Tinha sido uma picada de aranha. Era o que ele achava. Uma aranha bem pequena, e as pessoas costumavam dizer que as pequenas eram as mais venenosas. Antes ele não acreditava, mas agora...

Ele sentiu o efeito do veneno mais ou menos uns 40 segundos depois da picada.

Estava juntando as coisas de pesca que havia trazido quando de repente sentiu uma dormência no corpo. Depois a coisa foi se agravando ele caminhou uns três passos na direção do carro e caiu, e não conseguiu se mexer mais. E foi aí que o pesadelo ia começar.

Ele entrou em pânico e começou a gritar e então percebeu que não conseguia gritar.

Tudo o que ele conseguia fazer era ficar ali, parado.

Não sabia precisar a quanto tempo estava ali, havia perdido a noção do tempo com o desespero. Viu o sol forte despontar e viu os primeiros urubus começarem a sobrevoar a área.

Entendia o porque dos urubus estarem ali. Ele estava caído há várias horas, completamente imóvel, os urubus pensavam que ele estava morto e se preparavam para o banquete.

O pânico se transformou em terror. A ideia de ser devorado vivo por um bando de urubus simplesmente o apavorava.

Os primeiros urubus pousaram perto dele e o fitaram com seus olhos negros de morte. Pareciam estar sorrindo. Era como se soubessem que ele estava vivo e debochassem.

"Saim! Dêem o fora daqui! Não há nada aqui pra vocês! "

Ele gritou mas sua voz estava apenas em sua mente.

" Meu Deus! Me ajude! Me ajude, por favor. "

Não sabia se podia pedir alguma coisa a Deus, ir à igreja era uma coisa que ele simplesmente desconhecia, mas naquele momento era a única coisa que ele podia fazer, pedir ajuda a Deus.
Mas Deus cobrava o seu preço e parecia não ouvi-lo.

O primeiro urubu se aproximou dele e lhe deu uma bicada na perna. Forte o suficiente para ele sentir dor.

"Saia! SAIA SEU MERDA! SAIA DAQUI!"

Mais um urubu se juntou ao primeiro, e depois um terceiro, e um quarto, e um quinto.

Os urubus estavam agora em cima dele e bicavam, e arrancavam nacos de carne. A dor era terrível, mas ele simplesmente não conseguia se locomover.

- NÃO! MEU DEUS NÃO! POR FAVOR! NÃO!

Ele olhou para um dos urubus, um dos grandes. Ele parecia ser o chefe dos outros, e por Deus, ele compreendia a situação, ele sabia o que estava acontecendo ali.

" A vida é assim mesmo meu chapa. Não se preocupe, vamos acabar logo. "

Então ele se aproximou dele. Ele viu o bico enorme vindo na sua direção. Uma dor terrível povoou seu olho esquerdo e houve escuridão daquele lado, depois o menso aconteceu com o outro lado. Ele mergulhou numa escuridão profunda, uma escuridão dolorida e profunda.

Ele descobriu que não adiantava pedir para Deus. Não havia misericórdia.

Algum tempo depois sentiu alguma coisa entrando em seu ânus.

Alguém lhe havia dito que eles comiam por dentro. Eles comiam tudo.