XXXV -Isabelle
Theodore vinha oferencendo aquela massagem ha dias, e ela não havia tido tempo de aceita-la até o primeiro dia dos ataques de sua princesa. Sua manhã fora cheia de conversas irritantes para acertar os detalhes. Ela atrasou a todos o máximo que conseguiu, com medo de Riley Weis não ter tido tempo de posicionar suas peças. Enrolou Pedro dizendo que o horário de pico da manhã nas terças-feiras na praça de Tamires dependia da luz do sol e ganhou cinco minutos. Colocou o chicote de Satomak em um lugar diferente e ele gastou três minutos procurando-o. Fez questão de que os cozinheiros preparassem o favorito da princesa da morte: ovos, pães de cereal, geléia de uva e figos frescos. Ela levou doze segundos a mais para terminar o café da manhã. Oito minutos e doze segundos a mais deveriam ser o suficiente para Riley. Ou assim ela esperava.
Pedro deixou que seus recrutas malucos fossem sozinhos até Tamires, usando uma passagem feita especialmente para eles. Os Litos Alvos que Tabata havia conseguido que trabalhassem para ela eram incrivelmente rapidos em seus trabalhos haviam criado passagens para pontos estratégicos em Érestha –todos escolhidos meticulosamente por Isabelle, Tabata ou Pedro. A menina sugeria sempre as maiores cidades mais afastadas dos castelos para serem alvos de Tabata. Elas teriam maior proteção e sofreriam menos danos. Pedro escolhia de olhos fechados, apontando num mapa, e Tabata tentava lembrar-se de onde moravam pessoas que ela odiava para poder causar terror nelas diretamente.
Era trabalho de Pedro atribuir um grupo a uma cidade. Ele supervisionava todos os treinamentos, então conhecia os mais habilidosos, os mais perigosos e também os mais fracos de seus recrutas. Isabelle não conhecia nenhum grupo a não ser a guarda pessoal da princesa e aquele onde Theodore treinava. Arrependia-se de não ter passado um pouco de seu tempo livre observando-os individualmente; talvez a informação serviria a Riley. Ao menos ela conhecia a dimensão do exército, a determinação absurda dos pobres aterrorizados, a diversão que os outros sociopatas tinham em destruir tudo o que viam ao comando de seu superior e as estratégias de ataque, que ela mesma tinha criado. Tabata dizia o que queria, Isabelle desenhava um plano para chegar até lá e Pedro o executava. Seu primeiro desejo era a cidade de mármore de Tamires pois tinha essa ideia idiota de seguir a ordem de nascimento dos irmãos nos primeiros ataques. Aos recrutas de Pedro foram dados dez minutos para chegarem até lá, quebrarem o máximo de coisas que conseguissem e voltarem sem serem vistos. O próximo alvo era Tâmara, mas Pedro queria primeiro saber como haviam se saído antes de decidir tomar as mesmas decisões.
Aparentemente havia corrido tudo bem, mas Isabelle não sabia ainda. Estava confinada em seu quarto com Theodore, aproveitando seus minutos de descanço. Quando ela finalmente ganhou a tão esperada massagem, queria rir e beijar Theodore por ser uma pessoa tão adorável. Eles estavam no quarto da menina, ele sentado na cama dela e ela em seu colo, de costas. Theodore havia preso os cachos negros dela num coque com uma habilidade impressionante que nem mesmo a própria Isabelle possuía. Ela havia tirado sua blusa preta e jogado-a no chão, deixando a maioria de suas costas livres para as mãos dele. A verdade é que não tinha nada de relaxante naquela massagem; eram simplesmente movimentos circulares de seus polegares, pressão e ocasionais beijos em seu pescoço. O menino era tão atencioso e preocupado que dispunha daquilo que tinha para ver Isabelle bem, mesmo que não soubesse o que estava fazendo.
-Está relaxada? –ele perguntou.
-Sim, Theodore, obrigada –ela falou, tentando disfarçar o sorriso. –muito relaxada.
-Ótimo. Gosto quando você sorri –ele depositou outro beijo nela. –Quando vai voltar a treinar com nós?
-Não sei se tenho tempo para isso –ela falou, mexendo na espada albina que havia encaixado no bolso furado de sua calça jeans. A Traidora estava sempre com ela, até mesmo quando devia estar relaxando. -Mas não preciso treinar nada.
-Acha que está pronta para enfrentar todos os exércitos de Érestha? –Theodore parou de mexer nas costas dela e virou seu rosto para poder encarar os olhos azuis tempestuosos da menina.
-Eu não vou enfrentar todos –ela falou, levantando-se. –Só um. Um que conheço muito bem, então não devo preocupar-me.
-Mas eu me preocupo.
-Não precisa. Você vai estar ao meu lado.
-Ótimo –ele sorriu e levantou-se também. Seu rosto estava sempre cheio de arranhões e cortes e pedaços inchados, mesmo se os recrutas tinham receio de machuca-lo. Isabelle nunca fizera nada para nenhum dos recrutas, mas eles tinham medo dela ficar com raiva se Theodore aparecesse todo destruído depois de um dia de treinamento. –Assim eu posso te proteger.
Uma batida na porta atrapalhou o sorriso que a menina ia dar. A pessoa não esperou que ela desse permissão para entrar, e simplesmente girou a maçaneta. Tabata tinha uma expressão de puro ódio em seu rosto e nem cumprimentou a sua representante.
-Preciso que me impessa de assassinar quatro idiotas –falou, e virou-se de costas.
Isabelle estava acostumada com aquele pedido, na verdade. Era muito recorrente da parte da princesa da morte querer matar alguém que na verdade lhe podia ser útil. Isso incluía Pedro Satomak, e Isabelle odiava ter que acalma-la e perder a chance de ver o sociopata enfaixado ou incapacitado de alguma forma.
Se não fosse por Theodore, teria saído do quarto sem sua blusa. Ela pediu que ele esperasse ali e saiu revirando os olhos. Não achava que fosse algo de realmente importante. A princesa era bem cabeça-quente. Mas a sala que abrigava o trono de pedra estava cheia com a presença de três mercenários, alguém emcapuzado e Pedro, que farejava o ar em volta dos quatro. A figura emcapuzada que acompanhava os três carregava uma aljava cheia de flechas que pegavam fogo, mas nenhum arco.
-O que houve? –grunhiu a menina ao se aproximar.
-Sua senhora não parece muito contente com nossa decisão –disse o homem de barba roxa. –Parece não entender que fomos atacados por um dos seus, e por isso, não temos mais interesse em ajuda-la.
Isabelle sentiu um alívio muito mais poderoso do que aquele que Theodore havia tentado proporcionar a ela com as massagens. Ela não conseguia ver o rosto e nem mesmo os cabelos daquele que estava com o capuz, mas não era burra como Pedro parecia ser. Não conseguiu segurar seu suspiro de paz, e Tabata quase matou-a com o olhar. Era muito satisfatório ver que suas previsões se solidificavam, e que suas peças não só estavam posicionadas onde ela queria, mas também complementavam a jogada do seu time.
-Mas o que aconteceu? –ela fingiu. Isabelle sabia bem como Agnes havia morrido. Ela mesma havia mandado Pedro e a Quadra de côndefas até a cidadezinha no interior da província de Argia. E Dafne havia contado com detalhes como tudo havia acontecido.
Os três resumiram a história e terminaram dizendo que não trabalhariam para alguém que tentara mata-los.
-Talvez nos vejam por aí depois dos confrontos –disse o negro. –Foi um prazer não fazer negócios com a senhora.
-Eu não nos procuraria mais, se fosse você –concluiu a cega. –Nos deixe em paz e te deixaremos também.
-VOCÊ É CRIAÇÃO MINHA –a princesa gritou para a velha, levantando-se do trono e apontando um dedo no rosto dela. Aquele dedo começou a enrugar, envelhecer e apodrecer diante dos olhos dos espectadores. Tabata afastou-se, chegando mais perto de Isabelle. –Não deveria ter feito isso.
-É tudo o que temos para fazer por aqui –disse o de barba roxa. –Agora que foi comunicada, voltaremos para nossas vidas. Boa sorte com o que precisar.
-Quem é essa? –perguntou Pedro, apontando a figura emcapuzada.
Ela não se mexeu. Silêncio caiu sob os presentes. Havia sido instruída muito bem, ou ameaçada de alguma forma traumatizante. Isabelle sabia que ela não era assim. Provavelmente estava segurando-se para não tocar fogo nos cabelos de Satomak.
-Seria de seu interesse se ainda estivéssemos trabalhando para vocês –respondeu o negro. –Mas é problema nosso.
-Então não vai ser um problema se eu der uma olhada nos olhos dela...
Isabelle esticou sua espada albina na direção dele e encostou-a na mão que se aproximava do capuz. Ele respirou bem fundo, sem olhar para Isabelle, e afastou-se dos quatro. A menina sinalizou com a cabeça para eles se retirarem, e não disse nada. Supos que eles os deixariam em paz até Thaila precisar deles. Eles curvaram-se e retiraram-se, acompanhados por um guarda. Pedro agarrou a espada e puxou Isabelle para perto dele.
-Por que não me deixou ver, princesinha? –ele sussurrou na orelha dela. –Quem mandou você libera-los?
-Já não acha que é ruim o suficiente você ter causado isso tudo, Pedro? –Isabelle puxou a espada e deixou um corte na mão do homem como chicote. Ela curvou-se para Tabata demoradamente. –Princesa, esqueça-os. Todas as côndefas são nossas, e se eles não pretendem causar problemas, é melhor que não incomodem ninguém.
-Não –ela falou, encarando suas paredes de pedra cinza que dançavam com o fogo das luminárias a gás. Ela coçou as têmporas e arranhou os braços de seu trono. –Eu não confio neles, Belle, nem em minha irmã. Pedro, a culpa disso é tão sua quanto daquelas quatro côndefas idiotas. Mate-os. Agora. Isso inclui aquela pessoa com o capuz, quem quer que seja.
O homem sorriu, maníaco, e correu pela porta por onde eles tinham saído. Isabelle, sem pensar direito, foi atrás dele. A porta em questão resultava em uma escada em espiral, que descia toda a extensão da montanha e resultava no pátio, onde todos os recrutas montavam acampamento, treinavam e comiam. Os dois serventes negros voaram escada a baixo e alcançaram os quatro e o guarda na saída. Pedro não perdeu tempo e usou seu chicote contra a mulher de branco. Ela segurou o objeto quando foi atingida, e ele desintegrou-se ao seu toque. Pedro sorriu.
-Onde vão? –ele perguntou. –Fiquem para o jantar!
O homem negro tinha dois machados presos em seus bolsos, e posicionou-os para atacar Pedro quando o homem desapareceu. Transportou-se para detrás do homem e segurou seu pescoço. Ele fazia muito isso para assustar os outros. Transportava-se para algum lugar alto e os deixava cair ou largava-os numa floresta. Naquele caso, porém, ele mal teve tempo de pensar. O homem de barba roxa acertou-o com uma clava que tinha escondida embaixo do manto que vestia, enquanto a figura emcapuzada produziu uma chama com as próprias mãos e tocou o rosto de Satomak. O homem afastou-se, atordoado. O guarda que havia acompanhado todos até ali desembanhou sua espada, mas Isabelle conseguiu distraí-lo com um grito. Jogou-se no chão como se tivesse sido atingida por algo e o homem correu até ela. O homem mais alto começou a escrever símbolos no chão com giz branco, e Pedro abriu os olhos, furioso.
As pessoas que dormiam nas barracas mais próximas ou se preparavam para a vez deles de atacar Tabata não peareciam certos de querer ajudar ou apenas assistir, com medo de interferir. Medo de não serem convidados e medo de que alguma coisa acontecesse a eles. Poucos foram os que vieram a frente com suas armas e gritos de guerra. Infelizmente para eles, já era tarde de mais.
-Melhor não nos provocar, Satomak –disse a velha.
Os símbolos do homem brilharam, e Isabelle sentiu frio e neve e vento e gelo sendo emitidos dali. Eles usaram aquela magia branca como uma pssagem e deixaram o reino dos mortos como se nunca tivessem estado ali. Pedro grunhiu e seus recrutas pararam sua marcha, observando a frustração do homem. Isabelle levantou-se e empurrou o guarda para longe. Chacoalhou a cabeça e virou-se de costas, sentindo o peso de suas responsabilidades caindo sobre si mais uma vez. Tudo estava correndo tão bem até ali. Esperava não ter que tomar decisões muito precipitadas ou ir até Alícia Weis. Subiu de ovlta as escadas em espiral sem prestar atenção nos gritos frustrados de Pedro. Ela abriu a porta de seu quarto e irrompeu ali com raiva. Theodore levantou-se da cama, mas não disse nada, olhando para o corredor. Quando Isabele virou-se, descobriu Pedro avançando contra ela. Segurou o pescoço da menina e empurrou-a contra sua penteadeira, espalhando vidro e fios de cabelo pelo chão.
-Eu não sei o que você está fazendo, princesinha –ele falou. –Mas quando Tabata quer alguma coisa, nós damos a ela.
-Deixe-os, de que importa, afinal? –ela engasgou.
-Tabata disse para mata-los –ele sorriu. Afastou-se e passou um braço pelos ombros de Theodore. –Se você não vai me ajudar a cumprir essa ordem, vou pegar seu amiguinho emprestado.
O menino dos olhos verdes nem teve tempo de se defender, mesmo que Isabelle soubesse que ele não diria nada. Eles desapareceram. A menina gritou, com raiva e frustrada, e chutou as coisas que haviam caído no chão. Uma batida na porta atrapalhou seu momento de fúria.
-O que foi? –ela gritou.
-A p-princesa –gagueijou a menina que vinha com a mensagem. –Disse que é quase hora do ataque à Tâmara.
Ela pensou por um segundo, repirou fundo e agradeceu, dispensando-a com um gesto. "Vou resolver isso" ela pensou. "Não vou precisar do sonho desta vez".
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