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A escrita, a responsabilidade e a verdade

"Toda atividade humana é de interesse do artista", do filme Coração de Cavaleiro (2001).📽🎞📽🎞📽🎞

O propósito do escritor nasce da e vai para a atividade humana. Sendo assim, escrita, responsabilidade, e verdade articulam um leque de abordagens. Um leque que o escritor dispõe para escolher, para decidir o enfoque que dará ao seu texto.

Um leque de abordagens de e para que, afinal? Resposta: Um leque de formatos, ou molduras para retratar as atividades humanas.

Abordagem é a maneira como você vai enquadrar determinada temática humana. Para cada abordagem, o escritor se equilibra entre a responsabilidade e a verdade.

Não pretendo me alongar sobre cada um desses conceitos. Apenas quero refletir sobre o fato de que os três (escrita, responsabilidade e verdade) estão entrelaçados.

Porque...

A escrita é uma arte, um meio de comunicar, de informar e de transformar a vida das pessoas. Não importa se você não é conhecido. O que importa é que sua escrita alcança as pessoas. Se isso acontece, então, você é bem sucedido.
Basta tocar o coração de um leitor e a magia aconteceu. Você deve se orgulhar do seu esforço.

Porque...

A responsabilidade é inerente à atitude, postura ou comportamento que você adota. Toda ação gera uma reação e as consequências de suas ações voltarão para você mais cedo ou mais tarde; direta ou indiretamente.
Por isso procure ser gentil não só com o seu colega escritor, tratando-o como gostaria de ser tratado, mas pense muito bem na responsabilidade das suas palavras. Uma palavra pode arrasar a vida de alguém. Uma palavra pode empurrar alguém para o fundo do poço. Então, não seja aquele que vai destruir, mas aquele que vai contribuir e elevar.

Porque...

A verdade está na convicção. Uma história de mentirinha pode conter mais convicção do que um documentário jornalístico. A verdade não é definida apenas pela realidade concreta, mas pela percepção desta realidade e pelos ensinamentos que esta percepção proporcionam ao leitor.

Onde existe um ser humano intermediando os fatos, estes deixam de ser imparciais e objetivos. Passam a ser subjetivos, isto é, dependem do ponto de vista e dos interesses de alguém.

O escritor precisa respeitar o máximo possivel a verdade de cada um. Inclusive, a verdade de seus personagens (Chamamos isso de verossimilhança; termo que retomarei mais adiante)

Isto posto...

A ética do escritor envolve:

1) "A César o que é de César". Batalhe pelo seu próprio voo; não copie as ideias dos colegas. Esse tipo de coisa sempre acaba mal para o copiador. Ainda mais se fizer sucesso. O autor original tasca-lhe um processo e o copiador fica com a imagem manchada. Em casos assim, a carreira acaba antes de começar.

Batalhe por sua própria estória.

As vezes, o autor nem percebe que está fazendo algo de errado. Peca por ignorância. Para evitar isso, aprenda a diferença entre referência, inspiração, cópia e adaptação.

Referência: homenagem. Só mostra rapidamente o que representa um ícone ou símbolo na vida das pessoas.

Inspiração: Um mesmo tema pode gerar diferentes ângulos e abordagens. O tema é algo abrangente, do qual você retira a sua motivação para escrever.

Adaptação: transforma algo que já existe para outro formato ou linguagem. Exemplo: livro adaptado para o cinema; quadrinhos que viraram série na Netflix e da Disney. Tradução do inglês para o português também é uma forma de adaptação. Mas a adaptação é consentida. Isto é, o autor aceita.

Fanfic é uma adaptação normalmente sem permissão. Navega na linha tênue entre o plágio e a adaptação.

Contudo, por definição é a intenção que conta. Trata-se de um texto caseiro de fã que homenageia o original. O melhor seria obter permissão para fazer, mas desde que não lucre nenhum benefício com a história, então, não vejo problema.

Cópia de texto: plágio, processo, indenização, perda de credibilidade como autor... Mesmo que o autor plagiador ache que mudando nomes e cenários poderá escapar de ser penalizado e ainda lucrará sobre o suor de outro escritor... Saiba que não escapa. Existe um cálculo valorativo feito, quando uma questão dessas vai para a justiça. Então dá mais trabalho ao plagiador tentar cobrir todos os critérios que caracterizam judicialmente um plágio, do que simplesmente criar a própria estória.

E não se esqueça: com a internet, o plágio fica lá para sempre. Basta que alguém um dia resolva denunciar e "perdeu, playboy". Citações mal empregadas também se configuram plágio. Mesmo que não seja a intenção do autor. O que leva ao item 2, abaixo:

2) Tente dominar o básico das Normas da ABNT. Por exemplo: saber como citar corretamente outros autores, imagens, fontes, etc. Citações diretas e indiretas.

PROCURE CITAR OS OUTROS AUTORES SEMPRE, SE ESTIVER USANDO O TEXTO DELES. Caso contrário, é plágio, violação de direito autoral, ou mesmo violação de privacidade...

Uma pequena novidade pra você, que adora colocar em letras garrafais: Registrado na Biblioteca Nacional...

Não adianta nada, se o outro autor registrou o original em data anterior ao seu registro. E mesmo que você corra pra registrar primeiro, se o outro autor tiver provas de que criou a história (provas documentais, como prevê a lei dos direitos autorais), você estará encrencado.

A própria Biblioteca Nacional esclarece que não se responsabiliza diante de tais circunstâncias.

O importante é agir com transparência e ter tudo documentado quando registrar sua obra na BN. O registro da Biblioteca é mais um reforço. Ou mesmo você pode fazer o registro em outros sites certificadores que surgiram durante a Pandemia (diante do engessamento da Biblioteca Nacional). Vale registrar até em cartório, se quer saber.

Então, se você não tomou suas providências, mas decidiu colocar com letras garrafais o lembrete do plágio, lamento informar que é muito fácil saber como as coisas funcionam, hoje em dia.

Eu vivo tranquila por causa disso. Todas as minhas obras são registradas e documentadas. Estou só esperando um dos meus plagiadores, que venho acompanhando de perto, conseguir fazer sucesso. O que é difícil, já que não teve competência nem pra criar uma estória, quem dirá fazer sucesso com o plágio mal acabado.

Mas......... Se um dia conseguir, estarei aqui, prontinha para lucrar a minha fatia, já que sou a autora original da história. Simples assim. Processo na hora. Vou direto na jugular. E estou me divertindo muito esperando pra ver se os plágios de A Muralha e de A Guerra de O-Zaion engrenam. Já vi plagiador meu colocar o tal do "plágio é crime" para os seus leitores, na sinopse. Quase morri de rir diante de tanta cara de pau!

E ainda se a história tivesse ficado boa! Mas ficou tão ruim que tive até dó da plagiadora em questão.

Mas sigo na moita, pronta pra dar o bote. Basta o plagiador ou a plagiadora (a maioria dos meus plagiadores são autoras jovens), conseguir publicar e eu pulo em cima, embargo tudo.

😂

Continuando com as questões éticas:

3) Evite a arrogância. Não dê uma de bom ou de boa pra cima de seus colegas escritores, fazendo comentários de duplo sentido nos livros dele/dela. São seus colegas. Respeite-os, como deseja ser respeitado.

Ainda mais se tiver o dobro da sua idade, né???? ASSÉDIO CONTRA IDOSO É CRIME 😂👌

Tente ser educado e prestigiar os colegas, pois isso faz parte da construção de sua imagem como escritor, tão importante quanto aprimorar a escrita. Lembre-se de não se comportar como um divo ou diva (e não estou usando o termo no bom sentido - quando colocar "diva" junto ao seu nome de autora, dê uma olhadinha nos significados do dicionário e pondere a respeito, antes 😁).

Lembre-se de que querer parecer que se é mais do que se oferece só faz a pessoa parecer pequenininha.

4) Dedique parte de seus livros a transformar positivamente a vida dos seus leitores. Seja acrescentando informações que eles desconhecem; seja propiciando reflexões críticas; seja discutindo questões pertinentes à cidadania, à vida social e cultural.

5) Seja gracioso ou graciosa ao receber críticas. Não se torne um Gremlim, toda vez que te jogarem água. Flexibilidade é tudo. Ainda mais se a intenção do outro for te provocar, e não criticar de forma construtiva.

De que adianta criticar os ditadores no poder, se você mesmo se comporta como um ditador ou ditadora...?

E por último, a ética envolve:

6) Aprenda a transitar entre a cronologia (fatos cronológicos) e a sua verdade artística.

Ainda mais se você for escrever ficção histórica.

E sobre isso, ainda, deixo uma pequena reflexão:

"As três peneiras de Sócrates"

Por Mary Alvarenga

Centro de Ensino Urbano Rocha

"Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:

- Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!

- Espera um momento - disse Sócrates - Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.

- Três peneiras? Que queres dizer?

- Vamos peneirar aquilo que quer me dizer. Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?

- Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.

- A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?

Envergonhado, o homem respondeu:

- Devo confessar que não.

- A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?

- Útil? Na verdade, não.

Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti".

Moral da história: Se as pessoas usassem desses critérios, seriam mais felizes e empregariam seus esforços e talentos em outras atividades, antes de obedecer ao impulso de simplesmente passar adiante meras reproduções do que os outros dizem, fazem ou... escrevem.

Além do mais, é uma perda de tempo tentar passar uma informação como verdade, se a verdade depende do ponto de vista.

Se você tiver critérios ao receber e repassar informações, isso te faz um escritor mais crítico e consciente.

😉

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