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▪ 4 ▪

Na escuridão do jardim, os raios de lua filtravam entre as folhas das árvores, criando um jogo de luz e sombras ao nosso redor. Cada detalhe do rosto de Jenna era iluminado por essa luz pálida, destacando seus traços e o brilho provocativo em seus olhos.

Meus passos ecoavam pelo solo gramado enquanto eu encarava Jenna com uma mescla de fúria e frustração. A brisa noturna agitava as folhas das árvores, mas não amenizava o calor que crescia dentro de mim.

— EU NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ! — Minha voz ressoou pelo jardim, carregada de tensão e raiva reprimida.

Jenna permanecia ali, imperturbável, como se estivesse se divertindo com meu desconforto.

— Não vai me dar sequer o direito de me defender? — Sua voz soava irônica, os cantos de seus lábios curvados em um sorriso mordaz.

Minha indignação aumentava a cada palavra dele.

— Cínico. Foi por isso que você sugeriu que eu tentasse conversar com meu futuro noivo, não é? Porque ele era você! — Minha voz tremia de raiva, meus gestos expressando a intensidade de minhas emoções.

Jenna apenas mantinha o sorriso, como se estivesse se deleitando com minha irritação.

— Olhe bem, ao menos sugeri um acordo. Isso não demonstra que não sou tão ruim assim? Pense nisso, Daisy. — Ele tentava soar razoável, mas eu podia sentir a tensão subjacente em suas palavras.

Desviei o olhar, incapaz de suportar seu olhar insolente por mais tempo, e fixei meus olhos em um ponto distante do jardim. Ainda assim, podia sentir sua presença, uma sombra malévola pairando ao meu redor.

— Somos sócios. — Interrompi sua tentativa de justificação com uma voz firme. — E agora você traiu minha confiança, portanto nem isso sei se seremos..

Uma risada irônica escapou dos lábios de Jenna, como se ele estivesse achando graça da situação.

— Não seja tão dura consigo mesma. Poderia ser pior. Imagine-se casada com alguém com um ego ainda maior que o seu. Ou até mesmo com Dioe. Aposto que odiaria se casar com Dioe! — Seu riso ecoava pelo jardim, uma melodia desagradável no silêncio da noite.

Eu sabia que Jenna estava tentando me provocar, mas suas palavras só alimentavam minha raiva. Contudo, por mais frustrante que fosse admitir, em um ponto ele estava certo. Ele era a melhor opção no momento. Respirei fundo, tentando acalmar os ânimos, enquanto uma ideia começava a se formar em minha mente.

— Você é o mais velho, não seria o herdeiro do título? — Questionei quando essa interrogação surgiu em minha mente. A brisa da noite balançava suavemente as folhas das árvores ao nosso redor, criando um murmúrio reconfortante.

— Tudo funciona diferente no marquesado, Dariela. — Ele suspirou, desviando o olhar para o horizonte distante. A luz fraca das lanternas ao longo do caminho iluminava seus traços, destacando as linhas de preocupação em seu rosto. — Nós... não seguimos o tradicional. Primeiramente, primogênitos não herdam diretamente, e no momento... Marks e Dioe são os potenciais herdeiros.

— Pobre de seu pai... — Lamentei, sentindo um aperto no coração ao pensar na situação do patriarca Herbrack. — Digo, não por Marks, mas por seu outro sangue.

Ele assentiu em silêncio, uma sombra de tristeza passando por seus olhos antes de continuar. — E então, você é jogado para casamentos?

— Não, eu consigo por mérito. — Ele ergueu os olhos para me encarar, e vi a determinação brilhar neles. — Você sabe que Herbrack é uma das casas fundadoras, só que diferente dos Florence, não tínhamos magos...

Um arrepio percorreu minha espinha ao pensar nas implicações dessa diferença de linhagem. — Eram assassinos... — Minha voz saiu num sussurro, ecoando a preocupação que crescia dentro de mim. — Você matara seus irmãos??

— O quê? Não! — Ele arregalou os olhos, uma expressão de surpresa misturada com diversão cruzando seu rosto. Tive que morder o lábio para conter o riso diante da minha própria pergunta absurda, sentindo-me levemente constrangida pela situação. — Não lutaremos entre nós por uma herança. Um pondera ser Patriarca, o outro um conde, e eu? Eu tenho uma guilda que me deixa rico, acho o suficiente.

— Grande coisa, uma guilda, já que não planeja ter nenhum título, veio atrás do meu? — Questionei, sustentando meu olhar no dele, desafiadora. O jardim ao nosso redor parecia ecoar silencioso, como se estivesse observando o embate verbal.

Jenna parecia se deleitar com minha reação, um sorriso sutil brincava em seus lábios enquanto ele respondia:

— Minha querida Daisy, eu pouco sei sobre como esse casamento foi arranjado. Não quero seus títulos, seja lá quais sejam, e não preciso de suas micharias, não sei como ainda não percebeu isso. Nunca te tratei como um cliente comum, você não vê? Se você se manteve por perto, foi porque eu quis, não porque preciso de você.

Seus passos lentos na minha direção me deixaram alerta, enquanto eu involuntariamente recuava até minhas costas colidirem com o parapeito da sacada onde estávamos. O ar parecia mais denso, como se a tensão entre nós fosse tangível. Ele continuou, sua voz suave, mas carregada de convicção:

— Não preciso de você de forma alguma. Para mim, você é igual a qualquer nobre dentro daquele salão, apenas temos mais afinidade. Então, pare de discrepância em relação a mim. Se quisesse algo de ti, já estaria em minhas mãos há muito tempo.

As palavras de Jenna ecoaram em meus ouvidos, desafiadoras e intrigantes. Estávamos tão próximos que eu podia sentir sua respiração misturando-se com a minha. Arrisquei um olhar em sua direção e me deparei com seu sorriso, irônico e cativante ao mesmo tempo, como se estivesse desafiando-me para um jogo de xadrez onde cada movimento era crucial.

— Você tem medo?

— Por que teria medo de alguém como você? — Sussurrei de volta, sentindo uma onda de confusão e desconforto diante da proximidade inesperada, enquanto nossas vozes pareciam desaparecer em meio ao burburinho do salão.

Jenna pegou uma mecha do meu cabelo, levando-a até o nariz, e seus olhos se fecharam brevemente, como se estivesse capturando um momento fugaz. Seus lábios pressionaram suavemente a mecha de cabelo antes de ele abrir os olhos com um sorriso misterioso. Era um sorriso que eu conhecia bem, mas que sempre me deixava com um certo desconforto, como se estivesse mascarando algo que eu não conseguia entender.

A proximidade entre nós parecia criar uma tensão ambígua, como se estivéssemos dançando em uma linha tênue entre o conhecido e o desconhecido, entre a familiaridade e a estranheza. Era como se cada respiração compartilhada trouxesse à tona uma série de emoções conflitantes, criando um momento de incerteza que pairava no ar.

— Precisamos ir, minha bela noiva. Coloque um sorriso nesse seu rosto, ou ao menos finja um. — Ele me puxou de forma que meu braço se apoiasse no seu, para que me guiasse.

— Nunca estive tão empolgada! — Sorri em sarcasmo, o seguindo.

Ao entrarmos no salão, algumas pessoas pararam para nos encarar. Era extravagante e estupefativo ver dois solteiros juntos, ainda mais de braços dados. Seríamos vítimas de suas fofocas e comentários por um bom tempo, e papai havia conseguido o que queria: roubar toda a atenção.

O salão exalava opulência, com suas paredes adornadas com tapeçarias ricamente bordadas e candelabros reluzentes pendurados no teto alto. A música suave preenchia o ambiente, mesclada com o burburinho das conversas e risos abafados.

Olhei em volta ao entrar totalmente no salão. A anfitriã nos encarava com um sorriso endurecido pelo nervosismo. Seus olhos brilhavam com excitação e ansiedade, enquanto ela tentava manter a compostura diante da multidão curiosa.

Consegui encontrar papai com o sorriso mais brilhante que poderia imaginar, e ao seu lado estava Dioe, com uma expressão impassível que mal escondia sua intranquilidade.

O encarei fixamente, e ele retribuiu com um olhar intenso. Parecia mais sóbrio agora, acenou levemente com a cabeça antes de desviar nossos olhos. Jenna me puxou para o centro de forma que ficássemos de frente um para o outro, se curvou e me puxou para uma dança lenta.

— Sorria, Daisy, estão nos olhando.

— Não sinto vontade de sorrir. — Sussurrei enquanto ele me guiava pelo salão.

— Então finja, porque é o que eles querem.

Encarei Jenna, sentindo meu humor afundar. Algumas pessoas começaram a dançar à nossa volta; em pouco tempo, havia pessoas suficientes para que já não fôssemos o centro da atenção de tudo aquilo.

— Você é decepcionante. — Sussurrei por fim, com a voz cansada, antes de dar um último giro e me retirar.

Ao me retirar do salão de dança, senti um alívio momentâneo ao escapar do olhar curioso e julgador dos convidados. Procurei um canto mais tranquilo do salão, onde pudesse respirar fundo e reunir meus pensamentos.

Enquanto caminhava, percebi Dioe observando-me de longe. Seus olhos capturaram os meus por um instante, mas desviou o olhar rapidamente quando percebeu que eu o havia notado. Uma mistura de emoções tomou conta de mim: raiva e uma pontada de mágoa.

"Preciso de um momento sozinha", pensei, decidida a encontrar um lugar mais isolado. Atravessei o salão elegantemente decorado, desviando-me habilmente das pessoas que dançavam e conversavam animadamente.

Avistei um longo corredor ornamentado com tapeçarias ricas e candelabros cintilantes, e caminhei decididamente em direção a ele, meu vestido arrastando suavemente pelo chão de mármore polido. Não tardou para que eu pudesse ouvir passos discretos a me seguir, indicando que eu não estava sozinha.

À medida que os passos se aproximavam, preparei-me para enfrentar qualquer problema que pudesse surgir. Quando finalmente me virei para encarar quem me seguia, deparei-me com Dioe. Seu semblante estava uma mistura de constrangimento e nervosismo. Ele parecia como alguém que fora pego fazendo algo imprudente e ousado, e agora estava tentando encontrar as palavras certas para se explicar.

— Olá — Disse ele, sua voz soando envergonhada.

Arqueei levemente a sobrancelha, mantendo meu olhar fixo no dele, esperando para ver como ele justificaria sua presença ali. Dioe parecia buscar as palavras certas, seus olhos percorrendo o corredor antes de finalmente encontrar os meus novamente.

— Desculpe incomodá-la, Dariela. Eu... estava apenas dando uma volta pelos jardins e acabei seguindo você sem perceber — explicou, sua voz soando um tanto hesitante.

Sua explicação não parecia convincente, mas decidi não pressioná-lo mais sobre o assunto naquele momento. Em vez disso, mantive minha expressão impassível e fiz um gesto casual com a mão.

— Está tudo bem, Dioe. Não se preocupe com isso — respondi, tentando parecer indiferente, embora minhas palavras soassem secas e desinteressadas.

Dioe baixou o olhar, claramente envergonhado com a situação.

— Eu... agradeço sua compreensão, Dariela. Não vou mais incomodá-la — murmurou antes de se afastar rapidamente, deixando-me sozinha no corredor.

Assim que Dioe se afastou, respirei fundo, sentindo uma leve desconfiança pairar no ar. Por que ele estava seguindo-me? Seria apenas coincidência ou havia algo mais por trás disso? Não podia deixar de pensar que havia algo suspeito naquela situação.

Sacudi a cabeça, tentando afastar as suposições. Não era hora para teorias conspiratórias. Com passos firmes, continuei pelo corredor, mantendo-me alerta para qualquer sinal de estranheza. 

Na manhã seguinte, acordei sentindo-me exausta, tanto física quanto mentalmente. O banquete da noite anterior havia sugado toda minha energia emocional, mais do que eu imaginava ser capaz de suportar, e eu sempre me orgulhara da minha resistência.

Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas cortinas do meu quarto, lançando uma luz suave sobre o ambiente decorado com tons de azul e dourado. Sentei-me na cama, esfregando os olhos e tentando afastar o torpor que ainda pesava sobre mim. Minha mente fervilhava com os eventos da noite anterior, especialmente o embaraçoso encontro com Dioe e a dança forçada com Jenna.

Com um esforço, empurrei os pensamentos para o fundo da minha mente e comecei a me preparar para o dia que iria se desenrolar. Precisava ser forte, pelo menos na superfície. Ajustei a camisola de seda branca que vestia, sentindo o tecido macio contra minha pele, e chamei as donzelas para que pudessem vir me ajudar. Não demorou muito para que entrassem correndo no quarto, seus passos ecoando pelo chão de mármore, o som harmonizando-se com o canto suave dos pássaros do lado de fora.

— Bom dia, senhorita! — Jennete disse sorrindo, sendo a última a entrar no quarto agora tumultuado.

— Bom dia, Jennete. Prepare o vestido lilás para hoje, por favor. Ontem foi exaustivo, então hoje farei apenas o que damas nobres fazem: nada. — Sorri ao pronunciar a última palavra. — Então, por favor, sejam diligentes e não me incomodem.

O quarto estava em movimento frenético. Jennete havia entrado em meu grande guarda-roupa atrás da peça que eu havia pedido, os cabides de madeira rangendo levemente enquanto ela procurava. Duas criadas adentraram o banheiro, onde comecei a ouvir o som da água sendo derramada na grande banheira de porcelana, um vapor perfumado começando a subir pela porta entreaberta. Outras três criadas permaneceram no quarto, movendo-se com precisão. As camas eram feitas com meticulosidade, os travesseiros afofados e os lençóis de linho esticados até a perfeição. O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas de renda, lançando padrões delicados no chão de mármore polido.

Sorrindo satisfeita, fui até a poltrona de veludo azul junto à janela, esperando que meu banho ficasse pronto e que Jennete voltasse com o vestido. A luz suave da manhã entrava pelo vidro, aquecendo meu rosto enquanto eu observava o jardim lá fora. As rosas estavam em plena floração, suas cores vibrantes contrastando com o verde profundo das folhas. O aroma suave de lavanda e jasmim flutuava até mim, trazendo uma momentânea sensação de calma.

Após me arrumar e ter certeza de que estava pronta, desci as escadas do palácio com passos firmes, cada degrau ecoando o compromisso que havia feito a mim mesma de que hoje estaria em paz com o mundo ou qualquer ser divino existente. As escadas de mármore branco, adornadas com um corrimão de ferro forjado, refletiam a luz do sol que entrava pelos vitrais coloridos, criando um caleidoscópio de cores no chão abaixo. O grande salão estava inundado com a luz matinal, os lustres de cristal refletindo os raios de sol em milhares de brilhos cintilantes. A quietude do lugar contrastava com a agitação da noite anterior.

O aroma de café fresco e pães recém-assados permeava o ar, um convite silencioso para o novo dia que se iniciava. As mesas longas estavam dispostas com toalhas de linho impecavelmente brancas, as pratarias polidas refletindo a luz como pequenos espelhos. Vasos de flores frescas decoravam cada mesa, os arranjos feitos com cuidado para complementar a paleta de cores do salão. Caminhei até a sala de jantar, cada passo ecoando pelo salão quase vazio, uma lembrança do poder  que carregava.

No refeitório, observei papai conforme me aproximava. Ele já estava sentado, mergulhado em documentos com uma expressão séria e carrancuda, o semblante endurecido pelas responsabilidades e preocupações. A luz suave da manhã entrava pelas janelas altas, banhando a mesa longa de carvalho em um brilho dourado, criando um contraste entre a beleza do ambiente e a tensão no ar. Para minha surpresa, Dioe estava ao seu lado, parecendo mais sóbrio e composto do que de costume. Jenna, por outro lado, estava ausente, o que trouxe um pouco de alívio ao meu coração tenso.

— Bom dia, Dariela — disse papai, sem tirar os olhos dos documentos, a voz grave e imperturbável, como se já estivesse preparando seu discurso mentalmente.

— Bom dia — respondi, tentando manter a voz ríspida, uma armadura verbal contra a intimidade não desejada daquela manhã.

Dioe levantou os olhos quando me aproximei, e notei o brilho de arrependimento em seu olhar. A vergonha da noite passada parecia ainda marcada em seu rosto, como uma sombra persistente. Ele abriu a boca para dizer algo, mas hesitou, optando por um simples aceno de cabeça, os olhos pedindo desculpas que ele não conseguia pronunciar.

Sentei-me, pegando uma fatia de pão fresco e espalhando manteiga sobre ela com movimentos automáticos. O cheiro de pão recém-assado deveria ser reconfortante, mas hoje me parecia apenas um lembrete do desconforto que sentia. A mesa estava repleta de iguarias matinais – frutas frescas, geleias artesanais, queijos variados, mas minha mente estava longe de apreciar qualquer uma delas.

— Como você está? — perguntou Dioe finalmente, a voz baixa e carregada de constrangimento, quebrando o silêncio pesado que pairava no ar, suas palavras caindo como um sussurro tímido.

— Cansada — respondi secamente, sem olhar para ele, a palavra carregada de todas as exaustões não ditas, um corte brusco na tentativa de diálogo.

A tensão no ar era quase sufocante, uma presença notável que se agarrava a cada respiração. Papai, talvez percebendo o clima, baixou os documentos em suas mãos e nos olhou com uma expressão que misturava preocupação e determinação, a responsabilidade de um líder que tentava manter a família unida,um papel.

— Precisamos conversar sobre o futuro, Dariela — disse ele, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina afiada. — O casamento com Jenna é inevitável, e precisamos nos preparar para isso. Podemos começar com sua educação com os convidados.

Olhei atônita e simplesmente respirei fundo, tentando conter a fúria que borbulhou dentro de mim. Esperei que algum ser espiritual segurasse minha mão antes que eu jogasse aquele maldito pão na cabeça de meu pai ou de Dioe, enquanto dizia algo do tipo "Não preciso ser educada com convidado não convidado".

— Isso serve para convidados que receberam convite — respondi, a voz mais fria do que pretendia, cada palavra um tiro de advertência, um desafio silencioso.

Papai suspirou, passando a mão pelos cabelos grisalhos, uma tentativa visível de manter a calma diante da minha resistência.

— Sei que não é o que você deseja, mas é necessário para a estabilidade de nossa família. Jenna pode não ser o ideal para o que você gostaria, mas ele é a melhor opção política — insistiu, sua voz assumindo um tom de paciência cansada, tentando me convencer com lógica que parecia tão distante da minha realidade emocional.

Minha mente vagou brevemente para Darian, imaginando como ele lidaria com essa situação. Ele sempre foi melhor em manter a calma, em encontrar soluções que escapavam a mim. Mas eu estava sozinha nessa, e precisava enfrentar a realidade com a mesma força que ele teria demonstrado.

— Entendi, papai — respondi finalmente, tentando infundir um pouco de convicção na minha voz, uma máscara de aceitação forçada. — Farei o que for necessário para nossa família.

— Fico feliz em ouvir isso — disse papai, sua expressão suavizando ligeiramente, mas tudo que senti foi repúdio ao ver nossa troca de papéis de pai e filha amigáveis, nosso pequeno teatro sujo feito especialmente para o convidado indesejado à mesa.

Dioe ainda parecia desconfortável, mas não disse mais nada. Sua presença era um lembrete constante dos problemas que ele trazia, mas também da família que, apesar de tudo, ele era parte. Uma sombra pairava sobre a mesa de café da manhã, transformando um momento que deveria ser pacífico em um campo minado de palavras não proferidas.

Enquanto papai voltava sua atenção para os documentos à sua frente, Dioe finalmente quebrou o silêncio, sua voz quase um sussurro carregado de peso.

— Dariela — chamou Dioe suavemente, hesitando antes de continuar. — Sobre ontem à noite... eu... sinto muito. Vim me desculpar hoje. Perdão pelo constrangimento e infortúnio de ontem.

Olhei para ele, deixando que a frieza voltasse ao meu olhar. Cada palavra que eu disse foi carregada com a intenção de ferir, de marcar o ponto que ele precisava entender.

— Precisamos de menos palavras e mais ações, Dioe. — Minha voz era um açoite, cortando o ar entre nós. — Você precisa se recompor e ser um verdadeiro Herbrack, alguém que não traga vergonha para nossa família. E quando digo isso, não é à sua família que me refiro.

Meu olhar fixo em Dioe não cedia, minha expressão endurecida como uma máscara de gelo. Eu queria que ele sentisse o peso de cada sílaba, que compreendesse que suas promessas vazias não significavam nada para mim.

Ele assentiu, parecendo sinceramente contrito, mas seus olhos traíam uma insegurança que ele não conseguia esconder.

— Eu vou, prometo — disse ele, tentando sorrir, mas o sorriso não alcançava seus olhos. Sua promessa para mim era vazia, uma série de palavras ditas sem convicção. Aos meus olhos, ele era apenas um tolo como todos os outros tolos existentes, um peso a mais em uma balança já desproporcional.

— As promessas, Dioe, são fáceis de fazer — continuei, minha voz fria e calculista. — O difícil é cumpri-las. E até que você prove com ações, suas palavras não têm valor algum para mim. Não precisamos de belas palavras ou arrependimentos vazios, precisamos de mudanças reais.

A expressão no rosto de Dioe mudou, a contrição dando lugar a uma determinação tímida. Eu podia ver que minhas palavras o atingiram, mas restava ver se ele seria capaz de transformar essa dor em algo útil.

Terminamos o café da manhã em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. O peso das palavras não ditas continuaram pairando sobre a mesa como uma nuvem escura e tempestuosa, enquanto nós três enfrentávamos o inevitável confronto que se aproximava. A o clima ruim notável que parecia formar uma barreira invisível entre nós, nos separando até mesmo quando estávamos tão próximos fisicamente.

Quando finalmente me levantei, o alívio de deixar aquele ambiente sufocante me envolveu como um abraço reconfortante. Saí para o pátio central, buscando desesperadamente um momento de paz antes de mergulhar de cabeça na turbulência que eu sabia que estava para chegar. A brisa suave da manhã acariciava meu rosto, como se tentasse dissipar as preocupações que se acumulavam dentro de mim. Cada sopro de ar fresco era como uma bênção, um lembrete de que mesmo nos momentos mais sombrios, sempre há uma luz no fim do túnel.

Enquanto caminhava pelo pátio, o som dos meus passos ecoava contra as paredes de pedra, uma melodia suave que se misturava ao cantar dos pássaros distantes. Encontrei um banco de pedra e me sentei, fechando os olhos para me permitir um breve momento de paz. E foi então que as memórias vieram, inundando minha mente como uma enxurrada de emoções.

A imagem de Darian surgiu diante de mim, seu sorriso caloroso iluminando até mesmo os cantos mais escuros da minha mente. Eu podia vê-lo claramente, como se estivesse ali comigo, seu rosto radiante com a alegria da juventude. E então, suas palavras ecoaram em meus ouvidos, como um eco distante que nunca desapareceria completamente.

Você sempre foi a mais forte de nós dois," ele costumava dizer. "Nunca deixe que te digam o contrário."

Essas palavras ecoaram em minha mente, e eu senti um novo vigor se formar dentro de mim. Eu precisava ser forte, não apenas para mim, mas para a memória de Darian. Fiz uma promessa silenciosa a mim mesma e a meu irmão. Prometi honrar sua memória, defender cada segundo de sua vida inutilmente levada, amaldiçoar todos os que não fizeram o mínimo, e jamais deixar que roubassem um grão daquilo que deveria ter sido seu.

Levantei-me do banco com determinação, decidida a enfrentar o desafio que estava por vir. As pedras do pátio sob meus pés pareciam mais frias do que o habitual, um lembrete constante da solidão que me acompanhava. Enquanto percorria os caminhos tranquilos e arborizados do pátio, as lembranças de Darian continuavam a inundar minha mente. Seus sorrisos calorosos, suas palavras de encorajamento, sua presença reconfortante... Tudo parecia tão distante agora. Pensar que sou a mais velha de nós dois deveria ser engraçado, mas, pelo contrário, me parecia uma ironia cruel, principalmente pelo fato de não ter para quem me gabar.

Ao longo do caminho, passei por um canteiro de flores. As pétalas vibrantes dançavam suavemente ao vento matinal, mas havia uma tristeza subjacente. Elas eram resistentes, quase mortas pela falta de cuidados. Seus caules estavam secos e amarelos, morrendo de dentro para fora, de baixo para cima. Aquilo me lembrava as circunstâncias em que me encontrava: só. E mesmo que eu tentasse me enganar, permaneceria assim, plena e completamente sozinha.

Enquanto caminhava pelo pátio, os sons suaves da manhã me envolviam: o canto dos pássaros, o sussurro das folhas nas árvores, e o murmúrio distante da fonte de água. A medida que me aproximava da fonte, avistei Dioe sentado em um banco de pedra, imerso em seus próprios pensamentos. A luz do sol filtrava-se pelas folhas, criando um padrão de sombras e luzes sobre ele, como se a natureza tentasse suavizar a expressão de preocupação em seu rosto.

Seu olhar estava fixo em algo distante, refletindo uma mistura de preocupação e determinação. Cada movimento seu parecia carregado de uma introspecção profunda. A brisa suave balançava os galhos das árvores ao seu redor, quase como se tentassem lhe oferecer um consolo silencioso. Quando me aproximei, ele ergueu os olhos, revelando uma expressão de surpresa, seguida por um sorriso acolhedor, porém um pouco inseguro.

— Olá, Dariela — ele cumprimentou, sua voz tentando soar mais confiante do que ele realmente se sentia. Ele se moveu para o lado, dando espaço para que eu me sentasse ao seu lado. — A noite passada foi... desafiadora. — Comentou com um sorriso tímido, na tentativa fracassada de uma piada.

Eu assenti, tentando compartilhar seu sentimento sem revelar muito da minha própria perturbação interna.

— Sim, definitivamente não foi como esperava conhecer meu futuro esposo.

O silêncio se instalou brevemente entre nós, preenchido apenas pelo som da água da fonte caindo suavemente. Dioe, buscando romper a tensão, continuou:

— Como está se sentindo hoje? — A voz de Dioe soou suave, quase hesitante, enquanto a brisa matinal envolvia o pátio, trazendo consigo o frescor da manhã. A luz do sol começava a filtrar entre as folhas das árvores, criando padrões de sombras dançantes no chão de pedra, um cenário que contrastava reconfortantemente com a agitação da noite anterior.

Eu observei o ambiente ao meu redor novamente, deixando que a tranquilidade do pátio me acalmasse. Dioe, sentado ao meu lado, observava o horizonte por um momento antes de voltar sua atenção para mim. Seus olhos, normalmente cheios de vivacidade, agora pareciam cansados, carregando o peso das preocupações que compartilhávamos e ansiando por minha resposta tardia.

Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos e emoções antes de responder.

— Estou... bem — disse, as palavras saindo lentamente, como se eu estivesse tentando encontrar a verdade nelas. — Acho que ainda estou processando tudo o que aconteceu. — Minha voz falhou ligeiramente, e eu completei com uma pitada de ironia. — Mas acredito que já havia me feito essa mesma pergunta mais cedo.

Dioe assentiu, a compreensão evidente em seu olhar.

— Perdão, eu só... não queria te deixar desconfortável... sabe? Quanto a mim. — Ele suspirou, um som que carregava um peso emocional.

Olhei para ele, tentando entender suas intenções por trás das palavras. Dioe sempre foi um enigma para mim, mas agora, mais do que nunca, precisava decifrá-lo, Dioe era como um gelo seco, frio o suficiente para deixar uma limonada saborosa, mas poderia queimar sua mão se o tentasse segurar por muito tempo.

Dioe tentou quebrar o silêncio com um comentário casual, sua voz ligeiramente trêmula ao falar.

— Dariela, eu... eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu ontem e no nosso primeiro encontro. Fui impulsivo e... me arrependo profundamente. Jamais deveria tê-la tratado daquele modo, sem ao menos saber a situação.

Eu podia ver a sinceridade em seus olhos, mas minha raiva e frustração eram mais fortes. A memória daquela dia ainda queimava em minha mente, uma ferida contra meu orgulho que ele acabara de reabrir. Respirei fundo, tentando manter a calma enquanto respondia.

— Não precisa. Suas desculpas são desnecessárias. Não mudam o que aconteceu. — Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia, cada palavra carregada de uma secura que refletia a dor e a decepção que eu sentia. Minha expressão endureceu, lembrando-me daquele momento doloroso.

Dioe, envergonhado, abaixou o olhar, incapaz de continuar diante da rejeição direta. O silêncio entre nós tornou-se pesado, quase sufocante. Eu podia ver a tensão em seus ombros, a forma como ele apertava os punhos em frustração e arrependimento.

Ele finalmente ergueu os olhos para mim novamente, sua expressão triste e sombria. Muitas questões pairavam sobre mim e Dioe, não apenas nosso primeiro encontro fastidioso, mas a vergonha da noite anterior e a pessoa de quem eu mais sentia raiva no momento: seu irmão. Tudo isso contribuía para que um pouco do meu desgosto se dirigisse a ele. No entanto, a pessoa à minha frente não parecia em nada com a pessoa que conheci na primeira vez. Ele era um tanto gentil e tímido. Entretanto, a outra pessoa que vi pela primeira vez era rude e um tanto brutal em suas atitudes. Certamente uma pessoa de duas faces.

Eu sentia uma turbulência dentro de mim enquanto observava Dioe. As memórias do nosso encontro anterior, sua arrogância e as palavras duras trocadas, ainda estavam frescas em minha mente. Mas agora, ele parecia diferente, quase vulnerável. Era desconcertante ver essa dualidade em uma pessoa que eu achava conhecer. Meus olhos examinavam cada detalhe de seu rosto, tentando decifrar qual versão de Dioe eu estava enfrentando naquele momento.

O vento suave balançava as folhas das árvores ao nosso redor, criando uma melodia serena que contrastava com o turbilhão de emoções dentro de mim. A luz do sol filtrava-se através das copas das árvores, lançando sombras dançantes no chão de pedra do pátio. O ambiente parecia quase mágico, um refúgio de tranquilidade que mascarava a tensão entre nós.

Observei as árvores ao nosso redor, sentindo o peso da nostalgia se abater sobre mim. As copas densas balançavam suavemente ao ritmo da brisa, suas folhas farfalhando como se estivessem sussurrando segredos ancestrais. Minha mãe costumava dizer que as dríades habitavam essas árvores, seres místicos e protetores que zelavam pelas florestas e seus habitantes. Claro, isso era na época em que a magia ainda habitava o mundo de forma notável, um tempo em que o extraordinário se misturava ao cotidiano de maneira quase imperceptível.

Mesmo agora, com a magia se tornando uma lembrança distante, minha mãe continuava a acreditar que algumas dríades ainda podiam nos escutar, que elas estavam apenas ali, à espreita, observando silenciosamente e esperando o momento certo para revelar sua presença. Quando eu era criança, costumava observá-la, maravilhada, enquanto ela sussurrava para as árvores com uma devoção quase reverente. Seus lábios se moviam em um murmúrio suave, e, quando eu a questionava sobre o que estava dizendo, ela sempre respondia com um sorriso enigmático: "Segredo".

— Eu não gosto de você, Dioe, mas não ao ponto de dizer que te odeio. Não, para ser sincera, você é meramente importante para mim — comentei secamente, agora o encarando com uma intensidade fria. — Não sei por que veio aqui. Se foi por um simples pedido de desculpas, considere-se meio perdoado, mas não sinta que isso signifique que seremos amigos. Pretendo romper o compromisso com seu irmão muito em breve.

Minha voz carregava a dureza das palavras não ditas, a raiva contida e a frustração de ter que lidar com uma situação tão desconfortável. Dioe me observava, seus olhos refletindo uma mistura de contrição e determinação.

— Não pretendia que me perdoasse de cara mesmo — sussurrou, quase como se falasse consigo mesmo. Ele ergueu o olhar, encontrando o meu com uma firmeza que eu não esperava. — Pode não parecer, Dariela, mas sei me desculpar pelos meus equívocos.

A mudança em sua voz, agora mais segura, trouxe de volta a imagem do Dioe que conheci inicialmente: corajoso, valente, e inutilmente orgulhoso. Havia uma certa franqueza nele que, por um momento, quase me fez reconsiderar meu desdém.

— Nossa primeira impressão um do outro foi terrível. Eu fui rude, você igual...

— Igual? Você acha que sou igual a você? — Gargalhei em desdém, minha voz carregada de sarcasmo e escárnio. — Não nos ponha no mesmo patamar, Dioe. Fui meramente gentil com você, e já acha que somos iguais? — Arqueei a sobrancelha, minha expressão fria e desdenhosa.

Ele hesitou, a confiança momentânea vacilando. Seu rosto revelava um choque sutil, uma mistura de perplexidade e dor que quase me fez sentir pena. Quase.

— Você acha que ser apenas gentil é suficiente? — Ele finalmente retrucou, seu tom agora carregado de uma raiva contida. — Eu sei que errei, e estou tentando fazer as pazes. Não é justo me tratar como se eu fosse a pior pessoa do mundo. Todos cometemos erros, Dariela, mas pelo menos eu tento corrigir os meus. E você? Além de julgar e menosprezar, o que mais você faz? Ficar em cima do seu pedestal de superioridade, achando que todos estão abaixo de você? Você é um poço de arrogância, incapaz de ver além do seu próprio ego.— Mas ele não parou ai ao proferir mais palavras que visavam me ferir — Você é rude, Dariela. Eu tentei ser gentil, mas olhe para você. O que você tem além de um título e seu ego inflado? — A raiva em sua voz era objetiva e cortante. — Posso não ser motivo de orgulho, mas pelo menos eu tenho algo que você obviamente não tem — Sorriu cruelmente ao ver que fraquejei em minha expressão. — Sabe o que é? Claro que você sabe, mas vou te dizer de qualquer forma — Gargalhou friamente — Pessoas que gostam verdadeiramente de mim, pelo que eu sou. E você? Olhe só para você. O que você tem que alguém poderia gostar, além desse título vazio? Nada. Você é vazia, cruel, e amarga até o último fio de cabelo.

Observei Dioe se afastando lentamente de mim pelo pátio, sentindo uma onda de emoções conflitantes. O peso de suas palavras me atingia como uma tempestade, cada frase carregando uma lâmina afiada que rasgava minha confiança. Não podia fraquejar ali, não na frente dele, não demonstrando que ele havia me perfurado tão fundo que já não sobrava nenhum pingo de ego, apenas a ferida descascada e exposta.

Como um diálogo tão passivo e casual havia se transformado nessa troca de farpas? Como palavras aparentemente inofensivas tinham o poder de me despedaçar por dentro? Refletindo sobre isso, percebi que sempre fora assim: eu sempre fui sensível a qualquer palavra ou menção, sempre vulnerável às críticas que recebia. Cada comentário negativo parecia se agarrar a mim, corroendo minha autoestima.

Enquanto Dioe se afastava, a raiva e a tristeza se misturavam em meu peito. Era como se a brisa suave do pátio estivesse zombando de mim, oferecendo um contraste cruel à turbulência que me consumia por dentro. Cada passo que ele dava parecia ecoar em meus ouvidos, um lembrete constante da minha própria fragilidade. Eu queria gritar, queria correr atrás dele e revidar, mas algo me impedia. Talvez fosse o orgulho ou talvez fosse a vergonha de ter deixado suas palavras me atingirem tão profundamente.

Fiquei ali parada, tentando manter uma fachada de indiferença, mesmo que por dentro eu estivesse em frangalhos. A dor de suas palavras se entrelaçava com a realização amarga de que, talvez, houvesse alguma verdade no que ele disse. Era essa a parte mais dolorosa: a possibilidade de que eu realmente fosse tão vazia e cruel como ele havia insinuado.

— Você está certa, Dariela. Não estamos no mesmo patamar. E eu nunca quero ser como você — disse, com uma amargura que perfurou o ar entre nós antes de se afastar definitivamente.

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