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RAGUEL

Ana e Jurismela, cansadas e ofegantes, sentiram o peso do que acabavam de realizar. Elas haviam aberto o sexto selo, o selo da bondade. O ar na sala mudou, carregado de uma energia opressora que parecia esmagá-las, mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação de triunfo. Jurismela deu um passo à frente, com um sorriso de desafio no rosto, mas Ana hesitou, sentindo algo terrível no ar.

Assim que cruzaram o limiar, a sala revelada à frente era imensa, de mármore branco reluzente, com paredes que pareciam alcançar o céu. No centro, cercado por uma legião de anjos de asas negras e olhares impassíveis, estava Raguel, a arcanjo da justiça divina. Seus olhos eram frios, impiedosos, e fixavam-se diretamente em Ana e Jurismela, como se já soubessem o que haviam feito.

— Finalmente, aqui esta você, — a voz de Raguel soou profunda, reverberando pelas paredes da sala. — Achava que poderia brincar com os segredos do céu e sair ilesa?

Antes que pudessem reagir, os anjos avançaram. Ana tentou se mover, mas os braços invisíveis da força celestial a imobilizaram, e em questão de segundos ela estava de joelhos diante de Raguel. Seus olhos estavam arregalados, a respiração acelerada. Jurismela tentou lutar, mas não durou muito. Dois anjos imensos a subjugaram, forçando-a ao chão.

— Ana, — Raguel se aproximou dela, o som de suas botas ecoando pela sala. Ela se abaixou, segurando o rosto dela com uma mão firme. — Você ousa desafiar a vontade do Altíssimo?

— Eu... nós... — Ana tentou falar, mas Raguel a interrompeu com um olhar de puro desprezo.

— Não há desculpas para a traição, — rugiu ela, levantando-se. — E agora, será punida como merece.

Em um gesto súbito e violento, ela golpeou Ana com o dorso da mão, fazendo-a cair no chão com força. O impacto ressoou e o sangue começou a escorrer pelo canto de seus lábios. Mas não era apenas sangue; logo, dos cortes invisíveis em seus pulsos, tornozelos e testa, os estigmas de sua antiga provação reapareceram, como se tivessem sido reabertos por um poder divino.

— Isso... é o que você merece, — Raguel disse, caminhando ao redor dela como uma predadora. — Você é uma blasfêmia, um erro que deveria ter sido corrigido há muito tempo.

Jurismela, vendo sua amiga sofrendo, gritou de fúria. Com um movimento desesperado, ela se livrou dos anjos que a seguravam e correu para Raguel, determinada a proteger Ana a qualquer custo. Ela rosnou e mordeu de forma  feroz, mas Raguel era rápida demais. Ela desviou-se com facilidade e, em um único movimento, girou e acertou um chute brutal no estômago de Jurismela, que foi arremessada vários metros para trás, chocando-se contra uma das colunas de mármore. O som do impacto foi ensurdecedor, e Jurismela caiu no chão, gemendo de dor.

— Você também? — Raguel perguntou com um sorriso cruel, aproximando-se lentamente de Jurismela. — Sua insolência é tão grande quanto sua fraqueza.

Jurismela tentava se levantar, mas suas forças estavam se esvaindo rapidamente. O golpe de Raguel havia sido devastador, e ela mal conseguia respirar.

— Vou terminar com você primeiro, — Raguel disse friamente, preparando-se para o golpe final.

Mas antes que pudesse executar o movimento, um dos anjos próximos interveio, hesitante.

— Raguel, — disse ele. — Castiel nos deu ordens claras... nosso objetivo é apenas Lúcifer, não devemos...

— Cale a boca! — rugiu Raguel, sua ira evidente. Ela se virou para o anjo com uma expressão furiosa. — Quem você pensa que é para questionar a justiça divina? Eu decido quem vive ou morre aqui!

Nesse exato momento, a atmosfera da sala mudou. Uma presença sombria e poderosa fez todos os anjos hesitarem. Um frio se espalhou, e uma figura imponente surgiu na entrada. Era Lúcifer. Seu olhar atravessou o ambiente, e seu sorriso era de puro desprezo. Ao seu lado, Enovigenese, o acompanhava em silêncio.

— Cheguei a tempo da festa, vejo, — Lúcifer disse com sarcasmo, seus olhos se fixando em Raguel. — E parece que estou diante de um tribunal improvisado.

Raguel se endireitou, os olhos queimando de ódio.

— Lúcifer, — ela disse entre dentes. — Você será o próximo a cair.

Lúcifer deu um passo à frente, sua presença dominando o espaço.

— Você sempre foi tão previsível, Raguel, — disse ele com um suspiro, como se estivesse entediado. — Mas antes que nos enfrentemos... Enovigenese.

Em um segundo, Enovigenese se transformou em uma criatura aterrorizante. Um cérbero de três cabeças, com fogo saindo de suas narinas e presas reluzentes, rugiu com uma ferocidade que ecoou pelos corredores da sala. Sem hesitar, ele atacou os anjos, dilacerando-os com suas garras e presas enquanto Lúcifer se preparava para a batalha.

Raguel avançou, sua espada divina brilhando com a luz celestial, e colidiu com Lúcifer em um choque de forças titânicas. As faíscas voaram quando as lâminas se encontraram, e o som da batalha era ensurdecedor. Lúcifer, com sua espada negra, lutava com uma habilidade e ferocidade incomparáveis, mas Raguel não era uma oponente fácil. Ela era a arcanjo da justiça, e cada golpe que desferia vinha com uma força implacável, como se o próprio céu estivesse julgando Lúcifer.

— Você pensa que pode vencer, Lúcifer? — gritou Raguel, enquanto suas lâminas se cruzavam mais uma vez. — Você é apenas um rebelde, um traidor!

— E você, Raguel, é apenas uma serva cega! — Lúcifer retrucou, empurrando-a para trás com um golpe feroz. — Você nunca entendeu o verdadeiro poder, a verdadeira liberdade!

A luta se intensificou. Raguel desferia golpes rápidos e precisos, mas Lúcifer desviava, contra-atacando com uma fúria que vinha de milênios de ressentimento. A sala parecia tremer a cada impacto de suas espadas, e os anjos ao redor recuavam, temendo se aproximar da batalha titânica.

Em um movimento rápido, Raguel conseguiu cortar o braço de Lúcifer, deixando uma ferida profunda que jorrou sangue negro. Lúcifer grunhiu de dor, mas não cedeu. Com uma velocidade surpreendente, ele girou e acertou Raguel no peito com sua espada, deixando um corte profundo que fez a arcanjo gritar de dor.

A batalha parecia interminável, ambos feridos e ofegantes, mas nenhum disposto a ceder. Até que, em um momento de distração de Raguel, Lúcifer viu sua chance. Com toda a força que lhe restava, ele desferiu um golpe, atravessando  Raguel com sua espada.

A arcanjo olhou para baixo, incrédula, enquanto seu corpo começava a tornar-se translúcido. Lúcifer a empurrou para o lado, deixando-a cair ao chão com um estrondo. O corpo explodiu em luz e desapareceu

— Isso é o que acontece com os que desafiam o verdadeiro poder, — Lúcifer disse friamente, limpando o sangue de sua lâmina.

Ele se virou para Ana, que ainda estava caída, e a ajudou a levantar-se. Suas mãos tocaram os estigmas dela, e a dor que antes a consumia começou a desaparecer. Ele curou suas feridas com um simples toque.

Enovigenese, agora retornando à sua forma original, correu até Jurismela, Lúcifer se aproximou dela usando seu poder para restaurar suas forças.

— Precisamos continuar.

— Raquel… você… você a matou!

Lúcifer não respondeu, estavam agora mais próximos de seu objetivo. Tinham que abrir o sétimo selo.

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LUÍS FERNANDO ALVES

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