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Dia 28. Mês 1. Ano 2.

Eu poderia lavar os instrumentos das experiências químicas ou espanar os grãos de poeira acumulados nos sistemas de refrigeração. Poderia até mesmo me humilhar no serviço dos engenheiros, alimentando as caldeiras do módulo com a substância e terminar o expediente fedendo a óleo. Mas o Mestre era um sujeito sem compaixão. Tinha que escolher a pior função dali para mim: lidar com a sujeira de outros humanos.

Eu havia sido designado à limpeza dos corredores de acesso aos lavatórios.

A vista estelar parecia destacar todo o resto metálico no chão endiabrado de sujo. Minhas mãos endurecidas de raiva passavam o esfregão sem muita coragem, e eu observava ocasionalmente aquela paisagem afora. Me dava uma sensação de estar faltando algo, em algum lugar...

Juro que eu tentava ignorar os comentários dos outros. Porque sabia que se me concentrasse neles, minhas horas nos serviços extras aumentariam. Eu era obrigado a escutar os burburinhos altamente chatos se prendendo como cola na minha cabeça.

— É o Julian esquentadinho! Ele combinaria bem com as caldeiras, não acha?

— Sério? Com certeza ele explodiria a nave toda no primeiro surto!

Dois sujeitos com toalhas amarradas na cintura passaram rindo, deixando um rastro de água espumada bem no local que havia acabado de limpar. Um choque perpassou por minha boca quando espremi os dentes.

— Um Executor com roupas de faxineiro! Acho que o Mestre deveria dispensar de vez ele da função — uma das cientistas mais velhas comentou.

— Né? Imagina! É embaraçoso para todos nós... Ainda pior do que o Provedor dele — respondeu outra, torcendo a toalha no cabelo molhado.

Por sorte desses filhos da puta, eu segurava um cabo de plástico que não podia fazer tanto estrago quanto as minhas lâminas.

Sei lá quantos minutos foram, mas muitos deles passaram durante a troca de grupos para a próxima sessão de banho. Quando o fluxo de idiotas terminou, podia ver meu rosto brilhar de vermelho no metal da parede. Meu braço ansiava por bater com aquele maldito esfregão em qualquer lugar. Mas eu tinha noção de que exatas três câmeras vigiavam aquele ponto do corredor. Ah, e o Mestre iria gostar da minha explosão. Não ia dar esse gostinho a ele.

Depois de um tempo, cedi. Joguei o balde junto do esfregão para o lado e caí sentado na extensão do corredor. Não limpei o chão o suficiente e pouco me importava. Era normal os espaços estarem sujos a cada segundo onde existisse um humano. Um maldito hábito terrestre tragado para fora do planeta.

Avistei com os olhos caídos alguns meteoritos flutuantes no mar vasto da escuridão do universo. Muitos achariam a vista incrível, fenomenal ou qualquer coisa além da realidade mundana. E sim, toda a tripulação que passara por mim, levando consigo suas toalhas de banho e sabonetes, deixava escapar suspiros ou perdia tempo encostados à camada de vidro.

Aquela vista sem um limiar, levada a um mar escuro e infinito, apenas me causava uma profunda sensação de aperto e terror. Depois de todos aqueles meses, eu havia me tornado um mero ser insignificante, como se eu mesmo fosse um miserável Provedor, o que era meia-verdade: meu único trabalho (o principal, aliás) era induzir dor num corpo e arrancar a preciosa substância. O processo dependia ativamente de mim.

É o que todos somos. Fazemos parte do processo.

Me levantei cambaleante e andei até o meu dormitório, pelos caminhos mais desabitados possíveis — no caso, a ponte de tubulações e de fiação elétrica. Havia por ali uma pessoa, um dos mecânicos, no final da passagem. Me viu uma única vez, o rosto endurecido que havia travado o meu corpo. Então ele continuou pela trilha, passando por mim como se eu nunca tivesse estado ali.

Insignificância.

A imagem de Rinno como um então engenheiro me veio à cabeça. Fazia tanto tempo que o havia visto de uniforme que aquela imagem já se preservava junto de muitas outras que fizeram parte da minha vida na Terra.

Rinno, um dos mil Provedores daquele turbulento Ano 2. O meu Provedor, que morreria após extrairmos toda a substância Dorphicus de sua massa cerebral. Talvez ele ganhasse uma placa em honra ao sacrifício; um mimo que tomaria dele e dos outros mártires o esquecimento.

E quanto a mim? O torturador? É importante ser lembrado como eles?

Era provável que o Julian das primeira semanas dissesse que sim. Aquele adulto quebrado, que ainda resquisciava aspectos de um estudioso de biologia e filho de um renomado comandante. Não esperariam menos de mim.

Mas após o Motim, muitas coisas mudaram. Inclusive, a imagem que tinha de mim mesmo.

Adentrei o cubículo do meu dormitório ainda com a cabeça anuviada de coisas. Caí na cama sem esforço algum. Não podia dizer o mesmo sobre a minha mente, que se recusava a desligar.

E assim as horas passaram, eu observando a psicodelia de manchas escuras quando apertava com força minhas pálpebras. Até que se tornou insuportável estar confinado naquele lugar. Antes que eu pudesse prever o compromisso, já estava me levantando para lavar o rosto. O alarme soou enquanto a água gelada caía dentro dos meus olhos e eu ria, escapando barulhos histéricos da garganta.

Fechei os olhos para a água e só me dei conta da realidade bem depois.

Mais tarde, Layane passou por mim a caminho do salão de reuniões. Sem falar e sem olhar, mas com uma forte presença à minha frente. Havia perdido a raiva por ela nas últimas semanas, embora continuasse persistente na minha ideia de ficar longe dela; não que ela quisesse o contrário também.

O que quero dizer é que não sentia mais vontade de socar a cara dela, explodir seu corpo e espalhar os miolos no vácuo do espaço. Só havia um vazio considerável, livre de emoções empáticas e que talvez fosse impossível de preencher.

Mas o que era um novo furo quando se já tinha uma enorme cavidade? Era estranho admitir minha submissão aos fatos, mas parecia que meu cérebro tinha vontade própria em relação ao manuseamento do botão de esquecer.

Minha cabeça desapegou dessas ideias melancólicas quando vi ele.

O Mestre nos recepcionava nas portas duplas do salão de reuniões. Layane passou por ele e o cumprimentou amigavelmente — talvez exagerada demais. Não os observei diretamente para ver no que daria.

Chegou a minha vez. Prestei um aceno de cabeça cuidadoso para o Mestre enquanto andava. Um dispositivo na porta coletou minha biometria e um pouco de sangue; este último escorreu viscosamente ao breu dentro do tubo de coleta, que foi enroscado com uma tampa e engolido pelo equipamento. Era necessário passar por exames preditivos de doenças, principalmente no meu caso, que tinha contato direto com o sangue impuro de Provedor.

Demorei um pouco em pé, longe das portas, observando o salão de reuniões, que antes do Motim havia servido para exposições dos estudos científicos. Se entrei naquele salão umas cinco vezes enquanto meu pai vivia, era muito. Naquele momento, talvez fosse a vigésima vez que me metia no espaço comprido e meio abafado. E ainda não havia me acostumado.

Sempre foi desconfortável entrar ali; era o mesmo espaço meticuloso e apto para conferências, nada mudara fisicamente, mas eu sentia nele a atmosfera sombria — espalhada por todo módulo — multiplicado por mil. Devia ser pelo espetáculo assombroso que o Mestre gostava de aprontar.

Foi sentindo o perfume suave de Layane se acendendo na minha mente que eu retornei, mais uma vez, ao mundo. Ela passava a uma distância segura de mim, indo ao mais oposto que pudesse chegar da minha posição atual.

Me sentei numa das cadeiras da fileira do meio, metido entre outras dezenas de Executores. Pareciam todos casuais, normais àquela situação. Se eram perfeitos cumpridores de metas, podiam ficar tranquilos.

O meu caso? Claro que não. Isso ficou explícito para todo o público quando o Mestre tocou o primeiro slide da apresentação. Uma ridícula foto de identificação minha ao lado de informações das últimas semanas como Executor. Também haviam dados sucintos de Rinno.

Após uma breve introdução, o Mestre iniciou o seu divertimento comigo.

— Julian Suerde. Executor superficial, ordem básica: trabalha com a indução de dor em cortes do tecido externo no corpo — parou, olhando para as pessoas em volta da mesa. A postura estufada lembrou-me rapidamente do distante período em que ele comandava algumas aulas nossas de ciência orgânica. — Todos aqui devem saber, pois tiveram preparação adequada para isto. Claro, na teoria.

Alguns dos outros riram à parada sorridente do Mestre. O cabelo loiro e ralo dele brilhava com a reflexão da luz pálida acima. Por mais que eu estivesse terrivelmente apavorado, tinha que admitir: era impossível não gostar dele.

O Mestre ergueu as mãos e silenciou a sala.

— Então, quantos litros de Dorphicus um processo de ordem básica deve gerar semanalmente?

A pergunta causou uma comoção de sussurros. Era o ápice do ridículo, mas eu não podia deixar outro alguém responder por mim. Me pus de pé, em volta do mar de cabeças aleatórias.

— Por volta de 25,92 litros — eu disse, a voz vazia de humor. Os murmúrios aumentaram de tom, e o Mestre não fez simplesmente nada. Em pouco tempo, todos se calaram.

— Exato, Julian. Exato.

Ele buscou o bastão para apontar alguns dos dados no slide. Sublinhou a linha de produção semanal ao lado da foto esbranquiçada de Rinno.

337,84 litros. Puta que pariu, é meu resultado total?! Aquilo era muito!

— Isso é algo bom? — ele me perguntou.

Balancei a cabeça, desviando o olhar assustado daqueles dados. Impossível eu ter chegado naquele nível em... em tão pouco tempo!

— Não, Mestre. Eu... eu excedi a meta.

— Excedeu. Por qual motivo?

— Fui irresponsável e... — Me faltou palavras, e olhar em volta, para os outros Executores sérios, não ajudou em nada. Virei o rosto da cara presunçosa do Mestre antes que acabasse em Layane; sabia que ela devia estar contendo um sorrisinho de vitória. — E-exagerei em alguns dos... cortes.

— Solução?

Suspirei numa escapada de ar que pôde ressoar em toda a sala. Não havia solução. Me calei. Meu estômago fervia enjoado naquele espaço aberto cheio de olhares, entretendo-se da minha exposição vergonhosa.

Droga! Droga! Fiquem quietas, entranhas! Eu sentia o líquido quente subir pelas paredes de músculos dentro de mim. Iria vomitar a qualquer momento.

O Mestre falou.

— Eis a solução. Permaneça no ritmo padrão por mais três meses.

— O quê? — Minha indignação escapou com um soluço quente e ácido. Segurei a mão em cima da barriga. — Senhor, e-eu posso reduzir a sessão em... em algumas horas e economizar mais litros de Dorph...

— Você é malandro, hein, Julian? Não há como salvar o progresso de seu Provedor. Sabe, eu estou decepcionado com você. Penso em até afastá-lo da sua posição atual e...

Era uma opção. Sair daquele cargo maldito que me assombrava desde o início do novo comando. Eu queria isso. Claro que queria.

Mas eu tinha que me manter em jogo. Não só por mim, mas pelo meu pai também. Não ia deixar ser apagado por meras consequências imprevistas.

— Por favor, isso não, Mestre.

O sorriso que ele fez ao me ouvir iluminou-se mais que seu cabelo claro à luz das lâmpadas.

— Então, proponho que siga com o combinado: duração padrão dos turnos. Não deve restar muita coisa no pobre Provedor mesmo.

— N-não há como, senhor. Peço que reduza ao menos alguns minutos de sessão. Eu... é... eu já u-usei metade do estoque de alucinógeno. É praticamente impossível!

— Ache um modo de tornar isso possível — me cortou duramente. — Dois terços do Dorphicus total do Provedor Rinno foram desperdiçados. A falha disso foi unicamente sua.

— Mas, Mestre — vislumbrei um levantar de mão de Layane do outro lado do grandioso salão. Sua expressão não era de felicitação. Me arrepiei, e o tremor nervoso no meu estômago se acentuou. Ela não estava rindo de mim? —, e quanto ao que sobrar da produção do Provedor? Se o Julian permanecer nesse ritmo, ainda haverá desperdício.

Mesmo que fosse uma pergunta incisiva, o Mestre abriu os braços para ela, satisfeito.

— Alguém arrisca um procedimento correto do que deve ser feito?

O show continuou. Eu não prestava tanta atenção. O caos dominava meu interior com aquela queimação e a exposição de pensamentos. Só no último minuto reagi, socando o plástico da cadeira com tanta força que uma fissura atravessou.

Pare! Não faça isso!

Não ia funcionar. Era esforço perdido.

— E se eu... matasse ele?!? — gritei explosivo para o Mestre, numa ameaça que não soou nada como uma ameaça. Era só um vergonhoso lamento agudo, palavras acumuladas devido aos meses de estresse.

Minha garganta evaporou um ar ácido. Tampei a boca.

— Aí você ficaria sem um trabalho. — O Mestre cruzou os braços. —  Estamos em outra sociedade, Julian. Você é esperto. Sabe o que fazer e gosta do próprio conforto.

Meu olhar parou em Layane. Ainda de pé, mas com o rosto baixo. Não parecia querer sugerir mais nada à bagunça que criei.

— Sua singular massa cerebral já martelou uma resposta. E, diante das opções ofertadas, só uma permite o seu conforto — concluiu minha pena.

O sorriso de canto de boca dele foi a gota d'água.

Saí correndo pela porta, segurando a mão na boca inflada. Corri, corri e corri sem perceber nada ao meu redor. Até que encontrei uma lixeira no canto de uma coluna sombruosa.

Abri a boca nela e pus o almoço mal digerido para fora. Ardia pra caralho. O fogo subia pelo meu nariz e fazia meus olhos lacrimejarem.

Tomei o fôlego, arrastando a mão pelo metal liso da lixeira.

Não costumava pedir algo a seres astrais, mas fechei os olhos e desejei uma prece a quem quer que fosse generoso o bastante.

Por favor, acabe logo com isso!

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