• Capítulo 1 •

- Por favor mãe! - peço de joelho, não posso deixar esta oportunidade escapar.
Assim que cheguei a casa, disse-lhe o que tinha acontecido, eu implorei, literalmente, e continuo a implorar, mesmo que ela já tenha dito umas trinta vezes que "não".
- Emily eu já disse não - responde pela milésima vez.
- Eu imploro! Por favor mãe! Vou só às primeiras cinco aulas, depois, se entrar nos dez, não vamos precisar pagar. Eu juro! Está no panfleto - mostro-lhe.
- Emily - suspira - e como podes ter tanta certeza que vais conseguir? Quer dizer tenho 99% de certeza que estes miúdos já estiveram em outras escola de dança.
- Mãe, eu treinei todos estes anos! E eu sei que tenho capacidade para isso!
- Ok, ok - desiste e levanta-se do sofá - eu levo-te amanhã de manhã á aula.
- A sério? - pergunto surpreendida.
- Sim, quer dizer, por que não? Mas tens de prometer que se não conseguires, não vais mais insistir em ir - assinto - e eu também aceitei porque não te queria ouvir mais - acrescenta.
- Ok tudo bem, eu prometo - abraço-a - obrigada mãe, por tudo.
- De nada, agora, boa noite, amanhã vai ser um dia difícil, para as duas.
- Boa noite - digo vendo-a dirigir-se para o seu quarto - se quero mesmo entrar nos dez, tenho que treinar mais do que treinava antes, tenho a certeza que os outros já estiveram em várias escolas de dança - murmuro para mim mesma.
Olho para a janela, do nosso quarto temos vista para o parque, este é apenas iluminado pelas iluminações da rua, está deserto, o meu olhar vai para lá do parque, um edifício abandonado, com heras a creser destro das paredes do mesmo, partes com buracos, de onde costumavam ser as janelas ,imagino.
Lá ninguém me poderia ver, ou ouvir..certo? Além disso, á dois meses que a minha mãe anda sempre em cima de mim, á dois meses que não danço, não me faria mal nenhum treinar.
Vou até ao meu quarto, troco o meu pijama por umas calças elásticas pretas e um top da mesma cor, pego num casaco, amarro o cabelo pego nas chaves do apartamento e no telemóvel e saio em silêncio do quarto.
Assim que saio do apartamento, vou pelas escadas, já que os malditos elevadores avariaram, assim que chego á receção, alguns funcionários ainda trabalham ou nos computadores ou nas limpezas, passo pela porta sem chamar a atenção dos mesmos.
A rua está pouco movimentada, ultrapassei a mesma e fui em direção ao velho edifício que caia aos pedaços, assim que lá cheguei pude observar o mesmo com mais atenção, tem uma entrada com duas portas de vidro, lá dentro estava tudo coberto de pó, pilares de pedra sustentam o piso acima, pequenas plantas selvagens preenchem os espaços do chão.
Assim que encontro as escadas, subo as mesmas sempre com cuidado, não fosse o degrau partir e ficar presa num edifício abandonado á mercê de quem quer que seja o idiota que vai se aventurar num lugar como estes a meio da noite, além de mim, subo ao terceiro andar, o último, as paredes gastas e sem vida, as trepadeiras verdes a decorarem o chão e as paredes.
Não restava muito do teto, e o que restava, não iria durar, além disso, tinha um buraco gigante do mesmo, esse buraco fazia com que o edifício ficasse mais natural, mágico, pois, era por esse buraco que entrava a luz da lua, a única coisa que o iluminava.
Estranhamente, sinto-me livre, liguei a música e pus os fones, e em um segundo, imaginei um palco, fechei os olhos e comecei a dançar, não uma coreografia feita e minimamente ensaiada, mas pelo ritmo da música "Lovely" de Billie Eilish que fluía livremente pelo meu corpo, nem pensei no que estava a fazer, deixei que o meu corpo liderasse tudo, este lugar é deserto, ninguém me pode julgar por o que quer que seja que faça aqui.
Voltas e mais voltas, pelo chão gasto daquele lugar, piruetas, cambalhotas, rodas, perdi a noção do tempo, perdi a noção do espaço, a música, a dança e a sensação da liberdade tomaram controle de mim.
A música acaba, respiro fundo, deixando o ar puro e fresco da noite encham os meus pulmões, abro os olhos, estou virada para a fenda do teto, a lua continua a brilhar, mas, agora na minha direção, como um foco de luz levemente azul.
Pego no telemóvel, passaram três minutos, são exatamente 23:51, talvez devesse ir para "casa", se amanhã aparecer á frente da minha mãe com alguma olheira, ela vai saber o que fiz, não exatamente o que fiz, mas pelo menos a parte de sair de casa á noite numa cidade Nova e desconhecida. Não a censuro, eu também iria enlouquecer.
Viro-me, e a minha atenção vai diretamente para os dois globos azuis que brilham na penumbra da noite. Não, não, não, não! Este tempo todo, tinha alguém aqui!
Pego no meu casaco, visto-o e começo a correr escada abaixo, sem me importar se os degraus partem ou não, silêncio absoluto, as únicas coisas que se ouvem, são o barulho dos poucos carros que na rua a frente do edifício, e o barulho dos passos a descer a escada, os meus, e pelo que sei, os da pessoa. Está a seguir- me!
Ponho o capuz do casaco e corro mais depressa, chego ao primeiro andar, apoio-me na bancada da receção, respiro fundo, olho em volta, nem sinal da pessoa.
Consegui despista-lo, endireito-me e começo a caminhar em direção ás portas de vidro, a mais ou menos um metro de distância da porta, sinto o meu braço ser puxado, olho para trás.Um rapaz. Com uma mão na sua perna, e a outra no meu pulso, também está a ofegar, um carro passa pela rua em frente ao edifício, ilumindo por míseros segundos o local.
Ele era de estatura alta, tinha roupas escuras, como as minhas, o seu cabelo, cor de chocolate escuro, perfeitamente despenteado, levanta a cabeça, encara-me com os seus brilhantes olhos azuis.
- Tu.. - começa - quem és tu? - pergunta ainda a ofegar com os seus olhos azuis a brilhar na penumbra da noite, colados aos meus.
Livro-me da sua mão em meu pulso, e saio a correr pela estrada, mesmo conseguindo sentir o seu olhar em mim enquanto me afasto, não ouso olhar para trás.
Entro no prédio do senhor Bejamim vendo o mesmo na entrada com alguns papéis em mãos, atravesso a receção chamando a sua atenção.
- Menina Cooper? - a sua voz meiga preenche o lugar.
- Boa madrugada - digo olhando para o relógio na parede que marcava 01:09 a.m.
- O que estava a fazer lá fora a uma hora destas? - pergunta - esta cidade é tão perigosa como as outras de noite, especialmente para alguns novo nas redondezas, aconteceu algo? Precisa de ajuda? - põe os papéis em cima da bancada.
- Não se preocupe senhor Hall, ainda não tive tempo para arrumar confusões nesta cidade - digo - mas quando acontecer, o senhor será o primeiro a saber - sorrio e o mesmo também - bem, talvez a segunda, a polícia deve ser a primeira - digo com a mão no queixo vendo o seu olhar persplexo - estou a brincar.
- Ainda bem - suspira - tenho de contar alguma á sua mãe?
- Não preciso - vou em direção às escadas - boa noite.
- Boa madrugada - corrige com um sorriso.
- Exato, boa madrugada - começo a subir as escadas.
Assim que chego ao meu apartamento, pego na chave e rodo-a na fechadura, adentro no mesmo e vou em direção ao meu quarto, tomo um duche e troco de roupa, visto um pijama leve e atiro-me para a cama ficando de barriga para cima. Ponho um braço na testa, a tapar os meu olhos, e o meu outro braço por cima da barriga.
Foi um primeiro dia interessante, conheci várias pessoas, umas mais estranhas que outras, mas isso não vem ao de cima. Porém, algo me diz, que o Olhos-Azuis (nome que dei ao rapaz "mistério") e eu ainda nos iremos reencontrar, num destino não pouco distante.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro