A ÚLTIMA QUEDA
O mundo havia passado. Não existia mais, o que existia era a sombra do que um dia fora o mundo.
Roberto continuava morando no mesmo prédio. Ele continuava saindo periodicamente. Antes saia para trabalhar, agora saia quando precisava de alguma coisa, como comida por exemplo.
Quando o mundo ainda era o mundo ele costumava encontrar Rebeca no elevador. Rebeca era sua vizinha do andar de cima, uma morena linda. Uma das mais lindas que ele conhecia.
Roberto nutria uma certa tara por Rebeca. Rebeca era para ele a mulher perfeita. Ele se masturbava pensando em Rebeca. Ele conseguiu algumas fotos dela na piscina, e aquilo era como transar com Rebeca. Rebeca era seu amor, sua vida.
É claro que Rebeca não sabia que ela era o amor dele. Ela mal olhava para ele, se limitava a dizer bom dia e a sorrir.
Com o passar do tempo Rebeca passou a ser uma espécie de obsessão.
Certo dia ele resolveu que iria contar a ela que a amava. Ele saiu de seu apartamento e foi até o décimo terceiro andar, foi até o apartamento dela e parou na porta, mas não teve coragem de ir além. A coisa ficou na imaginação. Em sua mente ele imaginava que batia na porta e ela aparecia só de langerie. Então ele dizia que amava, ela o agarrava pelo colarinho e o puxava para dentro do apartamento, o jogava na cama e os dois fodiam gostoso.
Apenas imaginação.
Mas então o mundo acabou.
Um vírus mortal atacou o mundo. A segunda onda de uma coisa chamada Covid-19. Uma coisa que estava no ar e que transformou as pessoas.
Alguns simplesmente morreram, outros apresentaram comportamentos agressivos e começaram a matar, se transformaram em zumbis comedores de carne.
O mundo era assim hoje. Havia alguns poucos sobreviventes que precisavam viver trancados em casa e que precisavam se arriscar a sair para conseguir comida. Havia muita comida nos supermercados que ficaram abandonados. Os zumbis comiam apenas carne humana, era perigoso, mas era necessário.
Roberto tomava seus cuidados ele nunca teve nenhum encontro com zumbis assassinos, e esperava nunca ter. Mas era necessário tomar cuidado. Ele tinha uma espada de samurai que tinha encontrado no shopping da cidade e um revólver calibre 38 com algumas balas. Era para sua proteção pessoal. O revólver era para alguma emergência muito séria.
Roberto tomava cuidado.
Em uma de suas saídas ele descobriu que não era o único habitante do prédio, Rebeca também estava lá, mas não estava bem. O vírus a havia afetado.
Ele a havia encontrado há um mês. Precisava saber se ela estava bem e subiu até o andar dela. Entrou no apartamento que estava revirado e foi atacado por aquela que era o amor de sua vida.
Ela tentou mordê-lo e ele descobriu que os zumbis eram muito fortes.
Roberto conseguiu acertá-la na cabeça com uma vassoura, a amarrou e a levou para seu apartamento.
Não sabia exatamente porque fez aquilo, quando o correto seria tê-la matado. Mas ele sabia que não era capaz de matar a mulher que amava.
Roberto a amarrou com correntes a a colocou no quarto.
Teve que se acostumar com o cheiro, porque o corpo dos zumbis estava morto e naturalmente em decomposição. Mas ele se acostumou.
Rebeca era agressiva, as correntes a seguravam bem, mas ela o mataria se pudesse.
Durante aquele tempo ele tentou fazer alguma coisa. Devia haver alguma cura para aquilo. Ele chorou ao ver a mulher que amava naquele estado. Pensou em mata-la, mas não era capaz. Ela não merecia. Estava apenas doente.
Com o passar do tempo os gemidos dela, que duravam 24 horas por dia, ficaram insuportáveis.
Era a fome. Os zumbis precisavam comer, e o que eles comiam era carne humana.
Roberto não tinha tanta certeza se faria mesmo aquilo, mas ele saiu pelas ruas à procura de alguém, de um sobrevivente. Rebeca precisava comer.
A cidade estava quase que completamente vazia, mas ele conseguiu encontrar alguém. Uma mulher, quase uma garota.
Ela estava em uma padaria comendo pães estragados e se assustou ao vê-lo.
Roberto disse que ela não precisava temer, que estava tudo bem. Ele tinha comida em casa e se ela quisesse ele podia dividir com ela.
A moça ficou desconfiada mas acabou o seguindo.
Roberto a levou para o apartamento e a colocou no quarto onde estava Rebeca.
A moça entrou em pânico quando percebeu o que estava acontecendo e começou a gritar.
Roberto pensou em tirar a moça de lá mas já era tarde demais. Rebeca a atacou com fúria faminta.
Mas a moça era forte e começou a lutar. Roberto viu quando ela tirou uma faca da cintura e começou a golpear Rebeca.
— NÃO!
Roberto tentou intervir, então a moça se desequilibrou e atingiu a vidraça que se partiu em milhares de estilhaços. A moça tentou se segurar na cortina e acabou despencando do prédio. Doze andares, sua morte foi instantânea.
Roberto ajoelhou-se na beira do que agora tinha se tornado um precipício chorando em desespero.
Ele ouviu gemidos terríveis atrás de si.
Levantou-se olhando para trás e Rebeca surgiu das sombras do quarto. Ela havia escapado das correntes.
Roberto sentiu os dentes da mulher que amava, da mulher que estava morta, se cravando em sua garganta e gritou.
Ele a agarrou projetando o corpo para a frente e então os dois despencaram. Uma queda direto para uma morte que já tinha acontecido há muito tempo. Porque no mundo não havia mais vida. Todos estavam mortos.
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