VESTÍBULO
Era uma estrada.
Havia uma cidade na frente dele mas era como se uma bomba atômica tivesse explodido ali. Havia destroços por toda parte. Um vento forte estava assoprando, entortando árvores chamuscadas, levando pedaços de carros detonados.
Edilson viu os restos de um posto de gasolina e podia jurar que conhecia aquele lugar. O pedaço de uma placa do McDonald's havia sobrado e estava balançando ao vento, mostrando aquele típico "m" amarelo.
Edilson percorreu a rua apinhada de destroços e parou depois de alguns segundos.
Era o que havia restado de um semáforo. Alguém tinha pendurado uma faixa lá que estranhamente não estava queimada, parecia recente, a faixa era a única coisa inteira naquele lugar.
Edilson ficou parado ali algum tempo lendo o que estava escrito.
" POR MIM SE VAI À CIDADE DOLENTE,
POR MIM SE VAI À ETERNA DOR ,
POR MIM SE VAI À PERDIDA GENTE.
JUSTIÇA MOVEU O MEU ALTO CRIADOR,
QUE ME FEZ COM O DIVINO PODER,
O SABER SUPREMO E O PRIMEIRO AMOR.
ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI TODA ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS!"
Depois ele continuou andando.
Chegou a um ônibus escolar que estava atravessado na rua e viu alguém na janela entupida de fuligem.
— Ei!
A pessoa correu. Ele correu em seu encalço e a alcançou a cinquenta metros do ônibus. Os dois caíram no chão.
Era uma mulher maltrapilha. Pela aparência devia ter uns vinte e poucos anos. Estava usando um casaco esfarrapado cinza.
A mulher arregalou os olhos.
— Não se preocupe. Não vou machucar você. Que lugar é esse? Onde estou?
— Me solte!
Edilson saiu de cima da mulher e a ajudou a se levantar.
Ela ficou olhando para ele por alguns instantes, então enfiou a mão no bolso e colocou alguma coisa na mão de Edilson.
— De isso a ele. É a única maneira de não ficar vagando na margem do rio.
Edilson olhou para a mão e viu uma moeda de 1 real. Parecia que a moeda tinha uns quinhentos anos.
Ele olhou para a mulher mas ela já estava a uns vinte metros de distância. Ele não foi atrás.
— Que lugar é esse?
— Perto do quente, lá é o paraíso!
Edilson ficou olhando ela desaparecer entre os escombros, depois continuou caminhando.
Não conseguiu precisar quanto tempo caminhou, mas de repente ele parou abismado com o que estava vendo.
A estrada acabava ali. À frente havia um abismo. A paisagem era desoladora. Havia fogo e fumaça subindo para um céu negro.
Edilson viu um rio que ia até onde a vista podia alcançar e se perdia.
Além de tudo aquilo havia os gritos que pareciam fazer parte do ar.
— Deus! Não pode ser! Não...
Ele ouviu um ruído atrás de si e olhou.
Bruno estava lá, com aquele sorriso diabólico no rosto, apontando uma arma para ele.
Então ele puxou o gatilho.
Edilson levou um tiro na cara e despencou abismo abaixo.
*****
Ele abriu os olhos e era de noite. Estava sentado em um banco. Parecia um pier.
Viu um poste com uma única lâmpada que iluminava parcamente a escuridão.
Edilson viu o que parecia uma mariposa voando insistentemente para a lâmpada.
Ele sentiu uma forte dor de cabeça. Se levantou e estava tonto, mas aos poucos a tortura passou.
Começou a caminhar pelo pier. Tudo estava mergulhado no mais absoluto silêncio.
Edilson tirou uma carteira de cigarros do bolso e acendeu um.
Não sabia muito bem o que estava acontecendo. Parte dele queria que aquela merda toda fosse um pesadelo. Mas havia a forte sensação de realidade, a sensação de estar ali de fato.
Caminhou até no final do pier e viu na escuridão uma luz que estava se aproximando.
A escuridão ao redor era opressora, ele achava que podia pegá-la na mão.
Ele ficou parado enquanto a luz se aproximava, quando isso aconteceu viu um barco.
Alguém caminhou pela proa e ficou no foco de luz.
Era um velho de cabelos compridos, parecia um roqueiro. O homem tinha órbitas vazias no lugar dos olhos.
— Há só você de passageiro hoje meu chapa. Ele me avisou sobre você. Encomenda especial.
Ele estendeu a mão como se esperasse alguma coisa.
Edilson ficou olhado para ele por alguns instantes e então se lembrou da moeda.
Meteu a mão no bolso e pegou a moeda de um real, colocando-a na mão em forma de garras do velho.
— Sobe aí de uma vez. Isso é a eternidade mas o tempo é curto mesmo assim.
Edilson entrou no barco e se sentou.
O homem começou a remar
*****
Demônios.
O lugar estava cheio de demônios. Ao menos ele achava que eram demônios. Tinham a aparência de seres humanos, mas eram bizarros.
O barco parou em uma espécie de porto. Havia outra cidade ali, mas essa era habitada, habitada por aqueles seres terríveis.
A cidade era formada por prédios estranhos, cheios de pináculos altíssimos
Havia uma torre no que parecia ser o centro do lugar, uma torre descomunalmente alta e terrível.
Edilson foi conduzido para lá por estranhos seres amarelos e azuis. Uma porta ainda maior que aquela que tinha passado pela primeira vez se abriu diante dele. Edilson começou a caminhar por um gigantesco corredor sustentado por enormes colunas vermelhas.
Havia estátuas terríveis nas paredes e elas estavam se mexendo.
Edilson observou que o chão era vermelho. Parecia um espelho. Espelhos que formavam um enorme pentagrama vermelho. Era lindo de uma forma distorcida, lindo e bizarro.
Havia um trono no centro da sala. Um ser maravilhoso estava sentado sobre ele. Parecia um homem. Os cabelos eram loiros, quase brancos, a pele alva contratava com seus olhos vermelhos. O ser possuía asas que pareciam douradas.
Edilson estremeceu diante daquele ser. Era a coisa mais radiante e linda que ele já tinha visto. Mas era uma beleza distorcida, uma maravilhosa perfeição que o enchia de pavor. Ele sentia vontade de fugir e adorar ao mesmo tempo.
O ser levantou-se sorrindo e veio caminhando majestosamente em sua direção. Edilson sentiu que estava derretendo.
— Edilson! Finalmente você veio! Você sabe que é especial, não sabe? Eu e você, Juntos temos uma missão: espalhar o caos pelo mundo dos homens.
Edilson tentou falar, mas não conseguiu. Seu corpo tremia como se ele estivesse sofrendo fortes choques elétricos.
— Deixe-me entrar Edilson. Eu preciso entrar.
Aquela coisa abraçou Edilson. Era quente, terrivelmente quente. Era tão quente que seus corpos começaram a se fundir.
Para Edilson foi como mergulhar na escuridão, como ser apagado da existência
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Luís Fernando Alves
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