Uma questão de classe?
Escrita, produção literária e conhecimento estão interligados desde os primórdios da humanidade. Esses assuntos são controlados por minorias poderosas... Desde quando a manifestação espontânea de alguém (ao influenciar o resto do "bando" com o desenho de símbolos nas cavernas), deixou de ser espontânea e passou a representar algo maior. Algo com potencial de comunicar, simbolizar e orientar...
Alguns historiadores da Antiguidade, como Diodoro da Sicília, por exemplo, pontuam aspectos interessantes sobre o papel dos historiadores em relação aos avanços da Humanidade. A figura do historiador não era separada do escritor, naqueles tempos; e ambos (historiador e escritor) estão diretamente relacionados à construção do repertório/patrimônio histórico-cultural da humanidade ao longo das eras... Porque aquele que investiga, pesquisa, registra, reflete e publica, o faz pelo uso da ferramenta escrita.
A escrita faz história e a história orienta a escrita. Não é a toa que até os dias de hoje, arqueólogos buscam provas nos restos de uma cidade chamada Troia, sobre uma guerra narrada no livro épico de Homero.
A Ilíada é um romance, mas que contém códigos de conduta que regem o comportamento dos povos mais avançados de sua época: os gregos. Grandes conquistadores, como o macedônio Alexandre, o grande, se basearam na Ilíada para conduzir seus assuntos políticos e diplomáticos, bem como seus assuntos de guerra.
Romance, política, mitologia, literatura e história se entrelaçam a medida em que o patrimônio cultural de uma sociedade passa para as gerações futuras.
Se assim não fosse, ninguém estaria procurando até hoje a Atlântida retratada por Platão... Ou estaria se perguntando se ele criou uma fantasia, como "O Senhor dos Anéis" de seu próprio tempo, ou se realmente a mítica cidade existiu.
Veja os romanos, cujas conquistas se consolidaram quando sua máquina de guerra ganhou um incentivo ideológico e norteador de massas: a literatura. Os autores mais proeminentes estavam na folha de pagamento dos cônsules e dos imperadores mais bem sucedidos da História.
Há quem acredite que a retórica forte e a proliferação da literatura da época - legislativa, jurídica, histórica, filosófica e mitológica - sejam fatores que fizeram a diferença entre continuar sendo uma vilazinha insignificante próxima ao Tibre ou se tornar um Império Além-Mediterrâneo, em menos de 60 anos de expansão...
Entrou em jogo, para Roma, o controle político e ideologico das representações escritas e iconoclastas, das tradições perpetuadas, do registro do conhecimento e da (re) criação de ideias atraentes e convincentes. Especialmente dos gregos e também um pouco dos egípcios. Não que os romanos tenham sido os primeiros a fazer esse tipo de apropriação, ou releitura sobre outros povos, mas eles lançaram as bases para o mundo ocidental como o compreendemos hoje. Eles observavam, aprendiam e incorporavam a vida ao redor por meio de releituras e interpretações.
Graças aos seus escritores, Roma desenvolveu um forte senso de cidadania, valor de pátria e conhecimento útil à sua urbanidade. (Independentemente das contradições ideológicas com as quais eles conviviam e que futuramente iriam corroer o seu império por dentro).
Além de tudo, se hoje sabemos o que os povos bárbaros fizeram, é porque os romanos interpretaram e registraram o conhecimento travado durante seus contatos, pois entre os bárbaros predominavam as tradições orais. Muito se perdeu sobre o conhecimento deles por causa das tradições orais perdidas.
Por outro lado, se hoje sabemos o que os romanos interpretaram sobre os chamados bárbaros, é porque os monges copistas da era medieval interpretaram e registraram os escritos dos romanos... E assim por diante.
Não existe uma informação pura e isenta. Nao existe uma verdade absoluta. Os documentos épicos são interpretações sobre interpretações anteriores. Existem interpretações de interpretações com mais ou menos acuidade. Entretanto, se chegaram até nós, hoje, é graças aos escritores de cada época.
Quando Napoleão disse que a História era contada pela ótica dos vencedores, disse uma grande verdade. As conquistas costumam ser romanceadas pelo enaltecimento dos heróis enfrentando os inimigos a fim de justificar um status quo... Ou para justificar um estilo de vida. Nesse sentido, a pax romana ou Hollywood têm algo em comum.
Então, a escrita era e ainda é fomentada por vários propósitos. Guiada pelo interesse do indivíduo que escreve; entretanto, o seu sucesso apoia-se no interesse dos grupos que se identificam e sustentam o que é escrito. Que sustentam o conhecimento registrado pela escrita.
Que sustentam estilos de vida.
A Escrita é o registro cultural, social e ideológico, acessível em diferentes níveis para diferentes grupos e em diferentes formatos.
Ao longo da História, os indivíduos se relacionaram com o conhecimento e com o registro do mesmo, desenvolvendo sua própria forma de ver o mundo. Porém, seguindo certos padrões que valem uma análise.
Eu explico:
De um modo geral, acredita-se que, na Antiguidade, o conhecimento não era para qualquer um, mas para os esforçados. Aqueles que se destacavam como excelentes; os eleitos que aprendiam a utilizar o conhecimento. Claro que existia a questão do mérito... Mas a gente sabe que não era bem assim. Nunca foi... Se lançarmos um olhar Foucaltiano (de Foucalt e sua Microfisica do Poder), não deixava de existir uma forma de elitismo a perdurar ao longo dos milênios, controlado por sábios, nobres e políticos em geral. Um sistema retroalimentado por uma estrutura social, onde se atribuía a ordem das coisas aos deuses, depois ao nosso Deus (quando o Cristianismo surgiu), e hoje em dia aos gostos e desgostos do deus chamado Internet.
Na atualidade, influenciadas por ecos históricos, as pessoas continuam sustentando sistemas de controle sobre o conhecimento, tornando-o de difícil acesso. Existem grupos... Você escuta designações como "comunidade científica", "congregação religiosa", "governo sombra", "maçonaria", "sindicato", "Associação de Lojistas", enfim... São grupos com diferentes envergaduras e escopos de abrangência e com diferentes propósitos, que se criam para sustentar objetivos mais ou menos conhecidos por todos nós. Eles apresentam diferentes naturezas jurídicas e sociais , porém, são originárias de mecanismos que os seres humanos, desde as cavernas, foram se apropriando para ter mais influência e ascendência sobre os demais.
Que mecanismos são estes? Os que fazem o ser humano temer o desconhecido; que fazem o ser humano tornar outros humanos seus inimigos e rivais; a necessidade de subjugar outros seres humanos; de ter acesso aos recursos de subsistência; enfim... Para isso, eles se valem da influência; do controle; da unificação ou padronização; da defesa de direitos ou de interesses disfarçados de direitos.
Claro que esses mecanismos, que também podem se traduzir por objetivos concretos, parecem refletir o ato de naturalizar o comportamento humano. Parece estranhamente "natural" agir como o clube do Bolinha ou o Clube da Luluzinha, entre nós, seres humanos; gostamos dos desafios, dos rituais, para nos sentirmos especiais. Valorizamos o que ninguém mais (supostamente) conseguiu obter... Tudo que é mais difícil, é mais gratificante.
Conhecimento é poder, não dizem por aí? Algo para ser guardado a sete chaves.
Nos dias de hoje, o conhecimento tem sido explorado e vendido a peso de ouro... E nem precisa ser algo lá muito profundo, não! Basta dar um vislumbre, fazer uma promessa... Basta conceder uma pequena amostra, um conceito engarrafado. No melhor estilo "em terra de cego, quem tem um olho é rei".
Traduzindo: se você é um escritor meramente razoável, se você só dá pro gasto, mas tem dinheiro para pagar uma equipe de marketing, bem como uns blogueiros de plantão, já se destaca. Tá de bom tamanho! De repente ensina outros que sabem menos que você.
Tipo aquele dito popular: um cego guiando outro cego.
Pra mim, como leitora exigente que sou, não serve, não está de bom tamanho. Muito menos como escritora... Nem pensar!
Em parte, penso como os antigos sacerdotes egípcios. Se você se esforçar e passar por todos os rituais, ou seja, se for merecedor, independente do seu poder de compra, você deve ter o direito de acessar o conhecimento. (Por merecimento e esforço pessoal, não pelo dinheiro de que dispõe para se destacar na internet).
Se você não tem grana, nem frequenta os clubes exclusivos dos azeitados-bem- nutridos... Os famosos escritores funcionais... Não pense por um segundo que você não tem o direito de escrever (e escrever bem)!
Posar para a foto do avatar no Facebook, e se autointitular autor, com seu par de óculos de marca e olhar de intelectual, não torna você um... Escrever não é ter a aparência de um escritor. É efetivamente escrever. Escrever é muito mais do que querem que você acredite para comprar os produtos deles - os vendedores de sonhos e conhecimentos engarrafados.
Escrever não é bancar o intelectual indolente que se esconde por trás de um discurso vazio, também não é bancar o malabarista de circo, que planta bananeira na internet pra promover um livro, independente da qualidade do mesmo.
Escrever é doar uma parte de si à humanidade: suas ideias, opiniões, enfim, uma singela contribuição para que este mundo se torne um lugar um pouco melhor.
Aí está a minha visão.
Escrever é dar a cara a tapa, não se preocupando em agradar todo mundo, mas fazendo valer uma discussão saudável - aceitando o diferente de si; ao mesmo tempo, fazendo com que o seu leitor pondere sobre o diferente de si.
A questão é: você pode se tornar um grande escritor - seja quem for, venha de onde vier, trabalhe no que trabalhar.
Se por um lado, a escrita e o conhecimento sempre estiveram sujeitos ao controle e ao poder de uma minoria poderosa; por outro, sempre existiram pessoas que não aceitaram esse controle e o desafiaram em prol de um ideal.
Pessoas com ideais mudaram e continuam mudando o mundo.
Por meio da escrita, foram construídas narrativas tanto de dominação, quanto de libertação.
Sendo assim, ser um escritor não depende de estar dentro ou fora do jogo; não depende da "casta", ou da classe social, embora muitos tentarão te convencer do contrário. Ser escritor é defender algo que se acredita por meio das palavras.
Sim, o escritor tem esse poder!
Qualquer um tem o direito de escrever, publicar e ser lido. Não precisa ter feito curso algum de escrita criativa, nem ter feito faculdade. Agora, se vai ser um bom escritor ou não, depende só da pessoa. A chance é igual e o potencial, todos têm. Mas não são todos que desenvolvem. A maioria desiste diante dos obstáculos.
O que você escreve pode ser interessante para os outros. E não importa se você tem 10 leitores, enquanto o Conchito Varelesco tem 5000 leitores. O seu tempo e o do Conchito envolvem sacrifícios diferentes. Comparações nunca são justas. O que é justo é você se perguntar: "Estou me sentindo bem escrevendo, estou me realizando, estou me divertindo, estou tocando o coração dos outros?"
Se a resposta for sim, então já valeu o esforço.
Divirta-se!!! Independente do festival de algoritmos da internet!!!
Agora se quer ser escritor porque fulano é famoso, e você copia o estilo dele ou dela, daí estará embarcando numa pobreza de espírito sem tamanho. O pior tipo de pobreza - a dos clones literários.
Robozinhos.................🤖🤖🤖🤖🤖🤖
Não esqueça de que alguns desses autores famosos (que são copiados por robozinhos), não esperavam alcançar o sucesso. Eles queriam, mas não esperavam, ou mesmo procuravam. Suas obras refletem suas trajetórias pessoais, não as dos outros... Simples assim.
Algumas das melhores obras do mundo foram escritas por pessoas com problemas graves, sem visibilidade social... De presidiários a marinheiros, de falidos a lutadores de rua... Ou, por outro lado, temos obras de autores oriundos de uma elite nebulosa e decadente; que só obtiveram sucesso e fama ao contarem as histórias de pessoas pobres, de operários, excluídos/marginalizados, oprimidos; etc.
É o caso de As Vinhas da Ira, Os Miseráveis, Crime e Castigo, Papillon, O Velho e o Mar, entre tantos outros clássicos e novos clássicos, considerados atemporais porque conquistam os leitores em qualquer época...
Certamente, Shakespeare teve grande apreço por mulheres rebeldes, jovens inconsequentes, mouros ciumentos e deslocados numa corte de caucaseanos, nobres lelés da cuca... Ele não escrevia peças sobre nuvens cor de rosa... Talvez sua origem pobre tenha sido responsável pelo desenvolvimento de sua perspicácia e percepção sobre o mundo, ou talvez Shakespeare fosse um garoto criativo teimoso, que simplesmente não aceitasse permanecer onde o colocaram - e teve muito mais a contar do que um jovem príncipe trancado num Palácio (ou agarrado num celular kkk brincadeirinha!).
Aos 15 anos, nosso nobre poeta/dramaturgo trabalhou num açougue... Depois, quando foi para Londres tentar a sorte, tornou-se guardador de cavalos e tentou vender suas estórias na porta do teatro onde trabalhava... (Até hoje chamam os guardadadores de cavalos de shakespeare boys, em homenagem ao seu mais ilustre representante).
As melhores obras de Dostoiévski foram concebidas depois que ele foi parar na prisão, curtindo o inverninho básico da Sibéria. Em outra época e lugar, Papillon também foi preso e escreveu sobre a própria, amarga biografia.
Antes dele, o famoso Marquês de Sade, pioneiro da categoria que consagrou E.L. James e outros mais barra pesada que ela, precisou passar uma temporada de sofrimentos... E foi na prisão que o degenerado marquês escreveu algumas das principais obras que o imortalizaram. Essas obras não nasceram no conforto do seu palácio.
Antes de Sade e de Dostoievski, Miguel de Cervantes passou algumas temporadas como "escravo branco" e também presidiário. Foi na prisão que ele teria começado a escrever a maior obra de todos os tempos (considerado o primeiro romance "moderno"): o engenhoso Dom Quixote de La Mancha.
Ernest Hemingway foi pescador, motorista de ambulância durante a guerra, jornalista com apenas um diploma de ensino médio... e se tornou um dos maiores escritores da história.
Machado de Assis tinha tudo para ser excluído do clubezinho do escritor azeitado e bem "nutrido"... Descendente de pai alforriado e mãe lavadeira; ele estudou em escola pública e não foi à faculdade. Em suma: nascido no morro, de origem humilde, mostrou à classe privilegiada e ociosa, como se escreve.
Por outro lado... Jorge Amado era da elite, filho de coronel; fundador da academia dos rebeldes. Teve uma esposa fenomenal, filha de imigrantes e anarquistas graças a Deus, envolvidos no movimento operário. Zélia Gattai, que muito contribuiu para as obras do marido - ela própria escrevendo melhor que muitos escritores homens. Melhor até que o próprio Jorge, na minha humilde opinião.
Jorge imortalizou-se escrevendo não sobre uma dama rica, mas sobre a esposa de um árabe que tinha um boteco. A esposa era linda e simples...
A Gabriela de Jorge foi real, mas não tão real a ponto de ser confundida com Sonia Braga.
Enfim...
Os ricos deviam agradecer ao pobres por estes se prestarem a ser uma fonte inesgotável de inspiração.
Quem o diga, os produtores e escritores da série sul-coreana: Round 6, exibida pela Netflix.
A vida dos ociosos da elite sempre foi opaca demais para interessar às pessoas em geral. Todo mundo quer ser um milionário, mas no final das contas, nosso entretenimento envolve o drama dos menos favorecidos. Lutas de classe, injustiças, discriminações. São essas histórias que ganham a nossa atenção. A vida dos ricos nos causa inveja, mas não nos faz vibrar como quando torcemos para que o personagem pobre se dê bem na vida por nós - representando a todos nós.
Até quando os adolescentes liam a série de livros Gossip Girl, seu foco estava nas desventuras, aventuras e venturas dos jovens pobres vivendo em meio aos riquinhos problemáticos...
FitzGerald, em O Grande Gatsby demonstrou duas coisas interessantes: os ricos são entediantes, decadentes, e costumam não perdoar pobres que vencem na vida.
Em outra época, Jane Austen talvez concordasse com ele... Mister Darcy é um cara morno, preconceituoso, esnobe, mas que se redime no final.
Charles Chaplin - o ator, diretor, escritor e influenciador do início do século XX - ficou multimilionário ao escrever e interpretar a vida de um mendigo.
Se por um lado, a pobreza rende grandes obras, por outro, a pobreza acaba sendo deturpada pela visão de uma elite que tem o poder da caneta na mão. Aí, os espectadores e leitores são manipulados a comprar um estilo de vida e uma existência que, na realidade, não é e nunca foi daquele jeito: GLAMOUROSA.
Pior do que comprar um falso estilo de vida, é ser alienado... E pior do que ser um alienado, é ser "expulso do paraíso". Ou seja, uma escritora mulher olhando o mercado dos livros do lado de fora. Como o cão diante da vitrine do açougue.
Como mulher posso atestar de cadeira. Dentre todos os gêneros atuais, a mulher é a que menos obteve representatividade social e política no ramo das publicações. Acho que o filme Victor ou Vitória retrata bem esse problema. No filme, Julie Andrews, uma cantora talentosa, se vê obrigada a fingir que é um homem "gay" para escapar da miséria e vencer no show business.
Não basta que ela tenha talento. Sua voz não é ouvida. Mas quando ela se torna Vitor, todos passam a admirá-la.
O que pode haver de pior do que mulheres tendo que fingir que são homens para publicar seus livros?
Charlotte Bronte teria sido levada a sério se revelasse sua identidade desde o início?
E o que dizer de J. K. Rowling...
Hoje, o preconceito contra a mulher escritora ainda existe. Quer seja para ascender no mercado por meio de sua credibilidade profissional (advogadas, médicas, psicólogas, arqueólogas, historiadoras, jornalistas, professoras); quer seja pela aceitação de suas famílias e colegas...
Isso, ou a mulher se vê relegada ao papel de escrever romances hots, deixando todo o resto da "diversão" para os homens. Não que o hot não seja interessante e não mereça seu esforço. Merece e pode ser um caminho, desde que não se transforme numa algema que prende e obriga a mulher a ter o hot como a saída mais "fácil".
Algumas escritoras mulheres passaram a ser empurradas nessa direção a fim de conquistar leitores. Ou escrevem sobre bebês e mais bebês pelo mesmo motivo: conquistar e manter os leitores. Fazendo isso, elas reforçam estereótipos que colocam as mulheres em posições desfavoráveis.
Mas as coisas mudam... Graças a Deus!
Ou nem tanto assim...
Depende de você, escritor/escritora e de você, leitor/leitora. Isso mesmo, depende de você mudar as regras do mercado editorial. Se você não aceitar comprar qualquer coisa, a indústria dos livros forçosamente terá que parar de lhe oferecer qualquer coisa. Ela dança conforme a sua música e não o contrário. Basta que você pare de se comportar como parte do gado.
Já ouviram falar de mentalidade de gado?
Os vendedores de sonhos usam a "psicologia de gado" para te manipular. Para te fazer consumir o tipo de livro que eles querem vender. E para forçar o escritor a escrever o tipo de livro que eles querem que escreva, dentro de um cenário econômico nacional e internacional. E eles distribuem os papéis a serem desempenhados.
Por exemplo, já vi agentes literários brasileiros se oferecendo não para representar autores brasileiros promissores, mas para agenciar autores estrangeiros no Brasil, sem nem pensar na qualidade da obra.
Num dos anúncios, lia-se: "Procura-se autores estrangeiros que queiram publicar no Brasil".
Mas sabe o que os agentes literários estrangeiros fazem em relação aos escritores brasileiros? Dão preferência aos autores de sua própria terra.
Um "patriotismo" que não vemos no Brasil.
Essa é a medida do valor da escrita nacional para o mercado editorial nacional.
O "faça por si mesmo", "ou publique sozinho", nada mais é do que uma estratégia. Para se ganhar dinheiro ensinando escritores que não fazem parte da elite escritora, e assim movimentar uma economia, por trás da qual, existem muito profissionais lucrando (eles oferecem seus tutoriais na internet para não ficarem desempregados ou para ampliar seus ganhos). Enquanto isso, as editoras de grande porte se tornam cada vez mais inacessíveis e insensíveis a estórias que escapam das caixas pré-formatadas... E acabam promovendo e perpetuando (como cabide de empregos) uma elite que não necessariamente contribui em abundância com textos que tenham relevância para as pessoas em geral.
Isto não é uma regra. É uma tendência natural de uma sociedade altamente corrupta, como é a sociedade brasileira. No entanto, em termos de "elite da escrita", não é um privilégio exclusivo do nosso país.
Mas se por um lado, o "faça por si mesmo" envolve escoamento de produção por parte do mercado, por outro, é uma oportunidade sem igual para qualquer escritor encontrar o caminho para o seu público.
Resumo de ópera: existe manipulação no mercado editorial? Existe. Existe preconceito no meio da escrita? Existe. Mas você pode vencê-lo independente da idade, do gênero, da origem, ou condição financeira. Os grandes autores da História estão aí para provar, certo?
Não siga sorrisos fáceis que acenam com o sucesso fácil. Não existe sucesso fácil na escrita. Se for fácil, não dura muito. Porque a permanência do sucesso na escrita depende da qualidade do seu texto.
Escreva sobre o que tiver vontade. Mande à m*** todo e qualquer tipo de manipulação. Assim, escreverá com mais prazer e possivelmente aprenderá a escrever melhor.
Se deseja iniciar a leitura deste livro com uma pergunta, faça a pergunta certa: Escrever bem depende de quê? A resposta óbvia talvez devesse ser: Depende do meu esforço e do meu aprendizado. Mas não só...
Depende de você acreditar que merece escrever. Que independente do sucesso comercial, você tem direito à felicidade e à realização de se tornar um escritor.
Trecho traduzido, presente na aba: Declaração de Independência dos Estados Unidos. Fonte: Wikipedia.org
Se foi o "sonho americano", também foi o sonho de Martin Luther King, em seu épico discurso:
As palavras têm poder, meus amigos. E estão a sua disposição, basta aprender a usá-las. Os grandes se tornaram grandes porque sabiam disso. A classe social, etnia ou origem, a qual se pertence, é irrelevante, desde que você acredite no seu sonho, como eles acreditaram.
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