XXXVII -Riley
Riley foi arremessado em cima da irmã, passando por cima da mesa que dividia os bancos onde se sentavam e fazendo com que ele batesse a cabeça com força no ombro de Alícia. Um líquido quente começou a escorrer por sua narina esqerda e ele limpou com as costas da mão. Lilian parecia estar tonta por ter batido a cabeça e Dave tinha um corte acima do olho direito. Ajala estava deitada no chão, possivelmente desacordada e Tyler massageava o ombro com uma expressão de dor. Alicia resmungou e abriu a boca vagarosamente, revelando uma poça de sangue e saliva que se acumulava em cima de sua língua. Algumas crianças começaram a falar alto ou até chorar.
O ônibus tremeu. Parecia que algo o havia empurrado do lado de fora. O barulho era da lataria sendo amassada e algo rosnou.
-O que está acontecendo? –Riley se levantou de súbito e foi surpreendido por uma tontura monstruosamente forte.
Mais um rosnado. Desta vez bem mais alto. A janela de Tyler foi estraçalhada e mais pessoas gritaram. Riley gritou também.
Um animal que provavelmente um dia fora um belo tigre pulou pela janela, quebrando-a e aterrissando na mesa que Tyler e Ajala dividiam. O bicho parecia um tigre zumbi. Tinha todos os contornos que um tigre deveria ter, mas a pele estava caíndo aos pedaços, esbranquiçada, cheia de fungos em alguns pontos e faltando em outros, onde o esqueleto do animal aparecia. As patas eram puramente ossos e unhas enormes. Ele também tinha um dos olhos faltando. O animal olhou bem na direção de Dave e Lilian e rosnou com ainda mais raiva.
Num movimento desesperado, Tyler usou seu braço que não estava machucado e seu sapato, e atacou a cabeça do animal com uma força inesperada. Sem perder tempo, Alícia pegou Ajala pelos ombros e começou a arrastá-la para a saída do veículo. O animal não pareceu nem um pouco contente com as atitudes dos dois. Um garoto que estava sentando bem atrás de Ajala se jogou em cima do tigre zumbi e usou o próprio cotovelo como arma. Riley correu para ajudar a irmã a salvar a pequena indiana. O animal rosnou mais uma vez e o barulho de uma lâmina cortou o som das pessoas desesperadas. O bicho se levantou e arrahou o menino que tentara ajudar. Dave usou Mata-Touro para atacar o pescoço do animal antes que este pudesse tentar machucar mais alguém.
A professora de Artes da Terra, Bennu, saiu da cabine do motorista com o nariz claramente quebrado e parou para encarar a cena. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, um aluno no fundo do ônibus disse:
-Senhora Wills, temos um problema –enquanto apontava para a janela.
Todos se viraram e andaram até as janelas do lado esquerdo do ônibus. Riley ficou à beira do pânico. Havia um exército de tigres zumbi do lado de fora do veículo com pelo menos uma centena deles.
-Crianças, fiquem aqui dentro –Bennu ordenou, mas não se mexeu após dar a ordem.
Todos estavam petrificados pelo choque de encontrar tantas das criaturas. Todos estavam com medo. Um rosnado fraco, porém bravo, começou a ser ouvido por todos no ônibus. Não vinha de nenhum dos bichos do lado de fora do ônibus. Riley engoliu em seco e virou a cabeça vagarosamente na direção do animal decapitado próximo de si, com o coração batento num rítimo allegro. A cabeça do zumbi começou a rosnar mais alto e a mostrar os dentes. Alicia, desesperada, tentava se expremer entre o irmão e a parede para ficar longe da coisa. Riley parecia querer protege-la, mas estava tão assustado quanto a gêmea.
Dave sacou Mata-Touro mais uma vez e apontou na direção do bicho. Ele tremia bastante e a espada refeltia a luz do sol no rosto de Riley quando estava em certa posição. O sangue que escorria do corte na testa dele contornava sua sobrancelha e parava na bochecha. Lilian estava expremida no canto do banco, tremendo e choramingando, com os longos cabelos ruivos desarumados. A cabeça no chão emitiu um som que soou como um latido e Dave o atacou diretamente no olho. O bicho parou de se mexer.
O barulho de freios deu uma pequena esperança de ajuda para Riley. Outro ônibus que transportava alunos do terceiro e quarto ano parou bem atrás deles. Alguém gritou e chamou a atenção dos zumbis para o ônius recém chegado. O grito também fez a professora saír de seu estado de choque e tomar uma atitude. Ela voltou para a cabine do motorista e logo a porta se abriu. Riley ficou feliz por poder sair, mas com medo de que os bichos pudessem entrar.
Bennu se voltou para os alunos com uma mão tapando o nariz quebrado e a outra empunhando uma adaga. Ela mandou que as crianças ficassem dentro do veículo, calados. Ela colocou a cabeça paa fora devagar, espiando os animais caminharem lenta e ameaçadoramente em direção aos outros alunos.
Riley posicionou Alícia atrás de si de maneira que ela ficasse longe da janela e da porta, mas perto da cabeça decapitada do primeiro animal. Ninguém ousou mexer um músculo se quer. Os únicos sons que se ouvia vinha das respirações aceleradas de quem estava no ônibus e das patas cadavéricas pisando na grama. Riley inclinou a cabeça para ver o lado de fora melhor. Dava para ver o outro ônibus também. A porta também estava aberta, e nela, Lorena e o diretor DiPrata se expremiam e olhavam para Bennu. A mulher de cabelos presos era uma cabeça mais baixa que o diretor, e Bennu deveria ter metade do tamanho de Gary. A professora mais baixinha tentava dizer alguma coisa para os outros dois, usando gestos cautelosos e mexendo a boca sem emitir nenhum som. Riley conseguiu entender a última palavra: feras. Ele mal conseguis ouvir as respirações pesadas e as patas. O bater de seu coração era muito mais alto e enchia seus ouvidos, o deixando um pouco preocupado. Voltou a prestar atenção na cunhada e no diretor. Ela encarou os próprios pés e chacoalhou os ombros antes de encarar Gary e balançar a cabeça afirmativamente. O homem, por sua vez, virou o rosto e disse alguma coisa para os alunos, Riley imaginou. Se virou de volta e também balançou a cabeça para Lorena, depois para Bennu. Lorena respirou fundo e olhou direamente para a janela quebrada por onde Riley espiava. Seus olhares se cruzaram e ela deu um sorriso nervoso para o menino. A professora empunhou sua espada e os animais zumbis rosnaram. Ela respirou fundo mais uma vez e pulou da porta do ônibus.
Ela conseguiu driblar os que estavam mais perto e depois correu para longe dos ônibus. Riley se aproximou da janela com o coração batendo ainda mais depressa, chamando a atenção dos outros. Alícia não se mexeu, e Dave andou para perto do amigo, resmungando um "não" preocupado quando viu a prima correndo com os tigres zumbi. O diretor DiPrata recebeu um apito das mãos de sua mulher e o soprou. Riley não ouviu nenhum som saindo de lá. Ele então devolveu o apito e também pulou, empunhando a própria espada e correndo na direção oposta à Lorena. A professora Bennu também havia descido, mas com mais calma, e estava abaixada, tocando na grama de olhos fechados. Os tigres zumbis ficaram completamente enlouquecidos com a atitude do general e da professora, e perseguiram eles sem se importar de estarem esbarrando uns nos outros a todo o momento.
-O que ela está fazendo? –Dave perguntou.
-Uma fera –Riley falou. Ele não sabia se Dave estava se referindo à professora de artes da terra, mas era pra ela que a atenção do carioca estava voltada.
Um dos animais, com mais pele do que o que ainda estava dentro do ônibus, se pôs numa posição de ataque em direção à ela. Riley sabia que tinha apenas segundos para agir, ou a professora seria ferida. Sua espada estava no bagageiro do ônibus, junto de suas malas, então ele optou por tirar Mata-Touro da mão de Dave e pular fazendo um escândalo.
Bennu não se mexeu. Estava muito concentrada no que estava fazendo. O tigre, por outro lado, ficou furioso e surpreso com a ação de Riley. Rosnou, incomodado e pulou para cima do menino. Ele ainda não era o melhor com espadas. Tinha feito muito progresso nas aulas com a cunhada e pensou que era bastante confiante em si mesmo, mas estar ali, cara a cara com um animal que parecia ter saído de um pesadelo, lutando por sua vida, era muito diferente de estar em uma aula.
Ele mirou no pescoço do animal, mas acertou o focinho e tirou parte da pele dele. O tigre não pareceu ter ficado muito atordoado com o ataque, e se virou imediatamente para continuar a correr. Riley tentou mais uma vez arrancar a cabeça como Dave tinha feito, mas o animal foi mais esperto e se esquivou, tendo a chance de lhe dar uma patada e lhe arranhar a perna. A dor foi bem intensa e ele caiu, derrubando a espada.
-Riley, que ideia foi essa? –Era a voz de Dave.
O tigre se pôs na mesma posição de ataque que tinha feito para Bennu. Riley, caído, olhou para a porta do ônibus, onde Dave o olhava espantado e Alícia tinha a mão estendida na direção de Mata-Touro, provavelmente querendo atraír o objeto para si. O tigre rosnou, desta vez vitorioso e tudo o que Riley pode pensar era que no mínimo seus amigos e a professora estavam seguros agora. O corte em sua perna estava bem fundo e sangrando bastante, seria impossível levantar e ganhar do animal na corrida. Ele sacudiu a calda se inclinou um pouco para trás pronto para saltar. Riley estava prestes a fechar os olhos e aceitar o ataque que provavelmente significaria sua morte quando uma flecha acertou o olho direito do tigre. Riley olhou na direção dos ônibus de novo e viu vários alunos dos terceros e quartos anos no teto do automóvel com seus arcos e flechas, atirando para todos os lados. Romena era uma dessas pessoas, e a que estava mais perto de Riley. Ela sacou outra flecha da bolsa e mirou mais uma vez no animal, desta vez acertando o pescoço, o que o fez grunhir e cair, imóvel.
-Volte para o ônibus e fique lá –Romena gritou.- AGORA RILEY!
Alícia aparentemente desestira de usar seu legado e correu até o irmão, recolhendo Mata-Touro e o ajudando a levantar.
-Por que fez isso? Queria morrer? –Dave gritou com ele.
-Foi bastante corajoso, mas por favor, não faça mais isso –Lilian falou, aparecendo atrás de Dave.
Riley abriu a boca para responder quando ouviu-se um uivo mais grosso, porém mais poderoso do que os dos animais zumbis. Instintivamente olhou para Bennu, esperando vê-la em pé, controlando algum animal enorme e esquisito, mas ela ainda estava na mesma posição. Na verdade, ele nunca tinha visto uma fera. Apenas fotos em seus livros da escola. Ele não fazia ideia do que esperar. Quando levantou o olhar da professora ele teve que piscar algumas vezes para ter certeza de que não estava alucinando.
-A meu Deus –Lilian exclamou.
Um cachorro preto gigante, de pelo menos cinco metros de altura, corpo esguio e quatro pernas musculosas vinha correndo na direção do que havia virado um campo de batalha. Tinha o focinho torto e um olho maior do que o outro. Alguns de seus dentes enormes ficavam para fora da boca e Riley não conseguia decidir se o deixavam mais assustador ou com um ar de bobo.
-Rúfius, destrua-os! –O diretor gritou, enquanto decapitava um tigre.
O cachorro gigante imediatamente se livrou de sua expressão de bobo feliz e adotou uma de guerra. Ele uivou mais uma vez e começou a perseguir os zumbis. Flechas ainda voavam, algumas acertando o chão e outras com bastante precisão.
Lilian apareceu com um algodão molhado e passou no machucado de Riley. Ele estremeceu ao toque gelado do álcool.
-Vai ficar bem logo –Lilian falou.
A professora Bennu em fim se levantou e cambaleou, um pouo tonta.
-Entrem no ônibus crianças. Agora!
O chão chacoalhou. Alguns dos alunos que estavam no teto do ônibus caíram de lá de cima. Próximo à onde Rúfius tentava morder os tigres zumbi que escalavam seu corpo, o chão começou a rachar e se separar. Uma cratera estava se formando e engolindo alguns dos animais. Do buraco surgiu uma pata peluda, e logo a fera de Bennu estava completamente fora à vista. Era muito parecida com um leão, porém tinha quase o dobro da altura de Rúfius e dois chifres enormes na cabeça. Também soltava fogo e tinha um rugido ensurdeçedor.
Lilian ficou desesperada e largou a perna de Riley para buscar refúgio dentro do ônibus. O menino, por sua vez, ficou fascinado. Fora um daquele momentos em que ele sentia tamanha adimiração que queria poder fazer o mesmo. Queria de verdade.
-Eu lhe nomeio Morte Quente -Bennu gritou com bastante força.- Ataque os tigres zumbi!
Morte Quente rugiu mais uma vez e começou a cuspir fogo nos inimigos. Lorena correu para mais perto da duas feras e conseguiu se livrar dos animais que a perseguiam, mas não parou. Continuou correndo em direção a seu chefe para ajudá-lo. Riley nem prestou atenção nos amigos, no chamando para entrar no ônibus nem nas pessoas que tinham caído do teto. Ele olhava para Bennu dando ordens para Morte Quente com uma adimiração que jamais havia sentido antes. É isso que eu quero ser capz de fazer, não apenas plantas. Ele pensou, mesmo não sabendo direito como chegaria a ser tão bom quanto ela. O massacre aos animais mortos-vivios continuou com uma vantagem incrível para a Escola Preparatória da Província de Tâmara.
Algumas pessoas que estavam no outro ônibus saíram e foram auxiliar os que haviam se ferido. Alícia pegou o algodão de Lilian e continuou o trabalho na perna de Riley. Uma das pessoas que saíra do conforto e segurança do ônibus e entrara na zona de perigo fora Isabelle. Mas ela não correu para ajudar ninguém. Ela ficou parada olhando para toda aquela luta e depois virou a cabeça na direção de Riley. O menino sabia que ela deveria estar procurando por Dave. O peito dela se mexia numa velocidade muito alterada, parecia com dificuldade de respirar, e o rosto dela era puro desespero.
Restavam por volta de vinte tigres zumbis quando o último dos ônibus da escola chegou, carregando alunos do quinto ano. Noah e Natalie foram os primeiros a saltar pela porta e correr para ajudar. Até mesmo o motorista, armado com um taco de baseball se juntou. O diretor e Lorena estavam lado a lado atacando os animais com movimentos incríveis. Lorena manejava a espada como uma verdadeira profissional, e movia-se com graça e muita facilidade. era incrível de assitir. O diretor era tão impressionante quanto ela. Tinha um jeito mais bruto e mais cruel, mas isso não o impediu de ser mordido na panturrilha.
-Pai! –Isabelle gritou com um desespero angustiante na voz.
Alícia parou de ajudar Riley e focou em Isabelle, ao invés de assistir a todos ficando furiosos e querendo vingar o diretor. A menina de caixos negros pôs a mão sobre o abdômen como se sentisse dor e começou a chorar. Tomou fôlego fechou os olhos. Sangue começou a escorrer de uma de suas narinas.
De repente, os zumbis começaram a perder membros enquanto lutavam. As pessoas pararam os golpes e observaram os animais restantes se tornarem uma pilha de seus próprios ossos. Irene, mãe de Isabelle, passou correndo pela filha que cambaleava e correu para auxiliar o marido, dando um fim oficial à batalha.
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