QUATRO
Já passa das dez horas quando finalmente termino de me arrumar. Olho meu reflexo no espelho e retoco meu rímel mais uma vez. A sombra de cor rosa neon contrasta com os meus olhos, gosto do resultado. Enquanto analiso os últimos detalhes da composição do meu look, Luísa abre a porta do meu quarto de surpresa, me dando um tremendo susto.
— Lu, pelo amor! Quer me matar?
— Não, mas acho que você deveria saber que já tem gente demais lá embaixo. Você mandou convite pra escola toda? Meu Deus do céu! — Ela diz, com uma expressão preocupada.
— Ótimo, a festa vai bombar! — Digo. Quanto mais gente pra mim, melhor.
— Amiga, isso vai levar um trabalhão pra limpar depois, viu? E se você não conseguir organizar tudo à tempo?
— Relaxa, amiga. Vamos curtir a noite! — Sorrio, minha amiga dá de ombros. — Você está maravilhosa, aliás.
Luísa está vestindo uma calça de tecido preta com detalhes coloridos e um cropped dourado, uma composição um tanto chamativa e incomum. Seus cabelos castanhos e ondulados caem sobre os ombros soltos, sendo preso apenas uma parte no topo de sua cabeça, o que deixou ela bem fofa. Como se não bastasse, as argolas coloridas e a maquiagem dourada dão uma personalidade ainda maior à composição. Apesar de seus gostos serem completamente opostos aos meus, considero minha amiga a garota com mais estilo e autenticidade que conheço.
Descemos as escadas juntas e quando coloco os olhos no enorme hall de entrada, fico de cara no chão. Não imaginava que tantas pessoas viriam para minha festa. Até porque esta é a primeira festa que dou em um ano em que moro aqui.
Reconheço várias pessoas, mas outras, posso jurar que nunca vi na vida, o que não me surpreende. Algumas delas me cumprimentam e correm para tirar fotos comigo, outras até me pedem autógrafos, mas eu não vejo sinceridade em nenhuma delas. Não posso julgá-las.
Afinal, estar em uma festa na casa de uma influencer famosa é uma ótima oportunidade para conseguir uma foto com ela e ganhar seguidores em suas redes sociais. Não digo isso porque me acho uma estrela da internet, — mesmo que de fato, eu seja —, e sim porque é a realidade. Por esse motivo, eu seleciono bem todos os pouquíssimos amigos que tenho, que se resumem a Luísa e Juliana.
Falando nela, fico surpresa quando minha amiga adentra o hall de entrada de forma nada discreta, arrancando olhares por onde passa e correndo em minha direção. Juliana sendo Juliana.
— Caramba, essa festa tá demais, gata! — diz, aproximando-se e dando um giro nada discreto para mostrar o seu look. — E aí, gostou?
— Você sempre está maravilhosa! — Digo, e ela me abraça com força.
— Vocês também estão, viu? — Ela diz, se referindo a mim e a Luísa, nos agarrando entre seus braços macios. — Não é à toa que somos o melhor trio dessa festa. — Diz e nós rimos em resposta.
— Como foi a viagem? — Pergunto. Juliana tinha viajado com a família desde o natal e só voltou hoje, o que de certa forma, vai lhe causar alguns problemas na escola.
— Foi ótima, pena que agora eu vou sambar se quiser recuperar o ano, né?
— Relaxa, a gente te ajuda. A Carol tá na mesma situação. — Luísa diz, com sua boca enorme.
— Xiu Luísa, não espalha!
— Como assim você tirou nota baixa? — Juliana parece chocada. — Estou em uma realidade alternativa, gente?
Dou de ombros mas em seguida começo a rir da minha própria desgraça.
— Relaxa que a gente te ajuda, nega. — Juliana diz, e eu tenho a plena certeza de que assim como posso contar com Luísa, também posso contar com ela.
Juliana é uma garota negra com traços marcantes que arranca olhares por onde quer que ela passe. Seu cabelo black volumoso, a boca carnuda, olhos grandes e curvas avantajadas são apenas algumas das características que tornam isso possível. Afinal, sua personalidade também contribui em todo o conjunto.
Ela usa um vestido vermelho com detalhes de strass colado ao corpo, seu cabelo afro exibe uma bandana na cor vermelha, em contraste com seu batom vermelho e nenhum pouco discreto.
Ela é assim, não existe "pouco" em seu vocabulário. Desde seu jeito de se vestir, seu humor, sua sinceridade e fidelidade. Tudo para ela precisa ser muito. E cada momento, precisa ser vivido com intensidade, é o que mais admiro nela.
Caminhamos em direção ao balcão onde havia algumas bebidas e nos servimos de cerveja. Sentamos em um sofá na sala de estar, — que por sorte ainda está vago — e começamos a conversar sobre coisas aleatórias.
— A gente bem que podia fazer um karaokê, né? — Diz Luísa, não perdendo a oportunidade.
— Quem ainda tem karaokê em uma festa? — Digo, Luísa revira os olhos.
— Ai amiga, o que você tem contra a música? Cantar é tão legal.
— Não vejo nada demais nisso.
— Vamos parar, garotas? Dá licença que eu vou dançar! — Juliana fala, erguendo seu corpo e abaixando a saia do vestido colado. — Bora pra pista, meninas!
Seguimos seu conselho e a seguimos em direção a pista de dança, bem no meio do hall de entrada. Enquanto movimento meu corpo no ritmo da música eletrônica que está tocando, percebo o olhar dele sobre mim.
Não é surpresa que Kaio esteja aqui, na primeira festa que eu dou na minha casa, já que desde que eu cheguei ao Resilient, ele vem me provocando. Kaio tem a mania de achar que só porque boa parte das garotas da escola caem aos seus pés, todas têm que fazer o mesmo. Não sou uma delas.
— E aí, Carolina, festa daora, heim? — Diz, aproximando-se de mim, movendo seu corpo no ritmo da música de forma sensual.
— Claro, é a minha festa. — Digo, o que faz ele sorrir e aproximar-se mais de mim, fazendo minhas duas amigas arregalarem os olhos. Eu me afasto.
— Pode me dar espaço? — Falo e ele ergue uma das sobrancelhas, como se não estivesse entendendo o que eu digo, então faço a gentileza de repetir.
— Vaza! — Diz Juliana, o que faz com que algumas pessoas que estão próximas a nós comecem a rir, inclusive eu e Luísa.
E finalmente ele se afasta devagar, dando uma piscadela para mim. Reviro os olhos. Como alguém pode ser tão inconveniente?
Kaio é realmente bonito. Seus cabelos castanhos e perfeitamente arrumados contrastam com sua pele bronzeada e olhos esverdeados. O corpo atlético está em evidência em sua camiseta cinza.
Por mais que ele seja atraente, não faz o meu tipo. Na verdade, eu não sei bem quem faz o meu tipo, já que nunca gostei de alguém de verdade. Não do tipo de começar a suspirar pelos cantos e pensar na pessoa o tempo todo, agradeço por nunca ter experimentado essa sensação. Para mim, basta os filmes de romance para ferrar com meu psicológico.
Começamos a dançar novamente sem se importar quando Luísa me encara, com os olhos arregalados e sem reação. Em primeiro instante eu sorrio da cara que ela faz, mas então eu me viro quase que em seguida e me assusto com o que vejo. Meus pais estão diante do hall da mansão, observando tudo boquiabertos.
Não movo um músculo sequer, pois sei que estou encrencada. Por que eles resolveram voltar tão cedo? Minha mãe abaixa a cabeça e se mantém quieta, enquanto meu pai caminha em minha direção, eu posso enxergar a fúria em seus olhos. Ao chegar próximo a mim, ele agarra o meu braço com força e começa a falar, em alto e bom som:
— Acabou a festa! Saiam da minha casa, agora!
Minha mãe, submissa como sempre, não diz uma palavra. Apenas deixa que eu seja humilhada ali, na frente de todo mundo do colégio. Ele me arrasta pelo braço até o andar de cima com força, eu reclamo de dor, mas ele não para de apertar meus braços sobres seus dedos. Quando finalmente chega ao meu quarto, abre a porta e me solta, bruscamente.
— Você é uma vergonha, Carolina! Vergonha! — diz, antes de fechar a porta com força atrás de si, me deixando ali, tão sozinha e perdida como sempre estive.
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Oie! Mais um capítulo pra vocês e com fortes emoções, heim? Me contem o que estão achando até aqui 🌼
Caso queiram me acompanhar nas redes sociais, o perfil que posto mais sobre meus trabalhos é o @Karollynyalves_
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