O VIDRACEIRO
Ela achou o cartão do vidraceiro na rua, e se lembrou que estava precisando de um, os vidros da porta da cozinha estavam quebrados e ela estava precisando trocar os da vidraça da sala.
O cartão era branco. Havia apenas a palavra VIDRACEIRO escrito em letras garrafais pretas
E o número de telefone para contato: 12 3666 666.
Liane achou aquilo uma coisa esquisita. Nunca tinha visto o número que sua mãe (que era uma religiosa quase fanática) dizia ser da besta do apocalipse em um cartão.
Liane colocou o cartão na bolsa e foi para a casa.
Ela morava sozinha em uma ampla casa que dividia com dois gatos e dois cachorros, a casa era grande demais somente para ela.
Liane preparou um jantar por volta das sete da noite. Antes da pandemia ela costumava sempre jantar fora, mas depois que a (literalmente) desgraça desabou sobre o mundo, tudo o que ela fazia era enononizar dinheiro e para isso teve que ir se adaptando aos poucos e cortando alguns velhos hábitos.
As vinte para as oito ela jantou sentada no sofá da sala assistindo o jornal, como sempre fazia.
Depois pegou uma cerveja na geladeira e voltou para a sala, dessa vez para ver um filme.
Somente por volta das dez da noite Liane lembrou-se do cartão e o deixou pregado na geladeira para não esquecer de ligar, assim que fosse possível.
Liane tomou um banho e se jogou na cama dormindo quase que imediatamente.
Ela acordou com Mingau, um gato bamboim de dois anos lambendo a sua cara.
Espreguiçou-se na cama e então viu uma coisa que a faz franzir o cenho: o cartão do vidraceiro estava sobre o criado mudo, perto do relógio digital.
Liane pegou o cartão, ela podia jurar que o tinha pregado com um ímã na porta da geladeira.
Ela olhou para Mingau e disse:
— Ei menino. Foi você que trouxe isso aqui?
— Miaaau! - Respondeu Mingau com entusiasmo.
Liane afagou o gato e se levantou. Caminhou até a sala e pegou o telefone. Ficou olhando para aquele número quase bizarro e então o digitou.
O telefone chamou umas sete vezes e então uma voz masculina respondeu. Liane achou que tinha algo de errado naquela voz mas não sabia o que:
— Vidraceiro. Em que posso ajudá-lo?
— Olá... É... Desculpe... Desculpe o incômodo. Eu... Estou precisando dos serviços de um vidraceiro.
— Hoje estarei aí.
— Obrigada.
Liane desligou o telefone e então se deu conta de que não tinha passado o endereço ao vidraceiro. Pensou em pegar o telefone e ligar de novo mas acabou desistindo. Não havia gostado daquele vidraceiro. Não sabia porque.
Ela rasgou o cartão.
Aquele foi um dia normal para Liane. Ela tomou um banho, trocou de roupa, tomou o café da manhã e foi para o escritório onde trabalhava. Almoçou com uma amiga por volta do meio dia. A amiga falou um monte de coisa e Liane não conseguiu se lembrar de nada do que foi dito.
Lembrava-se que a amiga perguntou se ela estava bem e ela disse que sim.
Por algum motivo ela pensava em vidro triturado.
Liane trabalhou até mais tarde naquele dia e chegou em casa por volta as dez da noite.
A primeira coisa que ela fez foi pegar uma cerveja na geladeira, cerveja essa que tomou se livrando dos sapatos.
Liane olhou para o corredor que ia dar na sala, que àquela hora da noite estava imerso na penumbra e viu os cachorros sentados olhando para a sala.
Liane franziu o cenho.
— Lucas? Laika? O que estão fazendo?
Ela começou a caminhar lentamente na direção dos cachorros.
— Ei. O que estão fazendo?
Laika olhou para ela e balançou o rabo. Lucas emitiu um gemido.
Liana abaixou para afagar os cachorros. Foi então que viu o homem na vidraça da sala.
Estava meio escuro, o homem estava abaixado trocando os vidros. Liane viu que ele estava usando uma espécie de macacão.
Ela arregalou os olhos e soltou um grito.
— Quem... Quem é você?! O que faz na minha casa?!
Então ela se lembrou que de manhã tinha ligado para o vidraceiro.
Mas não era possível. Um vidraceiro não trabalharia de noite. Além disso ela não tinha dado seu endereço ao homem.
O homem não respondeu. Continuava mexendo nos vidros da janela.
— EI! SAIA DA MINHA CASA OU CHAMO A POLÍCIA.
O homem, que estava inclinado parou o que estava fazendo e ficou imóvel.
Os cachorros começaram a latir, mas então desistiram da ideia e saíram gemendo, aparentemente de medo.
Liane deu alguns passos na direção dele.
Foi quando o homem se virou para ela.
Liane arregalou os olhos e recuou indo chocar as costas contra a parede do corredor.
O homem que ela estava vendo era grande, devia ter quase dois metros de altura. Mas o que a assustou de verdade foi que ele estava usando uma máscara branca, e segurando uma faca enorme, e ela reconheceu a máscara porque já tinha assistido aquele filme de terror.
Liane gritou novamente e começou a correr na direção da cozinha. O homem foi atrás dela.
Em pânico ela fechou a porta.
O homem investiu contra a porta com a faca e esta transpassou a madeira.
Liane gritou e se afastou. Correu a cozinha com os olhos e se armou com uma faca. Correu na direção da porta da cozinha e de repente o rosto terrível coberto pela máscara de Michael Mayers apareceu na vidraça, e Liana gritou em estado de pânico.
O homem estourou a porta como se ela fosse de papel e entrou na cozinha.
Liane abriu a porta do corredor e começou a correr na direção da sala.
Ela olhou para trás e viu seu perceguidor se aproximando rapidamente.
Liane correu para a porta de saída e a abriu. Então ela sentiu uma facada nas costas e gemeu soltando sangue pela boca.
Liane tentou gritar.
O assassino a segurou com uma força extrema a puxando para dentro.
Liane sentiu quando o fio da faca cortou sua garganta e engasgou.
O terror a dominava. Ela não sentia dor, apenas o medo, um medo que aos poucos foi passando. O mundo foi ficando escuro.
Ela caiu de joelhos e viu o assassino passar por ela e sair porta afora.
Liane mergulhou na escuridão.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro