O sentido dos segredinhos
Na página 134 de Diamantes do Sol, Nora Roberts faz toda uma discussão sobre a revelação que é para a pessoa, em termos de personalidade e identidade pessoal, o processo de vir-a-ser-escritor. Se não gostar dos romances dela, ao menos leia esta página onde sua personagem principal faz uma análise lúcida e brilhante a respeito da questão. A descoberta da escrita e seus propósitos é uma descoberta maravilhosa.
Leia e reflita.
Você precisa definir quem você é para que seu texto espelhe a sua personalidade.
Tradução: As pessoas se comportam como cópias carbonos de outras pessoas; seguindo fórmulas para obter popularidade. Supra-sumo do fake. SEJA DIFERENTE. SEJA VOCÊ. Fonte: Jonny Marden.
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Você precisa ter claro o seu objetivo como escritor. Pois é este objetivo que vai guiar os seus passos. Toda a organização - de tempo, estudo, leitura e pesquisa - irá girar em torno deste objetivo. Se você escreve como terapia pessoal (desabafar ou distrair), a organização é uma; se escreve para se tornar um milionário (virar best-seller), a organização é outra; e se escreve para comunicar algo a alguém, a sistemática também é outra.
Não existem segredinhos ou fórmulas de sucesso. Do tipo: compre uma fórmula e você irá se tornar o novo George R.R. Martin, ou a nova J.K. Rowling.
Não existe um curso que consiga dizer a você COMO SER UM ESCRITOR DE SUCESSO EM DEZ PASSOS.
Quer dizer... Claro que existem alguns segredinhos, sim, mas que não adiantam de nada sem o seu trabalho árduo, o seu suor. E os vendedores de sonhos por aí fazem parecer a invenção da roda. Não esqueça: a roda foi inventada há muito tempo.
Tudo o que eles ensinam hoje, os bons professores de Português do Ensino Médio já nos ensinavam na década de 1980 (isso só mostra como a educação no Brasil foi sucateada de lá para cá - a ponto de as pessoas pagarem por conhecimento que, na minha época, a escola pública ensinava muito bem e de graça, ou melhor, pelo valor do imposto que você paga para tal finalidade).
Segredinhos e formulazinhas...
Não serão eles (os vendedores de sonhos do mercado) a darem pra você de boa vontade. Você é quem deve pegar. Porque por mais que eles vendam cursos com fórmulas prontas, segredos e dicas de escrita perfeita, é você quem precisa correr atrás.
Além do mais, deparamo-nos com uma pergunta válida em meio a tudo isso: A escrita é perfeita para quem?
A resposta honesta deveria ser: perfeita para o meu ritmo de aprendizagem.
Ninguém escreve igual a ninguém e aqueles que tentam, viram robozinhos com textos padronizados e sem alma. Você não irá se destacar num mar de robozinhos se o seu texto não espelhar a sua personalidade. Se não for algo vivo e cativante... Para ser cativante tem que ser algo que inspire honestidade. Nem pense que copiar o jeito de contar uma história de outra pessoa, irá ajudar você a deslanchar.
Certa vez, uma escritora iniciante (que nem exercitou a escrita e a leitura porque me disse que não lia muito), disse-me que utilizava E. L. James e seu 50 tons de cinza como "modelo" de escrita.
Daí eu lhe disse: Quer dizer que você utiliza como modelo de escrita o texto da tradutora do livro, da revisora e da editora, já que o ritmo da autora original foi concebido dentro de uma língua estrangeira, o inglês, seguindo os macetes e a lógica da cultura inglesa, que funcionam para os norte-americanos, ingleses, australianos... Não para a comunidade lusófona. (Comunidade da língua portuguesa)
Nunca se esqueça de que o ritmo de um texto obedece e ganha coerência dentro uma identidade linguística.
Se for escolher um modelo de aprendizagem, não escolha apenas porque é fã, mas porque o autor realmente demonstra, em sua técnica e língua original, um domínio que lhe ensina a escrever.
A jovem aspirante a escritora estilo E. L. James estava enganada. O que ela estava usando como modelo é a fórmula de sucesso do enredo sadô-masô... Não é a mesma coisa que a fórmula de escrever.
Escrever envolve técnica.
Estória/enredo envolve imaginação.
Ter uma ideia não quer dizer que você vai conseguir transformar em palavras de maneira adequada ou interessante.
A jovem confundiu as duas coisas - técnicas de escrita com popularidade de enredo. E é isso que dá sair deslumbradamente escrevendo sem refletir sobre o que se quer realmente fazer.
Pra começar, você não pode engolir tudo que o pessoal do mercado vende como segredinho de sucesso para escrever bem. Você precisa ter senso crítico. Vá lá, assista, aprenda, mas não pegue tudo no literal. Use uma peneira sobre o que é interessante para você aprender, no seu atual momento, como escritor. Mesmo porque, não adianta varrer a escada de baixo para cima, porque a sujeira cai de volta. Quero dizer que se estão vendendo um segredinho complicado, e você ainda nem domina os seus erros de português, se está só começando - lembre-se: primeiro engatinha, depois aprende a andar, esse é o ditado.
O que você quer e precisa: TÉCNICAS de escrita. Não segredinhos de como vender a ponte Hercílio Luz para turista desavisado. Se você está num estágio avançado de escrita, procure as técnicas que sirvam para você continuar evoluindo.
Não vá achando que com 14 anos, basta copiar uma fórmula de livro hot e, assim, você já estará escrevendo livros rentáveis como o de E. L. James. Não basta criar personagens com nomes inspirados num inglês malogrado; e desenvolver algo do tipo: STEFENYE conheceu MAIKOL e booooooom! Amor caliente, "troscentos" K de leitura... A carreira decola... você vai morar na Califórnia, numa casa com piscina.......
Bem, se você for a autora de After, talvez aconteça....... 🤣
Ela conseguiu! Tornou-se muito bem sucedida. Mas foi como ganhar na loteria.
Até pode acontecer, mas são exceções à regra. Ainda mais se você não pesquisou sobre o enredo que deseja desenvolver.
Digamos que você seja fã da Julia Quinn e resolveu que quer escrever sobre um Duque inglês muito safado, vivendo num castelo inglês. Mas não sabe nada da cultura inglesa da época, nem conhece castelos... Decide que os pombinhos (o duque safado e a virgem mimada) se conhecem durante um baile. Esquece que o livro é de época e escreve que os dois beberam todas... Ou, o que é pior, comenta que a moça chegou ao baile, sozinha. Isso porque você viu que acontecia assim no conto da Cinderela e achou que seria romântico.
Nem reparou que na Era Vitoriana, se a moça fizesse isso, não arrumaria nem um açougueiro pra pretendente.
Pior... Decide inventar um romance meio sensual entre o lendário Pé Grande (credo!) e uma mocinha do interior de Minas, e resolve que o Pé Grande mora numa mansão no alto do Himalaia...
Então, vai dar vexame, ou vai pesquisar?
Não existem segredinhos, mas existe PESQUISA!!!
Recentemente, assisti um filme histórico, policial, gótico, com Christian Bale. Baseado no livro O Pálido Olho Azul.
Considerada uma obra e tanto, apoia boa parte de sua trama num baile militar que me fez perguntar: o que uma moça foi fazer lá, sozinha? Certamente encaixaria algum motivo ou desculpa esfarrapada para tornar o estupro pós-baile, a chave de todo o enredo. Mas como o autor não se preocupou em deixar claro o motivo, pois se trata de ficção histórica, deu a impressão que misturou os costumes de hoje com os de 1880, sem perceber. A mim, pareceu que ele quis enfiar a forceps uma cena de estupro, dentro do livro.
Se ele deu vexame? É, deu... Mas ninguém vai reparar nisso agora que virou filme. Mas um autor que está começando deve cuidar e entender que existem valores da sua época que contaminam o retrato de uma época passada.
😂😂😂😂😂
Não existem segredinhos.
Tanto é que você pode se tornar um best seller apenas escrevendo para desabafar consigo mesmo. Ao passo que outro autor dá um duro danado para estudar a escrita de robozinho (que os magos do mercado ensinam)... E tudo o que ele ou ela consegue é se tornar mais um na multidão de robozinhos.
Então, aprender segredinhos e receitas prontas não é garantia de que você vai virar um escritor de sucesso. Para variar depende do seu trabalho! TEM QUE RALAR!
E mesmo ralando, não há garantias. Por isso, para não desanimar, tem que amar o que você faz; como todo trabalho, precisa de dedicação e esforço. A escrita não deve ser tratada como algo que não merece respeito.
Stephen King foi recusado desde os 16 anos até a fase adulta (uns 26 anos de idade), antes de conseguir decolar com Carrie, a estranha. Mas ele pesquisou e estudou pra caramba!!! Ele leu mais livros que muito leitor contumaz por aí... Formou-se e se tornou professor de Língua Inglesa. Então, não vamos bater o pezinho, sentar e chorar diante dos primeiros obstáculos.
Outra coisa importante: As pessoas falam muitas coisas. A maioria não é imparcial. Ou deseja vender alguma coisa/ideia/conceito/produto ou deseja vender uma imagem/estilo de vida. E vão fazer de tudo para persuadir você a acreditar naquilo que estão vendendo. Vão fazer de tudo para vender o produto delas. Não interessa se o produto serve para você ou não. Interessa aos vendedores convencer você de que deve gastar com o produto.
Não acredite em tudo o que dizem; nem se encante com a embalagem bonita do produto. "Não compre o livro pela capa", é um sábio ditado que os antigos diziam.
Pesquise!
A verdade é um ponto de vista. Nada de novo ou negativo nisso. O problema é que cada vez mais o ponto de vista é guiado por questões ideológicas trabalhadas para dominar.
Controle.
Poder.
Holofote.
🥇🥈🥉
Produção de conteúdo (com que tipo de conteúdo?).
O ser humano hoje usa a palavra igual o humano primitivo usava a clava com a qual batia na cabeça dos inimigos: para conquistar sua caverna duplex com vista para a savana.
Uga-uga!
🦍
E é desse controle ideológico violento, sutil ou escancarado que você deve tentar escapar. Aliás, escapar dos tentáculos que visam agarrar e transformar num robozinho, deve ser a bandeira do escritor crítico e independente.
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