XXVI -Dave
Bem Vindos de volta à Érestha! Esse capítulo é meio grande ahha... Mas espero que gostem mesmo assim!!!
Thaila explicou para Dave um pouco sobre seu legado alguns dias após a catastrófica festa de Halloween, embora ela não parecesse tão certa em relação a isso. Ele queria ter coragem de falar mais com ela. Queria contar sobre o sonho do pega-pega infinito, sobre a sensação que tivera quando se olharam pela primeira vez. Não conseguia interrompê-la ou iniciar conversas que não fossem sobre o tempo ou outras coisas banais.
-Todo o legado é flexível, certo? –A princesa dissera, assim como Alícia quando contou sobre seu próprio legado. –Até onde tenho conhecimento são até três variações, sendo uma delas igual para todos: Identificador de auras.
-Meu pai era assim, não era? –Dave se lembrou de ter lido algo sobre isso na carta que ele recebera no dia de seu teste.
-Sim ele era.
Algo soava tão vazio na voz de Thaila. Ela não queria dizer para Dave o por quê de Maria e ela não se darem bem por mais que ele tivesse insistido, até mesmo para a prima.
-O que identificador de auras pode fazer é saber exatamente a que lugar de Érestha uma pessoa pertence. Ou, como você fez no Halloween, identificar algo estranho nas pessoas. Por falta de um termo melhor, devo admitir, chamamos aquilo que você pode ver nas pessoas de aura. Por isso identificador de auras. Não é grande coisa, para dizer a verdade. Quero dizer, não te dá nenhuma habilidade especial, se é que você estava esperando por isso.
Na verdade ele não esperava. Thaila falava sem muita convicção, como se tudo isso não passasse de uma mera expeculação. Mas ele jamais duvidaria da futura rainha. Era satisfatório saber do que ele era capaz. E quanto aos porcos... Ele não havia realmente visto algo. Era como se tivesse sentido, trabalhado com todos os sentidos, exceto com a visão. Não importa se eles fossem cor-de-rosa ou gordos ou toscamente alados, ele só sabia que eles eram assombrados. Talvez funcionasse da mesma forma com as pessoas. Lembravabem do almoço com Éres, de tudo o que sentiu. Dave finalmente entendia a animação de Alícia em relação a si mesma. Era bom saber do que se é capaz.
A única dúvida que restava recebia o nome de Isabelle DiPrata.
Após o ataque dos porcos assombrados as pessoas começaram a desconfiar ainda mais de Isabelle. Até mesmo Ajala mantinha-se afastada. Riley e Alícia não a aprovavam nos grupos de trabalhos nem na mesa do almoço. Às vezes ele decidia que seria uma boa ideia ficar na companhia dela, mas Isabelle simplesmente o ignorava ou pedia para que ele ficasse com os outros. Ela vinha tendo pesadelos e assustava muito facilmente. Uma noite Dave havia acordado com batidas na porta do quarto. A menina estava com o rosto completamente molhado de lágrimas e perguntou se podia passar o resto da noite com ele. O menino simplesmente deu-lhe permissão.
Já havia dividido sua cama com Rick quando ele era pequeno- Dave também era apenas uma criança, só havia um ano e alguns meses separando a idade dos dois irmãos, mas ele sempre se sentira responsável por ajudar a mãe o máximo que podia- porém dormir ao lado de Isabelle era assustador em todos os sentidos. A pele dela era a mais gelada que Dave já havia tocado, ela não era seu irmão e o mais importante: era uma garota. Uma garota com muitos pesadelos. Durante a noite ela se revirou na cama e chorou em seu sono, soprando súplicas de misericórdia, e pedindo que "Não! Não o machuque, por favor, ele não!" Dave se sentiu obrigado a acordá-la de um desses pesadelos. Ela respirava tão desesperadamente que parecia prestes a ter um ataque ou algo assim.
-O que está fazendo você ter esses pesadelos assim?
Ela mal conseguia falar por entre as lágrimas.
-Tem algo muito errado com ela! –Lilian havia dito alguns dias atrás- De repente ela para de falar com todo mundo e aceita tudo o que dizem para ela... Isso não está certo. Não era ela quem ia dominar o mundo ou algo assim?
Dave havia concordado naquele dia, mas ali era diferente. Considerar o fato de que ela era mais do que alguém que tinha sonhos. Era alguém que tinha muitos pesadelos, e dos mais horríveis, ao que parecia. Alguém em conflito.
-Se eu disser ela vai matá-lo! –Belle choramingou.
-Não se preocupe. –Dave disse, mesmo não fazendo ideia do que ela estava falando. Acabou roubando uma parte do discurso geral das mães para seus filhos que não conseguem dormir- Não vai acontecer nada com você enquanto estiver aqui comigo.
Ela levantou seus olhos azuis e encharcados na direção dele e lhe deu um abraço.
-Promete? –Ela soluçou.
O menino suspirou.
-Claro que sim. –Concluiu.
O outono foi passando e o inverno se aproximava, começando em meados de dezembro. Fora a primeira vez que Dave vira neve. Thaila fez várias visitas para Dave ao longo desse período. Eles apenas conversavam. A princesa fazia muitas perguntas, mas Dave não tinha coragem de lhe perguntar nada mais do que "Como vai?" "E você?" ou algo sobre o tempo. O que ele realmente queria saber era o que fazia sua mãe tratar mal a princesa. Lorena sabia, com certeza, mas se o menino conhecia bem a prima, jamais faria com que ela dissesse.
Outro assunto em que ele investiu bastante nos tempos livres foi a caixinha de madeira de sua mãe. A espada era ótima. Era muito interessante ler as cartas e ver como seus pais se comportavam na adolescência. Ao que parecia, sua mãe e ele haviam se conhecido em uma festa em São Paulo e Reginald decidiu contar à ela sobre Érestha e seu trabalho. Ele trazia Maria para o reino frequente, porém secretamente. O último objeto, o relógio, Dave descobriu ser algo mais que apenas um relógio. Uma das cartas, escritas pelo pai, dizia para ela não se esquecer do relógio, caso contrário Gary iria vê-la, "e não queremos isso, não é mesmo?" ele escreveu. A princípio Dave não entendeu que diferença o objeto fazia, mas Isabelle entendeu de imediato. Dave não queria que ela lesse as cartas, mas era uma forma de mantê-la calma nas noites em que não se sentia bem.
-O que quer que seja,- ele disse- é segredo. Minha mãe não quer que Lorena saiba que isso está na escola, então deve ser algo muito...
Ele mal conseguiu terminar a frase. Enquanto falava ela vestia o relógio. Com um clique num dos botões laterais ela desapareceu. Dave arregalou os olhos e olhou em volta.
-Ainda estou aqui! - ela riu. O menino esticou o braço e tocou nos cabelos da menina, embora não conseguisse vê-los. –Ele te deixa invisível.
Daquele momento em diante, todas as vezes que Belle se sentia mal eles alargavam a pulseira do relógio e juntos o vestiam e saiam para tomar ar fresco em algum ponto da escola. Invisíveis. Diversas vezes ele pensou em contar para os gêmeos e a anã indiana, mas decidiu guardar aquele segredo para si mesmo. Afinal não poderia usá-lo nas aulas e nem mesmo no dia a dia. Nem mesmo nas provas, o que era uma pena.
-Muito bem crianças! –O professor Borges, de Educação física, reuniu a classe em uma das quadras. –Essa aula será usada para uma assembleia geral no teatro. Devem saber do que se trata, não?
-A prova? –Tyler levantou a mão.
-Exatamente Sr. Duvin. Então todos de pé por que não queremos nos atrasar, certo? Aliás, corram! Isso é ou não é uma aula de Educação Física?
Os alunos chegaram correndo e se empurrando no teatro e ocuparam cadeiras em lugares aleatórios que não estavam sendo usadas pelo segundo ano, que já estava lá. Isabelle chegou por último.
-Estou tão ansioso! –Riley comentou. –Romena me contou que é como a simulação de uma batalha de verdade! Parece incrível!
Alguns alunos do quinto o encararam e comentaram coisas como "primeiro ano..."
-Certo alunos, vou pedir gentilmente que fiquem quietos por três vezes. Depois vou mandá-los calar a boca das formas mais rudes que conheço, ok? –Lorena falou ao microfone. Todos ficaram em silencio. -Pois é, dessa vez foi mais rápido... Então vamos lá! Chegou mais uma vez aquela época do ano que nós, queridos professores fazemos vocês adorarem- ou odiarem, eu não sei- A PROVA DE LAD!
Os alunos aplaudiram e assoviaram. Lorena se curvou em agradecimento. Ver todos tão felizes, principalmente a prima, deixava Dave particularmente animado e curioso em relação à prova. A tal roupa especial que tinham que usar era um macacão justo de mangas cumpridas para as meninas e uma calça e uma blusa para os meninos. Tinha marcas em alguns lugares como no estômago, no coração e nas pernas. Se fosse acertado ali, sairia da prova.
-Estamos aqui hoje reunidos para passar nossos conhecimentos sobre essa prova para os novos alunos e lembrá-los de regras e talvez introduzir novas regras, veremos. O objetivo, para quem não sabe, é roubar a bola de vidro dos times adversários. Se seu time tiver a bola roubada terá trinta minutos até conseguir outra ou está fora. Vocês podem ter o máximo que conseguirem. O recorde é da turma laranja de seis anos atrás- eu estava no quinto, participei desse recorde- de quatro cores conquistadas. Só não conseguimos a roxa, se querem saber.
As pessoas do roxo aplaudiram e deram risadas.
-Já entendi, silêncio. Vou falar sobre as regras gerais: Não é permitido o uso de nenhum tipo de veneno ou planta venenosa; obviamente não se deve atacar para matar; se você se ferir gravemente os esqueletos te transportarão para a enfermaria. É permitido usar objetos com propriedades mágicas contando que estes não façam as coisas ficarem invisíveis. Não se deve enterrar a bola de vidro e nem camuflá-la. Ela deve ficar na área determinada pelo professor responsável pela sua cor. Acho que é isso. Alguma dúvida?
Alguém sentado mais à frente levantou a mão. Lorena indicou com um gesto que ele podia perguntar. Dave ficou surpreso ao ouvir a voz de Isabelle.
-Quanto tempo temos?
-Boa pergunta Srta. DiPrata. Começamos as oito e terminamos as duas. Tecnicamente vocês só podem entrar em ação às dez. Damos duas horas para vocês terem um plano. Nada que aconteça após as duas será avaliado. A propósito, se alguém for louco o suficiente para tentar usar uma fera, daremos créditos para isso. Lembrando que devem ser capazes de controlá-la.
-Usar o que? –Riley perguntou para Dave, que deu de ombros.
-Feras! –Uma voz feminina falou da fileira de trás. Dave se virou. Chris, uma menina do verde do primeiro ano carregava uma expressão incrédula direcionada aos meninos. Chris era uma menina muito gentil, porém muito exagerada. Gritava e pulava e dançava constantemente em horas inapropriadas, mas era muito legal. Falava muito de si mesma. Ela tinha uma irmã gêmea que era de Elói. Ajala andava com ela de vez em quando e portanto aqueles olhos verdes e arregalados almoçavam com Dave as vezes. –É o assunto mais interessante das aulas de Bennu, talvez até o único assunto interessante. Começamos a ver semana passada –sei que não é grande coisa, hoje é terça-feira- mas é tão legal! Ainda nem almoçamos, talvez tenham aula hoje e ela explique, mas é basicamente ter controle de animais grandes. Não sei explicar muito bem, não sou professora, mas são animais que você mesmo... Como posso dizer...
-Tudo bem! –Riley interrompeu. –Temos aulas sim, obrigado Chris.
-De nada! –Ela sorriu e se sentou direito.
Dave encarou o amigo com um olhar que dizia o quanto a menina era gentil porém irritante. Riley concordou.
-Então veremos que professores serão responsáveis por qual cor esse trimestre. Lembrando que decidimos deixar Isabelle e Dave juntos com o time vermelho por quê não é possível participar da prova com apenas duas pessoas e sabemos que conhecem muitas pessoas de lá. Espero que todos concordem.
Riley e Dave sorriram. Lá da frente Isabelle olhou para o amigo e curvou a boca numa tentativa de sorriso.
Noah se voluntariou para retirar de uma sacola de pano um cartão onde ele leria o nome do lugar onde a equipe deveria se localizar. O vermelho -e o azul- ficariam no prédio de aulas naquele ano. Merina explicou para a turma que as salas de Artes da Terra e os laboratórios de astronomia não deveriam ser usados porquê continham substâncias para experiências e objetos delicados. As salas reservadas para Lorena obviamente não eram uma opção e o teatro era proibido. Dave pensou que Lorena seria a supervisora dele, mas Merina acabou com esse papel.
-Lorena tem que supervisionar a todos no geral. –Romena explicou durante o jantar. –E feras são literalmente animais que nós... Invocamos. Lembram-se do "cachorrinho" do diretor? Aquele que Lorena provavelmente disse para vocês se manterem afastados? Ele é uma fera que o diretor... Cativou, digamos assim. É como o bichinho de estimação dele. Não tem a menor chance de vocês usarem isso na prova de hoje. Eu, que estou no quarto ano, nunca consegui chegar nem perto de invocar uma. Satisfeito irmão?
Riley estava tão animado em relação a feras que fez a irmã lhe dizer tudo de novo, mesmo já tendo a explicação de Bennu.
Lá pelas sete e meia todos os alunos já haviam jantado e estavam começando a trabalhar em um plano. Lorena supervisionava os professores, e os professores supervisionavam os alunos. O quarto e o quinto ano trabalhavam com bastante concentração, enquanto os outros apenas davam pequenas sugestões e faziam muitas perguntas, como Riley e Ajala, que atacavam Romena e sua amiga Alysin com inúmeras perguntas sobre inúmeros assuntos. Dave sentia vontade de ficar andando para não se preocupar com o tamanho de sua ansiedade. Isabelle estava sentada debaixo da árvore-alvo com sua espada no colo, então foi para lá que ele se dirigiu.
-Ficamos com o prédio de aulas, sabia?
Ela forçou um sorriso.
-Que bom. Parece o lugar certo para uma boa estratégia de defesa, mas acho que qualquer um nos veria saindo daquela área.
Dave arregalou os olhos.
-É, talvez. Você devia dizer isso para Noah e Natalie. Eles estão organizando tudo e isso foi simplesmente...
-Eu sei. –Ela o interrompeu –Pode dizer, se quiser, não me importo.
-O que houve Belle? Por que não está animada?
-Por que eu estaria? Nada mais é do que uma prova final. Um treino, se preferir. Eu só queria estar dormindo agora.
-Fellows! –Alguém o chamou. Era a voz de sua prima. –Isso chegou para você algumas horas atrás.
Ela estendeu um envelope para o menino. Dave sabia do que se tratava. Ele e Nicolle trocavam cartas constantemente. A menina adorava a ideia, mostrava-se sempre muito entusiasmada. Dave não gostava muito da ideia, preferia algo que fosse comum no século em que estava. Sentia falta de algumas tecnologias.
Na última carta Nicolle havia contado sobre um passeio que ela fez com Maria, Madalena e Rick no parque Villa Lobos, sobre como o dia estava quente e o quanto eles se divertiram andando de bicicleta e tomando água de coco. Dave respondeu contando-lhe sobre a neve e o frio, tomando cuidado para não citar lugares nem referencias para ela, apesar das insistências. Maria havia dito que Érstha era um segredo. Estava ansioso para abrir a carta e saber o que a menina de cachos cor de caramelo estava fazendo naquele verão brasileiro.
-Leia mais tarde, sim? –Lorena continuou. –E me conte como andam as coisas! Uma hora e alguns minutos pessoal! –Ela gritou para a escola inteira ouvir. –Todos para o teatro agora mesmo! Vou liberando turma por turma e dar dez minutos para cada se arrumar!
O vermelho foi o quarto grupo a sair, carregados com armas de treinamento e a bola de vidro vermelha. Dave reparou que não eram muitas pessoas. Vinte e cinco, no máximo, contando a si próprio e Isabelle. Eles foram silenciosamente saindo do teatro e parando em frente aos prédios, afinal o ponto de partida deles seria ali. No caminho Noah foi explicando o plano, auxiliado por Natalie, que carregava a bola de vidro vermelha. Tudo era dito quase num sussurro.
-A maioria do primeiro e do segundo ficará aqui de guarda, todos de acordo? –ele não esperou resposta. –Queremos levar Ajala, Riley, Misyra e Portia conosco para o confronto.
Ele se referia a duas garotas do segundo ano com os dois últimos nomes. Todos os citados pareciam honrados, especialmente Riley. Este cutucou animadamente o braço de Dave.
-A bola de vidro ficará na sala C4a. –Natalie continuou. –É uma sala de história. Deixaremos longe da janela, no vaso daquela samambaia que Merina insiste em criar.
-O terceiro ano, sob o comando de Romena e Alysin, serão nossa guarda para aquele prédio. Nós do quarto e do quinto vamos atrás das outras bolas, juntos, todos ao mesmo tempo. Sairemos assim que o alarme que indica o começo da prova soar. –Noah continuou. - As outras pessoas do segundo e primeiro entrarão pelas salas de astronomia e vigiarão do telhado, o mais camuflados possível. Talvez possam usar algo que aprenderam com Bennu, mas sejam cuidadosos. Se virem outras equipes passando por nossas defesas deixem seus postos e entrem na batalha! –Ele parecia tão sério, tão determinado. Agia como um verdadeiro general.
-Enquanto estão no telhado, tentem decidir qual de vocês será um substituto caso nós do ataque precisarmos, certo? –Natalie acrescentou.
-O líder do pessoal no telhado será você Matheus, concorda?
-Sim! –O menino, que deveria ser Matheus, respondeu.
-Todos entenderam? Se lembram das regras?
As pessoas concordaram ou deram de ombros.
-Ótimo. –Natalie falou. –Muito silenciosamente, vão cada um para seu posto. Agora!
-Isso está mesmo acontecendo! –Riley falou para Dave antes de seguir a amiga anã e Noah para seu posto.
Ele, Isabelle e Alícia foram juntos até o telhado sob o comando de Matheus.
-Se não precisarem de nós ficaremos sem nota na prova? –Alícia perguntou, não para alguém em específico. –Quero dizer, ficaremos seis horas sem fazer nada?
-É assim que uma guerra funcionam -Matheus respondeu- Você está fazendo sua parte. Por menor que ela pareça ser é importante, caso contrário ela não existiria.
Alicia encarou Dave e silenciosamente eles concordaram que aquele garoto mais velho estava extremamente certo.
-Eles vão precisar de nós- Isabelle falou num tom suficiente para que apenas os outros dois amigos escutassem. - Acredite, há algumas falhas nesse plano, vocês verão.
Dave não sabia como ela de repente sabia tanto sobre estratégias.
Alícia deve ter reparado sua expressão facial de surpresa e revirou os olhos.
-O pai dela era um general, não é? –Ela falou
-A, é.
Os minutos antes o soar do sino foram bastante produtivos. Como Isabelle dissera, o lugar dava uma vantagem: Visão do campo de batalha. Eles viram os outros dois times saírem e seguirem para seus postos, dando informações precisas para os que iam atacar. Após o soar do sino, foi emocionante assistir aos colegas correrem em diferentes grupos com espadas, escudos, flechas e outras armas para os lugares indicados pelos que estavam observando.
No começo, o telhado era legal: se acostumar com a roupa, tomar cuidado para que o pessoal que estava no complexo de dormitórios não os visse, armar armadilhas, trocar de postos e vigiar... Dave ficou cansado depois da primeira hora. Na segunda hora ele mais conversava com Isabelle e Alícia do que fazia alguma coisa. Na terceira hora eles decidiram que estava frio de mais e revezaram para ficar dentro do prédio e de vigia. À meia noite a prova se tornou interessante de novo. Durante seu processo de se aquecer, Dave e Isabelle estavam praticando alguns golpes básicos com suas espadas quando Matheus e os outros saíram correndo do telhado.
-Desçam, o amarelo está aqui e temos que ajudar as pessoas lá em baixo! –Eles gritaram.
Isabelle lançou um olhar de "eu não disse?" para Dave e seguiu os outros.
O prédio C parecia estar numa guerra de verdade. Dave ouvia gritos e madeira se quebrando por todos os lados. Lá dentro estava uma bagunça, com muitas pessoas ao mesmo tempo e em todas tentando chegar até a escada para checar todas as salas, se acertando com espadas e escudos. Grama e flores e cipós cresciam de todos os lados, prendendo os pés dos alunos e os fazendo cair e tropeçar. Era emocionante. A primeira pessoa que ele viu foi Lilian. Eles faziam aula juntos, então um conhecia muito bem os movimentos do outro, mas Dave conseguiu, de alguma forma, fazer com que a roupa acendesse como se ela estivesse ferida na perna. Ela estava fora. Ele havia tirado alguém do jogo!
-Me desculpe. –Ele falou, apesar do orgulho.
Alícia e Isabelle se preocuparam em se infiltrar na luta e não em realmente lutar. Elas estavam tentando chegar mais perto do que deveriam proteger. Dave quis segui-las, mas passou tempo demais prestando atenção no que elas estavam fazendo que mal reparou quando a espada de Tyler acertou-lhe em sua barriga, na região do estômago. Foi um golpe forte, que fez Dave se curvar.
-Está fora! –Tyler comemorou. - Te acertei de verdade?
-Não, estou bem. –Dave mentiu
-Temos que sair. –Lilian segurou o braço do amigo. –Vamos juntos.
Assim que saíram eles viram uma parte do time vermelho voltando com pressa e carregando a bola de vidro laranja. Ajala estava lá. Ela sorriu para Dave e entrou correndo na luta. Eles entraram pela última porta e desceram para o teatro. Todo o time roxo estava ali, fora algumas pessoas de cores aleatórias. Riley estava lá.
-Ei, o que houve depois que saímos? –ele perguntou. –Saí do jogo antes das onze e meia, acho.
-NÃO É UM JOGO, MENINO WEIS! –Lorena gritou e atirou um pedaço de giz em Riley. Ela e outros professores estavam sentados na primeira fileira. O telão fora dividido em várias partes pequenas que mostravam imagens de praticamente toda a escola.
Riley fez uma careta.
Eles passaram os minutos seguintes conversando entre si sobre a noite deles. Riley havia seguido com Natalie e duas outras pessoas até uma clareira no meio da floresta à esquerda da escola, porém eles acabaram se separando, e quando Riley viu a bola de vidro ele resolveu tentar capturá-la, mas foi acertado nas costas por uma flecha que ele ainda não sabia de onde havia vindo. A equipe amarela havia se separado em quatro, mandando dois grupos de cada vez. Lilian havia esperado até que um dos grupos voltasse, e quando isso aconteceu- eles tinham capturado tanto a verde quanto a roxa- e saiu para ir atrás da vermelha.
-Foi difícil achar vocês! –Ela admitiu. –Mas vimos alguma coisa no telhado e resolvemos tentar. Fizeram armadilhas, não fizeram? Ficamos presos numas plantas pegajosas e demoramos algum tempo para nos livrarmos. Aquilo fede!
-Foi um bom plano.
Os quatro ficaram conversando sobre assuntos alternados a noite toda. O time amarelo não recuou. Lutou até aquele pequeno grupo ser todo eliminado. Isabelle e Alícia foram de grande ajuda dentro da sala. O time azul claro roubou a bola laranja do vermelho, porém Noah apareceu cinco minutos antes das duas com a bola azul clara em mãos.
-Meu time ganhou! –Lilian comemorou quando o jogo acabou.
-NÃO. É. UM. JOGO! - Lorena gritou de novo.
Antes que eles pudessem se deitar, todos se reuniram no teatro e Lorena comentou que estava muito feliz com o resultado, parabenizou a todos, mas principalmente o amarelo.
-Não só pelo fato de terem três bolas de vidro, mas pela persistência. Não recuaram mesmo estando em menor número. Aplausos para eles! –todos obedeceram. Lilian não conseguia tirar o sorriso do rosto. –As notas individuais com os comentários sobre como se saíram será entregue a vocês em sete dias. Parabéns para todos, e vocês tem o dia livre amanhã, então podem aproveitar a noite do jeito que quiserem, contanto que isso não me incomode. Boa noite!
Não tinha chance nenhuma de Dave ficar acordado por mais cinco minutos, mas ele e os amigos foram para a casinha azul e acenderam a lareira. Isabelle e Alícia comentavam animadamente sobre sua parte na luta. Ajala e Riley trocavam informações sobre sua parte no ataque e Tyler falava com Lilian sobre o que poderia ter sido melhor no plano deles. Isabelle deu um jeito de conseguir marshmellows e frutas vermelhas da cozinha, e todos se reuniram ao redor da lareira, ainda conversando, e assando frutas e doces.
-Framboesa com marshmallow foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida! –Lilian falou, com a boca cheia da mistura nova.
Dave se deitou ali no tapete mesmo. Na manhã seguinte ele planejava ler a carta que Nicolle o enviara e talvez almoçar com Lorena para lhe contar tudo.
-Cansado? –Isabelle se deitou ao seu lado
Dave concordou com um aceno de cabeça e acabou adormecendo ali mesmo, no meio das conversas e entre a pele gelada de Isabelle e o fogo na lareira.
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Obrigada por ler! Curtam e comentem e me contem o que acharam!!
PS.: Sim, marshmallow com franboesa é mesmo uma delícia.
De acordo com a LEI N 9.610 DE FEVEREIRO DE 1998, PLÁGIO É CRIME.
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