Perguntas & Respostas - 2 de 4
P: Por que a leitura é tão importante para se escrever bem e com facilidade?
R: Todos os caminhos levam a Roma... Brincadeirinha! Mas todos os caminhos levam à Memória.
A grande biblioteca.
O lugar que define quem você é.
Onde ficam arquivadas todas as suas experiências e os aprendizados (lembrados conscientemente e lembrados inconscientemente, pois você reage e nem sabe por quê; a parte consciente está organizada; a parte inconsciente está bagunçada - quanto menos bagunçada, mais domínio você tem de si próprio).
É na grande biblioteca da sua memória, dividida em setores, dentro do seu cérebro, que você vai buscar subsídios/respostas para a realidade. Na verdade, sua mente constrói a sua realidade conforme as experiências e aprendizados arquivados na memória.
Por que a memória se divide em setores? Pense numa grande universidade. Ela geralmente tem uma biblioteca central, onde existe uma variedade enorme de livros. Mas ela tem as bibliotecas setoriais, de cada curso, com obras específicas de cada faculdade. Assim, o conhecimento melhor atende os alunos de cada curso, ou seja, mais de perto.
Existe uma rede neural e a memória se apoia no fluxo. O hipocampo puxa as informações nas bibliotecas setoriais e leva aonde a informação arquivada se faz necessária para o momento.
Mas para esse fluxo correr bem, é necessário estimular e exercitar a rede de neurônios. E eles só conseguem funcionar bem quanto mais habilidade o cérebro tem de transformar aquilo que ele recebe por meio dos sentidos (visão, audição, tato), aquilo que vem de fora (do ambiente, aquilo que você vê ou sente), em respostas significativas que ele possa arquivar na memória. Se aquilo que ele vê, não sabe nomear adequadamente, sua biblioteca fica bagunçada e ele não sabe como reagir de maneira adequada.
E tudo que o ser humano não consegue nomear provoca uma ruptura, tipo um curto circuito. A tendência é de a pessoa se tornar mais intolerante (vai do apático ao violento num segundo), quanto mais bagunçadas são as suas bibliotecas setoriais. Por isso dizem por aí que quando a pessoa não tem argumentos e perde uma discussão, ela parte pra agressão, parte para o ataque e fica violenta - seja com insultos, seja com violência física.
Quando as suas bibliotecas setoriais (a memória), estão bagunçadas, a pessoa dá nomes e respostas erradas e se agarra a elas como certas porque não sabe fazer diferente. A única forma de fazer o cérebro funcionar corretamente é exercitá-lo a processar as informações que recebe do ambiente. E isso se faz pela leitura do ambiente. Seja a leitura visual, seja a leitura auditiva, ou tátil. Qualquer uma delas produz organização da memória e sua articulação de resposta com o hipocampo.
Ler e refletir estão intimamente relacionados.
Até bem pouco tempo, vários estudos diziam que nossa principal organização neural vinha pela porta da leitura visual. Eu prefiro pensar que cada porta de entrada sensorial produz aprendizados diferentes e importantes. E é por isso que não dá para ter um amplo aprendizado com a cara enfiada no celular. É preciso explorar o mundo; tudo isso é leitura. Mas, a leitura que envolve abstração (que menciono em capítulosal anteriores) é essencial para desenvolver habilidades como escritor, pois envolve criar e recriar significados e conceitos.
Portanto, garotada, mãos a obra. Lógico que o ideal é uma estimulação desde a infância. Mas acredito que nunca é tarde para começar.
Resumo sobre escrever bem: ler com domínio do alfabeto, dormir bem e se alimentar adequadamente são importantes para ter uma boa memória. A memória é a biblioteca. É dela que sai recurso para suas ideias e o uso das palavras.
Ando tão esquecida ultimamente. Foi-se o tempo em que eu tive boas noites de sono. Foi-se o tempo que tive grandes ideias para livros.. Por sorte, afeta mais a minha memória recente (curto prazo), e menos a profunda (longo prazo). Dizem que recordar é viver.
Memória profunda... Essa é uma outra estória.
Observação: a coletividade/sociedade também possui memória... Chamamos de História. Quanto mais a conhecemos e estudamos, menos erros nossa sociedade produz ou reproduz. É preciso conhecer o passado para criticar o presente, é preciso compreender para aceitar e, consequentemente, conviver bem. Quando não fazemos isso, não aprendemos, só batemos a cabeça de novo, de novo, e de novo.
A maturidade de um país pode ser medida pelo aprendizado com os erros do passado; assim como a maturidade de um único ser humano pode ser medida pelos significados memorizados de seus aprendizados...
Lembrem-se: memória e história.
Ou, como diria Isaac Asimov: psico-história.
🤩🥳🤗
P: Quais os defeitos que você enxerga em seu próprio texto?
R: Vários! Tenho problemas com vírgulas; com repetições de palavras no mesmo parágrafo e até na mesma frase; com palavras mal empregadas; com concordância nominal e verbal...O de sempre!
🤩🥳🤗
P: Você enfatiza a pesquisa. Alguns sites confiáveis?
R: Tem alguns endereços muito bons:
todamateria.com.br
seguindopassoshistoria.blogspot.com
novaroma.org
planetariodevitoria.org
openlibrary.org
operamundi.uol.com.br
aventurasnahistoria.uol.com.br
thoughtco.com
historiablog.org
cliohistoriaeliteratura.com
pt.m.wikisource.org
archive.org
pt.aleteia.org
gutenberg.org
ilhadoconhecimento.com.br
deviante.com.br
deolhonailha-vix.blogspot.com
actualidadliteratura.com
timemaps.com
wikipédia.org
quora.org
encyclopedia britannica
novaescola.org.br
romaoptima.com
infoescola.com
scielo.br
ask.com
Sites de notícias -
theguardian.com
us.cnn.com
cnnbrasil.com
smithsonianmag.com
edition.cnn.com
Revista Galileu -
galileu.globo.com
Revista Superinteressante - super.abril.com.br
Revista Fênix de Portugal - revistafenix.pt
Dicionários on-line:
dicionario.priberam.org
dicionário on-line de Oxford
infopedia.pt
lexico.pt
aulete.com.br
conjugacao.com.br
Claro que frequento de maneira anônima alguns grupos que disponibilizam documentos preciosos. Vale a pena fazer um tour pelo Facebook e outros domínios... Quem procura, acha!
Tio Google me leva a todos os lugares que quero. Inclusive o Google Earth e o Google Mars
(Basta saber usar as palavras-chaves certas!)
Um adendo: O Tio Google costumava me levar. Eles mataram o coitado e substituíram pela IA. Um desastre.
P: Que motivos levaram você a deixar de participar de concursos e premiações?
R: Meus livros sempre chegavam às finais. Já tive minha cota de vitórias. Já sei que meus livros são bons. Meus leitores me contam isso, todos os dias. Oh, não estou dizendo que todos os leitores amam os meus livros. Meu tipo de livro já não é tão popular hoje em dia (a não ser que eu fosse uma autora estrangeira e consolidada). Mas sei que tenho o meu público e os leitores importam mais do que concursos e prêmios de papel como já mencionei antes.
Eu poderia dizer que alguns prêmios são sérios, outros nem tanto... Mas nos últimos tempos, comecei a considerar tudo isso uma perda de tempo; especialmente, na atual fase da minha vida, na idade em que me encontro.
Concursos prometem um mundo de coisas: capas, vídeos, banners, prometem divulgar o vencedor em todas as mídias sociais possíveis e imagináveis (e muitos desses concursos não entregam o que prometem). Prometem prêmios em dinheiro também. Mas a maioria deles têm seus interesses.
Meus livros já ganharam (duas vezes o Wattys, finalista e semifinalista duas vezes, fora os outros concursos, que perdi a conta). E eu pergunto: Meus livros ganharam pra quê? Que tipo de divulgação/promoção o Wattpad e os concursos caseiros realmente fizeram deles e para eles, a não ser "depositá-los" em suas vitrines?
Resolvi deixar essas coisas para quem tá querendo conquistar e agregar valor ao seu currículo.
Quando inventarem o Wattys Senior Award, ou o Prêmio Kindle Senior... Em outras palavras, quando derem espaço para os idosos, daí eu participo!
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P: É melhor escrever no celular ou no computador?
R: Depende da inspiração da pessoa. Eu, por exemplo, enjoei de celulares e computadores. Voltei a escrever as minhas histórias à mão e está fluindo bem, ou seja, eu me inspiro melhor. Porém, tenho o problema da artrose... Faço bem devagar, no meu ritmo. Penso mais nas palavras. Só tenho que digitar depois. Mas já estou enjoando disso também. Sinto que quando a estória em que estou trabalhando acabar, volto ao teclado. Por causa da artrose, terei que ser bem vagarosa e cautelosa.
Em termos de revisão de texto, escrever no computador é sempre melhor do que no celular. Isso porque aparecem mais recursos e ferramentas de revisão, dependendo do software. Por exemplo, quando você abre a página em branco do Wattpad, no computador, ele lhe fornece ajuda de corretor. Isso não aparece para mim no celular. O mesmo se dá com os rascunhos do Gmail, que ajudam na revisão. São bem afiados no português, aliás. Quando abro o Gmail no celular, esses corretores maravilhosos não aparecem. Como eu prefiro ter bons corretores, minha ferramenta principal de escrita é o notebook.
🤩🥳🎂
P: Seus livros mais impactantes são os de ficção científica? Como você compara autores de ficção científica atuais e antigos?
R: Tema para uma dissertação... O meio da ficção científica é o mais prolífico, exuberante e libertador. Não foram poucas as vezes em que os autores da ficção científica ditaram novos conceitos e até mudaram a cultura, a sociedade e a própria ciência, por meio de suas inovadoras ponderações. Há que se considerar a ampla variedade de questões sociais que os autores da ficção científica abordaram por meios alegóricos. A maioria deles lidou e lida com problemas do nosso presente, projetados no futuro. Mesmo os gênios do futurismo não escaparam disso.
E talvez parte da representação sólida da ficção científica na cultura popular resida na habilidade dos autores, bem como no solo fértil em que pisam, em discutir problemas contemporâneos fora do plano mundano. Fora do "hoje".
Desde os primórdios da literatura de ficção-científica, ou seja, desde o boomm de seus voos mais loucos, o gênero despertou o gosto do público pelo escapismo intelectual, a fuga das regras rígidas da sociedade, insuflada pela presença marcante de uma Ciência Jovem e dinâmica, ao mesmo tempo em que se tornou um instrumento de rebeldia em relação a Ordem imposta. A Ordem que impunha um controle religioso sobre o comportamento das pessoas. Uma fuga eficaz, mesmo que alegórica.
Note que estou descrevendo um cenário marcado pela revolução industrial.
No entanto, desde que o diretor da NASA escreveu para Arthur C. Clark dizendo que, ao pisarem pela primeira vez na lua, foi tudo como o autor havia previsto, em suas obras... Acho que a ficção científica perdeu um pouco de deslumbramento, uma vez que algumas questões e preocupações sociais foram alteradas na cultura, e consequentemente entre os novos autores. A ficção científica sempre foi suscetível às necessidades sociais e culturais.
Eu diria que hoje falta surpresa e inovação. Mas isso não necessariamente consiste em algo ruim, e, sim, é um desafio a ser superado.
Se, hoje, autores como Ted Chiang buscam o elemento humano - a ficção científica do passado buscava as maravilhas das tecnologias futuristas/especulativas (que hoje não espantam a mais ninguém). Por outro lado, há autores que insistem no volume de informações técnicas, criando estórias com combinações que são uma gangorra entre o lugar-comum da ficção científica e o inesperado. Como combinar feijão com chocolate, ou granola com salsicha...
Para mim, é o caso de autores como Andy Weir e Neal Stephenson, cujos livros tem méritos irrefutáveis, mas podem conter uma sobrecarga de elementos (talvez na tentativa de compensar o fato de que as invenções científicas não espantam mais ninguém; não sei...).
Por tudo isso, fica o meu tributo aos escritores de space opera e scifi, que se alternavam para alimentar a produção periódica de obras como "Perry Rhodan" e a revista Amazing Stories (as quais inspiraram muitos dos grandes autores de hoje). Eles não são tão lembrados, mas merecem o nosso respeito e admiração pelos mundos doidos que criaram.
Os escritores de ficção científica sempre foram do tipo sem freios, em termos de imaginação. Que pesquisam muito, lêem muito e viajam na maionese sem medo.
Tendo em vista o contexto... Diante de autores como Vonda McIntyre, Otavia Butler, Ted Chiang, H. G. Wells, Carl Sagan, Isaac Asimov, Júlio Verne, Robert E. Howard, Edgar Rice Burroughs, Michael Crichton, Arthur C. Clark, Philip K. Dick, George Orwell, Margareth Atwood, Mary Shelley, Richard Matheson, ou mesmo Jacqueline Susann com seu inexplicável Yargo, e Sir Arthur Conan Doyle escrevendo ficção científica sob o pseudônimo de George Edward Challenger... Eu diria que os grandes da ficção-científica, ou os grandes que se aventuraram pela ficção científica, são autores ecléticos dentro dos temas a que se propuseram abordar. Mesmo que alguns temas scifi sejam recorrentes, tais como viagens inusitadas, aventuras insólitas, dinossauros, androides e apocalipse...
Quem deseja enveredar pela escrita da ficção científica deve obrigatoriamente entender que os grandes do gênero partiram de questões essenciais da humanidade, das mais primitivas às mais elaboradas: o medo da extinção, o medo da mortalidade, a ânsia de entender o mundo e o universo, e descobrir seu papel na vida, de onde viemos, para onde vamos, etc... Existe uma gama de questões essenciais.
Nao é à toa que a trilogia A Fundação de Isaac Asimov recebeu o Prêmio Hugo, sendo considerada a melhor série de ficção científica de todos os tempos... E não é porque Asimov alçou voos psicodélicos, mas porque partiu de uma premissa básica: as civilizações não evoluem num sentido linear e constante. Perdemos tecnologia e conhecimento... Porque as civilizações ruem. Elas caem, ao contrário da ilusão de ordem e progresso que aprendemos na escola.
Asimov utilizou como analogia a queda do Império Romano, para discutir o problema das "quedas" das civilizações e o papel dos cidadãos. Tão moderno e atual, embora escrito em 1951, que vemos todos os países que conhecemos hoje representados nessa obra de valor incalculável pela genialidade de sua sutileza.
Embora possamos dizer que a ficção científica traz e discute elementos em comum, não dá para comparar as obras entre autores antigos e novos, em termos gerais; apenas o volume de produção e a abrangência de subgêneros e temas.
Carl Sagan produziu pouco em termos de ficção científica, com menos impacto se comparado a Matheson por exemplo. No entanto, a figura de Sagan é muito mais destacada na Ciência (seja entre cientistas ou pesquisadores alternativos). Afinal, Sagan era um cientista. Matheson era um romancista.
O livro de Sagan, Contato, tornou-se bastante relevante para a ficção-científica atual, embora ele tenha escrito mais obras para a epistemologia científica. Isso porque Contato apresenta o inevitável choque entre fé, economia de mercado, seus jogadores, e os fatos, que antes não se priorizava discutir na ficção científica.
Matheson, por outro lado, não ficou preso à ficção científica, nem à ficção especulativa, muito menos à literatura. Ele também lidava com roteiros, e passeava pelo Sobrenatural/Espiritual, horror e o romance. Sua fama se espalhou por diferentes subgêneros. Ele não é considerado um ícone da ficção-científica tradicional, embora seu livro Eu Sou a Lenda tenha causado impacto tanto quanto algumas obras de Clark e Asimov. Mas Asimov é um referencial de e para a ficção científica. Ninguém vai ouvir falar de um romance romântico de sua autoria. Asimov é tido como um dos três grandes da Era de Ouro da Ficção-científica, junto com Arthur C. Clark e Robert A. Heinlein.
Eu diria que tivemos grandes contribuições de escritoras mulheres, em diferentes épocas. Thea Von Harbou escreveu Metrópoles que reverberou por gerações... O Conto da Aia, de Margareth Atwood tem seus efeitos na atualidade. E o que dizer de Frankstein, de Mary Shelley?
No universo da ficção especulativa e do pop/geek, tudo se mistura: quadrinhos, filmes, scifi, ciência especulativa, horror... Isso porque, acredito eu, entre as décadas de 1920 e 1950, a possibilidade de ser abordado por um alienígena provocasse mais horror do que divertimento ou interesse. Havia as experiências científicas malogradas, como o Homem Invisível e a Ilha do Doutor Moreau, de Wells, bem como Frankstein, de Shelley...
Além disso, circulavam revistas como Planet Stories, que alimentavam a imaginação dos garotos. Trata-se de uma cultura que nasceu como clube do Bolinha mesmo.
O historiador Adam Roberts teria dito que na Era de Ouro da ficção-científica (começo do século XX), a narrativa destacava a jornada dos heróis, enfrentando ameaças e resolvendo problemas de maneira contínua e linear. Algo muito utilizado no Space Opera e que eu tentei utilizar em Planeta Santuário. No entanto, fiz uma quebra com o Capítulo Paradoxo Aurélio, realizando um salto temporal como Asimov usou em A Fundação. Acho que foi por isso que o meu livro foi uma das obras que mais agradou o público masculino da Amazon. Eu vendi bem esse livro lá, na época em que o lancei.
Voltando ao tema "autores antigos e novos da ficção científica": Alguns dos grandes autores da ficção científica fizeram interface com o horror. Matheson, por exemplo, teve mais fama nos anos 1960 do que Stephen King, que chegou depois (década de 1970). E os dois se basearam, em alguns "momentos literários", na autora Shirley Jackson (1940 -1958), mais ou menos contemporânea de Matheson. E todos devem tributo na corte de Edgar Allan Poe.
Curioso como escritores de ficção-científica produziam muito bem em terror e vice-versa. King tem obras em ficção científica e as pessoas não pensam muito sobre isso. Os leitores se lembram de King por causa dos livros de terror.
Autores da ficção científica e de terror têm a vantagem de não ficarem obrigados a escrever só sobre um gênero, subgênero ou tema. O que não é o caso do romance; especialmente o subgênero hot.
[Um aparte, aqui: Os autores de romance, e que adotam o hot como subgênero (tornando-o elemento principal de seus livros), e depois tentam migrar para outros gêneros ou usar outros elementos, correm o risco de ficarem presos numa armadilha erótica... Sem trocadilhos... O público é tão específico que muitas vezes o autor não consegue conquistar outros públicos, ou pode ter dificuldade de dialogar com seus editores. Isso porque ficaram marcados como autores hot. Daí o fato de muitos autores profissionais tomarem cuidado com a dosagem ou enfoque dado ao sexo, em seus livros.]
Voltando à ficção científica tradicionalmente falando: autores como Matheson e Sidney Sheldon escreviam roteiros para televisão. Sheldon era famoso na TV, com suas criações (Jeannie é um gênio, e Casal 20).
Matheson era um profissional que entregava bons roteiros, mas seu sucesso estava nos livros (de ficção científica, romance distopico e suspense): Eu Sou a Lenda, Em Algum Lugar do Passado e A Casa do Inferno - Hell House.
Note que são livros ecléticos. Maravilhosos, por sinal. Se puder, leia.
Já o Sidney Sheldon acabou migrando para os livros de suspense e lá estabeleceu um reinado que inspirou o caminho (mesmo que eles não reconheçam ou comentem) de autores como Harlan Corben, Tess Gerritsen e James Patterson.
Mas Sheldon começou na ficção especulativa, explorando as aventuras e desventuras de dois astronautas (curiosamente a ficção científica voltada para os avanços sociais) e a fantasia (o passado longínquo representado por uma garrafa que liberta um gênio - no caso, uma genia de nome Jeannie). Se parar para pensar, Sheldon incorporou as discussões de gênero dos anos 1960 à ficção especulativa, um reduto da ficção-científica. E voltaria à questão de gênero nos anos 1980 com um estrondoso sucesso mundial: O Casal 20. Na verdade, todas as suas obras escritas foram pontilhadas pela discussão sobre papéis exercidos por homens e mulheres em sociedade. Profissional e sexualmente falando.
Não, Sheldon não é um ícone da ficção científica. Mas seu pé pisou lá e fez a diferença numa época em que a televisão conquistava e se insinuava nos lares da classe média. Eu poderia ficar aqui até o século 22 escrevendo sobre esse tema e sobre todos os autores que li e assisti... Mas não dá.
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P: O que você pensa das fake news?
R: São uma espécie de infecção. Existe outros tipos tão perigosos quanto as fake news, tais como a apologia, que já foi comentada num dos capítulos. A apologia não é menos nociva que as fakes news. Pode até ser mais, porque pode ser bem camuflada, penetrando na vida das pessoas como verdades infundadas e calculistas. O plágio também é um tipo de infecção da mesma família que os dois tipos anteriores.
A primeira vez que ouvi a denominação "Predador intelectual" foi numa obra de Hermínio de Miranda - O Evangelho de Tomé. E creio que nossos tempos realmente estão recheados desse tipo de gente, fruto de uma educação sucateada. Na minha época, chamávamos com mais ingenuidade por uma denominação genérica: "oportunista".
Mas seja fake, plágio ou apologia... Para criar estórias que passem por verdadeiras, ou por suas, é preciso muita imaginação. É o que eu chamo de ir para o lado negro da Força, como em Stars Wars. É usar a criatividade para coisas que podem envenenar a vida dos outros.
Prefiro impactar a vida das pessoas criando enredos interessantes, do que passando trotes, notícias falsas, ou roubando ideias.
Quem repassa ou cria fake news pode muito bem ligar para os bombeiros e mentir que alguém se jogou da ponte. É o mesmo princípio, na minha opinião.
Por isso coloquei as Peneiras de Sócrates num dos capítulos. É o antídoto ideal contra as fake news, as apologias e até contra os plágios. Desde que as pessoas estejam dispostas a refletir com bom senso. Use o método das três peneiras, que não tem erro.
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P: O que exatamente significa timing, na área da escrita literária?
R: Difícil explicar. Vou tentar mostrar com exemplos: A personagem está triste, porque sua filha foi sequestrada. O noivo escolhe aquele momento para pedi-la em casamento. Timing errado.
A garota resolve vestir uma camisolinha babydoll para ir à missa ou ao culto. Roupa errada. Timing errado.
Grosso modo: Timing tem a ver com dizer ou fazer a coisa certa na hora certa. Certa no sentido de que deve estar adequada ao momento vivido no enredo do seu livro. Digamos que você tem um personagem que perdeu a esposa. Você não vai descrever uma cena em que ele calmamente reflete sobre as compras do supermercado. A não ser que o personagem seja: 1) O assassino da esposa. 2) Um psicopata. 3) As duas primeiras opções juntas.
Na comédia, o timing significa dar o tom ou a ênfase no momento certo. Se o comediante perder a deixa, estender a pausa, ou passar do momento, a piada perde a graça.
Na escrita, o timing se apoia fortemente nos diálogos. Geralmente, quando o escritor sabe onde colocar a descrição e onde colocar o diálogo, já é meio caminho andado.
Mas tem o timing do enredo - interno: quando o autor sabe o momento certo de fazer um plot twist ou de revelar um segredo; tem o timing para cada gênero literário (drama, suspense, romance); o timing externo: quando o autor sabe que a sociedade está interessada em ler sobre um certo tema, naquele momento e faz uso desse interesse para se destacar como escritor. Pergunte-se se um livro teria a mesma recepção do público em época diferente da que foi lançada. Na grande maioria, a resposta é não. (Embora existam livros chamados de atemporais, ou imortais).
O timing interno está intimamente conectado ao ritmo do texto.
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