XVII -Riley
Os alunos não precisavam estudar de quinta para sexta. As últimas provas erm a de LAD e Educação Física. "O jogo", como alguns chamavam. Seria também o último dia de aula do primeiro trimestre. Riley estava animado para as férias apenas por que ao voltar delas o segundo ano iria diretamente para sua surpresa. O primeiro ano tentava extrair alguma informação dos mais velhos, mas não obtinham sucesso. Riley deixava seus amigos mais novos curiosos sempre que tinha uma chance. Mesmo livre dos estudos, Riley foi para a biblioteca encontrar-se com Dave.
-Foi difícil me livrar da sua irmã –Dave admitiu. Tinha uma folha amassada a sua frente e alguns livros empilhados ao seu lado. –Ela e os amigos dela da aula de natação não param de falar sobre atirar flechas na prova de amanhã. Como se alguém do terceiro ano precisasse se preocupar com isso. Não são eles que serão avaliados...
-Ok, é eu sei –Riley sentou-se. Trazia consigo o exemplar de "Fatos e mitos sobre: Côndefas". Renovava a posse do livro sempre que esta estava perto de acabar. Não conseguia ver-se sem essa fonte de informações. –Ela está animada por que é muito boa nisso, mas não estamos aqui por isso. E você está ficando melhor, garanto que se dará bem.
-É, claro –Dave encostou-se na cadeira.
Riley sentia-se mal pelo amigo. Ele estava melhorando, acertando a árvore, pelo menos. Mas Dave era incorrigível. Simplesmente muito ruim em arco e flecha. Ele desamaçou o papel.
-Teve tempo de ver isso? –perguntou.
-Não muito. Olha, Riley, eu andei falando com minha prima e a princesa Tâmara e acho que...
-Não! Você tem que ouvir isso. Andei lendo muito sobre aquelas criauras que nos atacaram no fim do ano letivo passado. São chamadas côndefas. Achei esse livro que fala sobre um grupo delas, olhe essa foto.
Riley mostrou-lhe a imagem no livro. Era a foto de quatro garotas de roupa preta com o cabelo preto e uma mecha colorida solta. Ele apontou para a que tinha uma mecha verde e contou que era Sachabella.
-Eu as vi uma vez –Dave de repente interessou-se mais pela foto. –No dia do meu teste, lá no Brasil. Estavam atravessando a rua, achei que iam atacar minha amiga. O que elas são?
-Demônios, Dave. Aberrações.
Então contou-lhe tudo o que havia aprendido sobre elas. Tinha passado capítulo por capítulo daquele livro. A autora, Hynne Stewart, afirmava tudo com tanta certeza que Riley sentia-se lendo a obra de uma especialista. "Não há como sabermos se uma é uma côndefa apenas por olharmos para ela." Ela escrevera. "Nem mesmo o mais forte dos identificadores de auras pode sentir a verdade sem analisar tudo sobre ela. Possuem uma espécie de manto telepático, anulando a leitura de seu passado no mundo dos mortos e memórias sobre suas habilidades ganhas após a volta-à-vida, assim como é impossível prever o futuro destruidor delas."
-Elas? Por que só no feminino?
-Pois há apenas casos confirmados de côndefas femininas, mas isso não vem ao caso agora –Riley desamassou o papel enquanto continuava a conversa. –Você é um identificador de auras. Consegue fazer alguma dessas coisas que leu?
Dave pareceu relutante em responder. Chacoalhou a cabeça e contou sobre o que havia descoberto sobre si mesmo com Lawrence.
-Ótimo. Então leia o papel –ele estendeu a folha amassada para o menino.
Era uma página de jornal. Dave já sabia do que se tratava, então não se surepreendeu ao ver as fotos. Uma de rosto e a outra de perfil. Cabelos negros, olhos levemente puxados e um sorriso maquiavélico.
-"Procurado." –ele começou a leitura. –"Pedro Fredrickson Satomack, por conspiração, assassinatos, roubos, sequestros e outros crimes hediondos. Visto pela última vez ao lado de outros dois criminosos participantes de um grupo de mercenários. Cabelos negros, olhos puxados, 1,80m e costuma carregar um chicote consigo. PERIGOSO!
"Procurado pelo assassinato de mais de cinquenta pessoas inocentes, incluindo crianças, na procura pelo suposto legado da futura rainha. Acredita-se que Pedro utiliza seu chicote como arma para matar, proporcionando a suas vítimas uma morte dolorosa e demorada. É acusado de levar aqueles que acredita terem informações importantes para serem torturados em Chelmno. Também é acusado de roubar as vítimas após assassina-las, levando consigo bens como jóias, dinheiro e brinquedos das crianças. Além de tudo, acredita-se que é o responsável por diversos incêndios por toda Érestha. Acima de todos esses crimes, Pedro Satomack conspirou ao lado de Tabata contra a família real, ajudando a causar a morte de nossa amada rainha Thaís e princesa Argia. O homem é procurado, vivo ou morto." Onde achou esse artigo?
-Num dos jornais velhos que fica ali atrás da bibliotecária –Riley respondeu. –Os que não podemos tirar da biblioteca.
-Rasgou uma página de um jornal do arquivo?
-Shh! Agora, aqui está onde estou querendo chegar: Pedro Satomak é uma côndefa. Ou um côndefa, não acho que há um termo exato para...
-Espera ai, como assim? –Dave voltou a analisar a página do jornal. –Você acaba de me dizer que só existem casos desses demônios femininos.
-Casos confirmados. E há muitas outras matérias sobre ele. Falam sobre como ele era misterioso, aparecia de surpresa nos lugares, ninguém conseguia prever isso. E você o viu naquele dia na praça. Ele tinha seu chicote, sua capa de chuva... Não percebeu nada estranho? Ele não ficava parado, não se queimava, suas roupas não ficaram molhadas ou queimando, e ele simplesmente desapareceu da cena do crime.
-O que você está dizendo? O que isso prova?
-Ele estava se teletransportnado –Dave franziu as sobrancelhas. –Para algum outro lugar, mas voltava rapidamente, não dando tempo suficiente para que suas roupas queimassem. Esse é o dom que ganhou quando Tabata o trouxe de volta a vida. Por isso é tão misterioso, tão imprevisível. O que você sentiu naquele dia?
-Nada de especial –ele respondeu o amigo. –Só me lembrei de sons. Sons de chicote, sons de sofrimento, sons de gritos e o terrível som do silêncio. Mas por que você se importa com isso tudo?
Riley sentou mais confortavelmente na cadeira.
-Eu também senti alguma coisa, Dave. Era uma memória. Não sei bem o que significa, mas lembro-me de braços me segurando, me balançando. E o pior de tudo é que não me sinto mal, me sinto relaxado.
-Não acha que Pedro Satomak chegou a ter você em seus braços um dia, acha?
-Não sei. Quer dizer, por que teria? Mas não consigo parar de pensar nisso.
-Ele é um assassino, Riley –Dave pos-se de pé. –Se ele já esteve perto de você ou não, devia deixar isso de lado. Não é hora de se preocupar com isso. Está obcecado. Não é saudável!
-São informações valiosas –Riley balbuciou enquanto o amigo saía da biblioteca. –Sei que estou certo. Quero saber mais.
E abriu um novo livro com informações sobre criaturas. Passou uma hora, talvez duas, lendo e absorvendo informações daquele livro. Estava certo sobre suas teorias, queria acreditar nisso tanto quanto queria esquecer a sensação de paz que sentira ao ver o assassino. Tentava se distrair, descansar a mente de tanta informação sobre a escuridão, mas não conseguia. Afogava-se em mais livros. Achou conforto no título "Contos proibidos da família Bermonth". Eram diversas histórias sobre a família real e seus pecados, contos que Riley já conhecia, historietas com um fundo de verdade. Mitos. Mas ele gostava de lê-las.
Havia aquela sobre a filha da princesa das águas, que tia Rosa contava para os sobrinhos para alertá-los sobre o perigo dos pecados. "Teresa andava por seu domínio, deixando que a areia lhe beijasse os pés, saudando suas criaturas." Ele lembrava da voz da tia, causando-lhe arrepios desagradáveis. "Um barco dourado surgiu no horizonte. Brilhava tanto quanto o sol, chamando a princesa para ele. Não deixem que a beleza os engane, crianças. O barco era um navio pirata, um navio amaldiçoado. Chamado de Fênix Dourada, seu capitão era Krev Krols. Ele seduziu a princesa, violou-a para seu próprio prazer e plantou um bebê em seu ventre. Não se esconde segredos da rainha. O bebê, logo após nascer, foi exilado. Um símbolo do pecado, da indecência de uma princesa e um pirata. Foi jogada no mar, sugada pela correnteza, destruída pelos domínios da mãe pecadora." No livro, a história era retratada de maneira bem diferente. A princesa quem procurara por Krev naquela versão. Ela quem o desejara desde o início. O final era o mesmo, mas a ênfase no sofrimento de Teresa era maior.
Continuando a folhear as páginas, Riley se deparou com um nome que não pensava tanto quanto gostaria. Um nome que não sabia se lhe deixava feliz ou assustado. Marineva. Inspirou o nome e sentiu seu sabor ao pronunciá-lo. Tinha sabor de vitória. Ele era um herói para ela e decidiu ler seu conto. Não sabia por que ainda insistia em despersar sua mente.
O protagonista da hstória era o príncipe do sol e da lua. A história começava num lago banhado pela luz da lua. Edgar voltava de uma reunião com os pais. A reunião que decidira o que seria feito da filha de Teresa. Extressado pelo trabalho e triste pela irmã mais próxima, deixou caír uma lágrima no lago. Dela nasceu uma mulher. Cabelos louros e pele brilhante. Extasiado com a beleza de sua criação, o orgulhoso príncipe deixou que mais uma lágrima escorresse de seu rosto e pousasse no lago, criando outra moça exatamente igual. O que diferenciava as duas eram seus sentimentos. Aquela criada pelo extresse olhava Edgar com desejo. Aquela criada pelo êxtase olhava para Edgar com amor.
-Como se chamam? –ele perguntou para as mulheres.
-Dneva –a primeira respondeu.
-Marineva –disse a segunda.
As moças aproximaram-se delicadamente. Marineva beijou-lhe os pés. Dneva beijou-lhe a boca. Assustado, ainda pensando no caso da irmã das águas, ele afastou as moças e virou-se para ir embora. Dneva gritou de desgosto, rasgou seus cabelos louros e amaldiçoou o príncipe. Marineva juntou as mãos e disse que esperaria por ele.
Riley ficou encantado com a história, satisfeito. Não havia nenhuma explicação sobre o que acontecera com as moças após aquela noite, mas Riley sabia bem. Lembrava-se da última coisa que Marineva lhe pedira: que dissesse a "ele" que ela ainda estava esperando. Referia-se a Edgar. Será que ele conseguiria transmitir esse recado? Fechou o livro e correu para contar a sua irmã sobre sua descoberta.
:)
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