VI -Riley
Feliz Carnaval gente!!!
-No ano passado nós aprendemos a utilizar instrumentos indispensáveis na astronomia –o professor Samuele Raddine dissera em sua priemira aula de astronomia com a nova turma do segundo ano. –E nestes semestres que estão por vir, trataremos de observar e estudar o universo.
Chris levantou a mão.
-O príncipe Edgar controla o sol e a lua?
-É claro que não –o professor segurou-se para não rir. –Ele... Cuida deles, digamos assim. De sua luz, de seu brilho, de sua ação sob os outros seres. Quem controla os astros é a física, que será muito importante para nossa matéria.
A matéria existia pois julgava-se importante conhecer principalmente o sol e a lua, domínios do principe Edgar. Riley gostava muito de usar telescópios, mas mesmo um ano depois de ter iniciado com a matéria, ainda não sabia se gostava dela. Era mais um hobbie do que algo sério para ele. A turma havia se reunido a noite para completar uma tarefa dessa aula. As salas de astronomia eram sempre no último andar dos prédios de aulas. O teto escorregava por engrenagens e abria-se o suficiente para os alunos poderem ver o céu de seus lugares. Eram fileiras de mesas cumpridas e bancos redondos. Sob as mesas, telescópios, cadernos e livros apoiavam-se, com os alunos lutando contra o sono para continuar a aula. Riley deveria ter dormido por mais tempo, pois não conseguia parar de bocejar.
Chegou sua vez de olhar pelo telescópio. O céu estava um pouco nublado e as nuvens ofuscavam o brilho que a lua roubava do sol. O cão-fera Rúfius uivava baixinho para a lua. Riley não sabia muito bem o que deveria fazer. Era muito bonito, hipnotizante de se olhar, mas a que conclusão deveria chegar mesmo? "Um astro. Redondo. Iluminado pelo sol e escondido pelas nuvens." Ele escreveu em sua folha. Agradeceu por ser uma atividade em grupo e desculpou-se silenciosamente com os outros integrantes desse grupo. Queria que Dave também estivesse ali. Os dois sempre arranjavam uma maneira de se divertir. Porém, eles não estavam na mesma turma de astronomia. O representante da princesa fora colocado junto das cores roxa, azul claro e laranja nessa aula e em climatologia. Riley tinha a irmã, Chris e Lilian como amigos mais próximos.
Bufou e boceijou ao mesmo tempo, acabando com uma expressão muito engraçada e desconfortável. Chris tomou o telescópio e fez suas próprias anotações. Alícia pareceu decepcionada com as conclusões do irmão.
-Eu costumava observar as estrelas com meu pai, quando era menor –Chris comentou.
Lilian sorriu e disse que também costumava fazer isso com os pais. Os gêmeos bufaram ao mesmo tempo, fingindo anotar mais coisas em seus cadernos.
-O que? –Chris tirou o olho do telescópio. –Não me digam que nunca deitaram no chão para apreciar as estrelas.
-Não com nossos pais –Riley continuou a colocar palavras que se associavam à lua no papel.
-Nós não temos um pai –Alícia falou entre os dentes.
O menino não soube dizer se ela estava brava com o comentário, brava com o pai ou prestes a chorar, mas não olhou para o rosto da irmã para fazer a confirmação. Sabia o quão delicado esse assunto era para ela. Ele também não gostava muito de pensar nisso, mas tinha que ser o mais forte. Não sentia tanto por não ter um pai pois nunca soube como era ter um. Todos os presentes de dia dos pais que fazia nas aulas de artes ele dava para a mãe. Todas as brincadeiras de moleque ele aprendera com o irmão ou com amigos. Sempre que se sentia só fazia novas amizades com os turistas. Ele não sabia que diferença positiva um pai faria na vida dele. Parou para pensar no assunto, mas acabou viajando longe demais. Perguntou-se se lembrava de já ter visto o homem que contribuiu para lhe por no mundo. A resposta parecia ser sim. Lembrava-se do toque de alguém, firme, porém bem gentil. Eram mãos quentes e braços fortes que o embalavam e o deixavam sonolento. Não sabia se era mesmo seu pai -podia ser qualquer um– mas algo lhe dizia que havia uma conexão muito forte entre essa pessoa e ele.
-Sinto muito –Chris baixou o olhar.
-Ele não está morto –Riley contou.
-Apenas é um idiota –Alícia levantou-se e pediu algo para o professor antes de sair da sala.
Riley revirou os olhos, com dó da irmã. Ela se deixava afetar muito facimente. Lilian seguiu a menina para fora da sala e o professor nem se importou.
-Desculpe –Chris parecia realmente arrependida. –Desculpe mesmo, eu não...
-Esquece isso Chris.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Riley pareceu finalmetne entender o que fazer na tarefa do professor Raddine e suas anotações começaram a fazer sentido. Alícia estava demorando para voltar. Ele entendeu que ela provavelmente só seria vista na manhã seguinte.
-A festa de Halloween é em três semanas –a parceira de trabalho comentou. –Aposto que o primeiro ano não vai chegar nem aos pés da nossa festa do ano passado.
-Está falando sobre a parte em que fomos atacados por porcos-galinha assombrados ou quando tivemos que acabar mais cedo?
Chris deu risada e empurrou o ombro de Riley. Isso fez com que ele borrasse sua caneta.
-Sabe o que quero dizer... –ela voltou a olhar pelo telescópio. –Ainda assim, espero que dessa vez dê tudo certo. As meninas e eu estávamos pensando em combinar as fantasias. Talvez pudesse participar também.
Riley demorou um pouco para processar a informação. Ainda estava pensando no pai e na sensação que teve dos braços que lhe abraçavam.
-Pensei que todos iam usar as mesmas coisas do ano passado –ele admitiu, meio distante. –Mas, é, não sei. Acho que seria legal.
-Vão nos levar para fazer compras no próximo fim de semana. Como fizeram no ano passado –ela tirou o olho do telescópio e fez suas próprias anotações em seu caderno. Riley não fez mais comentários. Fantasias de Halloween eram as últimas de suas preocupações no momento. –Será que Alícia está bem?
Riley apenas riu um pouco. As pessoas relamente não conheciam sua irmã gêmea, e ele não sabia se isso era triste ou bom para a menina.
-Acho que temos informações suficientes, não temos?
-Acho que sim –Chris levantou-se.
O professor deu autorização para os dois saírem do laboratório, e pareceu esquecer-se de Alícia. Ainda tinham pouco mais de meia hora antes do toque de recolher. Chris queria sentar-se à beira do lago e aproveitar a noite, mas Riley precisava passar na biblioteca. Alguma coisa na névoa que se formava no lago lhe lembrou de algo do qual precisava saber mais. A menina se ofereceu para ir com ele, mas ele explicou que preferia fazer isso sozinho.
Na biblioteca ele pediu ajuda para achar livros com informações sobre criaturas. Recebeu um catálogo do esqueleto bibliotecário com uma lista de criaturas e títulos de livros que lhe dariam informações sobre tais. Era um catálogo bastante grande, em ordem alfabética. Começava nos Aatxes e terminava nos Zumbis. Virou as páginas até o C e dedilhou o livro velho até encontrar 'côndefas'. Os livros listados eram muitos: 100 criaturas sombrias; As mais perigosas criaturas de Érestha; Fatos e mitos sobre: Côndefas e O que evitar quando viajar, além de outros. Riley pediu que o esqueleto lhe indicasse onde encontrar Fatos e mitos sobre: côndefas. Com autorização, ele levou o livro para seu dormitório e sentou-se num dos puffs do andar de baixo com uma pequena lâmpada para iluminar sua leitura.
-Da renomada série Fatos e Mitos, pela autora Hynne Stewart, a editora Nader apresenta: Fatos e Mitos sobre as côndefas –Riley conseguia concentrar-se melhor se lesse em voz alta. Olhou para a escada apenas para ter certeza de que nenhum outro aluno estava ouvindo ou incomodado. Barulho de conversa animada vinha do dormitório feminino. Todos deviam estar ali, jogando cartas ou qualquer coisa assim. –A autora explorará com detalhes a natureza dessas criatuas, apresentando e comentando fatos comprovados e explicando mitos e crenças sobre elas.
Ele suspirou. Não sabia muito bem o que estava procurando, mas sentia que precisava saber mais sobre elas. Desde a noite em que Tabata enfiara uma espada em Isabelle, Riley esteve curioso para saber o que era a criatura com veneno nas mãos que atacara a escola. Lorena a chamara de côndefa. Ficara tão aterrorizado, tão amedrontado, mas principalmente, tão fascinado. Que poder era aquele que aquela moça possuía? Tão destrutivo, porém tão intrigante!
-As côndefas surgiram devido a uma falha em experimentos realizados pela princesa Tabata –ele continuou a ler. –São, essencialmente, pessoas mortas que sofreram uma mutação ao passarem pelo processo conhecido como "volta-à-vida". Esse é um processo que a princesa da morte executou para aumentar os números de seu exército, trazendo pessoas de volta a vida para lutarem por ela. As côndefas foram um erro. Seus legados foram perdidos para o mundo da morte e substituídos por habilidades bizarras, como transformar-se em animais e parar o tempo.
O menino se surpreendeu. Jamais pensou que esse tipo de coisa poderia acontecer. Pulou várias páginas, lendo trechos ao acaso. "Foram registrados apenas casos de côndefas do sexo feminino"; "Ao contrário dos outros humanos que Tabata trouxe de volta a vida, as côndefas não perdem sua identidade, tem total consciência de quem são e não se deixam controlar pela princesa das trevas"; "As habilidades variam"; "Apenas foram registrados casos de morte natural ou assassinato cometido por outras côndefas". Chegou a um capítulo entitulado "A quadra" e ficou curioso. Principalmente porque, no primeiro parágrafo, era mencionado o nome Sachabella.
-Assim como qualquer outra criatura, existem côndefas que ficaram "famosas" na história –Riley se ajeitou no puff. –Algumas vivem como cidadãs normais, sem apresentar nenhum dano para a sociedade ou até mesmo utilizando seus dons para o bem dos outros. Infelizmente, as mais conhecidas são as que decidiram se aliar a Tabata. Trata-se do grupo apelidado de 'A quadra'. São quatro côndefas de origem desconhecida e com habilidades diferentes que aterrorizavam cidades inteiras no nome de sua líder. São elas: Sachabella, uma côndefa venenosa; Casseda que, com seus olhos penetrantes, petrifica a quem lhe encara; Ember que faz o tempo passar mais devagar e Anastrich, a líder da quadra. Essa côndefa é a mais perigosa das quatro, talvez de todas as criaturas semelhantes já registradas. Vítimas sobreviventes de seus ataques contam que estar sobre o poder de Anastrich é ser transportado para seu pior pesadelo. Ela tortura suas vítimas com o que mais temem, ajudando suas parceiras a atacar –as mãos do menino estavam suando. A névoa do lago estava agora envolvendo a janela do dormitório. –Embora relatos diversos contem o mesmo sobre essa besta, não há nada que confirme o modo como ela ataca as pessoas.
Um alarme soou pela escola toda. Riley arregalou os olhos e deu um pulo, seu coração acelerado, e então percebeu que nada mais era do que o toque de recolher. O lívro caiu no chão, espalhando algumas páginas soltas por ele. Se abaixou para recolher quando a porta abriu-se num estrondo. Ele pulou para trás novamente. Pela porta, uma Alícia de olhos inchados passou e lhe ignorou, subindo as escadas.
Riley colocou as páginas caídas de qualquer jeito dentro do livro e foi se deitar, assustado, porém ainda fascinado.
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