XXVI -Dave
Ele decidiu que não queria as pessoas o tratando por 'O mercenário'. Os alunos de Edgar não eram só barulhentos, como fofoqueiros. Missie havia comentado com Cibele sobre o nome que inventara e ela espalhara para todos os seus colegas. Em alguns minutos o acampamento inteiro sabia e o chamava por O mercenário. Pediu para Cibele fofocar mais uma vez sobre uma mudança. Agora ele era o Cavaleiro Solitário. Riley quem havia sugerido. Era muito melhor do que mercenário.
Estavam sentados no acampamento de Tâmara com uma mistura de crianças. Seis dias já haviam se passado. Dave havia feito um grande grupo de amigos, que não incluia sempre Alícia e Riley. Chris e Ciara, apesar de estarem sempre juntas, brigavam bastante e Dave achou que era possível ouvir seus gritos a quilometros de distância. Riley estava muito contente de andar por ai com Marcy. Aparentemente tinham os mesmos interesses para filmes e atividades ao ar livre. Alícia continuava sendo a estrela do acampamento. Todos pediam que ela mostrasse seu legado. Fez amizade com um dos amigos de Bia e os dois pregavam peças em todo mundo. Naquele dia, parecia um pouco distante, mas Dave estava muito ocupado com seus próprios pensamentos. Tinha pensado muito na mãe durante a noite, quando olhava para o cabo da espada e a pedra vermelha. Queria saber como ela estava.
-Por que todo mundo de Edgar sabe cantar e dançar tão bem? –Dave perguntou para Alícia, que estava sentada ao seu lado. Procurou distrair-se um pouco.
Duas garotas estavam cantando Ebony eyes, de Rick James, e cantavam lindamnte. Missie e Bia dançavam juntas, próximas ao fogo, tentando acompanhar o rítmo delas. Alícia terminou de mastigar seu s'more antes de responder.
-Não sei bem o porque, mas Edgar presa muito os talentos –ela disse. –Ou presava, não sei.
-Isso está no manifeso dele? –ele perguntou. Ainda não havia tido a oprtunidade de sentar-se com Thaila e discutir sobre um manifesto, então mantinha a ideia na cabeça.
-Está sim. Diz que aqueles que não tem anda a oferecer são considerados inúteis.
Dave arregalou os olhos. Cibele havia dito que além de ser uma ótima jogadora de poker, era exepcional em andar na corda bamba. Dave não sabia como isso era algo relevante para se oferecer para a sociedade, mas não perguntou mais nada. Também lhe contara que as tatuagens e cabelos coloridos eram por que o príncipe Edgar apreciava estilos diferenciados. Como os cavalos na barba Dave pensou.
O professor Cardel veio checar seus alunos de noite. Viu que estavam todos cansados e bem animados e ficou feliz por eles. Jantaram todos juntos na casa grande mais uma vez. Dave não precisou sentar-se ao lado de Bia desta vez. Ela agarrou Marcy e disse que estava com saudades, deixando seu protegido livre para sentar-se com Riley e Alícia.
-Meus amigos ainda estão de férias –Alícia resmungou. –Não que eu prefiro estar em casa... Mas não gosto de pensar neles de férias e nós não.
-Está se dando bem por aqui, não é irmã? –Riley sorriu para a menina e ela corou.
-Você também irmão –ela sorriu na direção de Marcy. Riley não sorriu e virou a cabeça para ela.
Dave nunca entenderia as provocações dos dois. Com Rick, ele só tinha que ter certeza que ele não colocaria fogo em nada. Nem se falavam muito, para dizer a verdade. Ele sabia mais sobre Riley e Alícia do que sobre o próprio irmão. Sabia mais sobre Nicolle do que sobre o menino que dividira o teto com ele por quatroze anos. Isso não o incomodava. Deveria? Talvez não. Embora Rick fosse muito animado e divertido, ele ainda causava mais dores de cabeça do que ajudava em casa.
Lembrou-se de uma manhã que tentou fazer panquecas para o café da família. Pôs manteiga, calda de chocolate e mel sobre a mesa e preparou a receita, seguindo instruções de um site. Ficaram um pouco queimadas e num formato estranho, mas estavam muito gostosas. Maria saiu de seu banho e ficou radante ao ver o café preparado por ele. Dave tinha oito anos e já cozinhava a quase um ano. Rick acordou naquela manhã com vontade de estragar tudo, Dave pensou. Fez alguma piada sobre as panquecas estarem queimadas e decidiu que iria servr-se de café com sem ajuda nenhuma. Maria disse que ele não deveria tomar muito pois tinha apenas sete anos; era muito novo. Ele bateu o pé no chão e gritou que "não era não".
-Já estou no primeiro ano! Sei fazer as coisas também, não sou um bebê, NÃO SOU!
E derrubou sua xícara cheia de leite no chão. Quebrou-a em algumas partes e Maria ficou nervosa. Disse que ele sabia fazer as coisas, então sabia limpar o chão. Rick bateu forte o pé no chão de novo e começou a chorar. Sua mãe ordenou que ele descesse e fosse imediatamente para o carro, sem poder escolher seu lanche para a escola. Dave começou a recolher os cacos antes que sua mãe pedisse a vassoura.
-Eu tranco a casa para você mãe –ele falou. –Sei o caminho para a escola. Vai se atrasar se ficar para limpar.
Maria sorriu e abraçou o filho.
-Me mande um torpedo ao sair de casa e um ao chegar na escola, me ouviu?
Dave havia ficado realmente chateado naquele dia. Queria fazer alguma coisa especial para sua mãe e Rick estragara tudo. Fora a primeira vez que ele foi sozinho para a escola. Dave passou a preparar o café todos os dias e andar sozinho todos os dias, até não ser mais especial. Comprar pão ao voltar para casa, pegar as cartas com o porteiro e ajudar Rick com matemática. Nada mais era especial.
Dave se perguntava quem fazia essas coisas agora que ele não estava mais por lá, apesar de Rick estar menos inútil, pelo que ele percebia. Antes, as únicas coisas que falava com o irmão era sobre a escola dele e alguma outra bobagem qualquer sobre dinossauros e aviões. Ele perguntava muito sobre Érestha, mas as respostas eram gerais, para todos ouvirem, não só para Rick. Agora, Rick se oferecera para lavar toda a louça do Natal e ajudar Nicolle a alimentar Chiuaua Francesa na rua. Não falava muito mais sobre dinossauros e conseguia ficar sentado por mais de dez minutos. Alguma coisa estava errada com seu irmão, mas Dave tinha medo de perguntar e acabar com aquilo. Os Fellows não tinham uma conexão como os gêmeos Weis. Talvez isso lhe incomodasse um pouco sim.
Sabia, porém, que não era o único que tinha problemas com irmãos. Nicolle de Vie tinha dois irmãos mais velhos que atormentavam-na todos os dias. Inúmeras vezes chegara chorando para a escola em São Paulo. Nunca falava sobre o assunto. Sua mãe nunca estava em casa, seu pai era agressivo e gritava muito. Ele sempre quisera entender como Nicolle sempre fora tão bondosa, tão amorosa, quando a família era tão cheia de problemas. Era quase tão feliz quanto Lorena, que via tudo como se fosse mágico.
Pensar em Nicolle era um pouco doloroso. Sentia-se como se estivesse mentindo para ela. Sabia que ela ficaria animada em saber sobre Éretha, não surtaria como Dave surtara. Não poderia entrar no reino a toda hora, mas ficaria encantada em participar da festa da futura rainha. Maria entrava no reino com Reginald no dia da celebração. Ele queria ter a coragem de contar-lhe tudo e convida-la para o Castelo de Vidro.
Alícia também não se dava bem com os irmãos. O motivo não era nenhum segredo. Eles simplesmente não se gostavam. Romena e Rômulo apenas a ignoravam, enquanto Ramona era maldosa de verdade, fazia questão de vê-la sofrendo. O único mistério era por que Riley era imune a isso tudo. Talvez pois sabia para onde ir quando estava chateado, ao invés de Alícia, que tinha a péssima mania de esconder tudo o que sentia e descontar em coisas materiais.
Talvez ele devesse estar feliz pela relação que tinha com Rick: não havia relação nenhuma. Se tentasse conhecer mais sobre ele, acabaria mal, ele tinha certeza. Tâmara e Tamires não se davam bem. Thaila e Tabata, Teresa e Elias. As chances de Rick e Dave estarem nessa lista eram muito grandes. Afinal, o que ele diria sobre si para o irmão? Pois é, sou legado da futura rainha, posso ler o passado das pessoas e estou destinado a acabar com uma guerra que mal compreendo. A propósito, sabia que nosso pai foi amante dessa princesa? É, nossa mãe a odeia, não é o máximo?
De qualquer jeito, Rick não entenderia. Ou ele achava que não. Por que estou pensando nisso, de uma forma ou de outra? Ele chacoalhou os pesamentos.
-O que foi? –Bia perguntou, franzindo o cenho.
A marca da fênix aqueceu-se. Dave squecia que aquilo era como uma ponte entre os sentimentos e os pensamentos dos envolvidos. Isso não lhe incomodava, mas, as vezes, queria guardar algumas coisas para si mesmo.
-Tenho um irmão –ele falou. –Acho que sinto saudades dele.
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