Capítulo 20
As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo.
— Benjamin Franklin
Não que ver a felicidade dos outros me deixava triste, mas, ver o que a Heather foi capaz de fazer para estar ali fez as lágrimas pingarem por meus olhos. Como ela conseguia olhar para ele e mentir tão descaradamente. Como ela foi capaz de estragar tudo!
Por quê?
O que havia feito para ela me odiar tanto? E o Blake, o que tinha na merda da cabeça de armar aquele circo todo. Será que ele não tinha consciência do que estava fazendo?
A culpa por não ter conseguido era dele. Se não fosse por esse imbecil talvez tivesse tido a chance de contar a verdade a Elliot.
Ah, Elliot será que não sentiu a diferença entre os nossos lábios? Que droga, pensei que mesmo tendo selado nossos lábios uma unica vez ele não a confundiria. Será que o beijo havia sido superficial para que não notasse?
Torturei-me por mais alguns minutos e então enxuguei as lágrimas e ignorei a dor do vazio em meu peito. A raiva, tristeza, tudo se misturam dentro de mim, minha vontade era de ir até lá e detonar a cena que aquela hipócrita havia montado. Eu deveria desmascarar aquela farsante mesmo ela sendo a minha própria irmã.
Droga! Deveria ter dito quando tive a chance. Eu vi em seus olhos naquela manhã, ele desconfiou, e eu fui uma tola.
— Ela não sou eu, Elliot — sussurrei baixinho olhando os dois sentindo as lágrimas voltarem em meus olhos. Heather não me olhou outra vez, Elliot dizia algo que a mantinha focada nele — Eu estou aqui, meu príncipe, por favor, olhe para mim. — As lágrimas mais uma vez escorreram livremente quando ele se virou para Heather quando o vi beijá-la outra vez na minha frente. E, como um pedido de forças movi o meu corpo para fora dali, desorientada.
Passei pela entrada absorta como se não enxergasse a minha volta, apenas queria desaparecer e esquecer que esse pesadelo estava acontecendo, esquecer meus sentimentos, esquecer tudo que me feria.
Era uma ilusão. Um conto de fadas falido que acabou.
Olhei para o céu observando o tempo fechado, a chuva chegaria em breve, eu não me importava, e quando um raio cortou o céu senti que deveria pegar um taxi, mas, eu não queria ir para casa. Não queria ver Dakota, nem Heather zombando de mim por eu ter sido fraca.
Caminhei sem direção pelas ruas movimentadas de Pherce, passei pelo bar famoso com muitas pessoas comemorando sua noite. Estavam felizes, mas para minha vida a felicidade nunca aconteceria.
Adentrei a rua pacata segurei o vestido longo e o embolei em minha mão com um se o abraçasse. Senti os primeiros pingos de chuva que limpavam o céu cair sob a minha cabeça, cada vez mais grossos e espessos. Precisava sair dali, mas, onde estava a minha força naquele momento?
As lembranças das mentiras, do roxo em meu braço por suas unhas, os beijos, a fofoca tudo me fazia querer nunca mais voltar para aquela mansão, viver ali, naquela rua vazia e silenciosa.
Eu não estava preparada para que o Jornagram anunciasse a noticia, mas eles esperavam por isso. A realidade era essa, nunca ficaríamos juntos, não quando Heather tinha Dakota e eu não sentia forças para lutar diretamente contra elas.
A falta de ar queimou em meus pulmões, eu sentia dor, minha respiração acelerava, estava tendo uma crise nervosa. Apressei os passos, embolei-me entre os passos rápidos cambaleando e caindo em uma maldita poça que havia se formado.
— Maldição — vociferei, sentindo meu tornozelo latejar, mas isso doía menos que um coração despedaçado.
Não me levantei, nem fiz questão de olhar para nenhum lugar em meio à rua parada. A chuva forte que se instava em nossas cabeças não faziam as pessoas se locomoverem. Meus dedos tocaram o local, estava inchando, ótimo, era o que falta!
— Meu Deus, Aurora...
A voz de Blake Callaway ecoou firme e impetuoso atrás de mim, não tive tempo de me virar, apenas senti quando seus braços fortes passaram por meu corpo... Não me fiz de forte, não estava bem, estava quebrada e mediante a toda dor encostei minha cabeça em seu peitoral firme, chorando em silêncio.
— A culpa é toda sua... — balbuciei entre um soluço e outro. — Se não estivesse ido até lá eu teria contado a verdade...
— Do que está falando? — senti seu queixo encostar-se a minha cabeça, mas permaneci inerte, havia falado demais. — Que verdade, Aurora? O que você está escondendo?
— Porque está aqui? — ignorei suas perguntas e ele suspirou lentamente. — Você não vai mesmo deixar em paz, não é mesmo?
Senti seu corpo contrair comigo em seus braços.
Blake retesou.
— Eu estava no bar quando a vi passar, e como não parecia bem quis me certificar que ficaria. — Não via seus olhos, mas sentia que estavam em mim de algum modo. Mesmo sem olhar seus olhos me intimidava.
— Se eu ficar longe de você ficarei ótima. Não preciso de sua compaixão, me coloque no chão... — Blake bufou e o seu perfume foi substituído por álcool. — Você está bebendo? Porra! Deixe-me em paz, ou se esqueceu de que eu, você e álcool não combinam? Da ultima vez você queria tirar a minha roupa.
— Não estou bêbado agora, Aurora.
Suspirou. Provavelmente seus olhos escuros estavam estagnados em mim. Senti meu rosto queimar, assim como meu corpo, não entendia tamanha reação. Forcei para descer e o garoto entendeu o recado, mas ao me colocar o pé no chão quase caí outra vez e a dor fez com que eu quisesse chorar, rapidamente, o garoto me trouxe para os seus braços novamente.
Suspirei, derrotada.
— O que estava fazendo lá? — perguntei, mas crente que Blake não me falaria isso facilmente.
A chuva desabava em nossas cabeças. Meu vestido estava grudado em meu corpo, e por um momento vi o garoto abaixar o olhar, mas o desviar rapidamente e quando meus olhos alcançou o que ele olhava, notei que o vestido estava transparecendo e mostrava a minha peça íntima, rosada.
— Vamos ao hospital, precisamos ver esse pé... — Seu tom sério me fez suspirar.
Respirei fundo, não queria estar ali, em seus braços, mas naquele momento não havia alternativa, aquilo aliviava a minha dor.
Ficamos em silencio por um segundo, mas percebendo-o, Blake o tratou de quebrar.
— Eu precisava aliviar o que estava sentindo de alguma forma. Estava irritado, desconhecendo a mim mesmo, eu sempre fiz merdas, mas desde que voltei a Pherce estava cometendo erros impulsivos e mesmo que não pareça me sinto horrível por isso, mas não importa. —proferiu respirando fundo. — Deixei o carro próximo daqui temos que sair dessa chuva o quanto antes, não quero que adoeça... — Blake deu alguns passos, suspirando. — Além do mais, precisamos ir a um hospital.
— Eu não me importo em adoecer, se morresse seria um alivio para mim...
— Você não sabe o que diz!
— Você não sabe o que diz...— repeti suas palavras de forma dura. Estava ferida demais para ser gentil. — Eu não tenho nada a perder na vida, já você... Parece que não se importa com ninguém além de si mesmo.
Vi sombra em seus olhos.
— Você não me conhece, não sabe o que está falando!
O empurrei, descendo para o chão outra vez. Precisa tentar ir embora sozinha. Se a maldita estivesse sentindo a minha falta...
Por sorte a dor no tornozelo havia passado foi apenas um mau jeito. Dei alguns passos sentindo a chuva molhar meu rosto. Sorri como se estivesse perdendo o que me restava da sanidade. Dakota, Heather, Blake e até mesmo Elliot desejava que fossem a merda. Sentia-me embriagada. Olhei para Blake com um sorriso sarcástico. Ele quis me provocar, sem saber aliou-se ao plano de Heather, me fez perder um momento importante e então eu o provocaria de volta. Talvez ele fosse o que precisava. Sua família era forte, iriamos na televisão, seria um caos, mas ali enfrentaríamos aquela mulher.
Desfiz a trança de meus cabelos, sentindo-os juntar se ao vestido grudado em meu corpo, em um ato impensado abri os braços esticando, rolando os olhos para o céu e sorri sentindo cada pingo cair diretamente em minha face. Era a paz misturada com liberdade que nunca teria.
Fechei os olhos, rodopiei uma vez, seguida de outra vez e na segunda senti meu corpo ser puxado contra outro forte e quente, esse que estava há segundos atrás.
— Se quer a minha atenção, ela é toda sua! — Seus olhos brilhavam em um misto desdém e luxúria. Ele me desejava, então, passei meus braços por seu pescoço.
Não havia o que perder.
— Está brincando com fogo, Chéri!
— Então que o meu corpo arda... — Meus olhos o encontraram finalmente, e ali, havia algo indecifrável. — Porque eu já vivo no inferno!
— Pare com isso, a chuva está piorando, vamos embora!
Eu não me movi, ao contrário, meus dedos movimentaram-se até sua nuca, acariciando-a como uma provocação. Senti o garoto retesar, seus braços estavam em volta de minha cintura, puxando-me ainda mais para si, e então, de repente fiz algo inesperado, porém não havia mais tempo para me arrepender. Com os seus olhos cravados em mim, aproximei meu rosto e mordisquei seus lábios, fazendo um leve gemido escapar de seus lábios. Seus olhos estavam famintos e sedentos, mas era como se esperasse uma permissão ao mesmo tempo em que queria aquilo sentia medo do que poderia acontecer assim como eu.
Eu o odiava.
Mas, naquele momento o provocava apenas para que provasse seu veneno, ele havia mexido com a garota errada... E então, Blake Callaway chupou meu lábio interior e isso foi o suficiente para tudo se perder, nossos lábios conectaram-se rapidamente em um desejo insano por mais. Seus lábios macios e doces sugaram-me de forma que me vi entregue, meu corpo queimava como nunca antes, as mãos de Blake desceram por minhas costas. O garoto girou-me empurrando-me até a parede mais próxima. Suas mãos subiram até a minha nuca e o beijo desesperado mesclavam-se às gotas da chuva. Seus lábios desceram de minha boca até meu pescoço sugando-os lentamente, suas mãos alisavam meus quadris fazendo com que um gemido escorresse de meus lábios.
— Eu posso ser melhor do que mostrei até agora para você, Chéri. — proferiu em um tom gentil, seus lábios tocavam minha pele molhada.
Éramos como fogo em um incêndio, inimigos que não se misturavam, mas, o gosto de seus lábios era melhor do que poderia imaginar. Esse não era o melhor modo de marcar o inimigo, rendendo a ele como se não o odiasse realmente. Éramos incompatíveis, diferentes em tudo, mas era como se tudo isso me atraísse ainda mais. E ali, naquele momento tive a certeza que ainda conseguia ser pior do que imaginava. Mordi o lábio inferior sentindo claramente meu lapso de loucura.
— Isso foi outro erro, você estava certo... — Afastei-me de seu toque. Blake me olhou desorientado, tirando os cabelos molhados dos olhos. Seus lábios estavam ainda mais rosados em seus olhos escuros ainda havia resquícios de desejo, mas em seu rosto perfeito que escorria água também havia magoa explicita.
— Eu vim até aqui para...
— Poderia me levar embora? — Interrompi com um pedido. Nossos olhares se encontraram e eu sentia vergonha pelas merdas que estava acontecendo. O dia estava louco, cheio de erros e essa garota pervertida e cheia de atitude não parecia ser eu, embora me proporcionasse sensações as quais mal conseguia respirar.
Blake me olhava de forma intensa, me olhava como se buscasse palavras para dizer sobre o que havia acontecido ali, mas, no fim, escolheu o silêncio. Ele tomou a primeira iniciativa em deixar-me sozinha naquela rua e ao sair dela olhou-me como se perguntasse você não vem? Entendi o seu recado, seguindo-o até o conversível estacionado ali. Ele destravou o alarme e entrou. Incerta, caminhei até lá abrindo a porta ao seu lado, sentindo-me uma burra por entrar no carro do homem que acabou com os meus planos. Blake estava tenso, ligou a ignição do carro sem me olhar. Recostei a cabeça na porta, no vidro olhando a chuva grossa cair do lado de fora.
Blake deixou a rua trazendo-me a vergonha de tudo que havíamos feito até ali. Eu antes nunca havia beijado ninguém antes de Elliot, e agora, os lábios do Callaway que abonava estavam impregnados aos meus.
E aquilo foi tudo.
Elliot inconsequentemente fez a sua escolha, e agora eu não desejava mais provar verdade a ninguém. Queria paz e a mim mesma e por isso nunca mais iria procura-lo, assim como Blake Callaway, que ao descer desse carro um novo ciclo seria reescrito, nele, sem um sobrenome tão problemático na minha vida.
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