A PIRÂMIDE
AMAZÔNIA, 1935
Otto Schulz enxugou a testa com um lenço e olhou para o indigena, que ele chamava de
Winnetou. O homem parecia intacto, e isso era de se esperar, levando-se em conta que ele já
estava acostumado com a floresta, já que aquele era o seu lar. A maioria dos membros da
expedição estavam doentes, o próprio Otto estava com difteria. Pelo menos não era malária, Joseph já estava morto, eles tinham-no enterrado, e feito uma cruz como memorial, em algum
lugar chamado Laranjal do Jari. A maldita coisa que os nativos chamavam de febre amarela.
Parecia um demônio invisível, que estava entre eles, fazia questão de ver até onde eles iam.
Winnetou sabia aonde iam, ao menos fora o que ele dissera. 58 quilômetros floresta adentro.
Tinham saído da base no hidroavião, depois tiveram que navegar pelas águas perigosas do rio Jarí até o ponto em que seguiriam a pé.
Era um esforço quase descomunal para se fazer, mas agora eles estavam tão perto.
Se tudo aquilo estivesse certo, se o trabalho da vida de Otto não tivesse sido anos de ilusão,
deveria haver uma pirâmide perdida na floresta, uma que nunca fora descoberta, e era lá que se encontrava o portal. O portal era algo que poderia transformar o exército alemão em uma máquina de guerra imbatível. Eles teriam demônios lutando pela Alemanha, demônios saídos
diretamente do inferno. Poderia ser algo totalmente irracional para a maioria das pessoas, mas não para Hitler. Ele buscava algo para fortalecer o exército alemão, e apostaria em qualquer coisa, mesmo em portais do inferno.
Os custos eram altos, mas as recompensas certamente valiam as perdas, e Hitler estava disposto a pagar o preço. Toda a expedição estava sendo custeada pelo governo nazista da Alemanha, e as ordens do próprio Führer, era para não voltar enquanto não obtivesse as evidências.
Otto estava animado, ele estivera pesquisando por longo tempo, analisando livros antigos, verificando lendas, analisando vestígios científicos. E ele não se baseava somente em evidencias, ele esperava muito mais que isso. Fatos concretos e nada mais.
Há dez anos ele partiu em uma expedição para a Antártida e encontrou o livro. O livro era a
chave, continha os encantos, os rituais certos para fazer a coisa. Era algo macabro, é claro, envolvia sangue e sacrifícios humanos. Nada daquilo era problema porque ele tinha os índios, sacrificaria todo o povo aparai, se fosse necessário. Era por um bem maior e ele não podia hesitar em nenhum
momento. Durante todos aqueles anos ele se dedicara em um estudo minucioso do livro e de todos seus rituais, e sabia exatamente o que deveria ser feito, todo o processo que abriria o poço do abismo e liberaria o caminho para os demônios. Seria o inferno na terra, e ele teria como símbolo a suástica.
O livro estava com ele agora, bem protegido na mochila que ele carregava. Era muito valioso para confiá-lo a outra pessoa.
Abrir o portal do inferno, mais especificamente do abismo (como ele gostava de dizer) não era qualquer coisa, havia o jeito certo, alguns rituais precisavam ser feitos, sangue precisava ser derramado, mais especificamente o sangue de uma virgem.
Otto olhou para a jaula que os nativos estavam carregando. Dentro havia uma garota, uma virgem que ele tinha comprado dos aparai. O ritual pedia o sangue daquela garota, somente assim o portal para o abismo se abriria, somente assim ele teria o controle sobre os demônios das trevas, trancafiados naquela prisão para demônios.
Mas uma coisa de cada vez. Primeiro precisavam chegar na pirâmide, e antes de tudo, precisava haver uma pirâmide, e ele ficava pensando o que aconteceria se não houvesse, ele sabia que havia, mas parte dele não podia evitar aquele pensamento: e se houvesse um grande nada lá? Otto tinha que reconhecer que estavam ali por causa de lendas e coisas escritas em páginas e mais páginas de livros velhos. Mas agora estava ali, e sua única opção era correr o risco. E se não houvesse uma pirâmide, se o trabalho de uma vida não passasse de uma lenda inútil, ele podia ficar ali para sempre, morar no Brasil, se voltasse para a Alemanha seria morto.
Mas ele estava confiante de que a pirâmide existia de fato, e de que ela abrigava um portal para o inferno, uma porta para o abismo, que ia transformar o exercito alemão no mais poderoso e devastador exercito da face da terra, e ele, Otto Schulz-Kampfhenkel, seria o braço direito do Führer, o homem em quem ele confiaria para todo o sempre.
*****
A pirâmide existia. Era inacreditável, mas totalmente real. Não era tão grande como uma pirâmide do Egito, mas Otto desconfiava que a maior parte da construção estava enterrada no solo.
Ele não tinha a menor ideia de que etnia do passado pudesse ter sido a responsável pela
construção daquela coisa. Estava localizada em um lugar paradisíaco, completamente cercado pela floresta, isolado de qualquer civilização.
Na primeira noite eles acamparam ali, e ficaram acampados por três dias, estudando o local, filmando tudo. Otto fazia anotações, esboços de desenhos. Apesar de doente ele estava animado, afinal o trabalho de toda uma vida estava se mostrando promissor.
Ele decidiu que no dia seguinte entrariam na pirâmide, seria a hora da verdade. A pirâmide realmente existia, mas ela abrigava um portal, para o inferno? Racionalmente era uma loucura, mas Otto decidiu que não iria usar a razão ali, aquilo era uma coisa de outro nível, uma coisa que transcendia os limites da razão, e para entender tudo, era melhor usar outra tática, algo que fosse mais voltado para o lado espiritual da coisa.
Naquela mesma noite, ao acordar para urinar, Otto encontrou Winnetou de pé, olhando para a pirâmide. A lua cheia brilhava majestosamente no céu, lançando sua luz fulgurante sobre a floresta. Ver Winnetou parado naquela posição, olhando para a pirâmide, fez o coração de Otto
estremecer por alguns instantes, porque a impressão que dava era que havia algo de muito errado com o indígena. Ali, sob o luar, ele parecia um fantasma saído de alguma história de terror.
Ele se aproximou, Winnetou olhou para ele. O índio estava fumando um grande cachimbo feito de bambu. O cheiro da erva que ele fumava era ligeiramente agridoce. A essas alturas (dois anos depois) ambos já conseguiam compreender um pouco da língua do outro. Otto perguntou em alemão:
- O que foi Winnetou? O que está vendo?
Levou um certo tempo para o índio responder, e quando o fez, seu rosto estava tão sombrio que olhar para ele causou calafrios em Otto.
- Inferno habita dentro pirâmide. - Disse o homem em tom de urgência, os olhos arregalados. - Todos nós morrer lá dentro.
Otto experimentou um sorriso de canto de lábios. Talvez o homem estivesse sob o efeito da erva que estava fumando, algo que devia acalmar a alma mas causar delírios. As coisas não estavam muito favoráveis a eles, muitos da equipe tinham morrido e era certo que muitos ainda morreriam.
- É. Esperamos mesmo encontrar o inferno lá. - Respondeu Otto.
Winnetou olhou para ele, soltou a fumaça no ar e disse:
- Mas nós não encontrar inferno. Inferno vem nos encontrar.
Ele saiu dali, deixando Otto sozinho. Ele olhou para a pirâmide e de repente sentiu alguma coisa. Jamais conseguiu explicar exatamente o que sentiu. Sua pele arrepiou-se, os cabelos de
sua cabeça eriçaram-se. Parecia que a pirâmide exalava alguma coisa, uma espécie estranha e
nociva de força emanava da construção, e se espalhava pela sombria floresta, que permanecia no mais absoluto silêncio.
Otto ficou ainda mais um tempo ali, observando a pirâmide como se ela fosse um monstro adormecido.
*****
Eles estavam diante de uma espécie de porta. Não parecia uma porta, mas devia ser. Não havia maçanetas, e nem formato de porta, era apenas um circulo de pedras na parede, rodeada por figuras bestiais. Um ser de quatro braços parecia estar bloqueando a porta, ao longo de seu corpo havia o que pareciam ser bizarras fechaduras, a boca da coisa estava aberta, como se estivesse aguardando alguma coisa.
A equipe toda parou diante do desafio de abrir a porta, ninguém, nem mesmo Winetou, tinha qualquer ideia do que fazer.
Otto suspirou. Sentou-se em uma das pedras que havia na entrada da pirâmide e ficou um tempo ali, a meditar sobre o que poderia ser feito.
Em determinado momento ele pegou sua mochila e tirou de lá o livro. Era um grimório antigo, chamado Daemonius Vermis, estava enrolado em panos. Otto o desenrolou e começou a folhear o livro com cuidado, talvez houvesse alguma coisa. Em todos aqueles anos de estudo, ele ainda não tinha aprendido a traduzir completamente a língua com que aquele antigo livro tinha sido escrita, mas ele compreendia alguns caracteres. No entanto ele tinha aprendido a decifrar os desenhos que eram abundantes na obra, desenhos bizarros, que em sua maioria representavam rituais.
Otto ficou um bom tempo analisando as páginas do livro até se deparar com uma figura. Parecia a mesma retratada na entrada da pirâmide. O detalhe lhe chamou a atenção. A próxima página trazia o desenho de um ritual. Uma mulher nua estava sendo conduzida, acorrentada até diante de uma espécie de altar onde se encontrava um ser alado bizarro.
De repente ele teve uma ideia. Se não funcionasse, podiam simplesmente explodir a entrada, os riscos seriam maiores, mas podia ser feito.
- Me tragam um copo. - Pediu ele.
Um dos membros da expedição prontamente o atendeu.
Otto se levantou e se aproximou da garota que estava preparada para o sacrifício.
Ela o contemplou com um olhar temeroso. Parecia ver nele um monstro.
- Vamos precisar de um pouco de sangue puro, minha querida.
- Porque não pega o sangue da menstruação da puta da sua mãe?
A garota cuspiu em Otto. Ele sorriu.
- Segurem ela.
Dois homens assim o fizeram.
- Estendam o braço dela. Preciso de um pouco de sangue.
Mesmo gritando e esperneando, a menina teve o braço cortado, Otto colheu o sangue com o copo, caminhou até a figura na suposta porta. Olhou para trás vendo os outros. Winetou o observava com interesse. Talvez todos estivessem indignados com a maneira com que ele tratava a garota, mas estava fazendo tudo por um bem maior. Não havia culpa e nem ressentimentos ali, todos faziam sua parte.
Otto virou o copo de sangue na boca de pedra da figura e se afastou.
Por um momento não houve nada, mas então Otto viu o sangue escorrendo pelas fechaduras, ouviram um ruido estranho e amorfo por trás da parede maciça de pedras, o chão chegou a tremer e as fechaduras começaram a se abrir uma a uma.
Otto sorriu, satisfeito.
*****
Era uma sala de proporções descomunais. Nenhum dos presentes tinha visto qualquer semelhança com aquilo em todas suas existências, era o tipo de coisa que não podia existir.
Eles acenderam todas as tochas desde a entrada até a imensa sala, percorrendo uma espécie de rampa enorme que Descia para a escuridão.
Otto não sabia se estava vendo algum tipo de máquina, ou uma estátua gigantesca.
No fundo da sala havia uma enorme, estátua representando o bizarro esqueleto de uma criatura com chifres e quatro braços, dois deles segurando enormes adagas. A coisa estava aparentemente presa a uma bizarra cruz de quatro braços.
Dos dois lados daquela coisa ficava algo que Otto entendeu o que era: o sacrifício devia ser amarrado ali. Mas havia dois lugares, e eles tinham apenas uma garota.
- Merda!
No centro da sala ficava o que parecia ser um altar elevado, na frente de um enorme círculo também elevado. Havia um pentagrama desenhado no círculo.
Otto olhou para a equipe que como ele, contemplava a coisa com admiração.
- Estamos aqui senhores. Nosso destino. Liguem as câmeras e vamos filmar. A posteridade precisa saber disso.
*****
Um homem de uns 25 anos chamado Flitz se aproximou dele. Flitz era tipo, seu homem de confiança. Ele estava preocupado, havia dois lugares para o sacrifício e somente uma virgem.
- Sr. Otto, estou preocupado...
- O sacrifício, eu sei. Mas as coisas vão se acertar Flitz.
- Como?
- Olhe à sua volta. Olhe, entre os carregadores, o garoto indígena. Deve ser o mais novo do grupo. Não deve ter mais que 14 anos. Com certeza é virgem.
Flitz entendeu.
- Coloque os homens a postos. Vamos iniciar o ritual.
Flitz assentiu.
*****
Houve luta entre eles e os índios, que se rebelaram, assim que Otto revelou quem era o outro sacrifício.
O garoto era neto de Winetou.
Porém os alemães levaram a melhor, e dominaram os índios.
Os sacrifícios foram amarrados nos devidos lugares.
Otto preparou o livro e o abriu na página do ritual, ele tinha certeza que aquele era o ritual certo.
Ele olhou para Winetou que estava dominado e ferido, sorriu e disse:
- Você vai morrer daqui a pouco, mas antes vai contemplar a maravilha do inexplicável.
Então ele começou a ler o livro:
- Aperire infernum. taetra secreta pande, quae te celas, o tenebras infernales. Accipe sanguinem, exstingue sitim, et da nobis videre terrorem abyssi!
Otto cortou a própria mão e derramou um pouco de sangue em uma fissura do altar. O sangue escorreu pela fissura até desaparecer.
Por um momento não aconteceu nada, então, de repente o chão começou a tremer, o ar se tornou gelado. Ele sentiu um cheiro terrível de enxofre.
O enorme esqueleto moveu dois de seus braços, as duas adagas caíram sobre os jovens amarrados os transpassando de maneira bizarra.
Otto sorriu, olhou para o livro e continuou a ler as palavras inteligíveis do feitiço:
- Sume sanguinem Custodes tenebrarum, Sume sanguinem Et revela abscondita!
O sangue dos jovens sacrificados começou a verter por pequenos sulcos no chão, até ser absorvido pelo círculo no meio da sala.
Por um momento não aconteceu nada, e então, de repente, o pentagrama que ali havia se acendeu.
*****
Otto conseguiu ver tudo antes de morrer, viu quando um dos membros da equipe conseguiu fugir da pirâmide levando com ele o material de filmagem da expedição, viu quando os soldados e os homens restantes começaram a pegar fogo, viu os olhos de Winetou literalmente explodirem em chamas. Ele ainda viu o homem surgir do meio de um facho de luz fulgurante, o homem estava pegando fogo, mas não se queimava, ele emanava fogo e consumia as pessoas ao redor. Otto o viu estender a mão e o livro voou para ele.
Então, por um momento, o homem parou de queimar e Otto olhou diretamente para ele. Sua alma permaneceu ainda alguns segundos em seu corpo, embora começasse a queimar.
"Quem... quem é você?"
Ele apenas pensou na pergunta, não conseguia mais falar porque sua língua havia derretido na boca.
"Sou Abadom, e não posso deixar que façam isso. Ainda não é o tempo."
Então ele estendeu a mão e Otto começou a derreter como se fosse feito de cera.
Otto sentiu cada momento, até o fim.
*****
Ele fechou a porta e guardou a chave em um alforje que guardava consigo. Virou-se para sair dali e levou um susto. Havia um anjo de pé, diante de si.
- Mas que merda Uriel. Por que raios não pode simplesmente fazer barulho?!
- Você fechou a porta? - Perguntou Uriel.
Abadom olhou para a porta.
- Não dá para ver que está fechada?
- E os envolvidos?
- Viraram cinzas. Tudo como foi ordenado. Agora se me dá licença tenho umas coisinhas para fazer.
Abadom foi caminhando para longe de Uriel, ele não gostava muito daqueles anjos celestiais, lhe causavam um certo arrepio, principalmente arcanjos, era melhor permanecer longe.
- Abadom.
Abadom revirou os olhos e se virou.
- O que foi?
- Tenho ordens de levar o livro e a chave também.
Abadom ficou olhando para ele por alguns segundos para ver se o arcanjo estava de brincadeira, mas ele era um arcanjo, e se tinha uma coisa que ele aprendera na vida era que arcanjos nunca estavam de brincadeira.
Abadom caminhou até ele e entregou o livro, sem questionar. Era melhor assim. Assentiu e foi caminhando para longe.
- Esteja a postos com seu exercito, - Disse Uriel - quando a hora chegar, digo a você.
Abadom apenas fez um sinal com a mão direita. Olhou para trás, mas o arcanjo havia desaparecido.
*****
- Tem certeza? - Indagou Castiel.
- São ordens. O livro deve ser selado e mandado para a biblioteca.
- Mas...
- Eu mesmo arranjarei um guardião para que o exemplar fique em segurança.
Os dois ficaram se olhando por alguns instantes. Castiel desviou os olhos para o livro que estava em suas mãos.
- Sete selos. Essa é...
- A primeira vez em séculos. Eu sei irmão, também achei estranho, mas ordens são ordens. Além disso, alguns humanos conseguiram abrir a porta com isso.
Castiel lançou-lhe um olhar aturdido.
- Porta? Que porta?
- A porta do abismo. Um dos portais antigos. Olha, faça o que eu digo, mande selar o livro e o mande para a biblioteca. Eu vou arranjar um guardião.
- Ok.
Uriel saiu dali. Castiel ficou algum tempo olhando para o livro.
Daemonius Vermis. O titulo lhe deu calafrios.
Depois ele foi fazer o que lhe tinha sido pedido.
*****
MANAUS, AMAZONAS
Flitz ainda tremia. Ele tinha esperanças de ir junto com o material despachado para a Alemanha, mas não havia muito tempo para ele.
Alguma coisa o infectara, além das doenças da floresta, alguma coisa que tinha acontecido na pirâmide, a maldita pirâmide. Ele devia saber, estava na cara que alguma coisa ir dar errado.
Agora estava nele, ele podia sentir debaixo de sua pele, fluindo em seu sangue.
Uma camareira bateu na porta por volta das nove horas, ele olhou pelo olho mágico da porta e era Otto, mas de certa forma ele sabia que não era Otto, ele e os outros não tinham conseguido escapar da floresta.
Flitz a despachou. Agora ele sabia exatamente o que tinha que fazer.
Ele vestiu o perfeitamente alinhado uniforme da SS, carregou sua arma, uma pistola Walther P-38, e a colocou no coldre.
Quando ele colocou o quepe na cabeça o ambiente ficou frio, muito mais frio.
"Flitz." Ele ouviu a voz dentro de sua mente, e era como a voz de muitas águas, insana, terrível.
Uma lágrima escorreu pelos olhos de Flitz.
Diante do espelho ele fez uma continência nazista.
Ouviu a porta do quarto se abrir atrás de si e sentiu aquela coisa medonha, algo que nenhum homem vivo deveria sentir.
Flitz enfiou o cano da Walther P-38 na boca e puxou o gatilho.
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LUÍS FERNANDO ALVES
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