IX -Alícia
Ela teve que dar um tapa na orelha boa do irmão para fazê-lo acordar. Estava tão perdido em pensamentos que Alícia ficou assustada. Riley costumava ser tão sensato. Era ele quem deveria estar chamando por ela, e não o contrário. Quando ela viu o sangue escorrendo pela orelha cortada, Riley ficou preocupado. Alícia não tinha nada com ela que poderia ser usado para ajuda-lo. No lado oposto do balcão havia uma pilha de guardanapos. Alícia mal precisou se concentrar tanto para usar seu legado. A pilha toda de guardanapos e mais algumas balas quentes foram atraídas para si. Ela já sabia que suas emoções interferiam em seu legado, e aquele momento serviu para ela se lembrar de que precsava treinar isso.
-Coloque isso na sua orelha! –ela deu instruções ao irmão.
O menino ainda demorou um pouco para obedecer à gêmea. De todos ali na loja, Alícia era a mais atenta, ou pelo menos era como se sentia. Ela pediu que todos mantessem a calma e continuassem atrás do balcão. Bombeiros, ambulâncias e carros da polícia chegaram bem rapidamente ao local, acompanhados por repórteres e curiosos. A área foi isolada para o trabalho dos bombeiros, que eram legados de Elói e Teresa, respectivamente andando pelo fogo como se andasse sob grama e manipulando água com um cuidado profissional. Após a limpeza do local e a certeza de que nada mais explodiria, as pessoas foram autorizadas a saírem de seus refúgios. A grama estava toda queimada, suja ou faltando pela praça que costumava ser tão bela. Nada mais era verde, tudo cinza e triste. Lorena foi a primeira a tomar uma iniciativa e se abaixar para tocar o solo. Foi logo imitada por todos, incluindo Riley. Onde tocavam a grama começava a nascer de novo. Por toda a praça, pessoas usavam seu legado para reconstruir a beleza e alegria daquele lugar. Os únicos que ficaram de fora foram Alícia, Dave e os profissionais ali presentes.
-Está ainda melhor do que era antes –Dave comentou, e Alícia não pode deixar de concordar.
Com aquela quantidade de pessoas trabalhando juntas, a grama cersceu toda de volta em menos de um minuto. Estava mais verde, com mais brilho e mais vida. Grama-amendoins também enfeitavam o novo tapete verde dali, e alguns ramos com flores coloridas invadia as lojas com vidros estraçalhados. Alícia ficou maravilhada e ao mesmo tempo sentiu-se inútil. Porém, antes que pudesse pensar de mais no assunto, foi jogada para o lado por uma repórter.
-Qual seu nome? Quantos anos tem? Onde estuda? O que houve por aqui? Quantos feridos? Alguma fatalidade? É verdade que isso tudo é obra de Tabata e que ela estava aqui hoje? –a tal repórter atacou-a com perguntas que disparava sem nem pausar para respirar.
O camera apontou para ela enquanto a outra continuava com as perguntas, e logo, toda a grama recém formada fora pisoteada pela emprensa. Fotógrafos clicavam suas câmeras e flash tomavam todo o campo de visão de Alícia que não era obstruído pelos repórteres.
-É Dave! –alguém gritou na multidão. –Dave Fellows, o protetor e representante da rainha!
De repente, todos se viraram na direção do menino, que estava ao lado de Alícia. Microfones e câmeras de filmagem acertaram a menina por todos os lados. Mais perguntas foram bombardeadas, mas desta vez, na direção de Dave, e em proporções bem maiores. O menino, Alícia podia ver em seus olhos, estava muito confuso e desconfortável. As perguntas fugiam do tema, viajavam desde o castelo de vidro e a guerra até a vida pessoal dele e da futura rainha. Ele não sabia como reagir. Alícia tentou pôr-se na frente dele e expulsar os repórters, mas apenas conseguia se afastar mais do menino. Estava sendo sugada pelo mar de câmeras e flashs. Dave agarrou o braço de Alícia e puxou-a de volta para perto de si.
-Pelo rei! –ela exclamou em alto e bom tom. –Quanta insensibilidade. Dêem espaço para ele. Para todos nós. Acabamos de sofrer algum tipo de ataque!
Fora um erro. As câmeras voltaram-se para ela, usando o que tinha dito como materia prima para mais perguntas. Dave ainda não havia soltado seu braço e ela estava grata por isso. O que os salvou daquelas pessoas famintas por notícia foram os policiais; maiores autoridades dali.
-Obrigada –Dave agrdeceu.
-Que loucura –ela exclamou.
Algumas ambulâncias saíram dali com as sirenes ligadas. Duas ficaram para trás, deixando também paramédicos que rapidamente avaliavam e cuidavam das pessoas. Riley tinha um curativo na orelha cortada e Lilian estava tomando um chá quente.
-Você está bem? –Os gêmeos perguntaram um para o outro em uníssono.
Dave sorriu. Alícia não entendia o que era tão fascinante dos dois falando coisas ao mesmo tempo, mas não queria perguntar. Um paramédico tocou o ombro de Alícia e perguntou se ela estava bem. Os amigos se dispersaram e ela respondeu que sim, estava bem. Ele insistiu e Alícia acabou aceitando um chá. Lorena parou Dave para conversar enquanto o professor Cardel reunía os alunos para checar o estado deles. O chá estava bem quente e a sensação de tê-lo escorrendompor sua graganta foi muito relaxante. Ela andou e sentou-se em uma ambulância e encostou a cabeça na porta, observando a agitaçao na praça. As vozes foram ficando mais distante e suas pálpebras estavam pesadas.
-Vamos Alícia, vamos! –uma voz se sobressaía na multidão. –Mais um gole, rápido! Não tenho o dia todo.
A menina não entendeu, mas continuou a tomar o chá. Tomou tudo até adormecer. Quando acordou, uma névoa deixava o ar muito frio e ela não estava mais na ambulância. Estava deitada num banco próximo à uma árvore onde Isabelle DiPrata se apoiava. Alícia não ficou nem um pouco feliz em reconhecer aquele lugar. Era o mesmo lugar onde tinha acordado após ser mordida por coelhos no ano que se passara. Era um pensamento, um refúgio... Que Isabelle queria compartilhar com ela.
-Faz tempo que não te vejo –a representante de Tabata não mexeu a boca para falar. Naquele lugar lia-se mentes, conversava-se por pensamentos.
-Por que me trouxe aqui?
-Vou te dar um aviso. Em troca, você me contará umas coisas.
-Não vou fazer acordos com você Isabelle –ela levantou-se do banco, virou-se e começou a andar. Belle não fez nada para impedi-la. A névoa ficou mais densa e mais fria conforme ela andava. Não se passou mais do que um minuto e a figura de uma árvore e uma menina formou-se no mei dela. –Mas... O que foi...
-Não há nada além do que você vê aqui Alícia –Isabelle explicou. Ela tinha andado em frente, mas acabou no mesmo lugar. –O máximo que consegui foram essa árvore e o banco. Agora deixe de ser teimosa e ouça: Haverá mais. Deixe que aconteçam, tentar impedir é dar o que ela quer. Mas não seja burra. Estude-os, anote-os. Será útil.
Alícia não fazia idéia do que ela estava falando. Por que seguiria instruções da representante do mal?
-Eu te dou avisos –Isabelle interrompeu sua confusão. –É problema seu saber o que fazer com eles. Agora, minha recompensa: como ele está? Dave, me conte como ele está.
-Bem melhor agora que você não está masi lá –Alícia falou por entre os dentes. –Eu quero ir embora. E não quero mais voltar para esse seu refúgio idiota.
Isabelle a encarou, com raiva. Seus olhos azuis ficaram ainda mais escuros, cheios de ódio, mas ela logo respirou fundo e se acalmou.
-Não sabe apreciar aqueles que só querem te ajudar. Pois bem. Apenas lembre-se:
Ela colocou um dedo na frente dos lábios, pedindo sigilo. Alícia acordou, ainda na ambulância, sentada com uma multidão agitada ao seu redor. Embora não confiasse em Isabelle, não podia deixar de ficar curiosa em saber do que aquela conversa se tratava. "Tentar impedir é dar o que ela quer." Estaria ela referindo-se a Tabata? Estaria Isabelle traíndo a rainha da morte?
-Não... –resmungou em voz alta. –Ela é uma traidora, eu vi! Trai a coroa e ajuda o inimigo.
-Com quem está falando? –Dave a surpreendeu.
-Ninguém –ela respondeu em voz baixa.
-Alícia! –ela ouviu alguém falando bem alto e foi logo pega por dois braços masculinos e envolvida num abraço sufocante. –Você está bem?
Era seu irmão mais velho, Rômulo. A menina não respondeu e não moveu um músculo se quer. Não estava acostumada com tanto afeto. Ele se afastou do abraço e Alícia continuou com a expressão confusa. Percebendo que havia deixado-a desconortável, Rômulo deu alguns passos para trás e perguntou de novo se ela estava bem. Alícia respondeu que sim com um movimento de cabeça.
-Rômulo –Lorena puxou o braço do namorado. O homem ficou extremamente aliviado de ver a namorada sem nenhum arranhão. Agarrou-a pela cintura e demorou-se num beijo. A cunhada ignorou tudo o que seu irmão falava e virou para as duas crianças. –Peguem suas coisas e voltem para os ônibus. Eu preciso ir pra casa, para sua casa –ela voltou a falar com Rômulo. –Pelo menos por essa noite, por favor.
Ela tentou esconder, mas Alícia viu lágrimas se formando em seu rosto e sua voz dedurava que estava a beira de chorar. Dave tentou perguntar o que estava acontecendo, e queria entender o porque de ela estar indo com Rômulo e não de volta para a escola, mas ela não respondeu. Puxou o namorado até o carro dele e eles foram embora.
-Ela adora fazer isso –o menino comentou com Alícia. –Sai sem nunca explicar nada. De qualquer forma, ainda quero saber... De quem, ou com quem você estava falndo quando cheguei?
-Com ninguém, já disse –ela insistiu.
-Não parecia ser "ninguém". Estava falando de Isabelle, não estava? Sonhou com ela? –Ela virou o rosto e começou a andar em direção aos ônibus. –Sabia. Seu rosto muda quando fala dela. Fica brava, assustada...
-Certo Dave –ela interrompeu. –Estava falando dela, comigo mesma. E não adianta me perguntar por que. Não poss... Não vou te falar.
-Então não vou insistir.
Os dois andaram lado a lado e em silêncio até o ônibus. A menina queria muito entender como a cabeça de Dave funcionava. Se fosse Riley, insistiria da maneira mais irritante até arrancar alguma informção dela. E ao pensar nisso ela percebeu que não sabia onde o irmão estava. Alícia, ainda na companhia de Dave, subiu para o segundo andar e encontrou-o sentado ao lado de Lilian com um curativo em sua orelha.
-Acho que vai ficar uma cicatriz –o gêmeo apontou para o curativo.
-Não devia ter ficado em pé quando o caminhão explodiu –ela falou. –Por que fez aquilo?
O irmão trocou um olhar bem sinificativo com Dave e não disse nada. Alícia olhou para o menino dos olhos azuis e ele sorriu.
-Não adianta me perguntar –ele disse. –Não vou te falar.
Ela bateu nele com o ombro tão forte que doeu nela também. O menino não parou de sorrir e revidou, iniciando assim mais uma pequena guerra no ônibus da Escola Preparatória da Província de Tâmara.
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