XII -Alícia
Os resultados nas aulas de legado e arco e flecha estavam deixando Alícia muito contente. Estava sempre animada para frequentar as aulas de Lorena e aprender mais. E as aulas de natação para a qual havia se juntado estavam indo muito bem. O professor era o mesmo de educação física, e Alícia estava feliz por isso. Era um homem bem divertido e um ótimo professor. A escola não tinha uma piscina, então os alunos nadavam no lago.
Alguns ficavam meio receosos em entrar naquele lago por causa dos acontecimentos do ano anterior. Alícia estava mais calma pois não acreditava que Isabelle voltaria a atacar sua escola. Principalmente com o pai ali.
Gary DiPrata não voltara a ser o mesmo desde o incidente com a filha. Não esteve com os alunos na volta às aulas, fez um discurso muito simples e bastante curto antes das novas crianças ganharem suas marcas, não conversou com o segundo ano sobre a "surpresa" e apenas compareceu a seleção de cores. Nunca aparecia nos almoços e jantares. Estava sempre trancado em sua sala. Alícia podia contar nos dedos de uma mão as vezes que o vira andando pela escola. Entendia que era difícil lidar com a situação, mas achava que ele podia tentar ser menos óbvio.
Seguindo esse raciocínio, pensou se conseguiria fazer Isabelle sofrer tanto quanto seu pai estava sofrendo. Tinha esperanças que os pesadelos não voltariam, mas tinha certeza que seria chamada para o lugar secredo da DiPrata novamente. Talvez conseguisse faze-la parar se transformasse a si mesma num fardo, um incomodo.
-Weis! –o professor Borges gritou. –Isso é uma aula de natação, tem que estar dentro d'água!
A água era limpa, com algumas algas e peixinhos, e a área que utilizavam para a aula não era mais funda do que dois metros. Mas era gelada. Muito gelada, principaemtne no auge do outono. Quando o inverno chegasse, teriam que cancelar as aulas. O lago chegava a congelar por completo. Ela ajeitou a touca na cabeça, colocou os óculos e pulou na água. Adorava a sensação que tinha quando entrava debaixo d'água. Parecia que tudo ficava em paz, mais leve e mais calmo, incluindo sua própria mente.
Sua turma de natação era composta de vinte alunos de todas as séries e cores que se encontravam todas as terças e quintas. O professor dispunha cinco bóias à vinte e cinco metros dos alunos –o comprimento de uma piscina semiolímipica –e dividia os alunos em grupos de quatro. Dissera, na primeira aula, que poderiam escolher seus próprios grupos após um tempo. Sempre que um professor dizia isso, Alícia ficava nervosa. No Brasil, seus grupos eram sempre junto de Riley e seus amigos, ou acabava encaixada em uma equipe que precisava de mais um membro. Na natação, isso era diferente. A água era muito convidativa, a deixava esquecer todo esse passado de rejeição.
Alisyn, uma amiga de sua irmã Romena, Matheus do terceiro ano e uma garotinha do primeiro era os companheiros de Alícia. Eles se davam muito bem, embora a garotinha parecia preferir estar em outro grupo com um de seus amigos.
-Aposto que consigo chegar até a boia e voltar mais rápido do que vocês –Matheus desafiou os colegas.
Alisyn deu risada. Disse que claramente era a mais rápida dali e além de tudo, a mais resistente. A garotinha afirmava ser a melhor de todas.
-Venço dos três com as mãos amarradas –Alícia riu. Estava adorando a confiança que aquele lago lhe dava.
-Quero ver se estão falando a verdade –o professor ouviu a conversa dos quatro. –Vamos começar com revezamento medley. Decidam quem fará costas, peito, borboleta e crawl. A equipe que fizer o menor tempo pode escolher a próxima atividade.
À menina foi designado o nado crawl. Seria a última a nadar. Foi muito divertido assistir aos colegas nadando, torcer por eles e esperar sua vez. Todas as equipes estavam muito próximas umas das outras. A vantagem estava com a de Alícia. Seus colegas que estavam fora d'água gritavam para que ela se preparasse. Alisyn estava chegando e seria a vez dela de pular e nadar.
-Vai Alícia, vai! –Matheus gritou.
Ela pulou na água e bateu pernas e braços até fazer a volta na boia. Pensava mais em chegar no final do que em respirar. A água finalmente estava ficando mais quente, talvez pelo seus movimentos dentro dela. Ou talvez não fosse esse o motivo. A água estava ficando muito quente e bem rapidamente. As pequenas criaturas que viviam ali estavam se afastando de Alícia e bolhas subiam do fundo do lago muito rapidamente. Estava quase chegando na metade do percurso de volta quando um pouco da água, que a esta altura já estava muito quente, entrou em seus óculos. Seus olhos arderam e ela afundou. Chegando perto do fundo do lago, a sensação não era de estar afundando, mas caíndo. Caiu e caiu até atingir a copa de uma árvore, ser arranhada por todos os seus galhos e acabar no chão. Sua touca ficou presa na árvore e o óculos se quebrou. Ela respirava com dificuldade, e arrastava os dentes para lutar contra os arranhões em seu corpo. Ficou assustada no começo, mas percebeu logo o que estava acontecendo.
-Rápido. Não tenho muito tempo, estou de saída –uma mão puxou-a do chão e deixou-a de pé. Isabelle tinha um cinto de couro com uma espada presa pobremente nele. A lâmina era branca e o cabo de pedra negra. Alícia temeu cortar-se apenas por olhar para aquilo. O cabelo dela estava preso e usava botas sujas de lama. –O que você fez? Pra quem você contou?
Alícica não respondeu. Afasou-se dela e apoiou-se na árvore para tentar respirar melhor. Fez um esforço verdadeiro para não pensar em nada, mas não pode deixar de responder à pergunta dela. Seus pensamentos contaram que Dave agora sabia do lugar secreto de Isabelle.
-E ele pediu para dizer que está bem –Alícia falou, aceitando a quebra de sigilo.
-Você é esperta, Alícia Weis -Isabele sorriu. –Dave também. Saberá o que fazer. Ele é o único que pode saber, está me entendendo? Nem seu querido irmão, nem sua preciosa senhora da Terra. Lembre-se disso e tudo ficará mais fácil para nós. Era tudo o que tínhamos para falar.
-Tem certeza? –Foi a vez de Alícia sorrir. –Vai me perguntar sobre um menino que conheceu por um ano e não quer saber nada sobre seu próprio pai? Sabe, ele ainda está lá na escola, embora eu quase não o veja.
-Calada –ela cerrou os dentes, mas falou com seus pensamentos.
-Ele chorou muito nos braços de sua mãe, na noite em que você saiu. Graças a você, tivemos mortes e ferimentos muitos graves em nossos alunos. Gary nunca mais foi o mesmo. Parece tão triste, tão decepcionado.
Isabelle segurou o punho da espada e encarou Alícia com tal fúria que deixou a menina realmente assustada. Ela não desistiu de seu plano.
-Você tem um irmão, não tem? –continuou. –Aposto que ele também está bem triste. Lembro-me de como o seu pai tinha orgulho de você, de como ficou feliz por saber que seu legado não era de Tâmara, da esperança que ele teve ao saber que a filha podia ser legado da futura rainha. COMO VOCÊ ACHA QUE ELE ESTÁ SE SENTINDO AGORA?
Isabelle segurou o punho da espada e encarou os olhos de Alícia. Ela era dura, devia ter que aguentar muita coisa com Tabata. Mas Alícia queria quebra-la.
-Como você chama essa espada branca? –continuou com um sorriso. –é um pouco irônico, não acha? Uma luz como essa no reino da morte... Traidora. Seria um ótimo nome, a lâmina traidora.
-EU MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA! – o gritou veio do fundo dos pulmões da menina. Ela nunca usava a própria voz para falar naquele lugar. Era sempre sua mente. Alícia assustou-se. –Fala como se se tivesse a melhor relação do mundo com seu pai. E nem o conhece, não é mesmo? Sua irmã tem razão. Não passa de uma bastarda imunda.
Ela tentou afastar-se mais, agora com lágrimas nos olhos, mas a árvore a impedia. Isabelle pegou sua espada e atacou a menina. Cortou-lhe da coxa direita até alguns centímetros abaixo de seu seio esquerdo. O ódio estampado no rosto dela era mais assustador do que a comprida lâmina albina. Antes de poder ver o sangue escorrendo de seu corpo, Alícia acordou no deque do lago e cuspiu uma enorme quantidade de água na cara do seu professor. Escorria também pelo seu nariz e ela respirava com ainda mais dificuldade. Sentiu uma tontura muito forte, e sorriu antes de desmaiar. Havia conseguido fazer com que Isabelle ficasse brava.
Quando finalmente acordou, ela estava deitada numa cama macia, coberta e confortável. Sua cabeça fora cuidadosamente colocada num travesseiro duro. A luz que vinha da lâmpada branca obrigou-a a fechar os olhos com força antes de olhar em volta para ter certeza de que aquilo era uma lâmpada, e não o brilho da espada de Isabelle. Um vaso de flores enfeitava sua cabiceira, e seu melhores amigos estavam sentados no sofá, comendo algo que cheirava muito bem.
-Certo, desta vez foi por quanto tempo? –ela perguntou com certo esforço. Sua voz saiu dela falhando e um pouco rouca.
Riley ficou um tanto sem reação. Pensou em largar a comida, chamar a enfermeira, abraçar a irmã, mas acabou engasgando. Dave respondeu à pergunta.
-Apenas algumas horas. São vinte para as oito agora.
-O que estão comendo? –ela apoiou is braços na cama para sentar-se.
-Prato principal de hoje: lombo com molho de coco. É surpreendentemente delicioso, Érestha não para de me surpreender. Quer experimentar?
Ele se levantou e sentou-se ao pé da cama dela. Riley não deixou que ele esticasse o garfo para servi-la.
-Não sabemos o que ela pode ou não comer –ele disse. –Acabou de acordar, engoliu muita água... Seu nariz sangrou.
-Tem razão Riley –Alícia falou. Os dois meninos franziram a sobrancelha para ela. –Por que não vai chamar a enfermeira? Pergunte para ela o que eu posso ou não comer.
O menino foi, mesmo questionando várias vezes se ela tinha certeza de que estava bem. Assim que ele saiu, ela se levantou e roubou o prato de Dave. Comeu todo o resto dele em poucos segundos.
-Eu realmente tinha gostado disso –Dave murmurrou.
Ela percebeu que não estava mais com o maiô da natação. Usava uma camisola muito larga e um shorts também bastante largo por debaixo dela. Levantou a parte de cima até a altura do umbigo e viu a marca deixada pela espada de Isabelle. Dave arregalou os olhos à visão da possível cicatriz.
-Foi ela, não foi? –Dave perguntou, levantando-se também. –Esteve lá novamente?
A menina anuiu. Arrumou a camisola e sentou-se. Segurou-se para não chorar. Tinha julgado-a pela falta de consideração pelo pai e Isabelle conseguira virar o jogo, lembrando a menina que mal tinha um pai.
-Eu a provoquei. Ficou brava, gritou e me atacou com a espada dela. Acho que não vai me incomodar tão de novo tão cedo.
-E se precisarmos dela? –Alícia franziu o cenho. –Olha, eu não sei o que ela ganha te dando essas informaçõs, mas podem ser úteis. Expliquei para Thaila sobre o que me disse, sem mencionar Isabelle, e ela entendeu. Achou que seria uma boa ideia usar as armas contra Tabata. E se ela tiver mais alguma coisa para falar? Qualquer coisa que ajude a acabar essa guerra.
-Não sei, mas não quero voltar para lá.
-Alícia, –ele colocou a mão no ombro dela –confie em mim. Isabelle pode ajudar, ela não é má.
-Não é má? –Ela se levantou. –amaldiçoou-me, torturou-me com pesadelos e fez isso comigo!
Ela mostrou a cicatriz novamente. Porém, já não havia mais nada. Sua pele estava normal, perfeita como fora antes. O olhar no rosto de Dave mostrava que ele ainda queria que Alícia falasse com Isabelle, apesar de tudo. A menina teria acertado um tapa em seu rosto se Riley não tivesse entroado com a enfermeira. Os meninos foram instruídos a irem para seus dormitórios e foi servida sopa de legumes para Alícia. Ela passou a noite em claro, com medo de dormir e ser punida pela representante do mal.
Desculpe pela demora! Gotaram? Me contem ai em baixo ;)
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