onde você esteve?
— Prazer em conhecê-lo.
Verde. Era tudo que Eva conseguia enxergar. Não o verde das folhas das árvores que cercavam a praia. Verde como as ondas do mar que batiam incessantemente contra o casco do barco.
"Onde você esteve durante toda a minha vida?", ela pensou enquanto observava aqueles fascinantes olhos.
— Eva, não é? — ele perguntou, a voz suave e poderosa ao mesmo tempo, como o mar que mudava de humor facilmente. — Ouvi sua amiga falando.
Não era comum para ela ficar sem palavras, mas estava com dificuldades de controlar a língua para não dizer de cara que ele era o homem mais lindo que já encontrara na vida, então apenas assentiu como resposta.
— Eu sou Poseidon.
— Como o deus do mar?
O sorriso divertido e misterioso, como se guardasse um segredo, espalhou-se lentamente pelo rosto másculo.
— Exatamente como o deus do mar.
Esse foi o ponto de partida para um dia perfeito.
Quando acordou naquele dia e se dirigiu até o cais de Paraty, Eva soube que teria um dia maravilhoso enquanto passeava pela baía de Paraty, visitando as belas praias e ilhas do lugar. Pensou, inicialmente, que sua amiga Camila tinha alugado uma lancha em alguma das agências de turismo da cidade, mas acabou descobrindo que a amiga abastada tinha sua própria lancha, onde daria sua “festa” particular – um dia de mar com apenas 13 pessoas especialmente selecionadas por ela.
Não conhecia ninguém na lancha além de Camila e do recém-conhecido, Poseidon, como o deus do mar. E parecia um deus mesmo, do tipo que habita os sonhos e faz com que uma moça decente deseje ser arrastada para o Olimpo — ou para o Submundo, já que os pecados que gostaria de cometer não a levariam exatamente ao paraíso… não no sentido literal da palavra pelo menos.
— Já esteve em Paraty antes? — ele perguntou, interrompendo os pensamentos eróticos que passaram pela mente de Eva.
— Uma vez, mas apenas visitei o centro histórico.
O sorriso, dessa vez, não tinha nada de mistério. Ele claramente gostou do rumo da conversa.
— Estava sol ou chovia?
— Sol.
— Ah, então ainda não viu o centro como deveria.
— Eu deveria ensopar meus pés para apreciar o lugar?
— Quando chove, você pode ver como era antigamente. As ruas da cidade foram construídas para receberem a invasão das marés na lua cheia. É como um passeio no tempo.
Os olhos verdes se perderam no horizonte, como se ele pudesse ver tudo o que estava dizendo. Não os dias de chuva, mas a invasão das marés da era colonial. Mais uma vez, Eva ficou encantada com ele.
— Preciso ver isso um dia, então.
— Quem sabe amanhã, talvez.
— A previsão diz que fará sol — Eva respondeu, era óbvio que no dia seguinte o sol se faria presente.
— Por isso se chama previsão, porque pode mudar.
O sorriso estava lá outra vez. O misterioso. Eva queria descobrir todos aqueles segredos e, provavelmente, revelar os seus também.
Eles passaram um bom tempo conversando. Camila estava dando muito mais atenção aos outros convidados — a um convidado em especial, Carlos, seu novo interesse romântico. Não que Eva se importasse, ela também estava preferindo a companhia de Poseidon à da amiga.
Eva descobriu que Poseidon era muito fã da cidade litorânea. Ele sabia muitos detalhes e curiosidades sobre o lugar, principalmente sobre as praias, e contava uma coisa diferente a cada parada para mergulho e diversão.
Levou um tempo para que Eva se sentisse à vontade para tirar a saída de praia e entrar na água com Poseidon, ela preferia ficar admirando-o da borda da lancha enquanto ele nadava elegantemente por entre as ondas. Não se arrependeu, porém, quando decidiu se juntar a ele na água.
Pareciam estar vivendo uma daquelas cenas de filme onde o casal nada um ao redor do outro, ou de mãos dadas, ou quando um aponta algo bonito para o outro ver — Poseidon apontava, é claro, para mostrar a Eva algo que ele conhecia. Nesses casos, nos filmes, o outro estava quase sempre prestando muita atenção ao parceiro para notar seus arredores. Por isso, Eva se espantava toda vez que voltava a olhar para Poseidon e ele estava olhando para ela.
A jovem mulher também o fascinava. Ele não era tolo, sabia que atraía as mulheres como peixes e lulas atraíam os golfinhos. Desejo era o que a maioria sentia por ele. Poseidon notou que Eva se sentiu do mesmo jeito que as outras quando se conheceram, mas, na medida que as horas iam passando e ele ficava mais tempo com ela, também notou que ela era capaz de ver além da aparência física. Eva ouvia o que ele falava e observava tudo o que ele lhe mostrava. Na metade do dia, ele estava tão encantado por ela quanto ela por ele.
O almoço seria na Ilha do Cedro, um recanto paradisíaco pouco frequentado pelos turistas da Costa Verde, no extremo sul do estado do Rio de Janeiro. Claro que não estava tão vazia quanto Eva imaginou, já que na hora do almoço algumas escunas paravam ali para deixar seus visitantes fazerem suas refeições, como o piloto da lancha de Camila estava fazendo. De qualquer forma, Eva nem se importou com o número de pessoas do lugar. Ela escolheu uma mesa vazia em um dos dois únicos restaurantes da praia e se sentou, junto com Poseidon, para aproveitar a comida.
Não demorou muito, depois que eles terminaram de comer, para Poseidon pegar na mão de Eva e tirá-la da praia principal, levando-a pela pequena trilha até as piscinas naturais, um pouco mais isoladas pela vegetação e pelas pedras. Ele deixou que Eva admirasse o lugar, como ela tinha feito com tudo o que ele lhe mostrou durante o passeio, antes de levá-la lentamente para dentro da água.
Novamente, Eva se sentiu em uma cena de filme, aproveitando a água morna — algo inusitado para as águas do Sudeste — e a paisagem deslumbrante. Poseidon não a puxou para nadar de verdade, como tinha feito nas outras praias pelas quais tinham passado. Em vez disso, ele a segurou pela cintura, de frente para ele, admirando os cabelos cor de areia e os traços delicados do rosto de Eva. Ela, por outro lado, tentava não olhar diretamente para ele. Envolta pelas águas límpidas, pelos peixes coloridos e pelos braços fortes, Eva estava lutando para não ser mais seduzida do que estava sendo. Foi uma tentativa vã.
Incapaz de manter os olhos longe dele por muito tempo, Eva olhou nas órbitas verdes e sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto, em sua barriga, sentia vários peixes — e até tubarões — fazendo a festa, igual aqueles que os cercavam. Poseidon sorriu suavemente antes de se aproximar e beijar os lábios quentes de Eva. Nenhum dos dois queria resistir mais àquela atração.
O beijo foi doce a princípio, porém, incapazes de se conter, Poseidon segurou a cabeça de Eva em suas mãos e tornou o beijo mais ardente e apaixonado. As mãos de Eva, em contrapartida, percorreram o corpo de Poseidon, deslizando por cada fenda, cada linha que delineava o físico perfeito. Separaram-se, ofegantes, e abriram os olhos. O casal se encarou com curiosidade e paixão.
Ele encostou sua testa na dela, e de novo eles fecharam os olhos. Suas respirações estavam tremendo mais que as águas calmas da ilha, quase tão agitadas quanto os pequenos seres aquáticos que giravam ao redor deles.
— Obrigada — ela sussurrou.
— Pelo quê? — Eva sentiu que ele sorria, já que não podia vê-lo com os olhos fechados para senti-lo com mais intensidade.
— Por tornar esse dia perfeito.
“Por ser mais do que eu jamais podia esperar”, ela pensou. Achou que era cedo demais para externar aqueles sentimentos novos que a invadiam. Achou que era cedo demais para contar-lhe sobre o espaço em branco que ela tinha em seu coração… E que ela talvez preenchesse com ele.
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