XXV -Riley
Éres decidiu que Dave deveria ser apresentado ao povo assim que possível, portanto o legado da futura rainha passou o aniversário no Castelo de Vidro, se preparando. Como na festa de aniversário, os portões dourados do território do castelo foram abertos e o povo se expremeu, sem cadeiras e sem conforto, para ouvir o que sua Majestade tinha a dizer. Apenas Riley, Lilian, Lorena e Rômulo quem sabiam que o encontro ia muito além de Dave. Eles decidiram não dizer nada para Alícia, seria muito difícil explicar. Riley se sentia mal por essa decisão, mas eles decidiram agir naturalmente e deixar que ela descobrisse pelas palavras do rei. Apenas disseram que Dave era o legado.
Ela ficou bastante impressionada e queria falar e falar sobre o assunto, como ela sempre fazia, mas Riley havia percebido que ela havia voltado animada do dentista, o que não fazia sentido, então perguntou sobre o dia dela. Ela lhes contou sobre seu legado e Riley quase se esqueceu de que uma "princesa do mal" estava ressurgindo.
-Então você é como um cavaleiro jedi ou alguém capaz de produzir um feitiço de Harry Potter? Incrível!- Riley tinha essa mania de estar sempre pensando em suas histórias favoritas e acabava citando-as de vez em quando. Ele sabia que Alícia odiava isso, mas não podia evitar.
-Povo de Érestha! –O rei começou. Riley voltou a prestar atenção no presente. A multidão se calou automaticamente. –Tenho... Notícias urgentes. A primeira delas é que ontem, oito de Outubro, minha filha Thaila reconheceu Dave Fellows, filho do falecido soldado Reginald Fellows, como seu legado.
A multidão explodiu em aplausos, gritos de surpresa e comentários dos mais variados. Thaila e Dave apareceram na varanda juntos e acenaram para Érestha. Dave vestia um blazer e Thaila o mais deslumbrante e brilhante de todos os seus vestidos. Pela primeira vez, Éres teve que fazer algum esforço para que as pessoas se calassem.
-Como seu rei, devo dizer-lhes a verdade. –Alícia encarou o irmão, perguntando se ele sabia de alguma coisa com seu olhar. Riley ficou em silencio. –Uma parte do exército foi mobilizada mais cedo essa manhã. Nós da família real e mais algumas crianças presenciamos aquilo que temíamos acontecer. –Ele agora falava no meio de muitas vozes. –Desconheço o motivo, porém lhes asseguro que estão todos em segurança no momento. Tabata falou conosco ontem. Minha filha está em algum lugar do reino, viva, neste exato momento.
Riley mal se lembra de como começou, só que de repente aquela multidão entrou em pânico e começou a empurrar para poder sair o mais rápido possível daquele lugar. Só sabe que se agarrou ao braço de Alícia e não deixou que ela se perdesse. Lilian acabou um pouco arranhada e descabelada e Lorena sumiu da vista deles. Alícia segurou em Lilian e os três ficaram parados, evitando as pessoas e sendo vítimas de empurrões e cotoveladas.
-SILÊNCIO! O REI NÂO TERMINOU SEU DSCURSO! –Thaila gritou da varanda.
Foi algo tão inesperado que todos se esqueceram do pânico e voltaram a atenção para o rei. Até mesmo Thaila parecia surpresa com sua atitude.
-Obrigado filha. Tabata não revelou intenções e nem ameaçou o reino de nenhuma forma. Não sabemos o que ela quer, portanto algumas pessoas se voluntariaram para procurar por pistas dela e descobrir, da forma mais pacífica possível, o que ela quer de nós. O que vocês devem fazer agora é voltar para suas casas e trabalhos e viver normal, porém cautelosamente. As CCFs serão agora mais rígidas e funcionarão vinte e quatro horas por dia. Seria bom evitar sair desacompanhado depois das onze, que é quando as patrulhas policiais acabam a partir de agora. Qualquer ação suspeita deve ser relatada. Contamos com a paciência, compreensão e cautela e vocês. Tudo é pela sua segurança. E lembrem-se: mantenham a calma.
Os dois primeiros dias após a revelação foram difíceis para a família real e consequentemente para Dave. Alguns repórteres locais queriam entrevistá-lo e todos foram expulsos aos gritos de Lorena. A situação de Isabelle deveria ser um segredo, portanto todos na escola sabiam e comentavam a todo o momento. Ela agora era quieta e reservada. De suas amigas apenas a pequena Ajala ainda andava com ela. A menina de cachos negros agora almoçava com Riley, Alícia, Dave e Lilian.
Os professores agiam normalmente, ou pelo menos tentavam agir. As únicas aulas fora das salas eram a de Lorena, Educação Física e quando trabalhavam no projeto de Halloween com Bennu. A professora de luta e autodefesa, que costumava usar uma clareira na floresta para os mais velhos fora proibida de se afastar tanto assim das câmeras que agora ocupavam toda a escola. E o diretor nunca era visto. Nunca estava no almoço. Nunca fazia anúncios, nem participava de assembléias que ocorriam frequentemente para falar sobre a situação do reino. E Isabelle andava de cabeça baixa e se sentava no fundo da sala. Dave era o único que estava sempre com ela.
Riley tentava ignorar o espanto e se concentrar nas aulas. O assunto de história despertava cada vez mais a curiosidade dos alunos. Pelo jeito que estavam caminhando com a matéria, a guerra só começaria no trimestre seguinte. Depois de algumas aulas, Riley aprendera mais um fato que desconhecia, ou simplesmente ignorava: Thaís tivera oito filhos com Éres, mas os decendentes eram nove. Isso por quê Argia era filha bastarda da rainha. Ela nunca dissera quem era o pai e Éres preferiu ignorar o fato após alguns dias. Thaila perdeu seu legado para o bebê e quase imediatamente Tabata iniciou uma guerra. Riley ficou chocado. A família real era muito cheia de tradições e as levava muito a sério. A princesa Teresa, das águas, uma vez engravidara de um pirata qualquer que navaegava por seus domínios. A criança fora atirada ao mar e perdida nas águas. Talvez jazisse em alguma ílha, ninguém sabia e ninguém se importava. O fato de Éres aceitar Argia era chocante. Riley quase morreu quando a aula acabou após essa história. Ele queria mais. Gostava de histórias.
Ele e Lilian estavam se dando muito bem na aula de Artes da terra. Eram os primeiros da classe e isso era novidade para o menino. Como seu projeto de Halloween estava indo muito bem eles concordaram em deixar que Alícia, Dave e Isabelle se juntassem a dupla deles para formarem um grupo, já que os três não eram obrigados a adquirir tantos pontos quanto às outras crianças, visto que seus legados não eram os mesmos que os dos outros alunos. Riley se perguntava constantemente o que Dave e Isabelle seriam capazes de fazer, mas não queria perguntar, talvez fosse melhor nem descobrir.
Tudo estava indo bem até o Halloween. Enquanto os mais velhos se aprontavam era trabalho do primeiro ano organizar as decorações. Pessoas de fora da escola também foram convidadas para a festa e Riley estava muito animado com essa ideia. Ele se sentia isolado do mundo ali naquele enorme campo verde.
-Pode me passar aquela fita, por favor? –Ajala pediu para Riley.
Os alunos haviam todos decidido que as cores seriam laranja, preto e um tom de roxo escuro. As mesas levavam toalhas dessas cores, os sucos, as balas e as fitas que penduravam nas paredes dos dormitórios também. A festa aconteceria no refeitório, ao ar livre. Bennu estava supervisionando a festa e estava muito animada.
-Estão fazendo um ótimo trabalho crianças! Se apressem para pegar e iluminar suas abóboras e vestir suas fantasias! Temos mais uma hora e meia antes dos convidados começarem a chegar!
Lilian e Dave vieram rolando com cuidado a maior das abóboras de todo o primeiro ano. Tinha quase um metro e meio de diâmetro e pesava... Riley não fazia ideia, só sabia que estava orgulhoso de si mesmo e da equipe. Alicia e Lilian haviam desenhado um rosto típico de Halloween nela e Isabelle e Dave cortaram e tiraram o que tinha dentro. Era matéria prima para deliciosos doces e sopas que seriam servidos aquela noite. Riley levou as velas até os amigos e as acendeu dentro da hortaliça.
-Muito bem, meninos, muito bem!- Bennu elogiou. –Está lindo! Podem ir se arrumar.
Alguns dias atrás eles saíram com o professor Cardel e foram até o centro para poderem comprar fantasias para a festa. Riley era um cavaleiro medieval. Ele não gostava muito de se fantasiar, se sentia estranho, mas era uma festa e todos fariam o mesmo, portanto tomou uma ducha rápida e se trocou rápido, bem a tempo de ver a comida e os inúmeros doces chegando.
-O que acha do cardápio deste ano? –Ajala perguntou para ele. A anã estava com uma fantasia peluda de pinguim.- Biscoitos de abóbora, sopa apavorante -sério, não coma a menos que goste de pimenta -ponche de uva com um pouquinho de alcaçuz e sanduíche de pasta de amendoim com geléia!
Riley sorriu.
-Parece delicioso. E os doces?
-Temos de monte! Acho que vou acabar tendo uma overdose de doces esta noite.
Não demorou muito para que as pessoas chegassem. Era uma das únicas noites em que era permitido ficar acordado até tarde. A festa ia até as duas. Lilian e Alícia, ambas vestidas com diferentes estilos de piratas sugeriram que eles se sentassem em uma das mesas. Dave, vestido como o Fantasma da Ópera e Isabelle, convenientemente vestida como um vampiro logo se juntaram a eles. Ajala também estava com eles, e ela e Lilian eram muito divertidas. Até conseguiram convencê-los a dançar por alguns minutos. Riley estava realmente se divertindo. Sua mãe apareceu na festa por volta das dez e meia.
-Sabe onde está seu irmão? –Ela perguntou. –Tem um tempo que eu não falo com ele...
-Ele está vestido como nos anos oitenta. –Lorena respondeu. –Não vai ser difícil achá-lo.
-Na verdade estou bem aqui –ele estendeu um copo de ponche para Lorena e abraçou a mãe. –Como vai?
–Como está no trabalho, querido? Ando tão preocupada...
-Está mais complicado, mais sério. Foi um milagre eu ter conseguido essa noite de folga!
-Algo estranho aconteceu em algum lugar? –Lilian perguntou.
-Não que eu tenha conhecimento. Está tudo bem, ao que parece. A situação acalmou um pouco.
-O que quer dizer? –Riley perguntou.
-Na primeira semana tivemos muitos problemas com pessoas querendo sair do reino ou se mudar para a província do rei, onde acreditam ser mais seguro. Muitos fazendeiros saíram do campo também, mas a maioria se arrependeu e voltou. Tínhamos medo de que isso se transformasse em uma ação em massa e criasse algum tipo de manifestação ou pânico.
-O povo está sempre em pânico! Eu não entendo isso –Lorena deu um gole no ponche.
-Isso por que você se julga uma "super especialista" em se proteger e atacar.
-Fique quieto por que sabe que eu acabaria com você em dois minutos de luta!
Rômulo roubou a espada falsa de Lilian e apontou para a namorada.
-Se você diz...
Antes que Lorena pudesse fazer qualquer coisa alguém próximo a mesa de comida gritou e fez a festa ficar em silêncio. Não por que foi um grito de terror nem por que fora alto de mais, mas por que essa pessoa gritava algo que Riley achava que não fazia sentido. Estaria ele bêbado ou algo assim?
-Porcos! –a voz gritava. –Porcos assombrados da meia-noite!
Alícia e Riley se entreolharam com um leve sorriso em seus rostos. Era engraçado e sem sentido até eles entenderem do que se tratava. A alguns metros deles uma dúzia de porcos alados que pareciam cegos andavam derrubando tudo e todos, e tentando morder tudo o que estava a sua frente. Não eram muito rápidos, porém causavam um grande estrago.
-O que é isso? –Lorena perguntou, com certo nojo no tom de voz. As pessoas começavam a correr para longe. –Faz parte da festa?
-Não! –Lilian respondeu. –O que está acontecendo?
Um dos bichos, o mais gordo deles que parecia ser o líder ou algo assim, emitiu um som horrível e todos os outros o imitaram. Como galinhas eles tentavam inutilmente voar mais do que alguns metros. Eram mais rápidos no ar. Os convidados saíram correndo e gritando por toda a escola. Lorena foi atrás de Bennu, lhe perguntar se sabia como parar aquelas coisas.
-O que fazemos? –Alícia estava à beira do desespero.
-Fique longe deles! –Dave respondeu. –Não deixe que eles te mordam!
-O que você sabe sobre eles? –Riley estava surpreso. Dave nunca sabia de nada.
-Não sei nada! Só acho que seria bom evitar mordidas. Não vêem que com certeza estão assombrados?
Assombrado era uma característica que definia algo inofensivo que havia sido, de certa forma, convertido em algo projetado para causar dor ou morte. Ser infectado por esse tipo de criatura, não importa de que jeito, podia e deixar com uma febre muito alta, náuseas, dor de cabeça, e, dependendo da quantidade de mordidas, picads ou seja lá o que fosse, podia vir a matar. Eles estavam falando sobre isso nas aulas de Artes da Terra, mas Riley jamais diria que eram criaturas assombradas. Tudo o que ele via era o resultado bizarro do cruzamento de um porco com uma galinha mutante.
-Como você sabe? –Lilian perguntou.
-Por que eu estou vendo!
-Vendo o que?
-Ah! –A professora Merina Perrie, de História, gritou ao ser mordida na perna por um dos animais.
A parte afetada começou a adquirir um tom arroxeado muito depressa e parecia estar doendo muito. Ela mal conseguia olhar para a ferida. Rômulo, que estava próximo a ela, chutou o bicho para longe e carregou a professora ferida até a enfermaria. O animal reagiu com outro grito ensurdecedor.
-Cuidado! –Alícia gritou e puxou o cabelo do irmão.
Um deles. Que parecia entender melhor de asas vinha meio voando, meio pulando por trás deles. Os meninos só não precisaram correr por que Lorena e Bennu haviam reunido alguns alunos do quinto ano e estavam fazendo com que cipós surgissem do chão e prendessem as bestas como se fossem cordas. Em alguns minutos todos estavam presos e os convidados a salvo. Eles se debatiam contra os cipós, tentando, sem progresso nenhum, sair de suas prisões.
-Estão todos bem? –Bennu perguntou. –Receio que teremos que terminar a festa mais cedo este ano. E chamar algum tipo de controle de animais.
-Onde está Belle? –Dave perguntou, procurando na multidão de alunos que ia, frustrada, para seus dormitórios.
Um pontinho vestido com uma capa estava parado ao lado da casinha azul. Dave seguiu naquela direção. Os gêmeos se entreolharam, disseram boa noite para Lilian e foram juntos para o prédio vermelho.
-Por alguma razão, -Alícia comentou. –sinto que Isabelle tem alguma coisa a ver com isso.
Riley sentia a mesma coisa.
___*___
Obrigada por lerem!
Curtam, e compartilhem com os amigos se esiverem gostando!
Alguma sugestão, comentário ou dúvida? Comente! Eu ficarei feliz em comentar de volta!
Qual foi sua parte favorita do capítulo? A minha com certeza é "Porcos! Porcos assombrados da meia noite!"
De acordo com a LEI N 9.610 DE FEVEREIRO DE 1998, PLÁGIO É CRIME.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro