XXXVIII -Rick
Nicolle estava demorando mais do que o normal para trazer Nina de volta, mas isso não preocupava o menino. Provavelmente tinah demorado para chegar até o Limbro ou algo assim. Dali a pouco juntaria-se a princesa e o menino. Argia estava em Maria, lendo livros à luz de velas com Rick em sua biblioteca. Já haviam jantado e não conseguiam dormir, então desceram para ler alguma coisa que divertisse e distraísse a princesa. O menino adorava o sorriso da mãe, e ficava ainda melhor quando Argia sorria para ela.
Rick queria mandar Maria de volta para o Brasil. Estava esperando que Dave aparecesse para alguma visita e ajudasse a convencê-la. Seu pai havia perdido a vida não só por ela, mas também por Rick, que ainda estava desenvolvendo-se na barriga da mulher. Seria um insulto deixa-la no reino, em perigo, com Tabata atacando a todos. Mas ela diria que tinha que ajudar Nicolle, ele tinha certeza. Por mais que adorasse ter a mãe perto de si, preferia que estivesse o mais longe possível, em segurança.
-Ache alguma coisa mais divertida –resmungou Argia. Ver Maria fazendo birra era um cena divertida. –Não quero aprender história agora.
O menino suspirou. Pensou que ela talvez nem notasse o assunto. Ele queria estudar a última guerra, mesmo que talvez fosse tarde demais. Sentia-se inseguro sem um mínimo de conhecimento sobre o que poderia acontecer. Saber que Tabata era perigosa não era o suficiente. Como eram os confrontos? Onde haviam acontecido? E o mais importante, como Thaila acabara vencendo?
Argia, por outro lado, queria estar longe do assunto. Queria distraír-se, e fingir que esconder-se num castelo brilhante fosse a melhor estratégia para manter-se viva. Detestava ouvir que era "uma peça chave na profecia da rainha". Ela só queria um corpo para não esvaír-se e poder ser a líder que os cidadãos de cristal mereciam. Não tinha interesse em enfrentar Tabata ou usar seu legado contra ela. Rick entendia seu lado, mas esses pensamentos o preocupavam. Por mais que ele quisesse que ela ficasse segura a cima de tudo, parar Tabata tinha que ser a prioridade de todos, independente de suas condições. Érestha tinha que voltar a viver dias de paz, e ele dizia isso pensando em seu pai. Reginald Fellows e todos os que haviam perdido suas vidas da primeira vez não teriam caído em vão. Ele gostaria de ajudar a garantir isso, mas era difícil quando tinha que passar o tempo lendo contos sobre elfos e pássaros para uma princesa no corpo de sua mãe.
-Sua mãe está dormindo, porque eu não consigo? –ela resmungou de novo.
-Talvez queira ir para seu quarto? Deitar-se, fechar os olhos e dormir junto de minha mãe, que tal? –ele sugeriu, fechando o livro.
-Não. Aquele travesseiro está cheio de pesadelos. Leia mais.
-Sim, senhora.
Eles passaram uma hora inteira lendo aquele mesmo livro, e Argia não dava sinais de que estava perto de caír no sono. Rick, por outro lado, começava a fechar os olhos, e perceber as coisas em desfoque. Quando percebia que estava quase dormindo, uma sensação de alerta o atingia, e ele lembrava que não podia deixar as meninas sem proteção. Cinco minutos se passavam e o ciclo repetia-se, e assim foi até Nicolle finalmente juntar-se a eles com a notícia de que Nina estava bem, e descançando.
-O Limbo estava agitado hoje –ela comentou, sentando-se a ldao de Rick para espiar as palavras do livro antes que ele as lesse para todos ouvirem. –Nina estava sendo perseguida por tantas almas mais velhas, pobrezinha.
-Já chegou alguém? –Rick perguntou.
-Ninguém –ela deu de ombros. –Mas as portas estão todas trancadas e a cidade está em alerta. Temos sentinelas por todas as partes.
Ethan Nova ainda não havia voltado com a ajuda, e Rick queria esperar um pouco antes de pegar uma passagem e ir até a rainha para pedir que ela chamasse as pessoas que havia recrutado em todo esse tempo de comando na província da vida. Além do mais, ele provavelmente acabaria perdido se fosse sozinho, então ou esperava Dave, ou esperava Ethan.
-Mas não se preocupe –Nicolle sorriu para Argia. –Vai ficar tudo bem. Pedi que os elfos viessem também, e eles devem estar aqui em breve.
-Ela me matou uma vez –Argia faloiu, adicionando um tom muito sinistro à conversa. –Não hesitaria um segundo em fazer de novo, tenho certeza. E eu nem tenho um corpo meu para perder desta vez; seriam duas pessoas mortas num único golpe de espada de nossa vizinha. Não vejo como isso pode estar perto de "tudo bem". Por favor, leia a história.
Os brasileiros se encararam mas não disseram nada. Mais algumas horas foram gasta no livro, e eles o terminaram aos bocejos, já depois da meia noite. Argia, porém, ainda não demonstrava cansaço. Rick levantou-se para escolher algum outro título no momento em que uma senhora bateu e entrou na biblioteca. Ela falou algo que Rick não compreendeu, e só então se deu conta de que estivera rodeado de falantes do português e não havia ingerido alcaçuz nenhum o dia todo. Até o momento, não havia se dado conta de que Argia seria a única Bermonth que não teria uma língua em comum com a família, fosse ela qual fosse. Ele pediu que ela esperasse e pegou um pouco do que tinha num pequeno estoque ali na biblioteca.
-Visitantes, a caminho –ela falou, apontando para fora da sala onde se encontravam.
Os três se olharam e sorriram, correndo para fora da sala em direção à porta da frente. A noite estava escura, e muito fria. Rick sedeu seu casaco para Argia e abraçou-se para defender-se da neve. A ponte levadiça fazia barulho conforme era baixada. As correntes estavam velhas e precisavam de oleo. Rick só conseguia identificar silhuetas, masculinas e femininas, caminhando na neve ou montados em cavalos. Ninguém tinha dado autorização para eles entrarem, então assumiu que aqueles mais a frente eram seu irmão e Riley. Rick sentia falta de ter Alfos empoleirado nas torres. Ele sempre anunciava os amigos e bufava para entregadores de comida. O dragão estava se recuperando, e o menino esperava que ele voltasse logo.
Argia, no corpo de Maria, andou até a ponte acompanhada de um guarda com uma lâmparina. Conforme as figuras aproximavam-se, o brasileiro percebeu que estava errado. Os dois que andavam na frente eram altos e robustos; muito maiores do que Dave ou Riley Weis. Seu irmão, no entanto, estava sim no meio deles, mas acompanhava um cavalo negro que carregava a rainha. Os homens que chegaram primeiro para curvar-se diante a princesa eram Ethan Nova e Russel, um dos voluntários que ajudara Rick a encontrar o Castelo de Cristal nas expedições. Ele fora o mais próximo do brasileiro duante toda a viagem, tomando conta dele e dando conselhos e acreditando. Eles acenaram um para o outro ao mesmo tempo, sorridentes.
-Faz tempo que não nos vemos, menino –cumprimentou.
Com ou sem a pele sob seus ombros, Russel parecia um urso. Seu abraço sufocou o menino, mas ele ficou muito contente em vê-lo. O respeito era recíproco entre os dois e ele animou-se.
-Peça para que alguém prepare clados e bebidas quentes –Argia pediu, animada. –Vamos acomoda-los na sala de reuniões por enquanto.
Nicolle sabia onde encontrar algum cozinheiro acordado e disposto àquela hora, e entrou. A senhora que os havia chamado começou a conduzir os convidados castelo a dentro, e Rick correu até o irmão e a rainha. Ele ofereceu a mão para ajuda-la a desmontar do animal e Dave cruzou os braços.
-Desculpe a visita tão tardia –a rainha falou, sorrindo para o menino e afundando suas botas roxas com corujinhas coloridas na neve freca. –Mas a segurança dessas montanhas é crucial, e a subida leva um tempo.
-Sem problemas –Rick sorriu de volta. –Estávamos todos acordados –virou-se para o irmão, aproveitando que a princesa não estava por ali. –Dave, quero que a mãe volte para casa.
Seu irmão levantou as sobrancelhas e respirou fundo.
-Obrigado –ele colocou as mãos para cima. –Alguém que consegue pensar direito. Deixe ela acordar e mandamo-as para o Brasil. Também não quero ela aqui em cima.
Thaila não expressou reação sobre o assunto, e acariciou o cavalo enquanto eles conversavam.
-Não temos estábulos –Rick desculpou-se, acariciando o focinho do animal também.
-Eu mesmo dou um jeito –aproximou-se Ethan Nova, tomando as rédeas do cavalo para si. O animal começou a relinchar e parecia irritado. O homem era legado de Tâmara e provavelmente estava escutando algo sobre a péssima estalagem que era o Castelo de Cristal. –Encontro vocês lá dentro, princesa.
-Rainha, Nova –Dave corrigiu dando um passo para mais perto de sua senhora. –Thaila é uma rainha.
-Seja mais como seu irmão e sua mãe e menos como seu pai, Dave Fellows –o homem sugeriu. –Relaxe e me deixe em paz.
A rainha, desinteressada, já estava caminhando para dentro da estrutura, fugindo do frio e das brigas bobas entre os dois. Rick não ficaria surpreso se Dave tivesse tirado Mata-Touro do bolso e apontado contra o homem, mas ele não deixou que isso acontecesse. Usou seu legado para fazer Ethan dar três passou para trás, puxando as rédeas do cavalo reclamão. Ele virou-se de costas e esperou que Dave o seguisse e que Ethan ficasse confuso por alguns minutos.
-Onde está Nicolle? –Dave perguntou quando os dois já estavam longe o suficiente do guarda do vale. –Ha muitas coisas que preciso falar, sobre os elfos.
-Diga a mim –ele deu de ombros. –Qual a diferença? Nós dois somos representantes da princesa da vida.
-Sim, mas é sempre ela quem trata desses assuntos. Você não saberia responder. Não deve nem conhecer os elfos do conselho.
Aquilo era verdade, mas ele poderia ao menos tentar. Ser um representante também significava entregar recados e ele falava com Argia mais do que com qualquer outra pessoa.
Ninguém esperou as sopas ficarem prontas, e elas chegaram à sala de reuniões na metade da explicação sobre Hy.Da.Bel. A rainha apresentou à Argia e seus representantes as pessoas que lutariam por eles. Cada uma delas vinha de uma cidade diferente, onde outros recrutas voluntários treinados esperavam por ordens. Não seriam capazes de compor um exército tão grande, mas Rick estava emocionado e aliviado.
-Só precisamos de alguém para liderar todos –Thaila disse, ajeitando-se na cadeira e afastando seu prato vazio. Ela olhou para Ethan e estava prestes a continuar a falar quando Rick interveio.
-Quero que seja Russel –levantou-se, apontando o homem.
A rainha franziu o cenho. Ethan estava preparando-se para ajustar seu casaco e levantar-se, orgulhoso pea indicação da raiha, e ficou perdido quando o menino a interrompeu. Russel não estava atento a esses detalhes, e remexeu-se, um pouco incerto. Adotou uma bela postura e levantou-se para curvar-se para Argia.
-Se a senhora aceitar... –falou. –Seria uma grande honra.
-Confio em Rick –ela falou, usando as últimas energias de Maria. Thaila chacoalhou a cabeça e buscou pelo olhar de Dave. O menino fingiu que não viu enquanto tentava esconder um sorriso. –E não sou senhora nenhuma, apenas uma alma sem casa esgotando as energias de uma voluntária –ela bocejou, e Rick sentiu que finalmente o dia podia acabar e ele descançaria.
Devido à falta de recursos no castelo, eles mandaram os mais novos soldados de cristal estalarem-se nas casas mais próximas dos bons cidadãos. Eles não tinham colchões para todos ali. Nicolle acompanhou Argia e Thaila até o quarto da princesa e Rick bocejou demoradamente, perguntandos-se quem teria que sacrificar a madrugada para limpar aquela sala. Seu irmão ficou para trás, sorrindo para ele. Apoiou uma mão em seu ombro e chacoalhou a cabeça em positivo.
Rick sorriu.
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