estrofe 07
DOIS MESES DEPOIS.
— Vinte minutos para entrar no palco! — Avisou um staff ao trio que estava terminando de se aprontar dentro do camarim.
De fora da pequena salinha gritos ecoavam pelas paredes, entrando no ambiente que eles estavam. O local onde estavam era pequeno, frio pelo ar condicionado e meio abafado pela falta de janelas, mas o trio — agora denominado 3racha — não sentia nada disso, nem frio, nem claustrofobia pela falta de ventilação, somente os gritos das pessoas lá fora, berrando seus nomes e o nome do trio que estava prestes a ter sua tão esperada estreia.
Em um canto, de frente para um espelho iluminado por lâmpadas e uma bancada cheia de maquiagem e produtos de beleza, estava Jisung terminando de arrumar o penteado e prestes a acabar a maquiagem. Christopher estava ao seu lado de olhos fechados, enquanto uma das maquiadoras terminava de iluminar seus olhos com um pincel delicado. Changbin andava de um lado para o outro, já penteado e com maquiagem pronta, lendo seu caderno com a letra de Zone, a música de debut. Dizer que eles estavam nrrvosos seria eufemismo, Jisung não conseguia parar de bater o pé no chão, Chris girava o anel ao redor do dedo, um tique que aderiu ao decorrer do tempo e Changbin girava em círculos, cantando baixinho a música apenas para não esquecê-la na hora.
Dois meses era muita coisa, eles tiveram tempo para praticar as sete músicas do álbum Mixtape, e se sentiam prontos para subir lá em cima e dar um show. Mas ansiedade era algo comum, certo? Todos se sentem nervosos quando precisavam fazer algo, mesmo que esse algo seja algo do cotidiano. Digo, eles eram cantores há anos, Christopher já tinha enfrentado plateias enormes sozinho, Changbin nem se fala, e apesar de Jisung ser considerado um novato, ele estava na indústria há pelo menos uns três anos, lidar com multidões era algo comum para eles, mas se sentiam prestes a vomitar de ansiedade. Nunca era fácil, e talvez nunca se tornasse fácil mesmo.
Changbin gostava dessa pressãozinha no começo dos shows, de ouvir seu nome ser gritado por várias pessoas, se sentia importante, válido e entendido. Aquelas pessoas tinham ido até ali para vê-lo, ver eles três, isso era bom, mesmo que seu estômago dissesse que ele estava prestes a encarar um leão. Maldito sistema humano e seus medos bobos. Os gritos não paravam, nem por um segundo, dava para ouvir alguém animando as pessoas lá em cima, e às vezes elas cantavam o trecho de alguma música do álbum deles, para aquecer a plateia eufórica.
As duas maquiadoras saíram logo depois de terminar de arrumar os outros dois artistas, deixando o trio ter um momento só para eles antes do início do show. Christopher começou a aquecer a voz em um canto, repetindo os aquecimentos que aprendeu com Jisung. Durante os últimos meses, eles tiveram tempo para se conhecerem e aprender coisas uns com os outros, seja Jisung mostrando seus truques de aquecimentos que aprendia nas aulas de canto, ou Christopher os ajudando com o inglês. Até mesmo Changbin, mesmo meio carrancudo no início, começou a se comportar melhor, sendo menos indelicado com o australiano e o tratando um pouco melhor, mas velhos costumes nunca mudam do dia para a noite.
Era difícil às vezes, eram três homens com opiniões musicais e pessoais muito diferentes, principalmente Changbin, sendo tão cabeça dura quando queria. Jisung às vezes gritava com eles, e Changbin também perdia a cabeça, igualmente a Christopher, mas depois de passar vários dias juntos trabalhando nas faixas do álbum de estreia, eles se entendiam e seguiam em frente. Pedir desculpa era meio complicado, mas tentar às vezes era necessário. Certa vez, Christopher percebeu que a Coreia do Sul não era tão solitária como era no seu tempo de garoto, de vez em quando Jisung dormia na sua casa ou ele dormia na dele para trabalhar até tarde em alguma música, acostumados a levar trabalho para casa. Uma vez, somente uma vez, Changbin permitiu que eles ficassem no seu apartamento, e foi uma noite tranquila e confortável.
Mesmo que dois meses parecessem pouco, eles cresceram juntos durante esse tempo, ficaram um pouco mais próximos e confortáveis com suas presenças, seja na frente das câmeras ou fora delas. Christopher ainda tinha aquele sentimento por eles, tentava ignorá-lo, mas quando se via numa situação caseira com os dois, pensava neles como mais que somente seus parceiros de trabalho, e aquilo machucava, porque talvez nunca fosse possível, mesmo que ele quisesse muito.
— Cinco minutos, meninos! — Desta vez quem apareceu pela porta foi Brian. — Se apressem!
O trio se olhou por segundos, conversando em silêncio. Jisung se aproximou dos dois, os olhando como se hoje fosse o último dia deles na terra, como se o impossível estivesse prestes a acontecer — ele sempre gostou de ser um pouco intenso demais — e os abraçou pelo pescoço. Os dois, num abraço meio desconfortável e torto, mas cheio de compreensão. Estavam juntos nessa, tudo ficaria bem. De um lado, Changbin o abraçou de volta, meio envergonhado por estar perto demais, ele laçou sua cintura com o braço, o puxando. Christopher acariciou o cabelo do Han, devagar para não desmanchar o penteado nem bagunçar demais.
Estava na hora.
—— 🎶 ——
O show teve fim já pela madrugada. Ao se despedir dos fãs, o trio pediu para eles voltassem para casa em segurança, e assim deixaram o palco numa salva de palmas e gritos. Todas as músicas foram bem recepcionadas por aqueles que assistiam as apresentações, o que trouxe uma alegria sem tamanho para eles. No meio das noites em que passaram acordados sem conseguir dormir bem, Jisung gostava de compartilhar por meio de uma ligação de vídeo com os outros dois parceiros suas preocupações, tinha medo que todo o esforço deles não fosse bem recebido, ou que seus esforços não fossem reconhecidos. No fim, tudo deu certo, era motivo para comemorar.
Jisung ainda estava energizado quando desceu do palco e caminhou de volta saltitante até o camarim pelo backstage, Changbin parecia — e estava — exausto, igualmente a Christopher. Era quase duas da madrugada, e depois de dois meses de muita insônia e ansiedade, Christopher finalmente sentiu sono. Ele sentia que podia dormir por dois dias direto. Eles entraram no camarim vazio, prontos para se trocar e ir embora com Younghyun, quando o mesmo entrou na sala com uma garrafa de champanhe e quatro taças de vidro.
— Trouxe para comemorar. — Ele disse também alegre pela noite. — Não digam ao chefão que estou dando bebida a vocês, acho que posso perder o emprego por isso.
— Da minha boca não sai um pio. — Changbin afirmou, ajudando o manager a servir os copos e distribuir.
— Foi um ótimo show hoje, meninos. Estou orgulhoso. Vocês brilharam. — Brian se serviu do último copo, enchendo de champanhe até a borda. — Um brinde! Ao 3racha! — Ele ergueu o copo feliz demais para conter o tom de voz.
O trio se entreolhou, questionando se Younghyun já não estava bebendo antes deles desceram do palco. Mas que importância isso teria agora? Jisung passou um dos braços por cima dos ombros de Changbin e o puxou para perto, erguendo o copo na mesma altura que Brian erguia. Christopher e Changbin fizeram o mesmo, compartilhando um sorriso cansado.
— Ao 3racha! — Eles gritaram juntos no meio daquela sala vazia de paredes brancas com luzes e espelhos por toda parte.
—— 🎶 ——
Às três e meia o trio já estava no quarto de hotel que a empresa tinha reservado para eles, finalmente descansando. Christopher terminou o banho e se vestiu pelo banheiro, encarou o próprio semblante cansado e sorriu para si mesmo, satisfeito com tudo que tinha feito hoje. Satisfeito consigo mesmo, mesmo que por um segundo se tocou que não estaria sozinho naquela noite.
Seu coração parecia mais barulhento a cada segundo, se isso fosse possível, tinha medo de deixar a verdade vazar, porque nunca foi bom em esconder o que sentia, ou falava por conta própria ou deixava claro com suas ações. Nunca foi bom em esconder esse tipo de coisa e nunca fez tanta questão, era bem resolvido com seus sentimentos, e sempre foi muito direto, mas agora pareciam difícil demais, não era somente uma paixonite por uma pessoa aleatória que conheceu fora do seu ciclo profissional, eram seus colegas de trabalho. Seus parceiros. Queria que aquele sentimento fosse embora? Não sabia dizer, porque sentia que não, não queria que fosse. Gostava dele, gostava deles, dos dois, de Jisung e Changbin, do jeito deles, das suas vozes, dos seus corpos, das suas personalidades, do jeito que eles o tratavam como alguém normal e não a estrelinha da mídia. Christopher se sentia especial por gostar deles, por tê-los por perto, por conseguir amá-los, mesmo que em silêncio.
Mas até quando seria capaz de suportar o silêncio? Seu próprio silêncio parecia ensurdecedor. Não era assim, nunca foi. Pensar demais sobre seus sentimentos não era algo do seu feitio. Era do tipo de fazer acontecer, e não de deixar as inseguranças falar mais alto. Mas amar infelizmente também era sentir medo, principalmente sendo quem são.
Christopher decidiu sair do banheiro, era tarde, finalmente sentia sono, precisava aproveitar isso. Ele caminhou pela penumbra do quarto espaçoso que dividiam, tinha três camas de solteirão, uma televisão presa a parede bem em frente as camas, as paredes eram azuis celestial e tinha uma decoração cinza, bem detalhista. O abajur ao lado da cama de Jisung se mantinha ligado, mas ele dormia pesadamente na cama do canto direito, perto da varanda, que a propósito estava aberta. Chris ainda possuía uma toalha ao redor do pescoço quando saiu descalço até a varanda, à procura de Changbin que não estava na cama. Nas últimas semanas, descobriu que Changbin também tinha insônia, e às vezes quando o Seo era obrigado por Jisung a dormir na casa de Chris, eles sentavam em silêncio na varanda da sua casa e ficavam lá por horas a fio, em completo silêncio, apenas contemplando o céu e às vezes se olhando no meio da noite sem ter coragem de iniciar um diálogo.
Quando pisou fora do quarto, lá estava ele, vestindo uma calça xadrez cinza e preta e camiseta de mangas preta, Changbin olhava para o céu estrelado, como se esperasse por respostas. Christopher se arrastou devagarinho para perto, numa distância confortável, se apoiou no parapeito e como ele, encarou a lua, atrás de respostas do que poderia fazer com aquele turbilhão que sentia. Fechou os olhos por um segundo, e finalmente, em silêncio depois de horas, deixou que a brisa da noite abraçasse seu rosto e invadisse sua mente. Precisava de respostas, precisava que alguém lhe dissesse o que fazer com tudo que carregava nas costas.
— A noite parece bonita hoje. — A voz repentina de Changbin o fez despertar de um transe mental. Estava genuinamente surpreso, não era do feitio do rapaz ao lado iniciar um diálogo, e talvez nem fosse realmente um diálogo, mas Christopher não podia perder a oportunidade. Pela primeira vez, Changbin estava falando primeiro, falando com ele a sós. Finalmente. Chris tentou conter a emoção, limpando a garganta numa tosse fraca.
— É, faz tempo que não vejo tantas estrelas no céu.
— A poluição visual em Seul às vezes é deprimente. — Ele respondeu e Chan quis gritar em euforia. Eles estavam conversando mesmo. — Sempre quis apreciar mais Busan, mas o máximo que podemos é observar o céu daqui de cima. — Changbin olhou para a estrada quase vazia lá em baixo, vez ou outra passava um carro devagar pela rua mas era só isso, era muito tarde para estar tão movimentado.
Christopher quis segurar na sua mão e na de Jisung e sair noite adentro. Sair andando pela rua com eles ao seu lado, ir em bares, lanchonetes, cinema, aproveitar tudo que aquela cidade proporciona, mas sabia que em algum lugar lá embaixo tinha um paparazzi ou jornalista, prestes a flagrar algum deslize seu ou dos seus parceiros. Não podiam arriscar.
— Sabe — Changbin novamente chamou sua atenção, a voz tão mansa após toda agitação da noite. — Eu nunca gostei de você.
— Você sabe mesmo como machucar os sentimentos de alguém. — Disse numa falsa indignação, que arrancou uma risadinha de Changbin. — Nunca entendi porque você não gosta de mim.
— Tenho meus motivos particulares. — Sempre tão misterioso, Christopher pensou. — Mas você me fez abaixar um pouco a guarda. — Disse baixinho, sem olhar para ele, preferindo erguer o rosto na direção do céu e fechar os olhos, a brisa bagunçado os fios negros do seu cabelo.
Christopher não tinha ouvido direito o que ele disse, estava ocupado encantado com a natureza tranquila que ele parecia emanar. De repente, parecia que Changbin tinha parado de tentar ser aquele temível rapper que todos tinham receio de conviver, parecia que a barreira entre eles tinha caído, mesmo que fosse poucos tijolos. Mas foi um avanço. Christopher gostava de pequenos avanços, significava que eles estavam criando laços e ele era alguém que tinha poucas pessoas, mas queria ter Changbin. Como também queria ter Jisung.
— O que vocês estão fazendo aí? — O dito cujo surgiu atrás deles, encostado no batente da porta corrediça de vidro, de braços cruzados e empacotado no seu casaco grosso verde água. — Não estão brigando, né?
— E quando nós brigamos? — Christopher se fingiu, virando na direção dele.
— Algumas horas antes pra decidir quem iria na frente com o Younghyun hyung. — Isso era verdade. — É tarde, são mais de quatro da manhã, temos um monte de compromissos mais tarde, vamos dormir. — Ele andou meio passo com a barra da calça moletom que vestia arrastando pelos pés, agarrando a mão deles num aperto meio frouxo pelo sono que tinha. — Durmam comigo. — Jisung pediu num dengo costumeiro. Sempre ficava assim quando queria alguma coisa ou quando estava com muito sono.
Eles o seguiram para dentro, convencidos pelo rapazinho e seus olhos cansados. Chris fechou a varanda e deitou no pequeno espaço que tinha no canto esquerdo da cama de solteirão, com Jisung no meio e Changbin na outra ponta. Virou quase um costume eles dormirem juntos de vez em quando, desde o dia do incidente no estúdio. Na primeira vez que dormiram no apartamento de Changbin e descobriram que o local só tinha um quarto com cama, eles se amontoaram no colchão e dormiram uma noite meio turbulenta pelo incômodo e desconforto de dormirem juntos pela segunda vez. Ao decorrer das ocasiões, o costume surgiu, seja dormindo juntos na casa de Jisung porque lá também não tem mais de uma cama e o sofá é péssimo, ou até mesmo na casa de Christopher.
Era comum agora para eles quando Jisung encolhia as pernas e abraçava um deles para usá-lo como urso, e era ainda mais comum Christopher acariciar seus cabelos enquanto os dois rapazes caiam no sono. E a comodidade da situação deixou Changbin confortável para abraçá-los enquanto dorme, ou passar a perna por cima do corpo de Jisung e até mesmo fazer carinho no braço de Christopher durante o breu da noite. Talvez ele fizesse isso porque sentia que Christopher não sabia que era ele, mas o rapaz sabia, sabia muito bem, conheceu todas as manias deles durante os últimos meses, conheceu suas manias e costumes. Sabia que Jisung só dormia bem se abraçasse alguém, ou alguma coisa, e que Changbin gostava de fazer carinho enquanto pega no sono.
Naquela noite, Jisung não se encolheu e Changbin ficou virado de costas, evitando os dois. Chan estranhou, e tentou buscar algum sinal nos olhos de Jisung. Mas ele o olhava de volta, intenso e quieto, as pílulas brilhando pela luz da lua atravessando o vidro da porta corrediça da varanda. Estava hipnotizado, como um pirata que tinha caído no canto da sereia. Jisung se aproximou de repente, uma das mãos na bochecha de Christopher e o beijou na boca, rápido, trêmulo e temeroso. Tinha gosto de creme dental e enxaguante bucal, mas era geladinho, e os lábios dele eram meio ressecados, mas não de um jeito ruim. Ele o deu um selinho, a mão ainda no seu rosto, e o encarou daquela forma intensa antes de se virar e abraçar Changbin pelas costas, o deixando deitado olhando para o teto desnorteado.
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