IV -Riley
A primavera era a estação do ano favorita de Marineva. Ela dizia que sentia-se bem quando as flores voavam com o vento e os pássaros voltavam para seus ninhos. O príncipe Edgar, por outro lado, gostava do outono. O frio que se aproximava e as cores da estação traziam um sorriso ao rosto do homem. A escolha de realizar a cerimônia no final do verão não fazia sentido para Riley. Não haviam belas flores ou cores. Ao menos não naturalmente. Os príncipes e princesas de Érestha haviam trabalhado juntos para presentear os noivos com a mistura perfeita das estações. O calor agradável da parimavera, os ventos frescos do outono e flores alarajnadas.
Riley Weis vestia risca de giz enquanto Dave Fellows sentava-se em um banco de pedra e ria. Carregava uma prancheta, um par de alianças e um furão. Marineva havia convidado Riley como se fosse um dos irmãos de Edgar ou seus representantes e ainda pedido sua ajuda para organizar toda a cerimônea. O almoço que precedeu os preparativos fora muito divertido, mesmo sem a presença de Tâmara, Lilian e sua irmã gêmea. As coisas começara a ficar complicadas depois da sobremesa. Cada um foi para um quarto no Castelo de Âmbar para se preparar, e Riley foi puxado de lado por um velho careca que conhecia bem. O Mago Roxo levou-o até um quartinho apertado para conversar.
-Hoje é um dia especial, então trouxe um terno especial!
-Obrigado Francis –Riley agradeceu, tropeçando pelas pilhas de caixas, panelas e bugigangas que o velho de mantos roxos carregava para todos os lados.
O menino costumava achar interessante os objetos que o veho guardava, e a quantidade com a qual ele viajava. Mas o sol da manhã que passava pelas rachaduras de âmbar das paredes do castelo era tapado pela montanha de tralha. O castelo de Edgar havia sido projetado para brilhar a todas as horas do dia. A estrutura era toda em pedra irregular, preta e branca, e alguns pedaços dela eram rachaduras cobertas de âmbar. A luz do sol e o brilho da lua faziam desenhos no precipício e na floresta logo abaixo dele. Em uma hora precisa do dia, desenhava os caminhos que davam acesso àquele ponto na montanha e as trilhas que levavam até as estruturas menores, como os estábulos e o recém finalizado jardim de Marineva. Riley havia descoberto uma adoração por procurar insetos conservados no âmbar. Sentia-se um Rick Fellows quando em algum ambiente novo. Se não tivesse que ajudar a noiva e arrumar-se, teria passado o dia todo com o âmbar entre as pedras e os insetos congelados.
Francis era um ótimo alfaiate, além de vidente. Cozia para todos os príncipes e vivia dizendo que queria inaugurar uma marca de grife. O terno risca de giz que ele estendia não estava à altura de seu trabalho. Não era novo e nem muito bem limpo, mas era sem dúvidas o mais formal que o velho já havia emprestado para o menino.
-Não fui eu quem fiz esse, para de olha-lo assim –Francis jogou a peça para Riley. –Adnei Frederickson o usava quando tinha sua idade, este é seu agora. O interior tinha mais classe há alguns anos.
O velho ajudou-o a vestir e ajeitar a roupa. Riley não sabia bem como sentir-se vestindo aquilo.
-Não é nada de mais, na verdade –Francis continuou. –Nenhuma costureira excepcional ou valor sentimental muito forte. Mas encontrei Adnei quando fui ao Vale da Primavera e conversamos. Ele me deu isso quando comentei sobe o dia de hoje.
-E por que estava falando com meu pai? –Riley ajustou melhor a gravata em seu pescoço.
-Ele tem um dragão -sorriu. –Já sabe sobre sua irmã?
-Eu já li o livro, Francis. Não preciso da família real para entender tudo. –Riley irritou-se, virando-se de costas para ir embora. –E o dragão é meu.
Ele arrependeu-se de sair dali. Uma das ajudantes de Marineva entregou-lhe uma prancheta e pediu que ele resolvesse todos os vinte e três itens até às duas horas da tarde e ele não conhecia o Castelo de Âmbar muito bem. Francis com certeza teria um mapa. Ele sempre carregava mapas e panelas. Riley havia conseguido ajudar com quinze itens, incluindo receber Juliana, a criadora de dragões, e Resmungo, na companhia do furão agitado Albert. Dave Fellows estava divertindo-se com a confusão do amigo ao ver os itens que ainda tinha que cumprir.
-Thaila pede que eu cheque cada centímetro de seu quarto antes dela se arrumar no dia de sua festa –Dave contou, devolvendo a prancheta. –Ela teme que Tâmara tenha esquecido alguma aranha ou lagartixa por ali.
-Marineva quer minha opinião sobre borboletas –Riley disse, sentando-se ao lado do amigo. –O que quer que eu diga?
-É você quem conversa com insetos, Weis –Dave levantou-se, colocando uma mão no ombro do amigo. –Você consegue. Agora, diga-me, onde estão os Nova?
"Nenhum deles atende por esse sobrenome" Albert falou para Riley, correndo de um lado para o outro incansavelmente. O menino apenas revirou os olhos.
-Resmungo está no terceiro andar, conversando com quem encontra em seu caminho. Juliana está nos estábulos.
-Esse dia será ótimo, meu amigo –Dave sorriu. –Vá cuidar de sua lista. Restam três horas apenas.
Com a ajuda de Albert, Riley conseguiu direcionar as outras pessoas do castelo de Âmbar e finalizar sua lista com dez minutos de sobra. Tempo suficiente para ajudar Resmungo a encontrar os estábulos de Edgar.
"Ela está lá! Ela está lá" Albert gritava.
-A rainha me chamou, furão –Resmungo resmungou. Deu um chute para afasta-lo mas o bicho oltou para perto dos dois imediatamente. –Devo obedece-la.
Riley não precisava lembrar-se bem de como andar pelas trilhas para saber onde ficavam os estábulos. Havia fumaça e fogo exalando de lá. O caminho era cercado de árvores altas, mas Riley podia sempre ver a torre mais alta do castelo. Ao menos assim , não ficaria perdido. Juliana, Thaila e Dave estavam conversando sobre dragões. Por sorte, a trilha era curta. Os estábulos eram duas casas de madeira fechadas. Os funcionários estavam enchendo baldes com água e tentando controlar os cavalos que não gostavam da presença do dragão. Albert correu na frente deles e passou por debaixo das portas de âmbar. Voltou correndo na mesma velocidade, gritando que morria de medo de dragões.
"É um péssimo presente, o de Juliana" Albert opinou. "Marineva não vai gostar de ter bestas que cospem fogo como animal de estimação. Furões são melhores. Furões não cospem nada."
-Cale a boca, furão estúpido –Resmungo chutou-o outra vez.
Riley sempre entretia-se de mais com a agitação de Albert. O furão era rápido como uma flecha quando voltava para enfernizar os pés de seu mestre, e impossível de ignorar. Mas um dragão adulto com escamas verde brilhantes tentando arranhar o rosto de seu melhor amigo era muito mais interessante. A cabeça dele era cumprida, diferente da de seu dragão de estimação, o que indicava que era uma fêmea. Os dentes enormes e garras afiadas destruiriam o rosto de Dave Fellows com muita facilidade se ele estivesse dez centímetros mais para frente. E Riley não precisava ter lido inúmeros volumes sobre criaturas escritos por Hynne Stewart para saber que aquele era um dragão de fogo. A fumaça acumulada no teto do estábulo estava começando a atingir níveis preocupantes. Thaila e Dave estavam admirando a fera, que estava muito bem presa por correntes de ferro, enquanto Juliana, a criadora de dragões, aproximava-se de Riley e Resmungo.
-Pobre animal, Jeremiah –falou a mulher, sorrindo graciosamente. Riley e Dave tiveram a mesma reção de virar a cabeça em surpresa ao descobrir o nome de Resmungo. –Mas furões não são melhores do que drragões.
"Ela é ótima, mas está errada" Albert correu até Juliana e ganhou uma carícia animada na barriga.
O vestido de festa de Juliana era tão perturbador quanto o Castelo de Marfim da princesa Tâmara. Era todo feito de escamas coloridas de dragão. Seus acessórios eram ossos e dentes, e a ponta de espinhos de uma cauda adornava seus cabelos. Resmungo havia sido vestido por Francis e estava tão formal que Riley estranhava andar com ele. O velho ainda tinha o mesmo brilho louco nos olhos, e a mesma postura de trabalhador. Juliana estava sempre deslumbrante. O velho expulsou o furão mais uma vez e cumpimentou a mulher com um beijo em sua mão. Os dois conversaram bem rapidamente sobre como estavam se sentindo naquela tarde e Thaila juntou-se a eles. Decidiram caminhar enquanto conversavam, deixando o animal agitado para os tratadores. A rainha sorriu para Riley e ele curvou-se.
-Sou eternamente grato por ter sua confiança, vossa majestade –Resmungo curvou-se para Thaila e beijou suas mãos também. –Elinore veio visitar-me pessoalmente no dia de ontem.
-E veio à mim três dias atrás, senhora –Juliana sorriu. –Fico contente de saber que a carta foi entregue e que tenha funcionado. Ao menos um de nossos filhos nos entende.
-Meu nome é Thaila, não "senhora" –a rainha sorriu. –Elinore provavelmente não comunicou Ethan sobre suas viagens. Ele anda muito ocupado. Mas acreditem, ele também ficu bastante comovido com a carta.
-Como você saberia? –Dave perguntou, encarando sua rainha de braços cruzados.
Alícia estava certa em detestar a atitude do Fellows. Riley jamais desconfiaria de Marineva ou Edgar ou até mesmo Tâmara. Se tomassem uma decisão, ele aceitaria. Se guardassem segredos, ele aceitaria. O trabalho dele era servi-la, não ser uma babá.
-Independente de quantos dos nossos filhos ficaram comovidos, eu só tenho a agradecer, Thaila –Juliana sorriu.
-Foi sempre parte da família, para nós –Resmungo curvou-se mais uma vez. –Obrigado por ser sempre...
-Isso não parece bom... –Dave interrompeu o velho passando entre ele e a rainha, ignorando a bela conversa de reencontro e gratidão que se desenrolava.
Albert xingou o menino enquanto Resmungo e Juliana afastaram-se e franziram as sobrancelhas. Thaila soltou um "uh-oh" preocupado e seguiu seu representante sem concluir o discurso. Riley não sentiu-se diferente quando entendeu o que estava acontecendo. Sua irmã havia finalmente chegado, na companhia da princesa da terra, e ela marchava de na direção de Missie Skyes. As portas do castelo estavam abertas, e todos dentro dele e no pátio assistiam à cena. As duas não se falavam desde o dia em que Tâmara pedira que Alícia atacasse sua irmã dos céus com suas facas de arremesso. Elas se evitavam e Riley concordava com isso. Sua irmã era muito cabeça quente, e Misse tinha muitos motivos para irritar-se.
Sua irmã estava usando um vestido verde de mangas longas e o cinto com as seis facas como adorno, mas Riley sabia sobre a nova marca que escondia-se em seu braço. Estava no livro. Ele já havia encontrado-se com Missie mais cedo, e ela parecia calma antes. Agora até seu olho cego transpassava raiva. Suas princesas estavam completamente desinteressadas no encontro das duas. Tamires estava conversando com Elias, o irmão dos ventos, e Tâmara estava apontando Riley com a cabeça para Lilian encontra-lo. A visão da princesa da terra não era como um colírio para os olhos de Riley, como costumava ser. Era uma cena um tanto forte. Ela vestia calças elegantes e uma blusa bastante simples, e o adorno mais exageirado eram suas algemas e correntes que prendiam seus pés às suas mãos. Precisava de auxílio de Ana Vitória para movimentar-se corretamente. Por mais que vestisse sua coroa e fosse a mais bela princesa de Érestha, Tâmara parecia uma criminosa perigosa. Seus belos olhos verdes tinham traços de loucura.
-Fique fora disso, Fellows –Riley ouviu sua irmã grunhindo e acordou de sua viagem. –Sua princesa é péssima em controlar os próprios súditos.
Dave estava posicionando-se entre as meninas e Thaila vinha logo atrás.
-Tâmara pertence às celas frias do Castelo de Vidro, não à uma cerimônea –Missie empurrou Dave para trás.
-Alícia... –Riley chamou o nome de sua irmã.
A menina virou o rosto. Já sabia que ele não pretendia impedi-la de brigar com a representante dos céus. Queria confronta-la sobre a luz que o vestido escondia. Ela apenas encarou o irmão com os olhos desinteressados e continuou a falar.
-É bom que Tamires não se esqueça de tomar conta de seus tão amados Elfos. Não precisamos de mais confusão.
-Isso não é problema seu, Alícia –Dave interveio.
-Acontece que é sim, Fellows –ela grunhiu mais uma vez. Dave detestava ser tratado pelo sobrenome pela amiga, e Riley odiava aquela atidude da irmã. Ele queria justifica-la com o novo pacto idiota para não ter que culpar sua Lice. Mas conhecia-a bem demais. –Mantenha as criaturas dentro de seu reino, Olho-de-Prata.
A expressão no rosto de Missie alterou-se no segundo em que ouviu o apelido maldoso saíndo dos lábios de Alícia. Seu olho bom contorceu-se e sua mão apertou-se no cabo de seu guarda-chuva. O outro olho pareceu encher-se de raios e fúria.
-Tamires não é babá de elfo nenhum –Missie respondeu. –Vá reclamar com sua amiguinha cor de rosa ou mantenha sua princesa debaixo da terra.
Riley conhecia Alícia bem demais. Bem ao ponto de segurar sua mão no ar antes que esta aproximasse-se do rosto de Missie. Ele puxou-a para trás e Dave ficou com Missie. Ele queria poder ver o momento do pacto selado com Tâmara. Queria saber onde estavam e porque ela havia concordado em proteger a princesa. Ela nunca contaria. E Dave também manteria o segredo quando olhasse em seu passado.
-Abaixem o tom de voz se pretendem ser ofensivas –Thaila sussurrou quando alcançou a confusão. Seus olhos violeta olhavam na direção das escadas que davam acesso ao castelo, por onde chegavam Ellie, a elfa regente, e Reycaryn, seu conselheiro. Riley e Dave não gostavam nada daquele elfo, mas adoravam Ellie. Deviam suas vidas a ela por tê-los salvado da loucura de Dneva, a irmã malvada da noiva. Alícia e Missie calaram-se naquele momento. -Fiquem longe de brigas no dia do casamento de meu irmão. Entenderam?
Elas assentiram, e imediatamente seguiram seu caminho, evitando a todos. Dave tinha um olhar desconfiado direcionado à Alícia. Riley não ia contar sobre o pacto. Queria que ele descobrisse sozinho. Thaila abriu a boca para falar alguma coisa e tudo o que Riley conseguia pensar era em como não queria dar opiniões sobre a gêmea. Mas suas palavras não tinham nada a ver com Alícia.
-Maria Marim Fellows estava na lista de convidados? –ela perguntou para Riley.
Ele estava tentado a responder que não, mas os olhos dela, ainda direcionados à trilha, sugeriam que ela não estava mesmo atrás de uma resposta. Riley olhou para aquela mesma direção e ficou aterrorizado. Ver sua princesa algemada não era nada perto daquilo. A mãe de seu melhor amigo tinha os olhos verdes da princesa da vida dominando seu rosto enquanto a mão direita segurava firme nos cachos cor de caramelo de Nicolle de Vie. Esta, por sua vez, movia-se como um zumbi. O olhar de terror no rosto de Dave Fellows fez Riley assustar-se ainda mais.
-Não podia perder esse evento –Maria sorriu com a voz da princesa Argia –Pareço ter energia suficiente para horas quando tenho um bom corpo novo e meu bom corpo velho.
-Deveria ter ficado no Castelo de Cristal, irmã –Thaila falou, aproximando-se de Nicolle e examinando-a com curiosidade. –Gastar toda essa energia por lá.
-Nada lá me inspira mais. Conheço bem todos os meus cristais. Rick está tomando conta de minha biblioteca. Não precisamos de duas pessoas lendo páginas amarelas repetidas. E sua mãe vai ficar bem, Dave. Não se preocupe.
-Isso precisa acabar –Dave sussurrou, encarando a mãe com horror.
-Acabará logo, Fellows –respondeu Francis, vestido de preto, prata e dourado. Era ele quem selaria a união dos noivos. Carregava um livro antigo e pediu as alianças que Riley guardava no bolso. –Hoje é um dia feliz para Érestha, minhas crianças. Que todos possam celebrar!
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