FOGO FÁTUO
Silvano estava querendo fumar, mas a porcaria do acendedor de cigarros do carro não estava funcionando e ele não tinha um isqueiro, nem mesmo uma mísera caixa de fósforos, o que era uma merda mesmo.
Adriele estava mexendo no celular. Não estava conectada na internet porque ali, naquele fim de mundo não havia sinal. Ela estava jogando uma versão de tetris para Android.
O relógio marcava dez e meia da noite, o carro estava com meio tanque de gasolina, eles estavam em algum ponto de alguma estrada estadual, não dava para saber qual porque a porra do GPS não estava funcionando, e ele estava com uma vontade dos diabos de dar uma tragada em um cigarro e já estava ficando nervoso. Havia parado em um posto de beira de estrada pela tarde porque Adriele queria mijar e não tiveram a capacidade de comprar pelo menos uma maldita caixa de fósforos. Como puderam ser tão idiotas?
Em resumo a viagem estava uma merda. Ele estava com fome, com vontade de fumar e estava dirigindo naquela merda de estrada que parecia não levar a lugar nenhum.
Adriele finalmente largou o celular e suspirou. Olhou para fora e disse:
— Porra, ainda não chegamos a lugar nenhum.
— Pior que não.
Ela ligou o rádio e tentou sintonizar alguma estação, só conseguiu estatística por alguns segundos, mas então achou alguma coisa. Parecia algum tipo de pregação pentecostal:
— O fogo dele está vindo para queimar os pecados deles. O corpo deve ser queimado pelo fogo para que a alma seja salva! Entregue o corpo a ele pecador! Entregue o corpo à grande serpente de fogo que passeia pelo campo! Ele vai queimar todo o pecado…
— Meu Deus! - Exclamou Silvano. - Mas que merda é essa?!
Adriele começou a rir.
— Parece uma das pregações do meu pai.
— Parece um louco, isso sim. Desligue essa merda!
Adriele desligou e o bom silêncio voltou a reinar no carro.
— Que merda! Estou com uma vontade do caralho de fumar!
— O cigarro vai te matar aos poucos amor.
— Tudo bem. Não tenho pressa pra morrer.
Adriele revirou os olhos.
— Devia ter comprado um isqueiro.
— É. Eu devia. E você não devia ter estragado a porra do acendedor do carro.
Adriele não respondeu.
De repente viram surgir um pequeno incêndio na beira da estrada.
— Ali está a sua solução amor. Não é fogo o que você quer?
— É a boa ideia.
Silvano parou o carro na beira da estrada, a uns dois metros do foco de incêndio, e pegou a carteira de cigarros.
— Fique aqui garota. Eu já volto.
— Não vou a lugar nenhum.
Silvano abriu a porta e caminhou até perto da cerca onde estava pegando fogo.
Adriele olhou pela janela e viu uma coisa estranha. De repente ela percebeu que a estrada parecia muito velha, mas o que mais chamou sua atenção foram os carros que estavam parados na beira da estrada. Alguns deles pareciam muito velhos, alguns eram realmente antigos.
Ela franziu o cenho e olhou à volta procurando alguma casa, um posto de gasolina, ou o que quer que fosse. Não encontrou nada senão um bambuzal perto do foco de incêndio que estava na cerca.
Adriele olhou para o foco de incêndio. Era estranho, não havia qualquer sinal de incêndio ao redor.
Havia alguma coisa de muito errada ali.

Adriele estremeceu.
Ligou o rádio e o estranho pastor continuava com seu sermão bizarro:
— Queimem todos eles no fogo do inferno. Deixe leviatã, a antiga serpente os consumir.
Ela viu Silvano se aproximar do fogo, o viu acender o cigarro. E então ele simplesmente pegou fogo e começou a gritar.
— Meu Deus do céu! SILVANO!
Adriele abriu a porta e saiu correndo em direção de Silvano que se jogou no chão e começou a se debater em estado de pânico.
— NÃO! MEU DEUS! MEU DEUS!
Adriele começou a chorar e impotente assistiu o marido queimar até a morte.
Ela sentiu alguma coisa atrás de si. Percebeu que era a quentura do fogo.
Olhou para a cerca e seus olhos saltaram da órbita.
Ela achava que estava vendo uma cobra, a maior cobra que ela já tinha visto em toda a sua vida. Mas não era uma cobra qualquer, era uma cobra de fogo.
Ela escutou o sinistro pastor falando no rádio e olhou para o carro:
— Alimentem leviatã com o sangue do pecado. Acendam o fogo!
A imensa cobra de fogo olhou para Adriele. Seus olhos brilhavam e queimavam.
Foi quando Adriele também começou a queimar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro