II -O Guarda do Vale
O peso nas costas do homem ia muito além da cota de malha e a mochila pesada. Ele havia mentido para tentar fazer as coisas darem certo como se sua vida não lhe tivesse ensinado nada. Mentiras não consertam coisas, fazem-nas ficarem ainda mais complicadas. E a mentira de Ethan Nova não era uma coisa qualquer. Não era uma informação falsa sobre si ou uma promessa de amor eterno. Ele dissera que sabia como chegar aos Mercenários Mortos para a rainha, mas não sabia. Seu mapa era uma piada e a luz da lua crescente não iluminava nem o topo das árvores. Agora vagueava por trilhas de terra com uma carta que fora proibido de abrir e uma flor roxa que lhe causava medo.
Esteve perto de desistir depois de passar três horas perdido em uma floresta escura, onde ele perdera seu cavalo, mas quando reencontrou a rua, suas esperanças foram renovadas. Teve medo por três vezes quando os ouviu uivos de lobos muito próxims de si, e chegou a desembainhar a espada para lutar contra a sombra de uma árvore agitada pelo vento. "Preciso fazer isso" ele pensava enquanto girava o mapa tentando entender onde era o norte. "Aquela princesa tola precisa de mim... E eu preciso dela."
Ethan Nova ainda estava perdido nos olhos violeta de sua rainha. Mesmo uma semana depois de seu reencontro, tudo no que conseguia pensar era no seu sorriso exclusivo e em quando ele teria a chance segurar seu rosto novamente. Perdia a conta das horas que passava caminhando quando imaginava entrar no Castelo de Vidro com notícias positivas vindas de sua expedição. Thaila desceria as escadas em seu melhor vestido e beijaria-o na frente de todos os seus irmãos. Convidaria-o para ficar para o jantar e os dois teriam mais uma noite para passarem juntos. Aqueles devaneios eram o que mantinham seus pés seguindo em frente. Mas para chegar lá, tinha que encontrar quatro personalidades perigosas em uma cidade assombrada.
Tudo o que ele sabia vinham de lendas e pesadelos. Histórias passadas de boca em boca pelos habitantes de seu vale. Os Mercenários Mortos eram temidos, e suas hstórias serviam para assustar crianças desobedientes. Os quatro serviam a qualquer um corajoso o suficiente para procura-los ou que tivesse muito ouro ou outras riquezas. Dois homens velhos que viveriam por quanto tempo desejassem e duas côndefas perigosas que já haviam enfrentado a morte. Eram ótimos lutadores e não temiam a ninguém. Ethan sabia que as histórias sobre eles raptarem crianças que não voltavam para casa no horário eram mentiras, mas aquelas sobre os assassinatos e saques sem misericórdia eram o porquê deles serem temidos. Arrepios tomavam conta de seu corpo quando ele pensava demais no encontro que logo teria.
-Ora, mas até que enfim! –uma voz assustou o guarda.
Ele pulou, desajeitado, pelo susto. Derrubou seu mapa na lama e atrpalhou-se ao tirar a espada da bainha. Tentou gritar algumas ofenças, mas as palavras engasgaram-se em sua garganta e o dono da voz riu. Ele girou em seus calcahares, tentando encontrar a pessoa que ria, mas não enxergava nada na escuridão da noite de Junho.
-Quem está ai? –ele perguntou assim que conseguiu segurar a espada.
-Não se preocupe, Ethan Nova. Estou aqui para ajudar. Vire-se para a esquerda e abaixe essa arma.
Ele virou o rosto e conseguiu distinguir uma silhueta baixa e rechonchuda próxima a um arbusto. Girou a espada em sua mão e virou o corpo, com a intenção de apontar a arma para o pescoço do estranho. Contudo, a pessoa levantou uma espécie de bastão que bloqueou seu golpe e lascou o corte perfeito de sua espada.
-Quem é você? –ele perguntou, abismado com o dano em sua arma.
-Meu nome é Dafne, querido –ela falou, abaixando o bastão e batendo no chão para guiar sua cegueira. –Você demorou muito, o que houve?
Ethan não conseguiu responder de imediato. A mulher era claramente cega: usava óculos escuros apesar da escuridão da noite e o bastão era usado para ajudar-la a guiar seu caminho. O homem, contudo, não podia depositar nem um pingo de confiança na estranha. Algo lhe dizia que seus olhos inúteis estavam mirados para seu rosto, perfeitamente alinhados aos seus castahos. Ele olhou sua espada e o bastão dela algumas vezes, com a testa frazida.
-Fui eu mesma quem o planejei –a velha sorriu, apontando para seu bastão com orgulho. –Desculpe-me pela espada, mas apontar armas para senhoras cegas não é muito legal de sua parte.
-Você não é cega –Ethan contestou. –Não pode ser.
-Acredite no que quiser, meu caro, mas ouça-me do mesmo jeito –ela moveu seu bastão até acertar a perna de Ethan e aproximou-se, tocando-lhe o rosto. Ethan ainda estava em choque, e deixou que ela sentisse suas feições. –Que belo homem você se tornou, Ethan.
-O que você quer de mim? -ele afastou-se um passo.
-Estou aqui para leva-lo até os Quatro –ela sorriu. As feições da velha tornaram-se mais amigaveis e o mundo pareceu mais frio. –Lembra-se do sonho, não?
Ethan congelou aonde estava. Quase todas as suas noites eram recheadas por fantasias absurdas que o faziam rir na manhã seguinte. Sonhos felizes, agitados, ou pesadelos terríveis com morte ou aranhas gigantes. Mas 'o sonho' só podia ser um. Ele o chamava de sonho por falta de termo melhor. Aquilo havia sido uma experiência aterrorizante numa das melhores noites de sua vida. Tinha Thaila adormecida em seus braços qunado fechou os olhos naquela noite. Ele esperava ter o mais belo dos sonhos aquecido pelo calor de sua rainha, mas o que encontrou foi uma névoa densa, um banco e uma árvore morta.
O guarda do vale sentiu-se diferente naquele cenário. Era físico e ele estava consciente. Andou pelo local apenas para descobrir que não havia nada além do que via. A névoa parecia ficar mais fria e mais densa conforme o tempo passava. Ethan tentou beliscar-se e segurar sua respiração para acordar, mas sentia como se tivesse sido transportado para aquele lugar. Alguns minutos após ele desistir e sentar-se no banco, uma garota apareceu detrás da árvore, vestida de preto e prata e carregando uma flor. Era uma tulipa roxa com marca de batom em uma das pétalas. Ethan levantou-se e deu um passo para trás. Desejava estar sonhando para não ter que encarar a proximidade de Isabelle DiPrata.
-Em uma semana, eles estarão perto de você –ela falou. Não esperou que Ethan processasse toda a informação e continuou a falar. –Siga o mapa que tem para chegar até o bar abandonado da Cidade de Arkas. Por lá ficarão pelo tempo que precisarem. Estão curiosos para ver-te. Não perca essa oportunidade.
A menina esticou a flor para Ethan e esperou que ele pegasse. O homem não se mexeu. Ele sabia que aquela era a flor símbolo de Thaila, e conseguia reconhecer a marca do batom que ela estava usando naquela mesma noite. Sem dizer uma palavra sequer, Ethan segurou a flor com uma mão.
-Não vai ter que fazer isso sozinho –ela continuou. –Dafne te encontrará no caminho. Ela vai ajudar.
-E por que eu daria ouvidos à representante...
-Porque Thaila pediu para que eu ajudasse –ela o interrompeu, revirando os olhos. Parecia estar acostumada a ter aquela conversa. –Ela não pode saber onde estarão os Mercenários Mortos ou ela se torna um alvo. Pegue a carta, encontre Dafne e vá até Arkas. Não estrague essa oportunidade ou tudo ficará complicado para mim, entendeu? E não fale sobre esse encontro.
Ela colocou o indicador em frente a sua boca para silência-lo, e Ethan acordou imediatamente. Abraçava não mais a rainha de Érestha, mas a tulipa roxa com a marca de batom. Thaila estava em pé, penteando seus cabelos roxos para o lado quando Ethan sobressaltou-se. Ele levantou a tulipa para mostrar para ela e Tahila sorriu. Colocou o indicador na frente dos lábios e piscou para ele, retirando-se do quarto de visitas em seguida. Ethan ficou paralizado por não poder mentir para si mesmo e acreditar que aquilo fora um sonho. Apesar de acreditar nas histórias que ouvira sobre os Quatro, seguir as instruções de Isabelle parecera o certo a se fazer. Além da carta e do dinheiro de Thaila, ele carregava também a tulipa roxa na mochila. A flor continuava brilhante como no dia em que recebra.
-O tempo está passando, Ethan Nova –Dafne acordou-o de seus devaneios. – Você vem?
Ele arumou a mochila em seus ombros e segurou a espada com mais firmeza. A velha sorriu para ele e virou-se, andando pelo caminho de lama pelo qual Ethan viera. O homem olhou para seu mapa destruído pela lama e trocou a espada em sua mão pela bela tulipa da rainha. Respirou fundo, e seguiu a velha.
Ok, é, eu não postei outro capítulo semana passada, como eu falei que ia fazer
Eu vou tentar, juro. Até porquê seria inviável postar só um capítulo por semana: O livro tem mais de 50, seria um ano de publicação e eu não quero isso. Provavelmente nem vocês. Mas enfim, eu vou tentar postar mais de uma ve por semana, mas não no mesmo dia. Talvez amanhã, eu acho que tenho tempo. Acho.
Obrigada por lerem :)
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