PAULO
2005
Paulo olhou para o rapaz, e disse:
- E então chapa?
- E então o quê?
- Comece a falar. O que aconteceu lá? Existe uma denúncia dos vizinhos. Ouviram gritos... Quando a polícia chegou você estava pelado no meio da rua, coberto de sangue. E agora seus pais estão desaparecidos. Então comece a falar.
Paulo se lembrou de uma coisa:
- Fale porque uma equipe inteira de policiais examinou o lugar e não encontrou nenhuma casa...
O rapaz, que se chamava Diego, e que tinha ares de 18, 19 anos, começou a rir como um louco.
- Há alguma coisa para rir parceiro?!
- Não entre lá policial. Tire suas equipes de lá. Não olhe para ela. Não olhe. Não olhe. Não olhe.
Paulo ficou olhando para o rapaz que tinha o olhar perdido. Era como se seu corpo estivesse ali, mas a alma não.
Poucos minutos depois alguém entrou na sala, e se dirigiu a Paulo:
- Senhor. Acho que gostaria de saber dos pormenores.
- Que pormenores?
- As equipes senhor.
- O que tem elas?
- Perdemos o contato com todas elas.
- Como assim?...
- Não respondem aos nossos contatos senhor.
Paulo ficou olhando para ele por alguns segundos. Como se estivesse sem ação. Toda aquela coisa o estava deixando confuso.
Ele se lembrou do caderno e a história bizarra contida nele.
Paulo franziu o cenho e de repente se lembrou de que Bruno estava à frente daquela ocorrência, e provavelmente tinha entrado na casa.
Pegou o celular e entrou no whatsapp.
" Bruno, tá tudo bem aí cara?"
Esperou alguns segundos e então recebeu a resposta:
" Você precisa vir aqui Paulo. Achei uma coisa surpreendente."
"Que bosta você achou?"
" Você precisa ver com seus próprios olhos. É surpreendente demais. "
"😕😕. Tá ok. Já estou indo. "
"😈."
Paulo não entendeu muito bem o último emoji, mas viu que Bruno não estava mais on-line.
Ele suspirou, guardou o celular e olhou para Murilo, o assistente de polícia que estava em sua mesa digitando alguma coisa no computador.
- Bem Murilo, segure as pontas aí. O Bruno achou alguma coisa na casa e vou dar uma olhada.
- O que fazemos com o cara, chefe? - Perguntou o policial apontado para a sala de interrogatórios.
Paulo olhou para lá e viu Diego através da parede de vidro. O rapaz estava em pé agora, o olhar vidrado, um sorriso macabro nos lábios.
Paulo estremeceu ante a cena.
- Ponha ele na cela e pronto.
Ele olhou mais uma vez para a sala de interrogatórios e então saiu de lá.
🎃
Parou o carro diante da casa.
Havia algo de muito errado com aquela casa. Ela simplesmente não combinava com nada que houvesse ao redor, porém era imponente e de certa forma intimidadora. Paulo chegou a estremecer. Ele ficou parado ali no carro por alguns segundos, depois tentou contato com o delegado mas não conseguiu.
- Merda.
Pegou sua arma de serviço e colocou na cintura depois pegou a escopeta calibre 12, que sempre levava consigo e saiu do carro.
Havia algumas viaturas na rua, os policiais tinham colocado faixas de contenção na frente da casa.
- Paulo acenou para os policiais e entrou na casa passando por baixo da fita.
Assim que passou pelo portão sentiu algo estranho.
Havia um lance de escada que conduzia até a porta. Ao redor um bem cuidado jardim.
Ele subiu a escada, e assim que se aproximou da pequena varanda, a porta se abriu.
Uma mulher negra, extremamente sexy e bonita saiu pela porta. Ela estava usando um uniforme de empregada, que, a julgar pelo aspecto, parecia ser antigo.
Paulo franziu o cenho e se aproximou.
- Senhor Paulo. Que bom que o senhor veio! Estávamos esperando por você.
- O que?... Eu... É... Eu não sabia que a casa estava habitada.
- É habitada desde o começo senhor.
- Eu vim... O delegado Bruno está aí?
- Sim. Ele está esperando pelo senhor.
A mulher sorriu de maneira meio enigmática e escancarou a porta, desaparecendo e seguida na escuridão escabrosa, que era uma coisa que quase podia ser tocada.
Paulo hesitou por alguns momentos, e então entrou na casa.
🎃
- Ei moça, espere.
A mulher se embrenhou por um vasto corredor, e seguia à frente, quase desaparecendo de vista.
Paulo sentiu-se engolido por aquele corredor. Era uma sensação estranha, mas forte o suficiente para que ele sacasse a arma.
Algumas velas estavam acesas ao longo do corredor, próximo a elas, desenhados nas paredes, aparentemente com sangue que ainda escorria, estavam desenhados estranhos pentagramas.
- Mas que merda é essa?!
Com o canto dos olhos ele viu um vulto se esgueirar no corredor agora.
- Ei. Espere!
Paulo saiu correndo sob a parca luminosidade que iluminava a casa. Dobrou à direita e quase soltou um grito.
Era uma sala de jantar. Havia pessoas sentadas ao redor da mesa. Elas usavam roupas do século XIX. Assim como o resto da casa, a sala de estar estava sendo iluminada por velas.
Paulo verificou a existência de outro pentagrama desenhado na parede logo atrás daquelas pessoas.
Ele ouviu um tiro e voltou-se abruptamente para trás. Quando voltou a olhar para as pessoas na mesa viu que elas estavam mortas, todas com tiros nas testas.
Paulo arregalou os olhos e recuou. Sentiu algo atrás de si e se virou.
Havia uma garota parada diante dele. Pela aparência não devia ter mais do que sete anos.
Sob a luz das velas, a sombra da criança era projetada na parede. Mas então aquela não era a sombra da garota, era a sombra de um ser bestial.
Paulo sentiu a presença maligna.
Os olhos da menina agora estavam pegando fogo, e de repente os olhos de Paulo também se incendiaram e ele começou a gritar em estado de pânico.
A coisa durou alguns segundos.
De repente Paulo percebeu que estava parado no meio de uma sala vazia.
Olhou para trás e viu a porta aberta da casa.
Seu coração palpitava. Algo lhe dizia que aquele lugar era maligno. Algo terrível tinha acontecido ali. Ele sentia a presença, algo bizarro e opressor, e aquilo estava apegado à paredes daquela casa.
Ele, mais do que nunca, precisava sair dali.
Paulo tomou sua decisão e viu que a porta estava se fechando.
- Não! Não!
Correu mas não conseguiu evitar que a porta se fechasse.
Ficou ali lutando com a maçaneta na tentativa de abrir a porta.
Foi então que ele sentiu. Havia alguma coisa atrás de si. Algo tão terrível que fazia seu corpo tremer.
Lentamente ele se virou ficando com as costas para a porta e contemplando a escuridão.
Do meio da escuridão opressora da casa veio a voz infantil embargada de malignidade:
- Quero comer!
Luís Fernando Alves
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro