XXX -Alícia
O que quer que Tâmara estivesse fazendo, aparentemente era uma má ideia. Eram nove da manhã e ela havia tirado Alícia da aula de história sem avisos prévios. Simplesmente entrara na sala de aula, ignorara a todos que haviam se curvado e puxou a menina para fora. Ela nem havia sentido a presença de Tâmara atravez da marca. Não estava nervosa e nem em perigo, apenas cheia de determinação. Ana Vitória vinha perguntando se ela estava bem e se não queria pensar antes de agir desde que pegaram a primeira passagem. Os prícipes de Érestha nunca pegavam as passagens. Tinham suas carroagens e vagões exlusivos em trens. O que quer que Tâmara estivesse fazendo, ia precisar das facas de Alícia. A menina estava pronta, de qualquer forma. Preocupava-a, porém, a visão do Castelo de Vidro aproximando-se no horizonte. Ela não gostava de lembrar-se do dia em que jogou uma faca contra Tamires. Se Tâmara estivesse com algum rancor de sua rainha, Alícia teria um grande problema nas mãos.
-Fique calma Alícia, não tem nada a ver com Thaila –Tâmara grunhiu, pisando forte em sua caminhada gloriosa pelas ruas de pedra da cidade da rainha. –Mas se eu fosse você estaria nervosa também. Seu irmão está no meio disso tudo.
A menina parou por um segundo para processar a informação. Franziu a sobrancelha e chacoalhou a cabeça. Riley estava muito misterioso desde a noite anterior, dizendo que tinha pressa, sumindo e conversando o diretor sem explicar nada para Alícia. Ainda não haviam falado sobre o sonho com Isabelle, e ela pretendia dar um tapa na cabeça dele quando se reencontrassem.O gêmeo não havia passado a noite na escola. Ela fechou os punhos e correu para alcançar os passos de sua princesa. Ela não podia estar falando sobre as últimas vinte e quatro horas, mas Alícia não duvidava que haviam mais segredos. As promessas entre os dois eram tão valiosas quanto os excrementos de Alfos. Sentia-se mal em não ter a relação dos sonhos com seu irmão, mas tudo andava muito complicado. Mesmo assim, ele podia ter se explicado.
Os moradores que estavam acordando, pegando seus carros ou regando a grama de seus jardins arregalavam os olhos e largavam o que faziam para curvarem-se. Alícia imaginava que deviam estar acostumados a ver os membros da família real passeando por ali, mas ainda pareciam impressionados. Talvez pela presença de três personagens importantes, ou a mandibula de tubarão que a princesa usava como colar. Ou talvez o que chamava atenção fosse o sol refletindo em seu macacão largo de fios de ouro. Ou ainda o dragão bebê que completava seu penteado, Alícia não tinha como saber.
-Senhora, vamos com calma –Vitória pediu.
-Cale-se, Vitória! –Tâmara gritou. O bebê dragão guinchou adoravelmente, imitando sua senhora e batendo as pequenas asas para impor-se. –Vamos todos tratar Tâmara como um bebê, força-la a fazer as pazes com os irmãos, coloca-la de castigo, tirar os brinquedos dela quando se comportar mal. Eu estou cansada, Vitória, cansada! Se querem que eu cresça e pare de matar elfos, é hora de tratarem-me como uma princesa.
"E o que Riley tem a ver com isso?" Alícia se perguntou. Os guardas aos portões de ferro do castelo não sabiam se curvavam-se ou abriam as portas primeiro. Tâmara gritou com eles também, e os pobrezinhos nem tiveram tempo de pensar. A grama do caminho até as portas de vidro ficou muito contente em recebr Tâmara. Tudo ficou mais verde e mais brilhante, e cada folha de grama virou-se para seu sol. Ela ignorou-os, e focou apenas em caminhar até sua irmã. Só não chutou as portas porque eram de vidro, e acabaria com as belas pernas cheias de cortes. Alícia ficou surpresa ao entrar no salão principal e encontrar Gary DiPrata e um menino conversando com a rainha. O homem virou-se e arregalou os olhos quando a viu, como se tivesse sido pego em uma traição.
-Seu verme despresível! –ela gritou para o general. Alícia freou seu andar ficou ali parada, em choque. –Estamos no meio de uma guerra, como você pôde fazer isso, irmã?
-Do que está falando Tâmara? –a rainha pôs-se à frente do general, encarando a mulher. –Isso é jeito de trata-lo?
-Escutem, eu não me importo com o que Riley Weis diz ou não diz, e não me importaria em conversar sobre essa idiotice, mas se vão fazer algo que me envolva então contem para mim –ela ainda gritava.
Vitória estava conversando com Gary DiPrata por meio de olhares e Alícia não sabia no que prestar atenção. Até a rainha dar um gracioso passo a frente e chacoalhar a cabeça.
-Não grite comigo, irmã –ela falou. –E o que é idiotice? O que está fazendo aqui?
-Um elfo tentou me matar –Tâmara disse, com calma. Uma lágrima escorreu pela bocheha dela. Alícia sabia que era uma mistura de nervosismo e tristeza. Podia sentir pela marca. –E você tira Gary DiPrata de mim. Sei que não me comporto da maneira que gostaria e que você precisa de proteção, mas isso não é uma brincadeira, é uma guerra.
-O que quer dizer com "tirar DiPrata de você"? –Thaila deu um passo para trás. Gary engoliu em seco, e o menino ao lado dele parecia terrivelmente nervoso. Ele era muito parecido com Isabelle, e Alícia não gostou de ter percebido isso. –Ele disse que a ideia foi sua.
Todos giraram o rosto vagarosamente na direção do general. Alícia segurou uma de suas facas, mesmo não achando que seria necessário usa-la. Foi então que Riley surgiu do corredor da esquerda com a cara enfiada num caderno de anotações, e virou o novo centro das atenções.
-Olha, eu não sei quem está mentindo, mas isso terá alguma consequência –Tâmara grunhiu.
Riley parou de andar, abaixou o caderno e cumprimentou os recém chegados com um sorriso e um bom dia.
-O que significa isso, Riley? –A rainha perguntou.
-O que disse para o meu general? –grunhiu a princesa da terra.
-Gary deve estar ao lado da rainha –ele explicou, suspirando. Olhou para Gary como se ele tivesse estragado tudo e deixado ele com ainda menos tempo –E Alícia com a princesa da terra.
-Não chegamos a essas interpretações no livro ainda, Riley –a rainha franziu o cenho.
-Eu sei, tive que me adiantar, desculpe-me por deixar a senhora de fora –ele explicou-se.
Tâmara estava desacreditada. Deu alguns passos para mais perto de Riley e ele pareceu encolher-se em suas roupas sujas de terra e neve derretida. A princesa colocou o punho no pescoço do menino e ele deixou o caderno cair para segurar a mão dela e impedir-la de sufoca-lo. Alícia apontou uma de suas facas para os dois, mas não sabia se queria defender o irmão ou a protegida.
-E por que não disse logo de uma vez, Weis? –perguntou a mulher. –Por que vocês dois mentiram para mim e minha irmã e me deixou sem Gary?
-Porque essa parte não está no livro –Riley respondeu, perdido entre os fios de ouro que tentavam cobrir o corpo da princesa e seus olhos cheios de fúria. –Foi uma sugestão de Isabelle.
-O que? –disse o menino ao lado de Gary, interrompendo o silêncio que naturalmente seria instalado após a menção àquele nome.
-Isabelle disse que Gary deveria ficar com a rainha, na linha de frente –Riley explicou. –O livro diz que Alícia ficará com Tâmara. Achei uma boa oprtunidade para resolver as duas coisas ao mesmo tempo.
-Está seguindo indicações de Isabelle, pai? –O menino perguntou, pasmo. Alícia abaixou a faca e levantou uma sobrancelha. –Não posso acreditar, você mentiu!
Alícia não lembrava de ter ouvido Isabelle falando sobre essas coisas. Aparentemente, o irmão tinha muito o que explicar. Thaila franziu as sobrancelhas e olhou demoradamente para todos ali.
-Certo, então Gary é meu, e Alícia é sua –ela concluiu. A menina gostaria de ter coragem de abrir a boca e fazer perguntas. Como ela poderia tomar o lugar de Gary DiPrata, o melhor general de toda Érestha, se não sabia quase nada sobre estratégias de guerra? O olhar nos olhos de seu irmão pedia calma, e dizia que tudo fiaria bem. Ela só podia confiar, no momento. –Faça o que queiser general. Eu confio em você. E Gustavo será bem-vindo por mais que eu deteste a ideia de irmãos lutando contra si com tanto ódio. E Tâmara, eu não quis causar tanto pânico em você, mas não entre assim em nossa casa.
-Eu sei, me desculpe –ela resmungou. –Tudo bem então, DiPrata. E é bom cuidar bem de minha irmãzinha, ou te faço passar uma noite com meus leões.
-Sim, senhora –ele sorriu, como se leões por uma noite inteira fosse uma ótima sugestão ou uma ótima piada interna.
-E da próxima vez, Weis, -continuou –é bom pensar em se explicar antes de causar tanta confusão. Ao menos para sua irmã, não acha?
Ele não pode responder nem com um suspiro a mais. A porta da frente foi aberta às pressas como fizera Tâmara, e por ela passaram Missie Skyes, o general responsável por Tamires e uma menina vestida de preto que ria sem parar. A rainha sobressaltou-se, e a primeira reação de todos foi empurra-la para trás, junto de Tâmara. O coração de Alícia acelerou-se com o susto, mas não planejava voltar a ficar calmo. Não enquanto Skyes segurasse aquele guarda-chuva e gritasse o nome de Riley.
-Você sabia, não sabia? –ela perguntou, avançando contra o gêmeo de Alícia. –Colocou a princesa Tamires em perigo, junto de tantos civis, ao não falar nada.
-Só estávamos brincando –disse a menina negra, contorcendo-se para tentar soltar-se dos braços do general dos céus. –Que belo castelo!
-Missie, não! –Riley falou, ignorando o guarda-chuva elétrico e aproximando-se da menina. –Tem que ficar lá, com Tamires! Esse é só o começo, ela precisa de você.
-Vou saber se ela precisar de mim –grunhiu. –Estou lendo o livro junto de você, todas as noites. Faço anotações e te ajudo em tudo o que pede, como pôde não me alertar sobre isso?
-Não está no livro, é muito específico –Alícia falou, surpreendendo até mesmo ao irmão. –Foi Isabelle quem nos disse, ontem à noite.
-Sim, precisamos de homens nas cidades grandes –disse DiPrata. –Eu já tinha falado sobre isso numa reunião, Simão.
-E temos homens, general –disse o outro homem de farda, que Alícia não sabia se chamava Simão. –Mas esse ataque foi simplesmente... bizarro demais.
-Só estávamos brincando –voltou a rir a menina de negro.
-Coloquem-a numa cela e vigiem-na –Thaila ordenou. –Riley venha comigo para a biblioteca e deixe Gary com suas estratégias. Confio em você, general.
O menino despediu-se da irmã com outro olhar confortante, garantindo que estava tudo sob controle. Gary tomou a menina dos braços do colega e começou a arrasta-la para o corredor da direita, direto para as celas que Alícia conhecia tão bem, levando junto seu filho. Ela não sabia o que fazer. Não sabia dar ordens como DiPrata nem tomar atitudes como Missie ou manter uma postura militar como Simão. Tâmara olhou para ela e sorriu.
-Já tem homens de prontidão nas minhas cidades, Alícia –ela falou. –Não deve se preocupar.
-Senhora, se me permite –Simão curvou-se. –Viemos até aqui atrás de conselhos do menino Weis sobre esses ataques. Para entende-los melhor.
-Riley não saberia explicar –Alícia disse, dando um passo a frente e engolindo o nervosismo. Dave assumira a posição de legado da rainha quando o tivera que fazer. Riley era o gestor e o leitor, e estava claramente pronto para tomar qualquer atitude para cumprir seu papel. Ela mesma já havia aceitado ser guerreira uma vez, não podia ser tão difícil encontrar forçar para assumir a posição de general. –Mas eu sim.
-A guerreira de Tâmara, claro –sorriu Simão. Missie estava claramente incomodada. Alícia não era bem-vinda no Castelo de Mármore, ela imaginava, mas isso não a intimidava. –Se puder nos ajudar...
-General Weis –ela o corrigiu, olhando bem no centro do olho morto de Missie para completar a frase. Sorriu o pior sorriso que Tâmara havia lhe ensinado. –Sou general do exército da terra, não apenas uma guerreira, e ficarei contente em ajudar.
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