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Capítulo Único


ESCURIDÃO

- Aqui não existe tempo. Mas o tempo todo ouço gritos, choros e gemidos. Minha mente revive cada detalhe de uma dor profunda. Sem parar. A única coisa que realmente vejo são os reflexos pálidos de uma vida de sofrimento. Aqui embaixo, sei onde estou. E ao mesmo tempo, ao meu redor, só existe escuridão.

Já passava das 3horas, a casa estava silenciosa e vazia. Precisei reunir todas as minhas forças para fugir para aquele lugar.

- De volta ao lar - Disse ironicamente em voz alta.

Aquilo nunca fora um lar. Nem quando minha mãe arrumava toda a casa para o fim do ano ou convidava meus avós, para o belo banquete de Natal, com direito a presentes caros e abraços demais, de pessoas que só nos viam uma vez ao ano, pro meu gosto. Nem mesmo após passar anos ali considerei como meu lar. Ninguém seria feliz no inferno.

  Entrei com cuidado, sem fazer som algum, mesmo sabendo que a casa estava vazia, fui cautelosa. Observei todos os cômodos, deixando por último o enorme quarto que eu dormia. Abri a porta devagar e temerosa, como se os fantasmas do meu passado estivessem ali, prestes a me atacarem e devorarem o que restou de sanidade em mim. Meu coração estava sendo esmagado a cada segundo ali dentro.
Tudo continuava da mesma forma de quando montaram pela primeira vez. A cama de madeira branca com marcas de mordidas​, estava arrumada. O enorme guarda roupas branco, ainda continha as diversas figurinhas dos ratinhos da Disney.
Me aproximei do espelho na porta do armário e observei meus olhos com olheiras profundas. Tão profundas quanto as minhas cicatrizes dentro do peito. A angústia permanecia como uma velha amiga, a quem eu podia contar a qualquer momento. Mas também a alegria momentânea sempre esteve presente, ela me visitava mais do que meus avós. Só não era tão frequente quanto o desespero e a solidão. A confusão de sentimentos tão intensos dentro de mim eram muito perturbadores.

Sequei as lágrimas do meu rosto e prendi meus cabelos negros num coque mal feito.

Estava na hora de partir.

Eu não suportava mais. Voltar ao local em que meu frágil refúgio foi destruído, havia sugado todas as forças que reuni para chegar na parte rica da cidade do Rio de Janeiro.

Saí da casa, sem me importar em trancar a porta e larguei a chave reserva em qualquer lugar.

A noite estava fria e não havia uma alma viva do lado de fora, parecia que todos estavam refugiados do inverno, em seus pequenos arranha- céus. Sem pensar, meus pés me levaram até a praia atrás dos condomínios.
 
A noite era daquelas que tem o poder de fazer até o maior dos homens sentir- se pequeno em meio as dúvidas cruéis da nossa existência e nossas​ vidas.

Caminhando devagar, acendi um cigarro que peguei no bolso sem pensar. Eu estava destruída e perdida. Com raiva da merda da minha vida infeliz, chutei os chinelos com força para longe e sentei na areia, tragando a fumaça quente de frente para o mar. Peguei o isqueiro e acendi novamente, admirando aquela chama acesa que possuía um tom azulado tão frio quanto a minha alma, e a areia embaixo dos meus pés.

Fechei os olhos e não consegui enxergar motivos para continuar caminhando, continuar seguindo em frente. Prosseguir bloqueando cada lembrança ruim. A fé em dias melhores havia partido de vez.
Expeli a fumaça junto com minha última chama de esperança.

Havia apenas um casal por perto, passeavam de mãos dadas, na beira do oceano. O vestido escuro esvoaçante da mulher dançava ao redor de suas silhuetas, de mãos dadas, eles se afastavam de nós.

Fazia tempo que eu não ia para aquele lado verniz da cidade, onde tudo parece perfeito. Onde todos se esquecem da miséria e da violência explanada logo ali, do nosso lado.

Levantei e me aproximei da água com meus pés descalços, estava tão gelada que recuei com o choque.
Voltei meus olhos para o céu e percebi que aqui, a lua estava alta, brilhava com toda a sua intensidade, como se estivesse se amostrando para um amante qualquer no meio da imensidão de estrelas.

Soluçando, murmurei :

- Não me condene, foi o senhor que desistiu de mim primeiro. De nós.

Congelada de frente para as águas agitadas, me lembrei de todos os motivos que me fizeram ir até ali outra vez. Diversas imagens, surgiam em minha mente sem parar, e as lágrimas desciam sem que eu as percebesse. Nunca havia me sentido tão perdida e sozinha antes. As lembranças me machucavam, eu não conseguia mais lidar com nada disso.

" Se você correr, eu te pego antes de você se quer piscar, minha linda! "

Aquela voz que me atormentava todas as noites em pesadelos, destruiu as minhas​ lembranças​ de infância e se juntou aos motivos​ do meu desespero cotidiano.

O cheiro de álcool me deixava enjoada, ao me lembrar do cafajeste que destruiu minha vida.

"Sua vadia! Limpa esse chão ou vou arrebentar sua cara!!!" - Eu me escondia no quarto, quando ouvia meu pai gritar assim com minha mãe.
Meu coração acelerava e ficava a espera dele lembrar que eu existo e principalmente, da próxima surra do dia.

Minha mãe, a perfeita jornalista, dona de casa impecável e esposa invejável, sempre foi fraca. E eu a odiava por nunca ter ido embora, fugido comigo, enquanto podíamos. Aline Braga desistiu, como muitas mulheres na mesma situação. Ela perdeu aquele brilho que existia em seu olhar. Ela perdeu a felicidade, o emprego... Perdeu tudo, até que perdeu a vida.

Um herói para o mundo. Um monstro na vida real. Meu pai não mereceu nenhuma daquelas medalhas penduradas em nossa casa e no seu uniforme. Mas as exibia com orgulho.

Meu corpo tremia e não era apenas por conta do vento frio na praia.

" Mãe, estou grávida. " - Essa frase foram as​ últimas​ palavras que minha mãe ouviu de mim.

" Você não é mais minha filha!!!!" - Meu rosto ardeu e só percebi que Aline havia batido com força na minha cara, quando ela baixou a mão, sem acreditar que havia feito aquilo comigo. E junto com mais uma lembrança dolorosa, a realidade, me atingiu com força e sem piedade. Assim como a mão dela há nove meses atrás.

O vento fazia os cabelos arranharem meu rosto e meus olhos ardiam por conta do sal mas eu não me importava, nada mais importava. Somente o mar aberto a minha frente.   O gosto salgado me dava náuseas e o frio estava se tornando quase insuportável. Joguei o cigarro no chão e pisei, sentindo a queimadura sob meus dedos, com prazer.

" Vamos lá Júlia, só mais um pouco, você consegue... " - Eu dizia para mim mesma.

- Ninguém vai saber. Não vão te encontrar. Nada de jornais. Nada de mais "escândalos Braga".

Meus pensamentos gritavam tão alto, que por um momento pensei que haviam falado comigo. Olhei para os lados, esperando que aparecesse alguém me impedindo de fazer aquilo. Mas no fundo sabia que ninguém viria.
Passei as mãos pela minha barriga, esperando que no último momento sentisse algo bom, ao saber que existia uma vida ali dentro. Mas só conseguia sentir raiva e repulsa.

" Como pôde permitir que ele fizesse isso comigo???"
- Gritei desesperada para o nada. O silêncio foi a única resposta que recebi, enquanto eu transbordava de amargura.

O som das ondas nas pedras encobriam o descompasso do meu coração.

Contei até três.

- Um, dois... Três.

Me joguei na água, ela golpeava meus joelhos e meus soluços pareciam não ter fim. Eu estava trêmula, meu queixo tremia, mas meu choro não era mais silencioso e contido. Eu gritava e esperneava, engolindo mais e mais água. Perdi o equilíbrio e me desesperei ao perceber que iria realmente me afogar.
Devagar levantei trêmula e vi o mundo ceder totalmente sob meus pés.
Logo afundei e meu corpo emergiu várias vezes, conforme as marolas me envolviam em seu ritmo agitado. Minha cabeça bateu em uma rocha. E minhas lágrimas se juntaram ao mar. A água salgada parecia doce, comparada ao gosto amargo da minha pequena tragédia. Eu me debatia involuntariamente.

Ouvi alguém gritar ao longe, deve ter sido a moça do vestido esvoaçante ou apenas uma gaivota. Não sei, talvez eu tenha imaginado. Quem sabe o grito não tenha sido meu?
Meu corpo lutava para respirar e só conseguia engolir mais água. Meus pulmões imploravam por ar e meu peito parecia em chamas, mesmo submerso por um oceano gélido.
A dor era insuportável.

No meu último momento de vida, não revi cada detalhe como um filme, não me arrependi das oportunidades perdidas, não sofri lembrando dos que amo e nunca mais verei. A única coisa ao qual preenchia minha mente, era o quanto o céu e a lua estavam cada vez mais longe.

Havia milhões de bolhas trasparentes ao meu redor, de todos os tamanhos. O reflexo das estrelas sobre a água estavam tão pálidos​ acima de mim, como minhas mãos. Eu estava perdendo as forças para lutar.
Meus olhos se fechando, meu corpo era tão leve...
Meus cachos, negros como a noite acima de mim, flutuavam dramaticamente ao meu redor. E então, a queimação em meu peito, finalmente cessou.

Eu estava em paz, pela primeira vez há tempos. Pois tudo estava calmo e silencioso. Meu corpo afundava no vazio, sem dor.
Mas ao meu lado, só havia trevas e escuridão.

_________________________

Oi amores, espero que tenham gostado.
Sei que é um tema pesado e apesar de um tanto desprezado, trata- se de uma doença terrível que não podemos deixar de lado. E que se não for tratada pode levar ao suicídio.

Os casos de depressão e ansiedade tem apresentado um número altíssimo nos últimos anos, um fato alarmante e bastante preocupante. Assim como a violência doméstica.
Façamos nossa parte nessa causa. Ajudando da forma que pudermos.

Meu texto não tem a intenção de incentivar o suicídio. Mas sim, de alertar as consequências da falta de ajuda adequada.

Obrigada pela atenção e pela leitura.
Aqui embaixo tem um link, que eu gostaria muito que leiam e compartilhem.

Um beijo e até mais!

https://papodehomem.com.br/carta-a-alguem-em-depressao/

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