XXX -Riley
As rodas quebraram-se três quilômetros após entrarem na área de fazendas. Eram quase cinco horas da tarde. O cocheiro falou que precisava de rodas novas. Bia estava à beira de um ataque de nervos. Dave constantemente comentava que eles deviam ter usado alguma passaem para chegar até lá, e não andar de carruagem.
-Nada disso vai nos ajudar –Alícia falou. Ela arrumou o cinto na cintura e continuou, dirigindo-se ao cocheiro. –Vamos levar os cavalos. Você concerta a caruagem e volta para Tâmara.
O homem não contestou. Andou para achar alguma casa próxima e conseguir ajuda. Alícia montou num cavalo e esperou que os outros a imitassem. Quando ninguém fez nada, ela continuou a dar ordens.
-Dave, você vem comigo. Bia e Missie subam nesse aqui. Riley, fica com o outro e diga para onde devem nos levar.
Riley já havia montado um cavalo uma vez, mas com sela, e com ajuda. Os outros três não pensaram muito e obedeceram. Riley não queria ficar para trás. Ajustou a mochila nos ombros e subiu. Demorou para se arrumar, mas, enfim, disse que tinham que chegar ao Vale da Primavera.
-O que, está brincando? –o cavalo respondeu. Riley olhou para os lados. Os amigos esperavam que ele dissesse algo. Sentia-se como Resmungo. –Isso é muito longe. Vamos deixá-los no Rio das Sereias. Não podeíamos atravessá-lo de uma forma ou de outra. Ainda assim, é muito longe.
-E então? –Alícia questionou.
Riley transmitiu o recado do cavalo. Bia comentou algo sobre esse legado ser muito bizarro, arrumou seu arco nas costas e os três começaram a trotar para longe da carruagem quebrada. Alguns minutos após a carruagem desaparecer no horizonte, Bia e Missie começaram a cantar uma história. Era um jogo onde tinham que rimar e continuar a partir de onde a outra havia parado. Alícia deu bastante risada disso. Riley cavalgava no meio. Dave insistia em perguntas que Riley deveria fazer para os cavalos.
-Sabe, Dave –ele falou. –Eles ficam tão irritados quanto os humanos com todas essas perguntas. O seu cavalo disse que só não te derruba pois gostou de Alícia. Também disse que o nome dele é Jonus.
Dave sorriu, satisfeito. Riley revirou os olhos, e achou que o cavalo fez o mesmo. Com o passar do tempo, eles ficaram em silêncio. O caminho por onde eles trotavam era de terra. Andavam por entre cercas e plantações de milho, algodão e cana-de-açucar. Algumas casa podiam ser vistas, mas apenas de longe. Algumas vacas e porcos cumprimentavam os viajantes de vez em quando. Riley concordava com Bia. Entender o que os animais faavam era bastante estranho. Alícia obserava a foto de seu pai no pingente e Dave acariciava a pedra vermelha em Mata-Touro. Riley tirou a mochila das costas. Buscou nos bolsos até achar um livro do tamanho de uma caixa de fósforos. Desdobrou-o, puxou e abriu-o em seu colo. Passou a mão pela capa. Então é isso o que você é. Ele pensou, passando a mão na cobra alada em relevo. Um Quetzalcóatl. Não me lembro de ter lido sobre esse tipo de criatura. Continuou passando a mão pela capa. Embora não visse nada além da cobra alada, sentia uma leve elevação acima da cabeça do animal. Tentou ser mais delicado, passar os dedos com mais calma. U-j-e-b. Ujeb. O que significa isso? Achou que podeira estar errado, mas teve tempo de confirmar umas quatro vezes. Abaixo da cobra havia apenas três letras invisíveis. L, T e B. LTB. Livro de Tortas e Bolos?
-Trouxe um livro? –Bia reparou. Um sorriso formou-se em seu rosto. –Fala sério! E ainda deste tamanho? Como está carregando isso? Seus amigos cavalos te ajudam a carregar o peso?
Missie bateu na cabeça dela. Alícia e Dave deram risada junto da piadista. LTB: Literatura para Tapados numa missão com Bia. Era mais provável. Dave juntou-se à protetora para fazer alguma piada e os dois riram descontroladamente por mais alguns minutos. Alícia olhou para o irmão com um sorriso bem de leve e apontou com a cabeça para Dave. Riley mexeu os ombros e sorriu de volta. Alícia então deferiu um tapa no topo da cabeça do menino, como combinado na linguagem única dos gêmeos.
-Já chega de rir do meu irmão –ela falou. Dave fechou o semblante e calou-se.
-Estou com fome –Bia reclamou. O sol estava se pondo. Já devia ser quase sete e meia da noite. Estavam com fome e cansados. Os cavalos reclamavam também. Riley havia comido muitas frutas e barras de cereais. Estava confortável –Vamos parar na próxima casa que acharmos e pedir abrigo para a noite. Nos apresentamos como estando a serviço de Tâmara, não podem recusar.
-Não vemos uma casa a quilômetros! –Missie comentou. –Acho que deveriamos para e dormir no chão mesmo.
Ninguém gostou da ideia dela e continuaram andando. Com o tempo, os campos que enfeitavam a paisagem eram de soja. Não havia sinal nenhuma de civilização. Apenas soja, soja e mais soja. Estavam quase desistindo e aderindo à ideia idiota de Missie quando a vegetação mudou. Era um campo seco, sem vida e sem cuidado. Uma casa grande e iluminada esperava por eles ali. Eles levaram os cavalos até mais perto dela. Ela colorida, cores vibrantes e alegres. Desmontaram dos animais e se aproximaram da porta.
-Você vai Alícia –Bia cutucou ela. –A missão é sua.
-Essa é uma má ideia –Missie reclamou.
A irmã ficou parada por alguns instantes. Respirou fundo e bateu na porta. Não havia cães, nem câmeras nem cerca. Ou não recebiam muitas visitas ou não moravam ali. Talvez fosse uma má ideia. Mas a porta se abriu. Era pesada e grossa. Um homem de terno e gravta borboleta encarou as crianças.
-Hm, O-olá –Alícia deu um passo à frente. –Estamos cavalgando há horas, cumprindo uma missão da princesa Tâmara, e pensamos se não haveria como nos abrigamos aqui apenas por esta noite.
A irmã sabia ser cortês quando precisava. O homem bufou e mexeu o bigode. Afastou-se e sinalizou para os cinco passarem pela porta. Alícia olhou para trás, para o resto do grupo. Seus olhos arregalaram-se, perguntando silenciosamente se queriam prosseguir com a ideia. Bia ajeitou a mala nas costas e andou.
-E será que têm comida por aqui? –ela falou, passando pelo homem. –Sopa, carne... Gostaria de comer carne.
Missie balançou a cabeça em desconforme e seguiu a representando do fogo e do gelo. Alícia entrou junto de Riley. O homem parou-os por um instante.
-Legado do fogo, não é? Mantenha aqula menina sob controle –ele avisou. –deixem-na bem longe das obras de arte.
Alícia concordou, e os gêmeos seguiram o resto do grupo para dentro da casa. Encontraram os outros três parados na entrada de uma sala, admirando-a. Riley parou também. O dono da casa, quem quer que fosse, era apaixonado por arte. As paredes eram escondidas por pinturas emolduradas de vários estilos. Todas as vanguardas européias eram representadas ali; estátuas renascentistas e vasos em pedestais com pintura a dedo. Todos esses elementos representavam pessoas. Algumas num almoço, outras fazendo pose. Alguns com olhos arregalados e bocas abertas num grito congelado pela pintura. Seria um quarto muito bonito se os olhos das pinturas e estátuas não parecessem segui-los. Missie pareceu muito intrigada por uma das estátuas. Bia, a artista, parecia impressionada com tudo. Esqueceu até mesmo que estava com fome.
-Uau, -ela fez -essa coleção é incrível.
-Oh, sim! –o homem de gravata borboleta repondeu. –São todas obras originais. Se quiserem me acompanhar até a sala de jantar. Senhora Fifi os aguarda.
Bia controlou-se para não fazer nenhum comentário e Riley foi grato por isso. Continuaram seguindo o homem pela casa, passando por mais e mais obras, estátuas e tinta. Alícia estava nervosa, não era difícil deduzir. A cada passo que dava queria saber se estava bem em seu papel de líder. Se havia tomado a decisão certa. Riley abraçou-a da melhor maneira que conseguiu por cima de sua mochila e eles continuaram a andar juntos.
-Temos visitas –o homem falou ao chegar na sala de jantar. –Viajantes numa missão da princesa que precisam de um lugar para passar a noite. Crianças.
-Ah, que ótima notícia! –a voz de quem deveria ser Senhora Fifi respondeu. –Deixe que entrem e comam comigo. Bem-vindas, crianças de Tâmara.
Riley ficou paralizado, sua boca salivou intensamente. A mesa de jantar era farta. Cheia de todas as coisas que crianças deveriam adorar. Hambúrgeres com queijo escorrendo pelos lados, batatas fritas com carinhas sorridentes, dezenas de cortes de carne e molho barbecue. Além disso, ainda havia bolos, tortas e sucos coloridos. Arrependeu-se de ter comido as barras e frutas. Não conseguiria provar tudo naquela mesa. O piso era branco com manchas de tinta por toda a parte. No fundo, algum produto eletronico estava sendo carrgado numa tomada enfeitada com orelhas de gatinho. Fifi realmente gostava de arte.
-Sentem-se, por favor –Senora Fifi pediu.
Ela era uma velha magra com muitas rugas e peruca. Tinha um sorriso simpático, sorriso de avó. Riley não esperou que ela pedisse de novo e sentou-se à mesa de seis lugares. Missie sentou-se ao seu lado, Alícia à sua frente e Bia na ponta que não era ocupada por Fifi. Eles deixaram as mochilas no chão e Alícia começou a falar.
-Obrigada por nos receber, senhora... Fifi. Tudo o que precisamos é de um lugar para passar a noite. Ficamos acgradecidos. E temos cavalos lá fora, embora ache que vão se comportar.
-Imagina mnha filha, imagina –a veha respondeu. –Não deve se preocupar. Mordomo cuidará deles, não é?
-Sim senhora, imediatamente –o homem com gravata de borboleta respondeu.
-Podemos nos servir? –Bia perguntou, com o garfo esticado na direção da picanha.
-Claro! Não deixem de provar os sucos, eu mesma preparei.
Riley não estava com fome, mas tinha vontade de comer. As batatas, a carnes, os bolos. Tudo estava posto em pratos. Não tigelas, nem travessas, mas pratos. Decorados por debaixo do delicioso jantar. Fifi não queria que eles tirassemos pratos do lugar por causa de alguma coisa artística que Riley ignorou. O som da crocância das batatas sendo mastigadas por ele abafaram a explicação. Mordomo serviu-lhe um suco cor de rosa. Riley quase levantou-se para jogar o suco na camisa branca de Mordomo, mas a costela com molho estava deliciosa demais. Além disso, Riley nem sempre tomava sucos junto da comida. Fifi comeu junto deles e perguntou sobre várias coisas para as crianças, querendo saber como estavam e para onde iam. Como uma avó carinhosa. Missie pegou poucas coisas da farta mesa e cheirou o suco. Experimentou um pouco e deixou de lado. O dela não era rosa, era azul.
-Não quer nada além disso? –Riley perguntou para a representante dos céus.
-Não consigo... Riley, tem algo errado. Ou estou ficando louca –Riley engoliu o que tinha na boca e virou-se para a menina do olho fantasma. Ela falou num tom de voz baixo –O tio de minha irmã está desaparecido ha quase três anos. Desapareceu por aqui, pelas fazendas de Tâmara, acreditam. E tinha uma estátua lá na outra sala que retratava-o perfeitamente.
-O que quer dizer? Que Fifi o transformou naquilo? Posso garantir que ela não é a medusa.
-Sim, mas... então o que quer dizer?
Riley não tinha uma resposta paa isso. Era uma coincidência muito estranha, realmente.
-Não é só isso –ela apontou para uma pintura na parede próxima à janela, de uma moça sorridente. –É exatamente igual à reporter que veio para esse pedaço da província e desapareceu, seis meses atrás. E esse suco, no começo, é azedo, mas fica doce depois. É delicioso. É feito a base de...
-Mampolas –Riley provou o seu.
Ele queia mais, mas jurara nunca se submeter àquelas visões que as frutas causavam novamente. Estava traumatizado desde a missão de Dave e as frutas que colhera para a pégasus Tiffany.
-Não quero dizer que isso vai nos causar alucinações, mas só conheço dois usos para as mampolas. Na medicina, que não é o caso, e em poções. Para disfarçar o sabor verdadeiro da poção, como sabor artificial. Os elfos, que são os melhores nessas coisas de poções e misturas, sempre utilizam-nas, o próprio governante, Átila Markova, me contou.
-Como é? –Bia falou, olhando para os dois, preocupada por estar servindo-se do quarto copo de suco verde.
-Mas o que... –Alícia não conseguiu trminar a frase. Não estava olhando para os dois, mas para os pratos de comida.
Eles tinham comido quase tudo. Riley não fazia ideia do quanto tinha comido, mas agoras os pratos estavam quase todos vazios. Apesar de ainda estarem sujos, via-se que eles realmente formavam uma obra de arte da maneira que estavam organizados. Era uma pintura de cinco crianças risonhas. Alícia, Bia, Dave, Missie e Riley, comendo alegremente com Fifi, tudo retratado em pratos de porcelana. A sala caiu no silêncio até Fifi balançar a cabeça negativamente e chamar Mordomo. Dois dos cavalos passram correndo, eles viram pela janela. Mordomo apareceu e fechou a porta atrás de si. Fifi levantou-se e fechou a última saída.
-Temos um problema, Mordomo –ela falou. –Dois espertinhos que não gostam de artes.
Alícia empurrou a jarra de suco em cima da mulher. Dave tirou Mata-touro do bolso e apontou para Mordomo. Bia levantou-se e pegou seu arco do chão. Preparou uma flecha e apontou na direção de Fifi. Antes de alguém poder fazer alguma coisa, os três que haviam bebido muito suco congelaram e virarm pedra. Fifi acabara de ganhar três novas estátuas para sua coleção.
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