eu tenho um espaço em branco, querido...
— Então, vai ser sempre assim? — Eva perguntou a ele depois de mais uma discussão.
Toda a pressão de namorar o Poseidon fez Eva ficar receosa. Ele era nada mais nada menos que o deus dos mares e dos terremotos. O que muitas mulheres desejavam, para Eva, era motivo de insegurança. Ela só queria a calmaria de antes.
Não, as discussões não faziam eles desistirem. Poseidon era bom em tudo. Bom em aprender com ela, bom em estar com ela. Era extremamente romântico — como na noite seguinte à primeira vez dos dois, que ele preparou um jantar à luz de vela, regado a massas e vinho para ela.
— Onde arrumou esse vinho? — ela tinha perguntado. Nunca tinha experimentado algo tão perfeito.
— Dionísio fez especialmente para mim.
Ela também notou que ele estava muito à vontade depois de contar sobre sua origem. As histórias do Olimpo eram um tanto quanto divertidas. Eva não sabia que os deuses podiam ser tão temperamentais. Achava que era só ficção.
Mas o que ela sabia? Para ela, Poseidon também não passava de mitologia até alguns meses antes.
Ainda era incrível estar com ele. O sexo era maravilhoso. Tudo era intenso demais. Aí estava o problema. Até as brigas, por mais novas que fossem, eram intensas.
— Por favor, Eva, considere apenas — ele pedia, mais uma vez.
— Poseidon, eu sei. Você tem suas responsabilidades, não é fácil. Tem que ir cuidar do mar e tudo. Mas o que eu vou fazer?
— Me ajudar.
— Poseidon, a eternidade nunca foi algo que almejei.
— Eu sei, por isso estou pedindo para você considerar. — Os olhos estavam verdes e calmos, pareciam o mar em dia ensolarado, pedindo para que as pessoas entrassem nele.
E era exatamente isso que Poseidon fazia, implorava para ela entrar nas profundidades de seu lar. Para que Eva considerasse se tornar uma deusa, uma imortal, e vivesse com ele nas profundezas do oceano.
Mas era impossível para Eva ceder. A eternidade era tempo demais, ela se entediava com facilidade. Não era a toa que sua lista de ex-namorados era gigantesca.
Sabia que amava Poseidon. Só não tinha declarado ainda. Precisava ter certeza se iria ceder aos desejos dele.
Eva fora criada em Brasília. Cidade grande, bonita, moderna. Não estava pronta para ir ao fundo do mar. Sabia que lá era ainda mais belo que a capital brasileira, mas era tudo muito antigo. Não queria ter poder de comandar criaturas das quais, na verdade, tinha medo. Não queria o poder.
Eva só queria viver um amor. Calmo e intenso. Exatamente como estava acontecendo com o deus dos mares, pelo menos antes dos pedidos dele para que ela o seguisse.
Os dias passavam, e chegaram à conclusão. A solução era passar uns dias distantes para ter certeza. Poseidon também tinha uma reunião no Olimpo com os irmãos. Um mês. Foi o tempo que passaram distante.
Eva sentiu saudade dele nos primeiros dias, mas continuou vivendo sua vida. Eva não esqueceu dele, só sabia que sua vida não mudaria muito sem ele.
Poseidon preparou um castelo novo, do gosto de Eva, perto de Paraty para poderem estar sempre no Brasil. Já conversou com os irmãos e estava tudo certo para torná-la deusa das águas salgadas. Cada lugar que olhava, desejava Eva.
Reencontraram-se no aeroporto de Brasília e nem deram muito tempo para conversa. Chegaram em casa e se amaram, como se fosse a última vez.
Depois das energias recuperadas, Poseidon chamou Eva para o sofá branco, onde tinham deixado seus corpos serem um só naquela primeira vez.
— Eva, eu te amo.
Eva perdeu o ar, o chão, sentiu-se tonta. Não sabia como responder. Ele percebeu que ela estava pálida e continuou falando:
— Por isso, insisto tanto para que você se torne a rainha dos mares. O que sinto por você está além de tudo que já senti em toda minha existência. Nossa casa, um Palácio no fundo do mar, está pronta. Acho que fiz do seu gosto. Meus parentes, os outros deuses, já concordaram em tornar você a deusa das águas salgadas. Já está tudo pronto para nossa partida.
— Mas eu não vou, Poseidon — ela nem sabia que havia tomado a decisão, somente pronunciou as palavras, descobrindo que os dois nunca dariam certo.
Doía. Dizer não a ele era como dizer não a si mesma. Mas, na verdade, era o contrário. Eva teria que abrir mão da vida normal, da sua cidade natal e de sua família, teria que abrir mão de seus sonhos para estar ao lado dele.
— Eva, por quê?
— Porque não. Porque eu não vou deixar minha vida normal que eu tanto gosto para estar com você. Eu também te amo, mas não posso abrir mão de mim para estar com você — Eva dizia em meio aos soluços. — Nós nunca daríamos certo, meu amor — ela afagou o rosto dele. — Você é um ser eterno, que tem suas responsabilidades longe daqui. E pertence a um mundo que eu nunca sonhei em fazer parte. Eu sou grata por tudo que me mostrou e me fez sentir. Mas acho que chegamos ao nosso fim.
Porque era isso, estar com Poseidon no fundo do mar era abrir mão de si mesma. De tudo que construiu, de tudo que viveu. Era abrir mão de sua vida. A vida humana podia ser considerada pacata, mas era o que ela queria. Nada de extraordinário, apenas uma vida normal.
Poseidon, que não estava acostumado a ser rejeitado, começou a juntar suas coisas. Sua vontade era causa um terremoto naquele instante, fazer a cidade tremer para demonstrar o quanto doía o não de Eva. Mas fazia parte do amor aceitar que ela não queria. Ele entendia isso. Deixou-a chorando no sofá enquanto fazia suas malas. Olhou para a cama de Eva, onde se amaram há poucos minutos. Queria poder voltar no tempo, pensou até em recorrer ao pai, que estava em pedaços no fundo do Tártaro, para poder viver aqueles dias com ela novamente. Para amá-la fisicamente antes, para aproveitar mais cada segundo.
Com as malas na porta, olhou para ela de novo. Correu até o sofá e a abraçou. Beijou-a uma última vez, mesmo em meios às lágrimas.
— Achei que você ia preencher o espaço em branco no seu coração com meu nome.
Ele não esperou a resposta, saiu pela porta sem olhar para trás.
— Eu também, Poseidon — mesmo ele não estando ali, ela respondeu. — Acontece que esse espaço em branco será preenchido com o meu nome.
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