BENEDICTUS
1963
Maldição.
O solo era maldito. Ele já devia saber.
Mônica estava gritando. A garota estava de pé em um arremedo da crucificação.
O Padre Antônio viu as marcas dos cravos surgirem nos pulsos dela, logo a seguir as costas dela começou a se abrir como se chicotadas estivessem rasgando a pele.
Os presentes no quarto viram a cama levitar, móveis começaram a tremer. O crucifixo que estava pendurado na parede acima da cama virou de ponta cabeça. Padre Antônio viu as primeiras gotas do sangue escorrerem pela parede e aquele símbolo estranho se formou.
Padre Antônio segurou a Bíblia com força, abriu seu frasco de água Benta e jogou sobre a menina que começou a queimar.
— NÃO! MEU DEUS! NÃO!
A mãe da garota entrou em desespero.
— TIREM ELA DAQUI AGORA!
Alguns homens presentes agarraram a mulher e a arrastaram do quarto mesmo sob seus protestos.
Mônica olhou para o padre. Seus olhos eram negros, havia um sorriso de deboche em seus lábios.
— Por que não larga tudo isso e fode ela padre. Ela não é mais virgem, sabia? - Havia um homem de uns trinta anos parado na porta. Era magro, a barba por fazer, os cabelos loiros. Ele estava tremendo. A garota possuída olhou para ele e disse: — Não é mesmo papai?
O homem partiu para cima da criança e foi contido.
— TIREM ELE DAQUI! SAIAM TODOS! DEIXEM-NOS A SÓS! ISSO É UMA GUERRA ESPIRITUAL!
Padre Antônio jogou mais água Benta sobre a garota que estremeceu e se contorceu.
— Dómine Deus noster, ómnium fidélium Creator et Redémptor, animábus servórum tuórum remissiónem concéde peccatórum: ut, per humilitátes preces, indulgentiam, quam semper optavérunt, consequántur. Per Christum Dominum nostrum. Amen.
Ele fez o sinal da cruz sobre Mônica e ela caiu desfalecida sobre a cama.
— Ave Maria, gratia plena Dominus tecum Benedicta tu in mulieribus Et benedictus fructus ventris tui, Iesus Sancta Maria, Mater Dei, Ora pro nobis peccatoribus Nunc et in hora mortis nostrae Amen.
O padre se aproximou e colocou o crucifixo sobre a testa da menina. Nada aconteceu. Verificou que ela estava respirando e olhou para a parede. O símbolo profano não estava mais lá. O sangue ainda escorria, mas não formava nada.
O padre olhou para seu ajudante e assentiu. O rapaz começou a limpar os ferimentos.
☠️
2000
As paredes são rotas. Ela está deslizando por um corredor decrépito com azulejos brancos sujos de sangue nas paredes.
Há lâmpadas pendendo do teto, mas a iluminação é parca.
Ela não sabe o que está acontecendo. É provável que seja um sonho, afinal ela estava na casa... ela estava em casa, deitada em sua cama.
Aquilo tem que ser um sonho.
Ela percebe que está em uma maca, amarrada a uma maca.
Tenta se mexer mas não consegue.
Percebe que está usando uma camisola de hospital, há uma mancha de sangue na altura da sua vagina.
Mônica está sendo conduzida por quatro enfermeiras estranhas, usando uniformes antigos e fora de moda.
— O que?...para onde estão me levando? O que está acontecendo?
Ela sente uma dor insuportável na barriga e se contorce na maca.
O corredor parece não ter fim, e quando ele acaba Mônica se vê dentro de uma sala de cirurgia.
Há médicos e enfermeiros ali, usando uniformes estranhos e fora de moda. Aquilo é uma sala de parto, mas perece ser uma sala de parto do século XIX.
Mônica começa a ser preparada para o parto.
— Ei. O que estão fazendo?! O que é isso?! Onde estou?!
Um dos médicos se aproxima dela. Parece um homem mas há algo de muito errado com ele. Mônica sente-se gelar de alto a baixo.
— Vamos tirar ele de você. - Mônica arregala os olhos. — Não se preocupe. Ele quer a criança. Ele escolheu você.
— Não! Ainda não é hora! Não!
Mônica começa a se debater.
Aqueles médicos estranhos a rodeiam. Ela tenta resistir mas mas é entubada. Sente o ruído de ar sendo liberado e aos poucos mergulha na escuridão.
Antes de apagar olha para além dos médicos e vê um ser parado nas sombras, olhando para ela. Seus olhos brilham. O ser é terrível.
☠️
Trancada.
Parece ser algum tipo de cápsula.
Há uma janela redonda na porta, mas através dela há somente escuridão.
Ela olha para sua barriga e vê que ela está costurada seu bebê não está mais ali.
— NÃO! NÃO! - Ela se aproxima da janela oval e começa a esmurra-la. — DEVOLVAM MEU BEBÊ! DEVOLVAM MEU FILHO!
Do lado de fora parece haver um corredor, mas o único habitante ali é a escuridão.
Luís Fernando Alves
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