XXXVII -Nicolle
Dave nunca falava muito sobre Missie Skyes. Na opnião de Nicolle, ela merecia mais palavras sobre si rondando as orelhas de Érestha. De todos envolvidos na viagem da princesa da vida para a província dos céus, Missie era a única que a tratava bem. A menina tinha paciência para agir como um guia turístico, explicar a cidade, explicar o castelo e surpreende-la com detalhes e novas informações. Enquanto isso, as princesas gêmeas estavam imersas em um limbo próprio de ódio e amor. Queriam continuar aproveitando a companhia uma da outra, mas tinham opiniões diversas sobre Átila Markova e sua estadia de luxo no Castelo de Mármore. A rainha tinha ódio transbordando por seus olhos há semanas e parecia não suportar assuntos envolvendo Argia. Desde que Dave resolvera ficar na escola ao invés do Castelo de Vidro, Thaila estivera distante e muito estressada. Nada do que Argia fazia ou falava a deixava feliz.
"Eu não sei como me sentir." Argia pensou, dividindo os sentimentos com Nicolle.
"Fique calma." Ela respondeu. "É só uma visita."
Argia era outra que estava muito estressada com todos os seus deveres, o que resultava em fortes dores de cabeça que atingiam Nicolle. Thaila estava muito apressada em acertar detalhes na província da vida e não se importava se Argia estava cansada, confusa ou prestes a vomitar. Ao menos Rick fazia um ótimo trabalho como representante. Ele não tinha medo de perguntar. Irritava a rainha e fascinava seus irmãos com tantas dúvidas e porquês que Argia não entendia.
Thaila queria que ela aprendesse algumas leis básicas aplicadas em toda Érestha e que a deixasse no comando da província até tudo se acalmar. A rainha trataria de todas as questões burocráticas para a meia-irmã até ela ter idade e conhecimento suficiente para fazer isso sozinha. Mas Argia não concordava com as decisões da irmã. A rainha priorizava ações militares ou relacionadas à guerra. Queria explorar recursos, começar um exército e fortificar a proteção na fronteira com Tabata. Argia, por sua vez, queria ajudar a todos os seus novos súditos e restaurar um estado de paz alguma vez existente naquele território. Ela queria também dar mais atenção aos legados da vida recém descongelados, ouvir suas histórias e aprender mais sobre si mesma com eles.
-Não é hora para isso –Thaila dizia sempre que a menina achava um momento livre e queria ir conversar com alguém fora do Castelo de Cristal. –Venha comigo e vamos resolver outro assunto.
Haviam mensageiros por toda a província carregando a notícia da acenssão da princesa cor-de-rosa. Quando voltavam, traziam representantes de cada vila, de cada cidade e de cada pequeno povoado que havia sido destruído e torturado por Tabata. Eles vinham prestar suas honras e pedir por ajuda. Não houve uma pessoa sequer que retornara com algum homem ou mulher que não queria Argia no lugar de Tabata. Enquanto a princesa se preocupava em lembrar as ordens da irmã, Nicolle focava nos pedidos dos pobres moradores de sua província. Argia não conseguia desafiar a rainha então pedia que lembrassem-se dos pedidos para poder atender mais tarde, quando pudesse gerir sua província sem a interferência de Thaila.
Mariska Portova, do Pequeno Povoado do Sul, estava desesperada por água limpa. Tabata havia estragado todos os poços da cidade eos cidadãos, o gado e a colheita estavam sofrendo há semanas. Keith Marlk da Cidade Cumprida, tinha um problema oposto ao de Mariska. A longa cidade que acompanhava as margens do Rio Leite estava alagada com águas sujas e cheias de doenças. Emerald Mimmack de Ponte Nova e Jannet Rich de Geomeda Sul precisavam de médicos e roupas para sobreviverem ao frio. Por mais que a primavera estivesse chegando, aquelas duas cidades mais ao sul ainda teriam algumas semanas de neve. Nicolle tinha todas essas informações arquivadas em sua memória, prontas para serem usadas a favor dos habitantes. Se dependesse de Argia, todoo foco estaria nesses pedidos de ajuda. Mas como toda decisão era a palavra final de Thaila, a prioridade era a guerra e o reino livre dos Élfos.
-Átila já está esperando a senhora na sala de reuniões –Missie falou, guiando a princesa pelos corredores de Mármore.
-Como ele é? –Argia perguntou. O coração dela estava acelerando de ansiedade, e as palmas de suas mãos suavam. –E não me fale sobre seus cabelos curtos e as túnicas brancas. Como é como pessoa?
-Átila Markova é muito confiante e certo de si –Missie respondeu, desviando o olho morto da princesa. –Sabe o que quer e como chegar lá.
-Então ele é metido e egoísta? –Argia perguntou.
-Exatamente –Missie não teve medo de tratar um superior daquela maneira.
Naquela ocasião, Rick não estava acompanhando sua princesa e sua melhor amiga. Tinha tirado o dia para readaptar-se às aulas junto de seu irmão. O menino estava curioso para continuar as aulas de história, como se lesse um livro com ótimos cliffhangers. Argia queria aquele momento só para ela. Se pudesse, teria deixado Nicolle na escola também. As duas pareciam estar separando-se cada vez mais. Como se uma parte do cérebro de Nicolle estivesse ganhando suas próprias ideias e rebelando-se contra seu corpo. Ela sonhava com liberdade e começava a pensar mais como Argia do que como Nicolle. Ela era uma princesa, e Nicolle não era senhora nenhuma.
-Vou deixar que conversem –Missie falou, abrindo uma fresta da porta da sala de runiões. –Qualquer coisa estarei aqui fora. Quando estiverem prontos, chamarei as princesas.
-Obrigada, Missie –Argia agradeceu. Nicolle tentou forçar seu corpo para um abraço, mas Argia virou-se para a porta e deixou a garota do olho prata sorrindo do lado de fora.
Átila Markova tinha uma curva nos lábios quando a princesa entrou na sala. Mas aquilo estava longe de ser um sorriso. O elfo era bem como haviam descrito centenas de vezes para elas: alto, com cabelos castanhos curtos e a postura de um governante sério. A túnica branca que vestia-o estava amarrada com cipó em sua cintura, e parecia larga demais nos ombros. Algumas manchas de terra e o que parecia ser mostarda estragavam a cor pura do ser da natureza. Ele tinha as mãos postas para trás e um olhar de triunfo dirigido à menina. Nicolle já não estava gostando da idea de não ter Rick com ela.
-É um enorme prazer finalmente conhecer-te pessoalmnte, princesa –o homem curvou-se.
"Eu deveria fazer o mesmo?" Argia questionou, referindo-se à reverência.
"Não" Nicolle respondeu. Ela simplesmente não queria ser forçada à curvar-se para aquele rosto inamistoso.
-Sabe, ninguém foi fiel o suficiente quando pedi que descrevessem-te. És uma garota belíssima.
-Não sou uma garota, sou um parasita –ela respondeu. –Essa "bela garota" se chama Nicolle de Vie. Se estiver interessado em elogiar-me, espere até que possa julgar-me como pessoa.
-Sim, senhora –ele curvou-se outra vez, ainda com aquela curva nos lábios.
-O que foi que minha mãe disse para convencer-te a deitar-se com ela? –Argia puxou uma das cadeiras para sentar-se.
O elfo franziu as sobrancelhas. Nicolle estava impressionada com a paciência de Argia. Seu coração estava mais calmo e as mãos bem menos suadas. A princesa queria demonstrar que estava ali puramente pelos assuntos do reino, e que não haviam sentimentos envolvidos na visita. Era parcialmente verdade. Argia planejava concertar tudo como Thaila queria para depois decidir se queria ou não aproximar-se de Átila.
-Não vai gritar ou colocar a culpa de toda essa guerra em mim, como fizeram seus irmãos? –perguntou o elfo, sentando-se à uma cadeira de distância.
-Eu li boa parte das interpretações de Riley sobre o Livro da Rainha. Ela escolheu concebir-me, eu não sou um acidente. O que ela ofereceu em troca?
-Ela me mostrou o que seria de Érestha sem você –ele disse. –Os clarividentes conhecem muitos caminhos, mas poucos conseguem manipula-los. Thaís era excepcional em tudo o que fazia. Se Thaila fosse portadora do legado da vida, sua província seria de Tabata, as primeiras gêmeas nunca teriam se acertado e nem todos os filhos do rei estariam lutando pela coroa. Eu e meu reino seríamos dizimados em uma semana.
Argia encarou o homem em silêncio por tempo demais. Seus pensamentos estavam desligados de Nicolle e tudo o que a brasileira podia fazer era observar o elfo pelos olhos verdes de outro alguém.
-Parece-me bom o suficiente –ela disse, enfim. -Missie – virou o rosto para a porta. –Podemos começar as reuniões.
-Então é isso? –Átila levantou-se, mexendo em seus cabelos. –A nossa conversa acaba aqui?
-Tem algo a mais para me dizer? –Argia arrumou sua postura na cadeira e apoiou as mãos na mesa.
Ele não respondeu nada. Esperou até que as primeiras gêmeas e suas respectivas representantes entrassem e sentassem-se para acomodar-se ao lado de sua filha. Tâmara estava furiosa e Tamires, nervosa. Foi Olho-de-Prata quem sentou-se na cabiceira, como se o castelo fosse seu e aquela cadeira giratória de encosto alto fosse seu trono.
-Vamos manter essa reunião curta –Tâmara falou, olhando para a irmã e pedindo calma sem usar palavras. Voltou o olhar para a meia-irmã para continuar. –O que será do reino élfico e desse maldito sentado ao seu lado?
-O reino é meu e Átila está perdoado –Nicolle gostaria de ter fechado os olhos e não ter visto o olhar de fúria no rosto da princesa da terra intensificando-se. Ela sabia que a consequência daquela conversa seria essa, mas não estava preparada para ir contra as vontades das princesas. Nem Argia estava. A menina voltou a suar e o coração dela ficou preocupado. Havia também uma coceira engraçada em seus tornozelos, que foi ignorada com facilidade. As representantes franziram o cenho para ela, e a princesa dos céus pareceu aliviada, respirando mais leve. Argia continuou forte e falou antes que Tâmara pudesse explodir com ela. –Ele pode ficar por lá se quiser, mas a liderança do reino fica com o Conselho Élfico até eu poder resolver tudo pessoalmente.
-Então uma de minhas irmãs perdoa os crimes dele e a outra devolve seu castelo na árvore? –Tâmara levantou-se, apertando os punhos e encarrando os olhos verdes do Élfo. –Estou decepcionada com vocês duas.
-Teremos tempo para ódio e pesar depois da guerra, irmã –Argia falou. –Não queremos problemas com ele agora. Deixe esse assunto morto até que tudo se resolva.
-Sinto muito, -suspirou a princesa da Terra, lançando um olhar rápido para Ana Vitória –mas eu discordo. É uma pena.
A coceira no tornozelo de Argia tornou-se uma dor forte em questão de segundos. Seus pés agora estavam presos à cadeira por ramos espinhosos. O chão havia tranformado-se em lama e grama, e a cadeira afundava e pendia para a direita. Ana Vitória estava concentrada em manter a todos amarrados enquanto Tâmara usava seu domínio para fazer crescer uma bela rosa com pétalas bege em volta do corpo do elfo. A princesa ignorava os gritos desesperados de Missie em seu trono de rodinhas e o olhar cansado com o qual Tamires a encarava. Ainda presa em seu próprio corpo, Nicolle queria gritar e fechar os olhos, mas Argia estava tentando manter a calma e pensar em como se desamarrar para impedir Tâmara. Átila apenas revirou os olhos quando as pétalas da rosa tocaram seu nariz. Os espinhos de seu cabo tinham o tamanho de uma lâmina de adaga, mas isso não deixava o elfo nervoso.
-Essa era a cor favorita dela, não era? –Átila perguntou, sorrindo para a princesa da terra.
Tâmara piscou seus olhos, desinteressada, e fez sua flor apertar o abraço com o elfo. As pétalas cobriram sua boca e abafaram seus gritos de dor e desepero. Os espinhos não tiveram piedade de sua pele e contentaram-se apenas com o toque de seus ossos e o calor de seu sangue. Nicolle queria muito fechar os olhos. Quando ela achava que não ia conseguir mais ser forçada a encarar aquela cena sem desmaiar dentro de seu próprio corpo, Argia sumiu. Nicolle de Vie voltou a controlar seu corpo, e sua mente estava em silêncio. Era tudo mais leve e bem mais calmo em seu cérebro.
A fraqueza atingiu-a assim que entendeu onde estava a princesa que habitava sua mente. Os olhos de Tâmara não podiam ser confundidos. Verdes e brilhantes, cheios de determinação e malícia. Aquele verde folha furioso não era seu. Os gritos abafados pela flor cessaram antes de Argia poder forçar a irmã da terra a agarrar o próprio pescoço. Missie lutava para conseguir livrar-se dos espinhos e Átila sangrava em seu silêncio final. Tâmara voltou a tomar conta de seu corpo quando seu rosto já estava vermelho e Vitória liberou todos das amarras. Missie correu pela lama grudenta pedindo por ajuda e deixou Tamires sentada com o rosto nas mãos. Nicolle arrependia-se de ter concordado em deixar Rick na escola. Ela estava preocupada por não conseguir sentir Argia retomando conta de seu corpo. O lado bom era que ela finalmente pode fechar seus olhos.
Nunca dê atenção às mídias que eu coloco nos capítulos
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