MILHARAL
"—... A essência está no milho. O Deus deles é mentiroso, os engana com os prazeres do sexo. Mas o deus verdadeiro, aquele que passeia entre as fileiras do milharal! Ele virá para transformar os pecados deles em cinza! Então eles lamentarão o dia em que se contaminaram com o sangue profano do pecado..."
— Deus do céu! - Exclamou Cláudio desligando o rádio. - Mas que monte de lixo é esse?!
— Ele deve ser virgem. - Ponderou Cristiane. -Nunca descobriu os prazeres do sexo.
Ela fez um gesto obsceno como se estivesse chupando um pênis.
Cláudio sorriu e disse:
— Sua maluca pervertida!
Cláudio ajeitou o traseiro no banco do carro. Dirigir por cinco horas seguidas já estava cobrando o seu preço. Tudo o que ele queria àquela altura da viagem era parar em uma daquelas lanchonetes de beira de estrada, dar uma mijada, comer um lanche e tomar uma cerveja gelada.
Mas ele estava dirigindo há cinco horas seguidas e até agora não havia nenhum sinal de civilização. Tudo o que havia era o milharal. O milharal seguia dos dois lados da estrada e parecia não ter fim.
— Já chega disso. - Disse Cláudio encostando o carro.
— Ué. Por que parou?
— Eu preciso dar uma mijada. Além disso é a sua vez de dirigir.
Cláudio desceu do carro e enquanto Cristiane assumia a direção se aproximou do milharal, abriu o zíper da calça e começou a urinar.
Eram por volta das três da tarde, um vento quente assoprava e esvoaçava as folhas de milho, produzindo um barulho que se assemelhava ao ruído do mar.
Um mar de milho.
"Porra de milho ", pensou Cláudio.
Ele deu uns dois passos se aproximando ainda mais do milharal e viu uma espiga. A tirou do pé e começou a descasca-la. Cláudio levou um susto quando conseguiu ver a espiga constatando que ela estava repleta de larvas. Elas se retorciam nela, como bichos comendo carne humana podre.
Cláudio atirou longe a espiga podre e limpou as mãos nas calças.
O som de buzina o fez dar um pulo. Ele olhou para trás.
— Qual é? Você vem ou não?
Cláudio entrou no carro e Cristiane seguiu viagem.
Pouco tempo depois ele adormeceu.
*
Cláudio abriu os olhos e o sol já estava se pondo no horizonte.
Estavam parados. A porta do motorista estava aberta, ele não viu Cristiane.
Ele estava meio atordoado. A sensação era forte e medonha.
Olhou para a frente e viu que a estrada acabava ali. Na verdade ela parecia penetrar no milharal.
— Cris... Cristiane? Onde você está?
Provavelmente ela tinha entrado no milharal para fazer xixi.
Cláudio franziu o cenho.
— Cris. Você está aí?
Nenhuma resposta.
Ele desceu do veículo. O que viu lhe intrigou.
Havia telhados de casas e a torre do sino de uma igreja despontando no meio do milharal. De repente ele percebeu que havia uma cidade, literalmente no meio da plantação de milho.
Então o grito ecoou, alto e agudo:
— SOCORRO! ME AJUDE!
Era a voz de Cristiane.
Cláudio ficou em estado de alerta.
— Cris! Onde você está?!
— CLÁUDIO! AQUI CLÁUDIO! ME AJUDE POR FAVOR.
Cláudio se viu penetrando no milharal.
—CRIS! ONDE VOCÊ ESTÁ?
De fato havia uma cidade perdida no meio do milharal, o que era incrível.
— ME AJUDE CLÁUDIO!!!
O grito parecia estar vindo da igreja.
Cláudio disparou até lá.
A cena daquela igreja decrépita no meio daquele milharal chegava a ser assustadora.
Cláudio caminhou até lá e não teve muito trabalho para entrar, já que a porta estava em péssimas condições.
Havia velas acesas no altar da igreja. Cláudio franziu o cenho e começou a caminhar lentamente em direção ao altar, o piso velho de madeira rangendo antes seu peso.
Percebeu com espanto que havia alguém pregado na cruz onde deveria ficar a imagem de Jesus crucificado.
Ele foi caminhando lentamente e de repente percebeu que quem estava pendurado lá era Cristiane.
Cláudio levou as mãos à boca abafando um grito.
O medo e o pânico fizeram seus joelhos dobrarem e ele desabou ao chão.
Alguma coisa aconteceu.
Ele olhou para o piso de madeira e ele estava se movendo, como se uma cobra gigantesca estivesse abrindo caminho em baixo dele.
O piso explodiu e o que saiu de lá foi milho.
Uma centena de palhas e folhas de milho entraram na igreja e começaram a tomar forma diante de Cláudio.
Logo um espantalho terrível e imenso apareceu.
O espantalho tinha uma foice enorme e ele a usou investindo contra Cláudio que se desviou.
A foice partiu o piso podre de madeira da igreja.
Logo o espantalho se aproximou de Cristiane, e , usando a foice, cortou-lhe a cabeça.
Um jato de sangue acertou a cara de Cláudio que começou a gritar em estado de total pavor.
Ele se levantou e saiu correndo da igreja. Do lado de fora havia pelo menos uns 50 daqueles espantalhos feitos de milho, todos com foices.
Cláudio desviou deles e saiu correndo para o meio do milharal.
**
A lua despontava de forma majestosa no céu e ele continuava correndo.
Queria sair do milharal mas ele era imenso, ia até o horizonte, estendia-se até aonde seus olhos podiam ver e ia além.
Ele queria sair do milharal. Mas o milharal emcobria toda a face da terra.
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