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VII -Riley


Era a última aula da semana. Onze horas da sexta-feira, dia dezenove. Aula da professora Bennu Wills, Artes da Terra. O cão-fera do diretor latia baixinho. Riley costumava sentir-se muito bem nessa aula, pois tinha facilidade na matéria. Os alunos reuniram-se na sala de costume, porém quem os aguardava não era Bennu, mas Lorena. Todos sentaram-se com a testa franzida, encarando a professora que comparava a leitura de uma folha de papel com um óculos e sem o óculos.

-Ela deve ser cega... –murmurou.

-É por isso que preciso deles, professora –Bennu entrou na sala com seu material.

Lorena soltou a folha e colocou o óculos em cima da mesa, bagunçando seus cabelos. Cruzou as pernas e sorriu, disfarçando o comentário que havia feito. Sorriu e acenou. Bennu deu risada e colocou o material em cima da mesa.

-Olá alunos –a professora de artes da terra saudou. –Devem estar se perguntando porque a professora Lorena está aqui hoje.

A cunhada acenou para a classe. Já tinha os óculos no rosto mais uma vez. Riley riu do jeito como a cunhada era tão hilária de um modo tão natural.

-Acredito que já seja hora de falarmos um pouco mais sobre a 'surpresa" deste ano –essas palavras voltaram toda a atenção de Riley para a velha baixinha que falava. –Não posso revelar muito do que vai acontecer lá, afinal, ainda é uma surpresa. O que posso garantir é que precisarão usar seus legados. Bastante. E não só fazer plantas crescerem em vasos. Precisam aperfeiçoar isso em um semestre. Estou falando de aprender a usar o legado de Tâmara em outras situações. Como na luta!

Lorena se levantou e fez uma reverência. Depois, tirou a espada da bainha e fincou-a no chão, causando um pequeno terremoto que derrubou os estojos das mesas e fez algumas crianças gritarem. Riley ficou impressionado. Será que um dia serei capaz de fazer isso? Pensou.

-Ou assim...

Bennu ergueu uma das mãos com muita graça e levantou tudo o que havia caído no chão com alguns ramos que criara.

-Mal consigo fazer uma semene florir, que dirá criar ramos do concreto... –alguém comentou.

Bennu deu risada. Lorena também. A professora de história apareceu na porta, olhando preocupada para dentro da sala, mas apenas revirou os olhos quando viu as duas professoras dentro da sala. Aparentemente isso acontecia sempre.

Riley e os colegas foram instruidos a acompanhar as duas professoras até a árvore-alvo. Ele não fazia idéia do que ia acontecer, mas estava animado. Lá no pátio, os alunos sentaram-se na grama, de frente para as duas professoras. Bennu disse que ia mostrar para eles como o legado da terra poderia ser tão poderoso quanto uma espada. Lorena estava se preparando com polichinelos e golpes no ar. Estava bem concentrada.

-Prepare-se senhora Wills –ela disse. –O placar está seis a zero, mas dessa vez eu venço!

-Há quanos anos trabalha aqui? –Riley perguntou.

-Seis –Bennu deu risada. –Esse é o sétimo ano, o ano da sorte, o ano da vitória! Prepare-se!

-Ataque quando estiver preparada.

Lorena empunhava agora uma espada de madeira, e Bennu estava completamente desarmada. A professora de LAD avançou, berrando e com a espada segurada pelas duas mãos, posicionada para atacar a cabeça da outra professora. Bennu fez certa força para puxar do chão um bloco enorme de terra que impediu o ataque de Lorena. Isso arrancou expressões de pura admiração dos mais novos. Principalmente de Riley, que não conseguiu fechar a boca até o fim da luta. Lorena partiu imediatamente para atacar as pernas, mas Bennu "devolveu" o bloco de terra ao chão, prendendo a espada em baixo da terra e quebrando-a na metade. A cunhada estava desacreditada. Pegou o que restou da espada e tentou atacar novamente. Rolou pelo chão mas não conseguiu se levantar. Bennu prendeu-a com grama, que crescia dez vezes mais rápido do que o que Riley podia fazer. A grama cresceu até o pescoço de Lorena, mas esta ainda se debatia.

-Viram crianças? –Bennu falou. –Derrotei sua professora e nem saí do lugar.

-Não... Derrotou... Não...

Lorena mexia os ombros frenéticamente e conseguiu cortar a grama com as pontas irregulares da espada. Pulou para frente e acertou a parte chata da espada quebrada no traseiro da outra professora. Sem se abalar, Bennu mexeu as mãos e dois cipós surgiram do topo da árvore-alvo, prendendo os pés de Lorena e pendurando-a de cabeça para baixo. Ela grunhiu e derrubou a espada. Riley, Alícia e Dave se entreolharam. Os três sabiam que aquela cena os lembrava da missão da rainha. Ele ainda não havia se recuperado completamente do susto.

-Ok, ok! Ponha-me no chão! -Bennu desceu os cipós delicadamente, e Lorena deitou-se na grama, derrotada. –Sete a zero, mas isso acaba aqui.

-Sim, claro... –Os alunos riram. Lorena não saiu do chão. –Enfim, como eu dizia... Seus legados podem ser muito úteis em várias áreas diferentes. Quero que treinem eficiência. Depois, treinaremos perfeição.

-Quanto tempo acha que levaríamos para conseguir fazer o que fez? –Riley perguntou mais uma vez. Ele queria saír arrancando pedaços de terra imediatamente.

-Isso leva muitos anos, Riley, mas quanto antes começarmos, melhor. Levantem-se! E se a professora ainda estiver disposta, tentem detê-la com seus legados. Trabalhem juntos.

-Eu estou disposta –Lorena levantou-se. –Mas quebrou minha espada.

-Use uma das que você deixa no topo dessa árvore –Lorena torceu o nariz. Provavelmente não gostava quando era derrotada. –Alícia e Dave... Quero falar com os dois.

-Vamos lá, quero ver se vão quebrar minha espada também!

Bennu afastou-se do grupo com os dois, e Riley aproximou-se da cunhada. Ela contava o que estava prestes a fazer e os alunos tinham que pensar rápido em uma maneira de pará-la. Riley achou sinceramete que foram um fracasso, embora entendia que era só a primeira vez.

Os três amigos foram convidados a almoçar com Lorena. Alícia fazia milhões de perguntas sobre a gravidez da cunhada, e Lorena queria entender como Dave tinha tanta certeza sobre o sexo do bebê ser feminino. Riley tentava desviar seus pensamentos para a viagem que fariam no próximo semestre ou nas habilidades incríveis de Bennu, mas só conseguia pensar no livro que lia. Estava ainda mais curioso, ainda mais amedrontado. Queria mais e mais, não dormia direito por que lia, não pensava em nada mais, não queria mais a luz do sol. Queria seu livro e sua informação. Só não sabia porque precisava daquilo tudo.

-Certo, -Alícia falou, acordando-o –se for mesmo uma menina, que nome ela terá?

-A, não sei –Lorena fez uma careta. –Nunca fui boa com esse tipo de coisa. Tentei juntar meu nome e o de seu irmão, o nome de nossas mães... Tudo o que consegui foi Romulena e Madaby. Não acho que são muito bons.

-Não mesmo –Riley admitiu. Chacoalhou a cabeça e mudou de assunto. –Afinal de contas, por que treinamos luta com nosso legado? Como vamos usar isso na viagem? Os outros reinos vão fazer isso também ou é algum tipo de apresentação?

-Clama Riley! –Lorena enfiou uma almondega na boca do menino para calá-lo –Não vai ter apresentação nenhuma, mas não vou ficar dando spoilers sobre o que vão ter que fazer... –ela ficou em silêncio por alguns segundos, até um sorriso formar-se em seu rosto –Só posso dizer que será incrível!

-Está nos torturando –Dave sorriu.

-O que quer que aconteça, estaremos juntos –Alícia sorriu. Ela estendeu o punho fechado para Dave e ele bateu com seu próprio punho, num toque de compromisso. O menino fez o mesmo com Riley.

Eles terminaram o almoço sorrindo.


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