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The Almost End Of Everything


Passaram-se dois dias e ninguém tinha notícias de Junmyeon. Wendy estava desesperada o procurando em todos os lugares possíveis, já a mãe apenas chorava no banco do passageiro, acompanhando-a pelo trajeto. Passaram por último na casa de Sehun, bateram na porta com muita força, mas ninguém atendeu.

Acionaram a polícia pouco tempo depois, alegando que o possível culpado pelo sumiço fosse Sehun, o último a ter tido contato com Junmyeon antes que ele desaparecesse. A família temia pelo pior. Os amigos contaram que Junmyeon não havia conversado com nenhum deles há dias e que não o viam por um bom tempo.

Sehun não esteve tão preocupado e sua frieza chocou dona Euni. Ela estava crente de que ele tinha feito algo com Junmyeon para se vingar, só não tinha como provar. Esse pensamento a incomodou por muitas horas.

A discussão entre Sehun e Wendy repassava pela cabeça dele por diversas vezes. Ela acabou aparecendo em sua casa toda molhada na noite de chuva anterior, ele precisou empurrá-la para fora para que ela desistisse e fosse embora. Ela havia dito muitas coisas que Sehun não acreditava, mas que fizeram mal, como sobre todos o odiarem e o preferirem longe, ou até mesmo morto. Relembrar tudo o que ela havia dito o fazia sentir um aperto no coração, porque por mais que acreditasse que fossem mentiras, quanto mais pensava mais reais se tornavam.

Estava um pouco frio quando Sehun saiu de casa. Caminhou lentamente pela rua, observando o sol começar a se pôr. Não pensava em muitas coisas, apenas no que diria a Junmyeon. A carta que havia lido era, de fato, escrita por Dongkyu, e aquilo tudo havia o surpreendido. No fim da carta, havia um papel amarelo grudado com um lembrete: "Me encontre na quinta-feira às cinco e meia no Firmind e não se atrase".

Estava indo encontrá-lo. Estava com um pouco de medo de levar um bolo, mas confiante. Não tinha planejado nada para falar, nem sabia como se comportar, só estava andando e pensando em como as coisas eram tão complicadas e tudo o envolvia, mesmo que ele nem quisesse ou soubesse disso. Embora estivesse cansado de sempre ter problemas com Junmyeon, não deixou de se interessar pela mensagem na carta e todo aquele peso que Junmyeon estava sentindo. O pouco cuspido na porta de sua casa não era o bastante, ele sentia que a frustração de Junmyeon era bem maior e queria descobrir até onde ia tudo aquilo. Buscava entender em que momento as coisas passaram a ser mais duras, ou porque Wendy era tão repugnante a ponto de se aproveitar da fraqueza de Junmyeon, bem como a mãe dele.

Era difícil de compreender tudo por meio de uma carta, já que Sehun nem estava a par do que se passava na família Kim.

Eram muitos detalhes. Só agora entendia que estava errado ao pensar que não fazia parte daquela história, pois sempre foi um dos personagens principais.

O parque estava feio, todo destruído. A entrada era uma bagunça de madeiras quebradas e grama morta. Sehun se agachou para passar entre as madeiras e passou para o campo, olhando ao redor. Ignorou o som de um gemido de dor audível atrás de si, parecendo como se alguém estivesse tentando atravessar a barreira de madeiras também. Estranhou um pouco, mas preferiu não se estressar ainda mais.

O parque sempre foi muito grande, entretanto, era possível se localizar pelas placas. Agora não tinha nenhuma placa.

Não tinha mais brinquedos, as mesas de piquenique foram retiradas e os bebedouros arrancados. Sehun não sabia ao certo se havia sido tudo destruído por vandalismo ou se o governo havia abandonado alguma obra que fariam, mas qualquer uma opções o deixava muito zangado. Várias versões diferentes do que havia acontecido com o parque se espalharam e ele já não sabia no que acreditar.

Ainda que árvores compusessem o cenário caótico, pairava um cheiro desagradável e poluído. Sua visão não conseguia encontrar naquele lugar a mesma alegria que antes era contínua e que parecia eterna. Havia acabado. O seu parque preferido estava morto. Não conseguia nem mesmo se lembrar de como já havia sido feliz com Junmyeon naquele gramado seco. Foi naquele lugar mesmo? Parecia um passado distante, mesmo não tendo nem completado um ano.

Ali ele percebeu que nada pode ser eterno.

Andou pela trilha marcada por terra seca e percorreu seus olhos pelo espaço, procurando por Junmyeon, e talvez também pela sua força. Estava começando a sentir uma dorzinha no peito, uma marca de nostalgia. Sehun queria voltar no tempo e ter seu interior preenchido pelo sentimento puro de felicidade outra vez.

— Ei, Sehun!

Ele estava de olhos fechados e nem percebeu que já havia andado o bastante. Virou-se na direção da voz que o chamara, avistando Junmyeon em pé ao lado de uma árvore. Segurava uma mala e nas costas uma mochila, estava bem vestido, parecendo que viajaria. Sehun então caminhou até Junmyeon, notando um pequeno sorriso no rosto alheio. Sorriu de volta, mas sua expressão era fria e seu gesto não diminuiu aquele ar ruim.

Parou um pouco distante de Junmyeon e ficaram se encarando por alguns segundos. Sehun estava encantado ao vê-lo mais de perto, pois agora estava diferente. Em poucos dias Junmyeon pareceu mudar radicalmente sua postura.

— Obrigado por vir — Junmyeon disse.

Sehun acenou com a cabeça, guardando as mãos nos bolsos.

— Elas fizeram algo com você? Está tudo bem? — perguntou a Sehun. — Parece que você quer chorar...

Ele ficou desconcertado com a pergunta e desviou o olhar, passando a mão nos olhos e retirando os resquícios de lágrima que pudessem estar acumulados sem que percebesse. Deu um riso fraco, disfarçando seu nervosismo.

— Estou bem, não é nada além de decepção por ver meu parque assim — respondeu e abanou a mão no ar. — Nunca pensei que pudesse perder tantas coisas ao mesmo tempo, entende? É um pouco...

— Dói? É doloroso?

— É, isso serve. Dói lá dentro. — Apontou para seu peito, em cima de seu coração.

— Eu sei — sorriu em compreensão.

— O que viemos fazer aqui? — Sehun perguntou, mudando o assunto.

Junmyeon tirou a mochila das costas e pegou um grande envelope de dentro dela.

— Eu não queimei as suas cartas como falei que faria.

Abriu o envelope e procurou algo dentro. Ao encontrar, suspirou. Deixou as coisas no chão, segurando a carta que havia retirado de lá, olhando para Sehun.

— Você ainda se sente triste pela sua avó? — perguntou a Sehun.

Ele abaixou o olhar, desconcertado.

— Um pouco. Me acostumei.

Então Junmyeon abriu a carta, limpando a garganta nervosamente antes de começar a ler em voz alta:

— Oi, vovó. Eu tomei a mania de escrever cartas como a senhora, agora eu vou te mandar a última que a senhora poderá ler...

Sehun arregalou os olhos enquanto dedicava sua atenção a Junmyeon.

— Espera! Onde você encontrou isso? — Sehun rapidamente se aproximou e arrancou a carta da mão de Junmyeon, de repente sentindo uma dor de cabeça tomar conta de si. — Por que você tem isso com você? — Levantou a voz.

— Acho que você entregou errado, Sehun. Estava na minha caixa de correio.

— Mas... não. Eu teria percebido se fosse o caso. — Ele olhou para a folha com as sobrancelhas erguidas. — Ela não leu... Junmyeon, ela não leu meu pedido de desculpas. Ela não leu que eu amo ela... Ela se foi sem saber disso, Junmyeon.

Não bastasse a irritação, impulsivamente Sehun começou a amassar o papel, rangendo os dentes e rasgando-o com as mãos trêmulas de raiva. Jogou tudo no chão, sentando-se com as costas apoiadas na árvore e esfregando os olhos, arrependido.

— Ela sabia, Sehun. Ela sabia.

Junmyeon respirou fundo e se sentou ao lado de Sehun, que, sem nem pensar, empurrou-o para mais longe. Ele se afastou e consertou sua postura, pensando numa forma de não piorar as coisas.

— Eu não sei o porquê de ter te chamado aqui, eu só pensei que precisávamos conversar.

Apenas ficou em silêncio por uns segundos, esperando até que Sehun se virasse ou dissesse algo. Sem nem pensar em seus atos, tirou os óculos e lentamente se ajeitou no chão, deitando sua cabeça no colo de Sehun, tomado por sua afeição a ele, o homem por quem mais sentia transparência, não só pelos sentimentos transferidos às suas cartas, mas por seu olhar..., o qual realmente conseguia afetar Junmyeon.

Sehun não era explicitamente expressivo, o pouco que transmitia a Junmyeon era forte o suficiente para impactá-lo; revolta em relação às atitudes que Junmyeon cometeu e nem ao menos percebeu que afetaram negativamente o andamento da recuperação psicológica de Sehun.

— Eu ainda não entendo o que leva você a querer contato comigo. Você mesmo pediu para eu me manter longe, mas depois me procurou o tempo todo com questões cansativas — Sehun disse.

— Depois que conversamos na sua casa, eu fui ver Dongkyu. Ele ficou nervoso quando eu falei sobre ela. Talvez seja um dos fatores para ele ter...

Sehun acenou com a cabeça.

— Eu não imaginava que ela pudesse ser assim — ele respirou fundo. — A propósito, essas malas... Você vai fugir dela?

— Bem, te chamei para verificar se você está bem e para conversar como um velho amigo, mas os tópicos não são aconchegantes como eu queria que fossem.

— Um velho amigo merece sinceridade.

— Eu vou tentar.

— Então vamos conversar. — Ele ajeitou as costas no tronco da árvore e olhou para Junmyeon em seu colo. — Por que exatamente você me rejeitou? Não me diga que foi porque sua mãe disse que eu queria te matar, essa justificativa é ridícula.

Naquele momento, alguns flashes passaram pela cabeça de Junmyeon e ele pareceu murchar, a envolver-se nos pensamentos como se estivesse vivendo-os ali. Ele se sentou com as costas eretas e sua mente vagou sobre lembranças.

— Depois que eu acordei, foi estranho. Eu não sabia quem era o Sehun que diziam que estava comigo no acidente. Foi traumatismo. Eu perdi uma boa parte da minha memória. É estranho. Eles também tinham certeza de que eu nunca recuperaria minhas lembranças, mas alguns lampejos de vez em quando passam por mim.

— Tem certeza de que não são memórias falsas?

— Não tenho, mas algumas eu prefiro acreditar que foram reais algum dia — sorriu fraco. — Depois Wendy apareceu no meu quarto me chamando de amor. Com os dias se passando ela me contava que Sehun tentou nos separar, mas como não conseguiu, tentou me matar.

— A polícia não foi falar com você? — Sehun franziu o cenho. — Eles insistiram em mim até que eu tomasse coragem para falar.

— Conversaram com minha mãe, ela pediu a ajuda de uma enfermeira para convencer os policiais de que eu não tinha condições para dar depoimento porque não me lembrava de nada, então eles não fizeram questão de insistir para uma declaração minha.

— E Dongkyu? O que ele disse?

— Nada. Ele não falava nada e eu também não perguntava. Descobri que as pessoas diziam que eu e você namorávamos, então minha mãe disse que depois que a gente se conheceu, eu sempre aparecia machucado. Você me ameaçava porque eu devia dinheiro e... eu... — virou a cabeça, constrangido — dormia com você para compensar o atraso do pagamento.

Sehun tossiu incomodado e também virou a cabeça para o lado oposto.

— Segundo ela, você era agressivo e manipulador e eu deveria ficar longe para me proteger, senão você poderia acabar fazendo algo pior, como me matar. Achei estranho e não levei muito a sério no começo, mas todas as pessoas diziam a mesma coisa.

Sehun suspirou, incrédulo.

— Isso nem faz sentido... Eu nunca te emprestei dinheiro, Junmyeon. Não dá pra acreditar que você levou essa merda toda a sério.

— Como eu podia adivinhar? — Junmyeon mostrou-se irritado. — Há oito anos atrás eu não tinha um bom trabalho. Inventaram essas baboseiras enquanto eu ainda estava me adaptando à minha nova vida de repente com trinta anos.

Mesmo com aquela explicação, Sehun não deixou de se sentir péssimo, além de, também, aborrecido pelo que havia ouvido. Junmyeon suspirou.

— Eu não pensei, é sério, eu não estava devidamente recuperado para analisar racionalmente isso tudo. Eu me assustei. Quem não se assustaria estando supostamente prometido à morte? Teve uma hora que eu só desejei nunca mais ouvir o seu nome pelas declarações que ela fazia sobre você.

Sehun limpou a garganta.

— Tá... Olha, pula essa parte — pediu cabisbaixo.

Junmyeon o olhou com um sorriso, com a feição um tanto preocupada.

— Eu não acredito mais neles. Suas cartas me deixaram intrigado, porque você era doce nelas. Era um contraste estranho. O homem manipulador escrevendo cartinhas de amor como uma garota apaixonada — riu nasalado, vendo Sehun sorrir timidamente. — Mas quando fui até você pela primeira vez, fiquei com medo quando você levantou gritando. Você tava muito irritado. Eu pensei que...

— ... eu era mesmo um louco como diziam...

— Não! Não! — Junmyeon interveio. — Não era assim. Você estava nervoso e eu acabei lembrando daquilo que minha mãe me dizia. Foi momentâneo, Sehun.

— Você duvidou de mim mesmo depois de ler as cartas — concluiu desapontado.

— Não, Sehun. Se eu duvidasse de você, eu não estaria aqui agora.

— Você duvidou sim, Junmyeon.

— De qualquer forma, eu sinto muito. Estou partindo.

Sehun abaixou o olhar.

— Então você planeja mesmo ir — disse como uma afirmação.

— Eu preciso.

— Eu sei.

Não trocaram palavras por alguns minutos. O tempo congelou e só o vento lembrava-os que estavam ali, sentados sobre raízes de uma árvore maltratada, com os pensamentos confusos, pouco interessantes ou importantes, os quais pertenciam somente aos dois. Cada segundo a mais, Junmyeon tinha mais certeza de que estava certo de sua decisão de confiar em Sehun, ao mesmo tempo que se martirizava por demorar tanto para tomar essa decisão. Sentia-se tentado a convidá-lo a participar de sua vida da forma mais invasiva que pudesse suportar, porque estava mesmo maravilhado por quem Sehun era e já não se importava se eles tinham sido um casal separado por mentiras cruéis, só queria poder saber que Sehun estava bem, seguro, queria assegurar que Sehun não tivesse um fim parecido com o de Dongkyu e que ele não pudesse fazer nada outra vez. Poderia explicar o que sentia por Sehun com as cores de um arco-íris: cada vez que o conhecia um pouco mais, uma cor era pintada sobre aquela barreira cinza que Junmyeon construiu entre eles.

Com aquilo, Junmyeon podia afirmar que eles realmente estavam destinados a continuar juntos de alguma forma.

Sentia um estranho orgulho de Sehun. Admirava-o pelo pouco que conhecia sobre ele, que pensava ser muito, mas não era nem metade do turbilhão de coisas sobre Sehun. Achava ser grande coisa saber das vezes que Sehun surtou e segurou a vontade de beber e sair de madrugada pela rua pra nadar num lago que ficava próximo à sua casa, um mau costume descrito em algumas cartas, ou por saber que Sehun era a pessoa mais sensível do mundo e carecia de todo o amor do universo depois de tanto desprezo sofrido. Sentia orgulho de Sehun por ele ter suportado seus problemas mesmo sem ninguém ao seu lado, apoiando-o a cada passo dado, e por ter conseguido lidar com a dor de perder as únicas pessoas que estavam consigo em momentos difíceis.

Junmyeon estava prestes a elogiá-lo por ser forte quando Sehun começou, inexpressivamente, a falar:

— Eu me lembro daquele dia, quando eu abri os olhos no carro. Não senti dor nenhuma até que olhasse para a minha perna. Era tão... feio. Entrei em desespero porque pensei que você tinha morrido.

Junmyeon encarou a Sehun, que continuou a contar enquanto fitava o chão.

— Quando eu soube que você tava vivo, fiquei muito feliz e aliviado. Aí eu encontrei você, pela primeira vez desde o acidente, andando no corredor... — Engoliu em seco. — Eu dormi lá até a enfermeira me encontrar, eu fiquei paralisado.

Junmyeon respirou fundo.

— Me desculpe — disse com pesar.

Sehun ignorou, continuando:

— Percebi que você não tava mais ao meu alcance. Me acostumei à cadeira de rodas, às muletas, e decidi que voltaria a andar. Passei muito tempo deprimido, usei todo esse tempo para escrever. Eu não tinha vontade de ir em um psicólogo. Na verdade, eu não queria me abrir com ninguém além de você, mas era impossível. Então comecei a escrever cartas, como eu sempre fazia antes. Aí eu entreguei umas cartas pra você, achando que você lia de verdade. Alguns meses na fisioterapia me deram um pouco mais de força. — Ele deu uma pausa. — Na primeira vez que eu fui até a sua casa andando de verdade, eu me sentei na calçada e desabei. — Sua voz tremeu um pouco dessa vez, afastando o tom robótico e dando lugar a sua forma mais emotiva. Sehun estava emocionado. — Eu me senti realizado como não sentia há muito tempo. Mas aí, eu vi que todas as minhas cartas ainda estavam na sua caixa de correio. Eu me senti inútil, me senti descartável.

Aquilo vinha de forma tão fria que Junmyeon sentia doer em si. Sehun era direto, não escondia nada.

— Tive ataques de pânico muitas vezes, me sentia sozinho e só a minha fisioterapeuta me ligava perguntando se eu estava bem. Eu tentava contato com Dongkyu, mas ele parou de me ver depois de um tempo. Frequentei um grupo de apoio só por um mês e perdi meu emprego na editora um tempo depois, seus amigos me bateram e dei meu cachorro ao meu tio. E ontem meu irmão fugiu com uma grana que eu tava guardando pra ver se conseguia uma prótese melhor. Acho que tô ferrado — ele riu desanimado.

— Sehunnie...

Um silêncio se instalou e Junmyeon observou o céu.

Nada adiantava. Ele nunca deixaria de se sentir culpado por tudo. Se não fosse por sua indecisão e covardia, todos aqueles que ele amava estariam bem agora. Pelo menos sua mãe e seu irmão, já que Junmyeon nem ao menos chegou perto de amar Wendy. Aquele disfarce de casal era a culpa de Junmyeon que tomava conta por ele pensar que deixaria sua namorada sozinha somente por ter perdido a memória. Ele não achava justo nem com ela nem consigo mesmo, mas estava disposto a um sacrifício por ela.

Agora não mais. Nunca mais.

— Você acha que poderíamos ter impedido a morte dele? — Junmyeon perguntou.

— Ele estava exausto, não só por causa da gente, tudo fazia ele querer morrer — Sehun afirmou.

Junmyeon limpou a garganta, mordendo os lábios em seguida.

— Como você sabe disso?

— Porque ele escrevia com a mesma angústia que eu.

Não houve resposta verbal àquilo, mas um olhar entristecido de Junmyeon, que não soube como reagir àquela informação. Era um tanto extremo para a sua cabeça.

— Wendy era a minha melhor amiga no ensino médio — Sehun revelou.

— Ela tinha me contado... E que você roubou a vaga dela no curso de letras.

Sehun respirou fundo.

— A redação que me fez passar foi "A Importância da Arte no Cotidiano". Ela escreveu alguma coisa sobre religião. Não quero ser chato ou desrespeitoso, mas escrever sobre Deus numa redação importante daquelas foi uma idiotice.

— Mas como só isso fez vocês pararem de se falar?

— Era tema livre, muito fácil. Ela colocou a culpa em mim, porque quando ela me pediu uma sugestão de tema, eu incentivei que ela escrevesse o que deixasse ela confortável.

Junmyeon assentiu, ainda confuso.

— É só por isso que ela te odeia?

Sehun balançou a cabeça negativamente.

— Quando ela me contou que estava apaixonada por você, eu cobri algumas faltas dela no nosso primeiro estágio para que ela te encontrasse. Depois de não ter dado muito certo, eu te conheci...

— Isso é tão confuso...

Novamente um breve e estranho silêncio entre eles.

— Acho que eu fui seguido por alguém até aqui — Sehun disse de repente.

Arrancou mais um olhar de Junmyeon, agora curioso.

— Como assim?

— Eu senti alguém chegando perto enquanto vinha, e acabei de ver alguma coisa atrás daquela árvore. — Apontou para longe.

— Deve ter sido impressão. — Desviou o olhar para o céu. — Sehun, você disse sobre religião... você acredita em Deus?

— Não sei... Eu passei a orar depois que a minha fisioterapeuta disse que isso poderia me trazer coisas boas. Eu orei pedindo para você conseguir recuperar a memória.

— Sério?

— Sim.

— E... agora... você sente raiva de mim? — Junmyeon perguntou relutante.

— Não tenho porquê de sentir raiva.

— Você tem, são muitos motivos.

— Não foi você quem mentiu.

— E você vai ficar bem sozinho?

— Por quê não? Eu me viro. Você não precisa se importar com isso.

— É que eu não confio na Wendy.

— Ela não pode fazer nada.

— Ela tem um revólver na gaveta — disse firmemente.

Sehun olhou para Junmyeon, tentando esconder sua surpresa.

— E o que você sugere? Que eu fuja?

Os olhares se encontraram.

— Por que você não vem comigo?

— Eu posso confiar em você? — Sehun pareceu bem sério.

— Podemos viajar para onde você quiser, eu só espero por uma decisão sua — disse sincero.

— Não posso decidir nada agora.

— Eu espero você.

Sehun balançou a cabeça, quebrando o contato visual ao olhar para o horizonte.

— Não. Esqueça. Eu quero dançar, vou voltar a treinar.

— Por que isso te impede de vir comigo? — Junmyeon realmente demonstrou estar chateado com a resposta, embora estivesse um tanto contente por Sehun não desistir da dança.

— Eu não teria tempo para nada, iria me distrair com você nas suas viagens. Eu ainda posso fazer isso e quero conseguir da melhor maneira. Eu quero ser eu mesmo de novo.

Junmyeon concordou com a cabeça e sorriu, chegando mais perto de Sehun e dizendo:

— Eu acredito em você.

Mesmo que Sehun estivesse com o rosto virado, Junmyeon conseguiu notar o sorriso que ele conteve. Chegou um pouco mais perto e, lentamente, aconchegou sua mão à de Sehun, que parecia mais relaxado conforme caía a ficha de que Junmyeon não estava mais contra si.

Era um problema a menos a se preocupar.

Toda a tensão pareceu se esvair quando Junmyeon apoiou a cabeça em seu ombro, dando lugar à saudade dos velhos tempos. Eles sempre estiveram ali, naquele parque, brincando com crianças travessas que passavam ou contando velhas histórias sobre o ensino médio; jogando pão para pombos famintos e comprando sorvete para os refrescarem durante a caminhada em volta do lago dali. Passavam por áreas vazias e se beijavam escondido, pensando parecer ser dois adolescentes bobos apaixonados que fazem todas as loucuras que podem para encontrar o seu amor.

Juntos, sentiam-se a personificação do que significava a palavra amor. Juraram, naquele mesmo parque, que, mesmo se não fosse para sempre, nunca se arrependeriam; que, mesmo que uma hora precisassem dizer adeus, o parque seria o local de despedida, por mais doloroso que pudesse ser, porque ele fez cada momento ser importante e eles nunca deixariam de ser importantes um ao outro.

Sehun se lembrava.

Junmyeon não fazia ideia do significado de tudo.

Naquele instante, Sehun sentiu que estava tudo resolvido. Junmyeon ainda queria ajeitar as coisas, mas Sehun estava satisfeito. Apoiou sua cabeça na de Junmyeon e respirou fundo, sentindo-se completo. Talvez aquilo fosse o que estava faltando de verdade: alguém.

Ou melhor: Junmyeon.

— Eu tenho que ir — Junmyeon falou de repente, mas não se moveu.

— É melhor ir logo. Se você demorar para ir, não vou deixar você sair daqui — Sehun disse, movendo as mãos unidas.

Junmyeon soltou uma leve risada e desfez o contato, afastando-se e pegando seus pertences do chão.

— Eu voltarei, prometo a você. Tenha cuidado.

A resposta veio por meio de um breve abraço, pois Sehun não queria prolongar a despedida. Não poderia mesmo. Sentiria-se abandonado como o bom dramático que conseguia ser em qualquer momento, entretanto, dessa vez estava feliz por se sentir assim. Pelo menos agora, ele tinha um motivo para se sentir como antes.

— Pense como se fosse uma das minhas viagens que você odiava esperar acabar — Junmyeon disse.

— É com isso mesmo que se parece.

E assim, Junmyeon pegou o caminho para fora.

Ele já estava no meio do parque quando se virou para trás, notando que Sehun continuava sentado no mesmo lugar.

— Ei, Sehun! — chamou-o.

Ele olhou para Junmyeon, que hesitou por uns instantes.

— Você ainda é apaixonado por mim? — Junmyeon perguntou em um grito.

De longe, viu ele dar uma risada baixa.

— Você ainda pergunta o óbvio? — respondeu Sehun rapidamente.

A resposta instantânea pegou o próprio Sehun de surpresa.

Junmyeon sorriu abertamente ao ver a expressão espantada dele. Acenou antes de dar as costas novamente.

Era verdade mesmo.

Sehun sempre esteve apaixonado.

E talvez, no fundo, Junmyeon também pudesse estar, e uma de suas motivações para voltar até Sehun era justamente para descobrir se estava realmente entregue àquele sentimento, ou se era pura admiração pelas cartas.

O primeiro amor de Sehun foi inesquecível.

O primeiro amor de Sehun partiu seu coração de várias formas.

Porém, esse primeiro amor estava disposto a curar as feridas causadas por si próprio. Estava disposto a construir um novo laço entre eles.

O primeiro amor de Sehun era Junmyeon.

Sehun não esperou, na verdade, que aqueles problemas teriam um fim.

Ele nem pensou em fazer nada quando viu Wendy atravessando o parque e se aproximando com um revólver na mão alguns minutos depois de Junmyeon ir embora. E o sangue que saiu de seu ombro, após ser atingido, pareceu fazer ele ter certeza de que estava fadado a morrer ali. E depois de Wendy disparar outras vezes e errar todas por estar com as mãos tremendo e a visão turva por lágrimas raivosas, Sehun pensou que estivesse salvo e até reagiu contra ela.

Não esperava que fosse precisar vender sua casa e se mudar depois do atentado. Mesmo com a prisão temporária de seu tormento contínuo, foi embora. Estava longe de tudo.

Precisou se acostumar a viver com medo, mais do que antes.

Desesperou-se quando percebeu que agora não tinha mais contato com ninguém. Nem com a fisioterapeuta. Junmyeon não tinha como dar um telefonema, Sehun não tinha celular desde o acidente, agora morando na casa de seu avô paterno e tendo somente um telefone que não serviria de nada. Nem sabia como havia sido aceito por seu avô, o membro da família com quem menos manteve contato por tanto tempo.

Pensou que Junmyeon pudesse ter honrado a promessa de voltar, mas era difícil que pudesse acontecer. Perdeu todas as esperanças e se conformou. Até tentou um novo relacionamento, mas não avançou.

No entanto, poucos meses depois, quando estava chegando em casa depois de mais um dia de trabalho — em uma editora, já que a dança já não podia fazê-lo lucrar —, avistou um cara sentado de costas no quintal de seu avô.

Esfregou os olhos não uma, mas duas vezes. Olhou para o jornal em mãos e verificou a data marcada na página: 18/09/2017, um fim de tarde ensolarado de uma segunda-feira, em que sentiu um súbito turbilhão de sentimentos o invadirem. Porém, ao ser notado em pé no portão, recebeu um fino sorriso de alívio de seu visitante que o fez ficar tranquilo.

Era ele cumprindo sua promessa.

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