TÁ, MAS VCS ACOMPANHAM A BECCA MACKENZIE? Sabem, né? BecaMackenzie autora de Rainha dos corações Congelados e As lendas de Saas aqui no wattpad? Primeira Wattpad Star brasileira? A pessoa maravilhosa que fez as capas da série Érestha? Então, eu não sei se já mencionei isso em algum lugar mas eu sou ADM do perfil do instagram do próximo livro dela, o Se Pudesse Contar as Estrelas, e hoje foi revelada a capa oficial do livro e está LINDA. Assistam aí, acessem o canal dela, visitem o perfil... Enfim, eu tenho certeza de que vai valer muito a pena!

O dragão de seus amigos estava muito ocupado nos últimos dias, voando para cima e para baixo com ovelhas que pegava dos campos nas montanhas. Os fazendeiros e moradores não estavam com raiva ou com medo de Alfos. Muito pelo contrário: ele trazia um sentimento de segurança para a vila. Eles ofereciam as ovelhas com muito prazer. Alfos significava fogo, e fogo era calor para o outono nevado dos cumes. Ele queimava madeira em troca das ovelhas, o que facilitava a vida dos mineradores que utilizavam-se da luz e do calor. Mesmo com o tempo tão apertado, o animal conseguiu tempo para acompanhar a epedição de Rick Fellows. Naquele momento em específico ele não precisava de Nina, mas Nina precisava dele.

Nina Umbria não era autorizada a brincar perto das minas de diamante, embora amasse a vista dali de cima. Além dos ventos fortes, frio insuportável e ar rarefeito, as árvores não paravam as avalanches que aconteciam durante o ano todo. Principalemente após todas as queimadas iniciadas por Alfos. Os topos das montanhas de Argia eram territórios perigosos para crianças. Mas se a própria princesa a convidava, Nina Umbria estava disposta a desobedecer seus responsáveis. Ela era essencial para carregar a lamparina e serviria de corpo reserva para Agia caso Maria Marim Fellows precisasse descansar. A maneira como os olhos verde folha da princesa dominavam as órbitas da mulher não assustava Nina. Nem a mão que ela mantinha no zumbi de Nicolle de Vie. Os outros cidadãos de cristal também não se importavam muito. Eles preocupavam-se em obedecer à rainha, cuidar da princesa e de sua cidade. Os projetos de Rick Fellows só lhes interessavam se lhes diziam respeito.

O mapa que Rick carregava com ele era a única verdadeira preocupação de Nina. O vento já havia levado outros dois, e aquele era o último deles. Ele procupava-se mais com o livro de histórias do que com o pedaço de papel. Os caminhos das minas era difícil. Por sorte, Nina não tinha que andar um passo sequer. Mesmo aquela sendo a primeira vez que ela montava um cavalo, estava agradecida por isso. Tudo o que ela tinha que fazer era imitar Rick e o cavalo comportava-se. Ela tinha tempo para observar a nevasca que descia pelo penhasco à sua esquerda. Estavam na mesma altura da nuvem, dificultando a visão do caminho e tornando a lamparina de Nina um objeto indispensável. A pequena sentia-se mais importante do que o homem com o burro que carregava comida e panelas, ou os guardas com espadas.

-Para que lado, senhor? –perguntou um dos guardas, que andava mais à frente.

Eles podiam entrar em uma caverna ou continuar pelo caminho de onde vieram. Rick tinha os olhos focados demais em seu mapa para responder seu clássico "não sou senhor nenhum". Para Nina, Rick sempre parecera um senhor. Principalmente naquele momento. O casaco de pele de urso negro que usava era pesado e bem caro. Esvoaçava com o vento e extendia-se até as botas de couro no estribo da sela. Nos últimos meses, a determinação que ele clocara em ajudar Argia a achar seu corpo o distraíra de coisas muito básicas como cortar seu cabelo. Nos livros coloridos que Nina lia, os senhores todos tinham longos cabelos negros que escondiam sob capacetes de armadura. Eles serviam, eles comandavam e eles ensinavam menininhas como subir num cavalo. Rick tinha a postura certa imitada até mesmo pela sua montaria. Era isso o que a menina entendia como um senhor.

-Nina –ele chamou ainda sem tirar os olhos do mapa. –Luz, por favor.

Foi muito difícil guiar o cavalo entre Rick e o penhasco. Se um deles tivesse que caír, que fosse ela. O grupo ainda teria um mapa para seguir. Ela colocou a lamparina sob o mapa e iluminou a interpretação de seu líder.

-Não, eu conheço o mapa –ele olhou para a entrada da caverna à sua frente. –O que diz a placa?

A menina puxou as rédeas de seu cavalo para a direita com força demais. O animal virou num movimento brusco e assustou o de Rick. Os dois ficaram em pé nas patas traseiras e relincharam, irritados. Rick sabia como acalmar o seu, mas Nina não. Ela desesperou-se e soltou a lamparina, deixando que o fogo chiasse na neve fresca, para poder segurar-se melhor. Rick estendeu a mão para ajuda-la.

-Obrigada –ela falou, com o olhar direcionado aos cacos de vidro. Respirou fundo para levantar a cabeça e procurar os olhos dele na neblina. Rick não estava bravo ou decepcionado, como Nina esperava. Ele estava esperando sua resposta. Apontou para o livro no colo dele antes de continuar. –A placa diz "Covas Cavadas". Conheço essa história e conheço essa caverna.

-Tem certeza, garotinha? –o guarda que cavalgava próximo de Argia e Nicolle perguntou.

Nina anuiu. Ela aprendera a gostar de ser chamada de garotinha com Rick Fellows, o próprio. Nina não era mocinha nenhuma, e muito menos uma senhora. Ela prendia os cabelos castanhos em dois rabos de cavalo nos dias quentes e divertia-se com bolhas de sabão quando não tinha que colher nada. Nina Umbria era uma garotinha com muito orgulho, especialmente naquele momento. O cavalo dela estava agitado, como uma criança. O vento não balançava seu casaco de pele branco sintético e ela parecia muito com a menina na capa de seu livro.

-Eu não gosto do escuro –Argia comentou, usando a voz de Maria e a energia de Nicolle. O cavalo que elas dividiam tinha as patas mais grossas para aguentar melhor a subida. O brilho verde de seus olhos no meio da neblina e da neve quase assustava Nina. –Podem pedir por mais fogo?

-Alfos! –Rick gritou.

A neve sob as patas dos cavalos tremeu, ameaçando ceder, enquanto a voz dele ecoava pelas paredes da caverna silenciosa. O dragão gritou em seu vôo, e pousou atrás de todos os cavalos para que nenhum deles se desesperasse. Cuspiu fogo para cima e Nina sentiu um calor reconfortante. Com suas enormes garras, agarrou-se às pedrs escorregadias da montanha e entrou na caverna de cabeça para baixo. Os cavalos não gostaram nada da cena de um réptil cuspidor de fogo passando por cima deles. O de Nina relinchou mais uma vez. O homem no burro que carregava as panelas tinha também uma lamparina reserva. Alfos acabou colocando fogo na placa que Rick queria ler, e foi de lá que pegaram a luz para continuar o caminho. Deixaram o homem andar na frente, responsável pela luz. Nina sentia-se menos importante. Talvez, se sua mãe soubesse que ela falhara em seu trabalho, ficaria brava em ouvir sobre aquela caverna.

Rick pulou de seu cavalo com o mapa e o livro. Amarrou as rédeas em uma pedra pontuda e pediu que os outros fizessem o mesmo. O burro, mesmo com tanta carga, era o único animal confortável o suficiente para estar numa caverna escabrosa com um dragão como guia. Rick andou até sua mãe e sua amiga para ajuda-las a descer da montaria enquanto Nina tentava desenroscar os pés das estribas. Os dois guardas entraram após amarrarem seus cavalos, seguidos da princesa e seus dois corpos emprestados. A menina passou um pé por cima da sela e sentou-se de lado. O cavalo era alto e agitado demais para uma garotinha de dez anos de idade.

-Pule –Rick pediu, extendento a mão para ela apoiar-se.

Ela pulou, e Rick amorteceu a queda da menina. Suas botas afundaram-se na neve do mesmo jeito. O livro cheio de figuras de senhores e mocinhas que Nina lia antes de dormir e que Rick carregava também foi ao chão quando ele tentou segura-la. O mapa voou penhasco abaixo, deixando-os definitivamente sem caminho para seguir. Ela abaixou-se para pegar o livro e devolve-lo. "O Amor Dorme nas Covas Cavadas" era a história de um senhor e uma menina. A menina sabia como chegar nas montanhas, e o senhor procurava por sua amada. Infelizmente, ela fora pega pela neve, e os dois cavaram uma cova na caverna para ela. Havia alguma verdade por trás do conto, e muitas pessoas pediam para serem levadas até as covas cavadas ali. Rick estava certo de que Argia estava ali também. Talvez a rainha Thaís tivesse deixado a filha ali, próxima ao seu reino. Afinal, ela sabia de muitas coisas, talvez soubesse sobre a cidade e o castelo de cristal. Um conto o havia levado até o Castelo de Cristal, talvez um conto o levaria até o corpo de sua princesa.

-Obrigada, senhor –ela ousou.

-Eu não sou senhor nenhum, Nina. Estou procurando um bebê, é só isso.

Apontou a entrada da caverna com a cabeça e seguiu naquela direção. Nina Umbria foi a última a entrar na fila que seguia caverna abaixo. Era fácil para Alfos caminhar pelo teto com as estalactites de cristal e de pedra. Suas garras seguravam-se ali com facilidade. O burro tinha os cascos perfeitos para o chão de pedra fria. As botas cheias de neve dos que caminhavam eram escolhas horríveis. Nina escorregou e caiu oito vezes.

Ela reconhecia a caverna pelos desenhos do livro. As decidas, as subidas, as bifurcações e as grandes colunas de cristal. Rick guiava a todos gritando "esquerda" ou "direita", usando nada mais do que a memória. A neve acima de suas cabeças tremia sempre que alguém falava ou que Alfos se mexia demais. As figuras coloridas eram bastante fiéis à realidade, o que deixou Nina muito feliz. Estava entrando dentro de sua história preferida. Nina via muitos cristais todos os dias, mas as cores ali dentro eram surpreendentes.

A sala mais bela de todas tinha o chão de terra. As paredes e o teto eram de cristais brancos e roxos. Os retângulos desenhados no chão demarcavam os locais onde as pessoas haviam sido enterradas, e estavam por toda a parte. Nina pensou em procurar pela personagem principal de seu livro favorito, mas seu objetivo era outro. Alfos desceu do teto e agitou o burro. Balançou sua cabeça e gritou e cuspiu fogo.

-Vá –Rick autorizou.

O animal pulou por cima de todos e correu de volta por onde havia vindo. Provavlemnte precisava de mais ovelhas.

-Nina, Maria está cansada –Argia falou, soltando os cachos cor de caramelo de Nicolle. A menina respirou fundo e acordou de seu tranze.

Argia sentou o corpo de Maria apoiando suas costas no cristal. Rick tirou seu casaco imediatamente para envolver os ombros da mãe. Mesmo sem a pele de urso, ele parecia um senhor. Nina sentou-se ao lado dela e sorriu. Teria continuado com a mandíbula flexionada daquela maneira, mas a princesa cor-de-rosa não queria sorrir. Nicolle ficou para trás cuidando de Maria enquanto os outros procuravam pelo que poderia ser o bebê de Argia Felicity Bermonth Markova. Nina via tudo pelos olhos de outra pessoa em seu próprio corpo, e adorava essa sensação. Ela sentia-se mais segura com sua princesa e salvadora dentro de sua cabeça.

O grupo passou horas violando covas e abrindo caixões. Rick não acreditava nas lápides improvisadas e não queria arriscar. Era uma cena muito triste, mas ninguém se importava. Não encontravam nada além de ossos e pele velha. Nenhuma bela moça uma vez perdida e uma vez amada, e nenhum bebê conservado magicamente. Ao fim da segunda hora, Nina cansou. Eles já estavam preparando-se para carregar Maria para os cavalos quando ela começou a dormir. Rick estava muito decepcionado e Argia usava sua voz para dizer que ao menos havia tentado. Ela fechou os olhos e não viu como chegou até o cavalo.

-Meu irmão não vai querer ajudar –Rick estava conversando com Argia enquanto ajeitava a mãe no cavalo. Maria parecia muito melhor.

-Eu posso não ter um corpo, mas sou uma princesa e estou morrendo –Argia rebateu. –Ele deve me obedecer.

-É claro que Dave vai ajudar –Maria falou, acariciando seu cavalo.

Rick não quis discutir com a mãe e revirou os olhos sem deixar ela ver. Nicolle terminou de desamarrar o animal que dividia com Maria e tocou o rosto dele com um sorriso para acalma-lo. A menina parecia uma senhora, para Nina. Como a dama amada em seu livro de contos. Argia virou o rosto naquele momento e Nina voltou a dormir. Haviam muitas cavernas naquelas montanhas, e muitos lugares para procurar. Ela ia cansar-se de hospedar uma princesa muito em breve, então precisava descançar.