Epilogue
Em alguma noite, sozinho em casa, Sehun se pegou pensando: "Por que as coisas ficaram assim?"
Com uma bola de pelos preta no colo, deitado no sofá e com a cabeça nas nuvens, ponderou por um momento.
Era tão complicado pensar no passado que preferiu focar no presente, mas aquelas lembranças não seriam apagadas, bem como a cicatriz em sua coxa que o fazia lembrar dos acontecimentos todos. Era impossível não se perder em pensamentos.
Subitamente, levantou-se e deixou o cão de lado, indo em direção ao seu quarto. Pegou uma caneta e um papel e se pôs a escrever uma carta ao seu falecido cunhado, como sempre fazia mensalmente. Ficou inerte em palavras e passou um tempo encarando a folha, agora repleta de tinta azul da caneta esferográfica. Dobrou a carta e deixou ali mesmo.
Caminhou pela casa solitária. Ligou o rádio; desligou; arrumou a pilha de CDs velhos na estante; deu uma limpada nos armários da cozinha e, por fim, resolveu preparar alguma coisa para comer, pois o horário estava apertado e não queria ir comer fora.
Não sabia o que estava segurando sua mente em lembranças antigas, porém, ao olhar o calendário em cima do micro-ondas e a data correspondente (18/09/2019), ele entendeu o porquê de estar pensativo.
Fazia dois anos.
Sentou-se em uma cadeira da cozinha e apoiou a testa na mesa, cedendo à inquietação de sua memória.
A verdade é que Sehun sentiu uma felicidade que parecia não ter fim a partir do momento em que soube que seu primeiro amor não o abandonaria jamais. Ele tinha certeza depois de tanto desconfiar e se deprimir pensando que aquilo tudo só era real devido à culpa que seu companheiro sentia. Olhando nos olhos sinceros, sentindo que vinha do fundo do coração, com aquele abraço fez os corações dispararem, ele soube que estava errado em duvidar.
Quem olhasse poderia dizer que eles eram perfeitos, mas não eram. Completos? Talvez. Sehun sabia que era difícil para seu parceiro, mas persistiu. O tempo que passava fazia deles perfeitos um para o outro? Tudo bem, Sehun achava que sim, só não podia admitir tão facilmente.
E foi perfeito como nunca poderiam ter imaginado.
Levou cerca de seis meses para que Junmyeon dissesse para Sehun que o amava. Que o queria sempre por perto. Que precisava abraçá-lo para dormir e segurar sua mão enquanto caminhava. E quando aconteceu, levou poucos segundos para que Sehun lembrasse o que passou, e chorou aliviado, sendo abraçado com carinho, com o amor que sempre precisou, com a sinceridade dos sentimentos de Junmyeon.
Sehun queria se vangloriar por ter conquistado Junmyeon uma segunda vez.
O melhor de tudo é que não foi só um sonho. Foi real. E tudo se passou tão rápido que, quando Sehun percebeu que era real, foi em uma madrugada dormindo ao lado de Junmyeon — assistindo o rosto adormecido e sentindo a respiração dele bater em seu nariz de tão perto que estavam um do outro.
Foi surreal perceber que era a sua nova realidade.
Não era parte de um sonho a casa que haviam comprado com tanto esforço, ou o cachorro que conseguiram tomar de volta de seu tio, que agora sempre corria pelos corredores bagunçando tudo. Também não era quando Junmyeon fazia receitas novas e algumas vezes não ficavam boas, tanto que precisavam comer fora de vez em quando.
As vezes que Sehun dançava para Junmyeon ou com Junmyeon sempre foram as melhores. Seus pés, revestidos por meias sintéticas coloridas, deslizavam suavemente pelo piso da sala de estar, e Junmyeon, agarrado ao pescoço do parceiro, sussurrava para Sehun que ele era o melhor dançarino do mundo, fazendo-o sorrir.
As discussões eram contornadas com pedidos de desculpas cantarolados por Junmyeon e Sehun nunca conseguia ficar tão bravo.
Faziam piqueniques à noite e se lembravam do irmão mais novo de Junmyeon como uma estrela brilhante.
Sorriam um para o outro antes de irem para seus serviços e bitoquinhas nunca eram esquecidas ao se verem depois de retornarem.
Aquelas pequenas demonstrações diárias de afeto enchiam o peito de Sehun de pura alegria e satisfação, fazendo-o perder algumas horas de sono para analisar um pouco sobre a situação que se encontrava: era perfeita. A vida que vivia ao lado de Junmyeon era perfeita mesmo com as imperfeições que pudessem aparecer.
De repente, Sehun ouviu a porta da entrada se fechar e logo sentiu uma mão acariciar sua nuca. Levantou o olhar, tendo seus lábios tomados pelo autor das piores refeições para o jantar.
— Vai cozinhar hoje? — perguntou ao ver alguns ingredientes jogados pela mesa.
— Acha má ideia cozinhar comigo? — Sehun sugeriu.
Junmyeon sorriu.
— Só se você escrever alguma coisa bonita pra mim...
— Fechado!
Foi naquele momento que Sehun finalmente assimilou que tudo havia valido a pena.
Sorriu abertamente. Na verdade, o sorriso não bastou; precisou beijar Junmyeon durante segundos, minutos, somente para que tivesse certeza de que não se esqueceria jamais do amor que consumia naquele instante.
Sehun nunca esqueceria.
E Junmyeon gostaria de poder nunca mais se esquecer.
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