Capítulo 16 - A largada: loja das escolhas
De volta ao quarto do prédio principal, quando Astrid estava tirando o vestido de gala, um envelope laranja berrante foi colocado sob sua porta. Ela terminou de tirar o vestido e foi de calcinha e sutiã até a porta. Abriu o envelope e leu: A competição começa logo após o café da manhã, onde a dupla irá encontrar sua primeira pista.
Ela parou para pensar. O hotel servia o café às seis da manhã. Convinha estar no salão logo que abrisse para localizar a primeira pista. Alguém bateu na porta.
–Um minuto – ela correu para pegar uma camiseta e colocou por cima do corpo. Por sorte, cobria até os joelhos.
Abriu a porta e encontrou Lucas de calça e sem camisa, balançando o envelope dele.
–Também recebi – disse ela, dando passagem para ele. – Diz a mesma coisa?
–Me passe o seu e vamos comparar – e ele verificou que estava escrito a mesma coisa.
–Estive pensando – ela começou a dizer. – Vou confirmar o horário que o salão abre para o café. Devemos estar lá assim que abrir. Se outras equipes decidirem descer depois, problema deles.
–Concordo. Mas eu já me informei. Foi a primeira coisa que fiz, quando li o envelope. O salão abre para o café às seis mesmo.
–Ótimo! – ela sorriu. – Vamos deixar tudo pronto e pedir despertador à recepção.
– Eu já pedi o serviço de despertador à recepção. – Lucas sorriu. – Que maravilha, estamos em sintonia.
–Calma aí, soldado! – ela gesticulou. – Mas eu prometo me esforçar. Nós dois precisamos desse dinheiro.
Ele balançou a cabeça, concordando.
–Bem, eu pedi o serviço de despertador para às cinco e quinze, para dar tempo de tomar banho e nos alongar.
–Alongar?
–Claro! Talvez tenhamos que sair correndo daqui como se fossemos fugitivos da justiça.
Os dois riram. – Verdade! – ela assentiu.
Lucas se aproximou hesitante, olhou para ela com carinho e deu–lhe um beijo na testa. – Boa noite!
–Boa noite – Astrid murmurou, observando–o sair pela porta. Quando já estava sozinha, balançou a cabeça. – É ruim que eu vou conseguir dormir.
Vestiu a bermuda, calçou os chinelos e pegou o caminho para a cabana. Não viu César em parte alguma. Provavelmente, ele devia estar se preparando para o longo dia de amanhã. Graças a Deus! Só o que faltava, ele ficar colado neles o tempo todo. "Mas, espera! É o que ele vai fazer daqui para frente!"
Bem, uma pequena concessão... Ele estava lhes dando uma pequena concessão.
Ao entrar na cabana, ela pensou na massagem que não fez e olhou para a banheira de hidromassagem. Decidiu que seria uma boa ajuda para relaxar.
–––
Eles não foram os únicos a entender o recado laranja de ontem. Às seis da manhã em ponto, todas as duplas estavam na frente da porta do salão, onde o hotel servia o café da manhã. Assim que os funcionários abriram, eles entraram, sem saber o que estavam procurando. Nas mesas, havia outros envelopes laranjas. As duplas correram para abri–los.
Dizia o texto: Tome o café da manhã e receberá outro envelope.
Astrid leu baixinho.
Lucas olhou para a mesa do Buffet. Foram até lá, e começaram a pegar uma ou outra coisinha. Serviram–se de café. Nada muito pesado, já que talvez tivessem que correr. Além do mais, estavam tão ansiosos que a fome evaporou–se.
O importante era se hidratar bastante. Os dois se serviram de sucos e de café preto.
Começaram a comer, chamaram o garçom, mas ele passava pela mesa e fazia que não. Lucas e Astrid entenderam que teriam que limpar tudo o que estava no prato. Por sorte, não pegaram muito. Já os argentinos, que pegaram um monte de comida, agora estavam penando e reclamando.
–Não olhe para eles – disse Lucas. – O que interessa somos nós.
Ele engoliu rapidamente o pedacinho de croissant, enquanto Astrid engolia a torrada. Os dois beberam o suco de laranja e o de manga, contidos nos dois copos. Lucas chamou o garçom, que viu os pratos limpos e concordou com a cabeça, entregando–lhes outro envelope.
As demais duplas pararam de comer por um instante – todos os olhos estavam em Lucas e Astrid. Da décima terceira posição, a dupla acabou de pular para primeira. Pelo menos na largada. Eles leram em silêncio o envelope, para não dar nenhuma dica aos demais.
Siga para a loja das escolhas, no shopping, onde deverão pegar tudo o que considerarem necessário para toda a sua jornada.
–Vamos – Lucas urgiu. Os dois se levantaram e saíram correndo.
Ele sabia que o shopping ficava do outro lado da rua, em frente ao resort. Uns quinhentos metros de corrida.
Eles seguiram para lá, com César correndo atrás deles. Logo avistaram o topo da construção. Era um shopping grande. Onde poderia ficar a loja das escolhas, dentro de um shopping com cinco andares?
Os dois atravessaram os estacionamentos divisórios até alcançarem a porta do shopping.
–Está fechado – constatou Lucas. – Claro, só abre às dez.
–Mas o supermercado abre antes! – disse Astrid. – Supermercados de shopping sempre abrem antes! Vamos entrar por ele.
Lucas concordou. De fato, o supermercado já estava aberto, e eles entraram por ali, correndo. Atravessaram o shopping deserto àquela hora. Sentiram os flashes das câmeras, vindo de algum lugar. Provavelmente, a equipe de Ricardo Casavola. Mas Sugar Boy estava colado neles.
O cara estava em forma, Lucas teve que reconhecer. E Astrid também.
Sua parceira parou na frente do mapa do shopping. – Deve ser a loja de artigos esportivos. Que outro lugar teria os itens que vamos precisar?
–Bem pensado – Lucas se inclinou para o mapa. – Quinto andar, vamos lá!
Lucas olhou para as escadas rolantes e o elevador, ambos desativados. Eles escalaram as escadas.
Do lado de fora do shopping, as duplas estavam esperando pelo horário de abertura. Até que Catarina viu que tinha gente entrando e saindo de uma porta, onde estava escrito "supermercado". Chamou o seu parceiro e os dois se afastaram de fininho, para que os outros competidores não vissem.
Madalena viu e exortou o resto dos competidores, apontou para o supermercado como um Messias aponta para o Reino de Deus.
–––
A loja esportiva estava aberta só para o Escape Game. E estavam oferecendo muito mais do que equipamentos esportivos. A produção do programa trouxe para a loja absolutamente todos os produtos que os competidores iriam precisar. Os produtos foram caprichosamente organizados em nichos. Cabia às duplas escolherem com sabedoria.
–Bem vindos – disse o apresentador Ricardo Casavola. – Cada dupla de agora em diante será acompanhada vinte e quatro horas por seu cinegrafista. Onde vocês forem, ele irá. A não ser que sejam chamados para uma redefinição de pauta. No entanto, vocês não devem se preocupar, se perderem o cinegrafista de vista. Vocês devem ignorá–lo. Será como se não estivesse ali com vocês, certo?
Os dois concordaram, cumprimentando de leve o pessoal presente com um aceno de cabeça.
–Vocês têm quinze minutos para escolher tudo o que acham que vão precisar para a primeira etapa – continuou dizendo Ricardo. – Todos os itens aqui são suficientes para todos os competidores. E vocês podem escolher nas araras também. Escolham com sabedoria.
Quinze minutos... Astrid ia seguir adiante, mas Lucas a segurou pelo braço. – O que acha de olharmos juntos item por item? Assim, se um esquecer de alguma coisa, o outro lembra.
Ela concordou e eles foram conferindo a mesa longa cheia de coisas. Dinheiro, água, roupas próprias para esportes radicais, sapatos apropriados, utensílios. Havia uma quantidade igual de cada item, para cada competidor. Quinhentos reais num bolo caprichosamente enrolado, para a etapa toda.
Astrid pegou uma pochete e colocou seus documentos e o dinheiro juntos. Lucas também pegou uma pochete e indicou o provador. Os dois selecionaram as peças de roupa e foram provar, inclusive, as meias e as peças íntimas. Astrid levou em consideração o que Lucas havia dito sobre top inteiro. Pegaram tênis e botas de escalada, escolhendo o tamanho dos pés e calçaram para ver se serviam. Escolheram as calças e as blusas térmicas que planejaram trazer de casa, mas não puderam. Não tiveram vergonha de provar a roupa ali mesmo, no provador, um de frente para o outro.
Saíram vestidos dos provadores e seguiram escolhendo os demais itens: canivetes, lanternas, baterias, óculos de sol, mochilas resistentes, garrafas de água, kit higiene, kit primeiros socorros...
–O tempo acabou. – Anunciou Ricardo. – Passem seus itens pelo caixa, guardem em suas mochilas e recebam o envelope de nosso querido Roy.
Roy acenou para eles, com um sorriso.
As outras equipes foram chegando, quando eles começaram a passar "as compras", e receberam as mesmas instruções de Ricardo.
Os sapatos que sobraram tinham um número a menos. O 45 de Lucas. Os demais competidores ficariam com escolhas limitadas. E, possivelmente, teriam que gastar do dinheiro recebido para toda a competição, só para comprar sapatos que coubessem em seus pés. Ele estava pensando nos dois americanos e soltou uma risadinha.
Assim que terminaram de passar os itens, a moça do caixa entregou a nota para Lucas, que a repassou para Roy. Enquanto isso, Lucas e Astrid enfiaram tudo na mochila. Assim que passaram a mochila pelos braços, receberam de Roy o novo envelope.
Astrid rasgou o papel e os dois leram.
Conheçam um ao outro. O primeiro jogo ocorre num Escape Room de aventuras radicais. Sigam para o endereço abaixo e cumpram a tarefa que lhes será oferecida.
Lucas e Astrid correram para fora do shopping, com César nos seus calcanhares.
–Táxi? – sugeriu Astrid, olhando para o movimento intenso de veículos e pessoas nas calçadas.
– Não sei. Vamos gastar e corremos o risco de ficarmos presos no trânsito. – Ele olhou ao redor e apontou: – Veja! A estação do metrô!
–Tem razão, é muito mais rápido – ela concordou.
Os dois correram para as escadas do metrô subterrâneo. Várias pessoas viravam a cabeça para olhar aqueles dois carregando pesadas mochilas de montanhismo, usando shorts e botas de escalada. Devem ter concluído que eram estrangeiros.
Mochileiros estrangeiros.
Mas daí alguém apontou para o cinegrafista e disse: "Estão filmando o Escape Game, galera! Que massa"!
Lucas se aproximou do guichê e perguntou sobre o endereço no papel. A moça, meio intimidada por causa da câmera, acabou explicando qual o destino que deveriam pegar, para chegar lá.
–É mais rápido de metrô, ou de táxi? – ele indagou, com um sorrisinho cativante. Ela acabou cedendo ao sorriso e explicou: – Neste horário, o melhor é ir de metrô mesmo.
Lucas agradeceu e puxou uma Astrid distraída pelo braço, em direção à plataforma de embarque. Ela olhava para tudo maravilhada. Nunca tinha estado numa cidade daquele tamanho.
O trem chegou e eles entraram.
Três minutos depois, estavam a caminho do seu destino. O trem passou por três estações até que anunciassem a sua. Saltaram e prosseguiram em direção à superfície. Lá chegando, Lucas parou para se localizar, junto às placas das ruas. Astrid apontou para a fila de táxis. – Vou perguntar.
Ela se inclinou pela janela, mostrou o papel e o homem, embora mal humorado, acabou explicando. Ela voltou para junto de Lucas. – Temos que andar dois quarteirões para lá.
–Então, vamos.
Eles atravessaram a rua, com o Sugar Boy logo atrás, atraindo a atenção dos pedestres.
"Jesus, nunca pensei que isso fosse me acontecer!" – Pensou Astrid, mortificada. Eles caminharam até a placa que indicava o endereço.
Olharam ao redor e viram a fachada do estabelecimento. Era um prédio enorme, pintado de preto, com os dizeres: – Escape Room Paulista. César deu um zoom no nome do estabelecimento, para fazerem o merchandising depois. Ele sabia que a cidade tinha várias escape rooms e até escape hotéis.
Ele baixou a câmera para filmar Lucas e Astrid se aproximando do guichê.
–Somos do... – começou a dizer Lucas
–Nós sabemos – interrompeu a mulher, sorridente. – Estamos esperando por vocês.
"Claro que estão", refletiu Lucas, contente por serem os primeiros.
Dois homens surgiram e os conduziram para dentro do prédio preto, mas nunca poderiam imaginar o cenário que encontrariam lá dentro.
–––
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