atravessei a porta e a escuridão me engoliu. A porta se fechou e a lanterna de meu celular se apagou e não acendeu mais.
Eu sabia que estava em um corredor pois sentia as paredes frias e fui me apoiando nelas para me guiar. A textura da parede era bem lisa, como mármore ou algo parecido e o chão parecia ser de terra batida. Demorei muito mas consegui atravessar o estreito corredor e o que tinha do outro lado gelou meu sangue.
Era meu quarto.
“Mas como?! Que merda acabou de acontecer?” Pensei.
Olhei para trás e a porta estava fechada.
“ Será que eu sonhei com aquilo?” Pensei e saí de meu quarto.
Fui até a cozinha. Peguei um copo, o enchi com água do filtro e olhei para a porta de entrada. Ela estava fechada.
Dei as costas e escutei risos de criança e os passos pesados de alguém correndo. O copo escorregou de meus dedos e se espatifou pelo chão. Quando me virei para a origem do som, vi que a porta estava aberta revelando a escuridão. Dei meia volta. Estava voltando a meu quarto mas a porta estava trancada, no entanto eu não tinha trancado ela. Foi quando eu ouvi a risada, a risada estridente e medonha de uma garotinha, e vi uma criança usando um vestido branco com as barras sujas de sangue, com seus cabelos pretos curtinhos e uma tiara vermelha em sua cabeça; e seus olhos completamente negros.
Ela correu em minha direção e eu corri dela, e fui forçado a atravessar a porta de entrada, mergulhar na escuridão daquele corredor frio novamente, e assim que atravessei o corredor cheguei novamente em meu quarto, e lá havia uma sombra mais escura que a própria noite. Ela formava a silhueta de um homem. Seus olhos eram vermelhos, completamente vermelhos. Me virei, saí correndo e atravessei o corredor novamente. Corri feito um louco e acabei em meu quarto de novo.
Mas como era possível?!
Desta vez observei o quarto. Aparentemente estava tudo no lugar, mas reparei que a noite estava mais escura que o comum e me aproximei da janela. Aquela garotinha de olhos negros surgiu com o rosto na janela. Seus lábios vermelhos. Ela sorriu para mim.
Eu precisava sair de lá e a única saída era o corredor e eu sabia que se o atravessasse eu apareceria aqui no meu quarto de novo. Mas aquela menina estava me assustando. Ela começou a bater no vidro com seus longos dedos brancos, então eu me virei e entrei contra a minha vontade no corredor, mas desta vez vi um par de olhos vermelhos atravessando o corredor se aproximando cada vez mais perto de mim.
Soltei um grito de horror, saí correndo feito um completo maluco e de repente estava de volta ao meu quarto.
Corri e fechei a porta, a travando com a chave. Agia feito um lunático. Corri e olhei para fora pela janela.
Lá embaixo havia um poste. A lâmpada que pendia dele estava piscando, lançando uma difusa claridade sobre a noite que era açoitada pela chuva fina que caia.
A garota estava lá, acenando para mim no meio da chuva. Usando aquele vestido branco, manchado de sangue. O sangue estava pingando no chão, se misturando à água da chuva.
Mas de repente ela sumiu. Franzi o cenho.
Olhei para trás e a sombra negra de olhos vermelhos. A coisa segurava uma faca, e com ela me atacou.
Eu gritei e vi a porta aberta. A escuridão me chamava, me atraia, era uma atração irresistível, e eu me joguei nela.
†
Estou aqui agora, escrevendo isso. A bateria do celular está quase acabando. Não consegui mais carregar porque a energia acabou a quatro dias.
Hoje faz um mês que estou aqui, vivendo esses pesadelos. Não sei se estou sonhando, se isso é algum tipo de pesadelo. Talvez eu esteja louco, trancado em um hospício, dentro de uma cela acolchoada. Peço a Deus que seja isso.
A porta está aberta e a escuridão me chama mas eu me cansei dela.
Encontrei um jeito. Vou resolver isso.
Estou abrindo a janela e deixando a chuva entrar no quarto.
Meu apartamento fica no vigésimo andar. Vai durar apenas alguns segundos.
Vou levar o celular comigo, protegê-lo no bolso.
Abraçarei a escuridão. Dessa vez para sempre.
††
HOMEM DE 30 ANOS SE JOGA DO VIGÉSIMO ANDAR DE PRÉDIO.
Um homem identificado como Nicolas Soares da Silva, se matou na noite do último sábado, se jogando do vigésimo andar do edifício em que residia.
Segundo vizinhos o homem vivia sozinho e parecia sofrer de transtornos psicológicos.
“Ele ficou assim depois que a filha dele foi encontrada morta na piscina”, afirmou uma das vizinhas. “ Foi uma coisa horrível. A menina estava usando um vestido branco e ninguém até hoje sabe como ela foi cair na piscina.”
O homem, que parecia não ter parentes na cidade foi levado para o IML. Com ele, a polícia encontrou apenas um celular que estava no bolso da calça, enrolado em plástico bolha.
Luís Fernando Alves
Debora Quesada
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